domingo, 31 de maio de 2015

ADOTANDO A SUPERAÇÃO

Gabriel, uma criança com deficiência, ganhou uma família e venceu muitos obstáculos.

sábado, 30 de maio de 2015

ALBINO GOURMET 178

Descobri um canal gracinha, com receitas gostosas e fáceis, pena que a Lully só postou 4 vídeos.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

QUE P**** É ESSA?

Inveja albina, alguém conhece essa expressão? Encontrei no blog Acerbo aos domingos, vejam:


A inveja albina

Sabe quando seu primo passa em medicina, sua outra prima está feliz grávida do segundo neném e seu amigo começa a namorar uma pessoa super bacana? Pois é, notícia ruim quando aparece vem tudo de uma vez. Mas aí fica a questão: por que é tão difícil ficar feliz pelo outro?
Existe uma famosa frase clichê que diz que “amigo não é aquele que está presente nas horas boas, e sim nas ruins”. Eu discordo. O que tem de gente vaidosa em parecer solidária é uma coisa séria. Aquilo de “pode contar comigo para o que precisar” virou uma frase obrigatória quando algum conhecido se encontra na pior.
Amigo é aquele das horas boas, que fica feliz por você. Quando você consegue um trabalho bom, quando você se encontra grávida, quando você passa em um concurso, por exemplo. São raras as pessoas que vem até você e diz “nossa, que bom que você conseguiu! torci muito por você!”. São raríssimas.
A expressão “inveja branca” ou até mesmo “inveja albina” é algo contraditório. Inveja é inveja, é um sentimento de uma pessoa doente intelectualmente. Se confunde muito inveja com inspiração. Eu ver uma foto linda e pensar “nossa, que foto linda, quero tirar uma igual!”, ou quando vou à uma festa e gosto muito da decoração e penso “nossa, vou fazer igual na minha!”, não é inveja. Inveja é quando você deseja o mal ao outro, quando você deseja que aquilo que ele tanto almeja não dê em nada, ou que dê errado.
O sentimento inveja vem da comparação. Nós crescemos sendo comparados e comparando-nos às outras pessoas, sempre com o objetivo de sermos melhores que elas. E ainda bem que nos comparamos apenas à outros seres humanos. Se nos comparássemos às árvores e aos animais, seríamos muito mais invejosos.
A inveja independe de situação financeira ou formação acadêmica. Existem pessoas que estão “acima” de outras e não querem que estas que estão embaixo subam.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

ZOOFILIA COM PARDAL AUSTRALIANO

Vejam o pardal albino descoberto na Austrália.

TELONA QUENTE 120

Roberto Rillo Bíscaro

Continuando com meu festival islandês – que rendeupostagem-dobradinha semana passada – vi Eldfjall (2011), submetido, mas infelizmente não indicado, ao Oscar. Esse tipo de premiação não faz diferença em meus processos de escolha, mas senti que a película tenha ficado de fora da competição. Mesmo sendo só indicada teria o público maior que merece.
A sequência de abertura arrepia: erupção vulcânica destruindo uma aldeia ao som de canto coral:

Corte pra festa de despedida de Hannes, que abandonara com a família a ilha avassalada pelo vulcão (eldfjall, em islandês) e agora se aposentava como zelador duma escola em Reikjavik. Rígido e distante com alunos e colegas, o padrão comportamental repete-se em casa, onde o coroa dá patadas na esposa e mantém filhos e neto à distância. Hannes não é mau sujeito, porém; escolhera o caminho da rabugice, mas ao ouvir incógnito os filhos comentando enojados sobre seu comportamento, ocorre-lhe uma epifania. Decide mudar: compra o peixe favorito da esposa, faz amor com ela, começa o caminho pra se tornar ser humano mais decente. Como a vida não é filme de final feliz, a esposa tem um tremendo AVC e Hannes decide cuidar dela em casa, ao mesmo tempo em que tenta remediar as coisas com os filhos e neto.
Filmado em 16mm, Eldfjall evita o visual HD da pós-modernidade pra contar essa belíssima história de tentativa de redenção, que pode ser difícil, porque representa as agruras da idade e da doença, mas jamais recai no sentimentalismo induzido por trilha sonora incidental lacrimejante. A música feita por um dos integrantes do cultuado Sigur Rós aparece tão parcimoniosamente quanto os cenários espetaculares da natureza islandesa. A maioria do filme se passa no interior duma casa nos arrabaldes da capital.  

