quarta-feira, 15 de setembro de 2010

UM AMOR DE FAMÍLIA MODERNA



Sitcoms familiares estavam em baixa nos EUA. O escritório tomara o lugar da sala de estar, que fora tantas vezes central, como em Steps (anos 90, estrelando Patrick Duffy, recém saído de DALLAS), Family Ties (exibido no Brasil como Caras e Caretas, nos anos 80), Eight is Enough (Oito é Demais, no Brasil, anos 70), Father Knows Best (Papai Sabe Tudo, anos 50). Mais recentemente, Ugly Betty não deixou de lado o lar, mas isso era apenas parte, não o todo.
Em setembro do ano passado, importantes jornais norte-americanos, como o The New York Times e o Variety, despejaram chuvas de elogios ao episódio-piloto de uma das novidades da temporada de outono, Modern Family. Quase por unanimidade, a série foi aclamada como a melhor estréia. O hype inicial e as excelentes qualidades da produção contribuíram pro estouro de Modern Family (da rede ABC), que levou os Emmys de melhor comédia, melhor roteiro e melhor ator coadjuvante (Eric Stonestreet).
O programa revolve em torno de 3 núcleos duma mesma família. O 60tão Jay, casado com Glória, imigrante colombiana 30 anos mais jovem, que traz na bagagem, além dos grandes seios, um menino do primeiro casamento, que idolatra o pai e custa a acostumar-se com o padrasto norte-americano, tão distinto da idealizada figura heróica que tem o progenitor latino.
Jay tem 2 filhos do primeiro casamento – Claire e Mitchell - , que constituem as demais famílias. Claire é casada com Phil e tem 3 filhos. Phil se esforça pra ser o pai moderninho que fala as gírias dos filhos e quer ser amigo, antes de educador. Os resultados são quase sempre desastrosos... Mitchell é o filho gay, que, com o parceiro Cameron (Cameron Mitchell?!),adota uma menininha vietnamita.

Todas as personagens são estereótipos exagerados, porque o objetivo obviamente é fazer rir, mas o show marca gol ao apontar para arranjos familiares que podem funcionar, mesmo sendo diferentes do convencional, porque mais inclusivos. Entretanto, mesmo a construção estereotipada de algumas personagens não cai no estereótipo! O casal gay, embora tenha todas as características do estereótipo para fácil identificação do público, não é um par de jovens sarados de academia. Cameron é um homem obeso de meia idade, que cresceu numa fazenda e sabe fazer “papel de homem”, quando quer/precisa. De modo sub-reptício, Modern Family mostra que comportamentos, trejeitos, tons de voz e gestos são mais escolhas pessoais e constructos sociais, do que imposições biológicas.
As famílias não mais vivem sob o mesmo teto (ou cenário) e estão abertas à absorção de membros latinos, gays ou asiáticos. Mesmo a noção de ligação sanguínea não é tão forte como outrora, porque a família aceita filhos adotivos e de uniões prévias. Mesmo assim, essa aceitação só ocorre sob a chancela da institucionalização do grau de parentesco, quer dizer, o programa ainda não trabalha com o conceito de família estendida no sentido de dispensar papéis garantido a participação de alguém em um grupo familiar. A bebê asiática é legalmente adotada, o garoto latino é filho do primeiro casamento. Moderno, mas não exageremos; no fundo a mensagem é sempre a mesma...
Os roteiristas adotaram um espírito de mockumentary, quer dizer, um documentário falso. As personagens sempre falam sentadas em um sofá, olhando pra câmera, como se estivessem dando depoimento prum documentário. Modern Family é moderninho na forma também... Teve até episódio que utilizou flashbacks pra ir agregando novos elementos ao enredo e construir situações que ocorriam simultaneamente, mas o espectador ia recebendo as informações a cada novo flash back. Dos 24 episódios da primeira temporada, apenas 2 me pareceram sem inspiração ou me fizeram rir menos.
O elenco é de primeira e é difícil destacar alguém. Minha preferência pessoal recai em Ed O’Neil, mas é porque sou fá de Married... With Children (no Brasil, exibida pela Band como Um Amor de Família), onde o ator interpretava o eterno pai-perdedor Al Bundy. Se em Ugly Betty virei fã instantâneo de Mark Indelicato (o Justin), em Modern Family arrumei outro ator-mirim pra ídolo: Rico Rodriguez, o enteado de Jay. Ele é jóia, basta ver qualquer das entrevistas no You Tube, especialmente a do programa da Ellen deGeneris.

Sitcom, pra virar hit, precisa de timing e bom texto, e isso Modern Family tem de sobra. Repletos de one-liners, auto-depreciação e ironia, os diálogos são rápidos e pontiagudos e o show ainda tem boa dose de fisicalidade, com quedas, correrias e tropeções. Não é minha parte favorita, porque sou mais verbal, mas não dava pra não rir quando Phil tropeçava no maldito degrau quebrado da casa.
Modern Family mereceu toda a adulação recebida na primeira temporada. O elenco está faturando alto e aparece em tudo quanto é evento. Claro que Rico Rodriguez estava no lançamento mundial do último Toy Story, afinal o latininho é celeb! A ABC já garantiu outra temporada, que começa dia 22 de setembro (o episódio se chamará Earthquake). Todo esse sucesso deve garantir pelo menos umas 4 temporadas, como ocorreu com Ugly Betty, que também estourou nos dois primeiros anos e depois despencou.
Será que as sitcoms familiares voltarão à crista da onda devido ao sucesso dessa família moderna? Talvez até já tenham e eu não sei, porque, atualmente, só quero ver Modern Family!

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