O diretor estreante Rúnar Rúnarsson – seguindo roteiro tradicional e quase impecável – encontra sábias soluções cênico-simbólicas pra ilustrar o apartamento, a fantasmogaria e o desnudar de Hannes em sua quieta jornada de retomada de humanidade, que passará por teste duríssimo ao ver a esposa vegetativa gemer de dor ireversível.

Theodór Júlíusson (Hannes) e Margrét Helga Jóhannsdóttir (Anna) dão interpretções exemplares e corajosas, sem medo de se despir (escandinavos não têm problema com nu frontal!), de se entregar, mas sem sacarina.

Já guardei o arquivo de Eldfjall, grande filme que merece ser visto mais de uma vez. Na verdade, merece ser descoberto por grande parcela do público.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

CONTANDO A VIDA 112

Nosso historiador-cronista (que está na Vejinha desta semana, olha que poder!) sempre foi muito trabalhador, mas teve uma epifania durante uma discussão sobre produção acadêmica. Publicar ou perecer tem sido o mote de tantos obcecados com rechear o Lattes. Mas, será que a cigarra da fábula tem algo a ensinar? E nosso Monteiro Lobato não contribuiu sobremaneira para uma conclusão mais humanitária do clássico de La Fontaine? 
e qual lição o Professor Sebe tirou dos estudos sobre cigarras?
Delicie-se lendo a deliciosa crônica de hoje. 


SOBRE FORMIGAS E CIGARRAS. SOBRE LOBATO TAMBÉM.

José Carlos Sebe Bom Meihy

De repente, como estalo, sem mais, lembrei-me de Lobato. Foi uma sensação forte. Fortíssima, eu diria. E complicada. Não sei dizer porque, mas em meio a um debate interminável sobre produtividade acadêmica, perdido em argumentos intelectuais sobre publicar ou não, primeiro me veio à cabeça a fábula de La Fontaine sobre a Cigarra e a Formiga. Decorrência imediata, porém, progredi para a retomada feita pelo nosso escritor querido que, de maneira intrigante, apresentava para a mesma fábula, duas versões complementares e polêmicas: uma coerente com a fonte francesa, apontando a moral da história construída a partir da prudência. Outra, mantendo o mesmo mote narrativo, porém, alertando para um epílogo diverso, caracterizado pela grandiosidade do acolhimento à Cigarra desvalida.
Lembremo-nos da trama proposta como lição que se encerra com mais uma clássica moral da história. Baseada na tradição, a Cigarra ia cantando leve, livre e solta num dia quente de verão. Cantarolava quando se viu frente a uma Formiga trabalhando atrozmente e então, toda pomposa, a cantante galanteadora que tocava seu violão interrompeu a apresentação espontânea para desafiar a operária e foi dizendo “dona Formiga, venha e cante comigo, em vez de trabalhar tão arduamente, vamo-nos divertir". Sem se distrair a Formiga respondeu negativamente, afirmando que tinha que ir em frente, que precisava guardar comida para o inclemente inverno. Obsessiva, a Formiga deixou a Cigarra cantando sozinha. Convém lembrar que os argumentos da saltitante Cigarra contrastavam com o alerta ajuizado e aflito da interlocutora que se mantinha dizendo da distância do inverno, da garantia da fartura de alimentos e do prazer de cantar. Alheia à delícia e ao gozo musical, atenta e obstinada, a Formiga persistia em sua labuta até que, por fim, o tempo passou e o inverno se impôs rigoroso. Diz a lenda que a Cigarra, então em apuros, fustigada e com o frio e fome, sem alternativas, chegou à casa da Formiga implorando abrigo. Soberana a Formiga bradou "se você tivesse ouvido o meu conselho no verão, não estaria agora tão desesperada. Preferiu cantar e tocar violão?! Pois agora dance!". A genialidade de Lobato, porém, apresentou uma esperta desviada com ares de negociação filosófica. Dado o enredo conhecido, a Formiga teria, apesar de tudo, tomado outra atitude e em vez do “bem feito, quem mandou”, teria aberto o lar e recebido com simpatia a desvalida Cigarra. Confortada a Cigarra, refeita e agradecida, presume-se que teria aprendido a lição. 
Como mecanismo de fuga da situação que discutia a produtividade acadêmica, dei asas à imaginação e cismei que sabia mais sobre Formigas do que sobre Cigarras. Saí do encontro inconformado e, já em casa, dei vazão a curiosidade. Devo dizer antes que sou fascinado pelo canto das Cigarras. Entre as melhores lembranças que tenho de minha vida no interior, os sons eletrizantes das Cigarras, até hoje, enchem meu imaginário e me tornam cativo de memórias inegociáveis. O canto das cigarras situa-se entre minhas saudades favoritas. Lendo, aprendi que o som produzido pelas Cigarras se relaciona com a reprodução. Fecundadas, elas põem ovos e depois, como que vazias, silenciam e morrem. Sem vidas, suas larvas drenam terra abaixo, e por 18 anos permanecem latentes até que se metamorfoseiam para novamente viver. Revitalizadas, estridentes, saem e cantam. Cantam e cruzam repetindo o ciclo que as eternizam para, depois de mais ovos, morrerem secas no tronco de alguma árvore. Com meus botões perguntei: por que não sabemos mais das Cigarras? Que faria com que as informações sobre as Formigas fossem mais divulgadas e até propaladas como metáfora do trabalho? E resolvi caminhar por esta senda que me levou, por fim, a compreender melhor a engrenagem do capitalismo que nos obriga a preterir o canto ao exercício da produtividade. A moral da minha reflexão levou-me a outra triste constatação: se soubesse da beleza do ciclo vital das Cigarras, passaria a cantar mais e trabalhar menos. 

terça-feira, 26 de maio de 2015

ALERTA ALBINO NO MALAWI, BURUNDI E TANZÂNIA

As Crianças Caçadas Devido a Sua Pele: os jovens albinos do Malawi sob proteção da polícia e do exército a fim de protege-los de caçadores que os matam para para que seus corpos sejam usados em rituais de magia

Catherine Amidu, 12, sits in her home Malawian home, in a region where six albinos have been killed since December

COREY CHARLTON
(Tradução: Roberto Rillo Bíscaro)

Estas são as pessoas com albinismo (PCAs) colocadas sob proteção da polícia e do exército em uma tentativa desesperada de deter o cruel mercado de partes de corpos de PCAs, que atua na África Oriental.
No Malawi, os policiais receberam ordens para atirar em qualquer um pego atacando PCAs, enquanto o Primeiro-Ministro tanzaniano incentivou os cidadãos a matarem quem for capturado com partes de corpos de albinos. No vizinho Burundi, jovens albinos de toda a África Oriental estão sendo abrigados em acomodações especiais sob proteção militar na tentativa de deter os agressores.
Essas medidas drásticas vêm no momento que a ONU relata que pelo menos 15 PCAs, a maioria crianças, foram mortas, feridas ou raptadas na África Oriental nos últimos 6 meses.
Partes de corpos de albinos são valorizadas em magia negra e feitiçaria, porque se crê que poções preparadas com partes de seus corpos trarão sorte, amor e riqueza.

Femia Tchulani, 42, lives in constant fear of attackers who target and kill albinos in order to sell their body parts on the black market

A mais recente diretiva veio do Inspetor Geral da Polícia do Malawi, Lexen Kachama, que instruiu os policiais a atirarem em quaisquer “criminosos perigosos” pegos raptando albinos.
“Atire em todo criminoso que reagir violentamente ao ser surpreendido abduzindo PCAs”, declarou Kachama, acrescentando que estava ordenando que a polícia a usar armas de acordo com a proporção do crime. “Não podemos apenas assistir a nossos amigos albinos sendo mortos como animais todos os dias. Sabemos que esses infratores são violentos, impiedosos e, portanto, precisam ser tratados como tal.” 
Essas palavras vieram apenas um mês depois que um cidadão do Malawi foi preso tentando estrangular um garoto albino de 16 anos.
Afirmação parecida fora feita pelo Primeiro-Ministro tanzaniano Mizengo Pinda, em 2009, quando incentivou cidadãos a matarem qualquer capturado de pose de partes de corpos de PCAs.
Grupos de defesa dos albinos têm pedido por maior proteção às PCAs, mas afirmaram que matar suspeitos não deteria os criminosos, porque somas muito altas são oferecidas por partes de corpos. Assim, provavelmente pessoas ainda correriam o risco por causa da recompensa prometida.
Feiticeiros podem pagar milhares de dólares por um jogo completo de partes de corpos albinos, segundo um relatório da Cruz Vermelha.
Vicky Ntetema, diretora-executiva da ONG canadense Under The Same Sun, disse que ativistas querem justiça para os raptados, mutilados e mortos.
“Temos que lembrar, porém, que todos aqueles marginais pegos com a mão na massa são peixes pequenos – agentes e executores para os tubarões. Matá-los não nos auxiliará a pegar os mentores, aqueles com dinheiro para contratar essas gangues, que continuam a aterrorizar pessoas inocentes e suas famílias.”
Ntetema admoestou as polícias da Tanzânia, Malawi e Burundi a interrogarem suspeitos a fim de obterem informações sobre os curandeiros que utilizam partes de corpos de PCAs e seus clientes.
“Precisamos nos unir e achar os culpados escondidos por detrás dos assassinos. Por que as pessoas matariam PCAs se não houvesse procura por seus órgãos?”, ela questiona.
O martírio das PCAs na África Oriental tem piorado nos últimos anos, de acordo com dados da ONU e das polícias, com temores de que as eleições deste ano na Tanzânia suscitarão novos ataques, pois políticos poderão buscar por sorte nas urnas.
O Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Said Zeid Ra'ad Al Hussein, urgiu os governos africanos a combaterem a impunidade nos crimes contra PCAs.

O albinismo é uma desordem congênita que afeta cerca de uma em cada 20 mil pessoas, segundo autoridades médicas. É mais comum na África sub-saariana e aflige cerca de um tanzaniano em cada 1.400. 
An albino boy sits between his two parents at their home in Malawi

TELINHA QUENTE 165

Roberto Rillo Bíscaro

Comentando a temporada saideira de Revenge, afirmei que nem a série slasher Harper’s Island matara tanto. Scandal foi além, promovendo massacres no horário-nobre da sagrada família norte-americana. Ainda bem que nenhuma personagem aparece fumando. Seria mau exemplo.
Scandal superou Revenge há muito tempo e a quarta temporada de escândalos da/na/pra Casa Branca não só manteve o interesse/audiência, como garantiu renovação pruma temporada quinta.
O sucesso não significa, porém, que os roteiristas não devam atentar-se prum par de fatos. A história da organização secreta B613 já deu no saco, especialmente o enjoativamente enfático pai de Olivia. Papa Pope sabe tudo, planeja tudo e quando aparece diz a mesma coisa em longos discursos gritados e com quantidade suficiente de meneios de cabeça pra deixar o expectador tonto. Na verdade, ele é a matriz de Olivia Pope, que apesar de protagonista e razão de ser do show nem de longe é minha favorita (Mellie Grant, te amo!). Ela também grita, esbraveja, esperneia demais pro meu gosto. Mas, se preciso dela pra ver Cyrus e Mellie que seja. Até porque, quando consertando problemas, é legal, o que não posso dizer de Huck e Quinn (qual a importância deles nessa temporada mesmo, alguém me esclarece?). Ah, e Jack Ballard serve pra quê?
Além desses personagens-entulho, a quarta temporada ainda teve o momento baixo do sequestro de Olivia, que serviu apenas pra sequenciar a sub-trama do vice-presidente. Que emoção tem sequestrar a protagonista – que sabemos não morrerá de jeito nenhum, porque o show é dela! – no meio da trama, se quase nada resulta disso? OK, tenho a mente aberta pros exageros das soaps, mas botar Olivia falando farsi, assim, do nada! Não surpreenderá se descobrirmos que ela possui um pênis pra usar em emergências...  
Cyrus ficou eclipsado numa temporada que viu a Primeira-Dama passar do luto alcoólico pelo filho à posição pró-ativa de aspirante à presidência. Mellie talvez tenha sido a única personagem a ter um arco de desenvolvimento nessa quarta vinda de Scandal. Cyrus teve seus momentos, mas não esteve no topo da forma. A situação de excluídos dele e de Mellie, no último capítulo, talvez provoque reação na quinta, vamos ver.
Por trás de Scandal está a potente e supersônica escrita de Shonda Rhimes. Quem consegue levar um show por 11 temporadas (Grey’s Anatomy), provavelmente encontrará jeito de manter o interesse de Scandal.
E agora, em quem eu votaria pra presidenta dos EUA, Claire Underwood ou Mellie Grant? Ainda bem que são Washingtons ficcionais distintas, assim posso votar em ambas!

segunda-feira, 25 de maio de 2015

CAIXA DE MÚSICA 171

Roberto Rillo Bíscaro

Escrevendo o segundo parágrafo da resenha de Why Make Sense?, lançado semana passada pelo Hot Chip, deletei tudo e resolvi por este recomeço. Motivo: adjetivei a banda indietronic como “veterana”. Formada no ano 2000, são estrelas Supervelhas no efêmero firmamento pop, mas o que me pegou foi a pergunta “se Hot Chip é veterano, o que dizer de bandas como Information Society e Erasure, ou ainda mais antigas como o Yes, já resenhadas, elogiadas e amadas no blog?” “Novo” pra mim – esses ingleses são novinhos prum cara beirando a meio-secularidade! – pode ser “velho” pra meus alunos adolescentes. Imagine que o primeiro álbum foi lançado em 2004, quando meus pupilos teens ainda eram cuidados em creche ou os de faculdade brincavam no recreio do Fundamental.
Parafraseando a jurássica Tati Quebra-Barraco, sou de meia-idade, mas tô na moda. Quer dizer, parte da sonoridade que embalou minha infância e adolescência vem sendo sampleada e ressignificada em criativos e dançantes rearranjos híbridos. Se laranja e o novo preto, misturança de sub-gêneros dançantes é o novo normal. E o sexto álbum desses 30tões britânicos prova isso lindamente. Das 10 faixas, 7 são irretocáveis fusões dançáveis. Os outros 30% são 2 fillers e a faixa-título criativa, mas destoante do contexto. Cheguemos a elas mais adiante.
Huarache Lights deixou de ser apenas tênis da Nikke e passou a vibrante abertura disco, que começa com voz de robô-Kraftwerk (tem que bater cabeça no congá dos deuses alemães, né?) pra desenvolver-se em mais de 5 minutos de batida meio Grace Jones ou Donna Summer (Giorgio Moroder, ítalo-guia!) em suas fases late 70’s, com direito a talkbox e muitos efeitos de sintetizador.
O minimalismo miraculoso de Love is the Future junta Prince fase early 80’s com pedacinho rappeado em estilo old school pelo Posdnuos, do De La Soul. De repente entra arranjo de cordas disco – presente em várias faixas – e o clima ganha mais um clima. Dois pontos vitais da produção de Why Make Sense? estão em evidência nessa faixa: 1) sua leveza, que utiliza o necessário pra fazer parecer que o mix está lotado de elementos, quando na verdade, estão “apenas” usados inteligentemente. Sempre tem coisa acontecendo no seu fone de ouvido; tirando o máximo do mínimo. 2) Produzido pela banda e Mark Ralph, trata-se dum produto de conhecedores profundos de música. É o pop como ofício; os caras não são filhinhos de papai que ganharam instrumentos e dão “um jeitinho” fazendo musiquinha. Ética protestante ou o escambau, mas é a Inglaterra sempre produzindo algum arraso.
Cry For You é electro com teclado nervoso e grave. Sinal dos tempos: é motivo de menção que os instrumentos foram tocados ao vivo no estúdio e não retirados duma vasta gama de opções estocadas em softwares baixados via Torrent. Isso diferencia o Hot Chip do exército de autômatos por aí. Não à toa essa faixa me lembrou um pouco o velho New Order, que conseguia humanidade da robótica.
Started Right começa funk sincopado e por vezes metamorfoseia-se em disco totalmente desfilável (cuidado se for ouvir na rua!). Easy To Get é delícia electrofunk com palmas, baixo gordo, guitarrinha picante, efeito facinho e viciante de teclado, que de repente, mais pro final, se transforma em acid garage noventista, estilo que permanece com a faixa seguinte Need You Now, mas prestem atenção que o sample vocal é do trio Sinnamon, lá dos anos 80. Elementos diluídos pra formar algo original. Talvez nenhuma faixa demonstre isso melhor que a sensacional Dark Night: aparentemente é Philly disco (saquem o vocal), mas tem um riff de guitarra pulverizado que ocupa todos os interstícios da mixagem, dando um pós-sabor rock.
Why Make Sense? seria obra-prima não fossem pelas baladas R’n’B White Wine and Fried Chicken e So Much Further to Go. Nada de errado branquelo britânico querendo ser negão estadunidense; amo diversos com essa aspiração, mas a vozinha de Alexis (tão Dynasty!) Taylor não dá pra esse material. Dizer que as canções têm alma/coração seria fácil pra encobrir o caráter de filler, mas a verdade é que nessas horas esse coração precisa de transplante. Eu estar ouvindo maciçamente os clássicos black tocados incidentalmente em Scandal (amanhã resenha da 4ª temporada!) não ajudou em nada ao pobre Alexis, eu sei, mas fofo, sua voz é perfeita pras faixas dance, vamos ficar só com elas, lindo do tio?

A faixa-título foge bastante do predominante estilo festeiro. Bateria hard rock, guitarra distorcida, diversos efeitos de electronica alternativa e mais dark. Se for indicativo da direção que o Hot Chip pretende tomar, não me interessa, mas deixemos de projetar fantasmas e dancemos/caminhemos/agitemos com as 7 Maravilhas de Why Make Sense? As outras 3 deletei.  

sábado, 23 de maio de 2015

DESALBINIZAÇÃO

Saiba como perdemos a oportunidade de ter um protagonista em nosso cinema.  


Lázaro Ramos vive ‘vendedor de passados’ em filme que estreia nesta quinta

por Jamile Amine
Lázaro Ramos vive ‘vendedor de passados’ em filme que estreia nesta quinta
Lázaro Ramos e diretor Lula Buarque de Hollanda /Foto: Divulgação
O baiano Lázaro Ramos foi a primeira e única opção do diretor Lula Buarque de Hollanda para protagonizar o longa-metragem “O Vendedor de Passados”, adaptação do livro homônimo do angolano José Eduardo Agualusa, que estreia no Brasil nesta quinta-feira (21). No filme, Lázaro vive Vicente, um jovem que ganha a vida criando e vendendo passados para pessoas que desejam modificar suas histórias. Sua vida dá uma guinada quando conhece Clara, uma bela e enigmática cliente, interpretada por Alinne Moraes. Em princípio, o ator achou estranho o convite para o papel, já que na obra original o personagem é albino, mas depois entendeu a proposta de Lula de Hollanda e se envolveu completamente no projeto. “Eu falei ‘mas Lula, o personagem no livro é albino, você vai me chamar por quê? ’. Eu já conhecia e adorava o livro, mas se fosse para ser daquelas adaptações que tentam fazer exatamente o livro, as descrições do personagem não eram as minhas. Mas aí ele falou, ‘não, eu acho que a sua escalação é acertada porque eu acho que a gente tem que fazer o nosso vendedor de passados. A gente tem que pegar esse personagem e esse tema e contar nossa história’. Eu achei depois que era uma escolha sábia, porque esse livro, essa história e esse tema realmente potencializam várias visões. E o livro tem algumas características que são muito regionais. É um livro que se passa em Angola, tem um narrador bem especifico, e que para transpor para o cinema seria difícil. Eu acho que a gente acabou fazendo um filme que fala de temas muito pertinentes para o hoje em dia, para nossa realidade”, lembra Lázaro.
 

Lázaro Ramos é Vicente, um jovem que vende passados e vê sua vida estremecer ao conhecer Clara, interpretada por Alinne Moraes / Foto: Divulgação 
 
Este homem vendedor de passados intrigou o diretor, que pensou que a história, originalmente vivida em Angola, poderia acontecer em qualquer país. “Achei o personagem muito original, ele poderia ser no Japão, nos Estados Unidos, e aí o que eu propus ao autor foi trazer esse personagem para o Rio de Janeiro. Ele gostou da ideia e a partir daí se desenvolveu o roteiro”, conta Lula de Hollanda, sobre o processo de concepção do filme. “Na verdade, o personagem tem algumas coisas autobiográficas. Assim, eu sou carioca, nasci no Rio de Janeiro. E eu queria trazer umas questões também do homem contemporâneo na parte de sentimentos, por exemplo, porque um carioca de 30 anos, bonito, vai se apaixonar e querer se envolver com alguma pessoa? Então, até o momento que aparece essa cliente para o Vicente, que é uma pessoa que pede para ele criar um passado do nada, uma mulher belíssima que Alinne Moraes interpreta, a vida dele está na boa, depois que aparece esse elemento desestabilizador”, explica Lula, acrescentando que, no primeiro momento, ele e Agualusa pensaram juntos quem poderia precisar de passados no Brasil. Ele sugeriu o tema da cirurgia plástica. Tem até um personagem que é inspirado nisso, que é o médico, porque o Brasil é campeão de cirurgia plástica e você fazer essas cirurgias é uma forma de mudar o seu passado também. E aí a gente inventou outras coisas”, conta.

Confira o trailer de "O Vendedor de Passados"


Após o processo de concepção da ideia, a parceria com Lázaro Ramos se consolidou. “Eu sou fã do trabalho dele. Foi um prazer enorme trabalhar com Lázaro, ele entrou de corpo e alma no desenvolvimento do projeto, que acho que é a etapa mais importante no amadurecimento do roteiro. A gente ficou um mês ensaiando, todas as frases foram repensadas. Então foi uma grande ajuda, ele acabou como produtor executivo também do filme, participou de muitas decisões e está sendo fundamental no lançamento”, diz Lula sobre a união com o ator baiano, que pretende cada vez mais investir e se envolver com o que se passa atrás das câmeras. Este movimento tem sido evidenciado nos projetos atuais de Lázaro, que, pelo “desejo de aprender a entender a indústria do cinema brasileiro”, participa como produtor associado. “Acho que tem muita coisa para aprender, principalmente porque quero passar para trás das câmeras. Então eu estou lá, em cada filme eu participei de um jeito diferente. Alguns eu participei convencendo atores, outros indo atrás de recurso, captação financeira, os formatos foram bem variados. Neste, além de ter carga horaria um pouco maior do que tinha nos outros filmes, participei no processo de discussão de roteiro, de indicação de algumas empresas para procurar captação, na relação política com alguns membros da equipe. Foi muito variado, e algumas coisas era só estar perto para entender e dar um ‘pitaquinho’”, conta Lázaro, que, de fato, deu muitos palpites e ajudou a conduzir a história através de reflexões sobre a relação entre as pessoas e o tempo.

Como produtor associado, Lázaro Ramos participou de todo processo do filme / Foto: Reprodução
 
No filme, o passado é traduzido como o conjunto de histórias que as pessoas vivem ou acreditam ter vivido. Neste contexto, para Lázaro, existem vários indícios de que o trabalho de seu personagem, o vendedor de passados, é um serviço realmente é possível a partir do desejo de pessoas comuns. “Sabe que eu acho que é possível? [criar um novo passado] Apesar dos mecanismos de você desvendar um mistério, de localizar documentações falsas, acho que ainda é possível. Há pouquíssimo tempo teve uma menina que passou 30 dias no quarto dela, e, somente através das redes sociais, convenceu a família inteira, os amigos e os seguidores, de que estava na Tailândia, só com Photoshop e mudando umas coisas atrás, na casa dela”, lembra o ator baiano, acrescentando que “existem pessoas que criam perfis falsos, que têm esse perfil durante 10 anos e que ficam ali vivendo uma outra vida, que ninguém nem sabe quem é essa pessoa. Que fala coisas, vende coisas, se mostrando ser outra pessoa que ela não é, mas independente dessa verossimilhança, dessa possibilidade, ou não, eu acho que tem uma coisa que o filme traz, que é a insatisfação com a passagem do tempo, com quem nós somos, com a nossa história, ou com a nossa identidade. A insatisfação com a passagem do tempo, se você for pensar, as cirurgias estéticas, a quantidade que a gente tem aqui no nosso brasil é gigante. Então essa insatisfação com a passagem do tempo está toda hora aí. Foi essa a inquietação do personagem, com a insatisfação com o tempo. E tem uma pergunta que hoje em dia, a cada hora que passa, é mais feita. ‘Onde é que mora a verdade? Como é que você acessa informação de qualidade? Hoje em dia que você tem um monte de blog, um monte de site, a imprensa oficial, qual é a versão que é a mais fiel à realidade? Então nosso tema é esse”, explica Lázaro, convidando o público para uma reflexão.
http://www.bahianoticias.com.br/noticia/172665-lazaro-ramos-vive-vendedor-de-passados-em-filme-que-estreia-nesta-quinta.html

sexta-feira, 22 de maio de 2015

PAPIRO VIRTUAL 93


Roberto Rillo Bíscaro
Não invejo a profissão de tradutor: árduo verter uma cultura pra outra. Traduzir vai muito além de encontrar correspondentes pra símbolos gráficos. Acabo de ler o alentado romance japonês 細雪 ou Sasameyuki, serializado entre 1943-48. Li a tradução inglesa, de Edward Seindensticker, que chamou a obra de Junichiro Tanizaki de The Makioka Sisters. Incorporar a narrativa irônica e saudosista à tradição chekoviana das irmãs chorosas por um passado de glórias foi o máximo que o profissional conseguiu fazer com o intraduzível jogo de palavras/ideias/imagens/conceitos existente entre Sasameyuki e a protagonista Yukiko. Yuki significa neve ou sortuda (coisa que Yukiko definitivamente não é). Sasameyuki seria algo como neve rala ou leve, mas também tem a ver com a confusão entre neve e flores de cerejeiras, altamente simbólicas no livro e no Japão. Flores e neve caem, derretem, sendo transitórias, e, efemeridade e mudança (pra pior) são leitmotivs desse livro falsamente simples.
Os Makioka haviam sido comerciantes classe-média-alta de Osaka, mas a crise de 29 ou a dissipação paterna (ou ambos) acabaram com a bonança e entre meados dos anos 30 e início dos 40 – quando a narrativa se desenvolve – a família tenta manter a aparência e a “tradição” ao mesmo tempo em que viaja em vagões de terceira-classe ou passa roupa íntima de irmã a outra. A despeito do status social descendente, os Makioka haviam sido rigorosos demais ao selecionar marido pra Yukiko. Os anos descritos no meio milhar de páginas têm como tema central arrumar consorte pra reticente penúltima irmã do quarteto.
Tsuruko e Sachiko são casadas, Yukiko e Taeko solteiras. Pela rígida convenção familiar japonesa, as 2 últimas deveriam viver na “casa principal” com Tsuruko, mas preferem a paz suburbana de Ashyia, optando permanecer com a permissiva (indolente) Sachiko. Enquanto Yukiko não desencalhar, Taeko não pode casar, mas a mais jovem das manas representa o afrouxamento e a ocidentalização das tradições, então, o negócio pega fogo.
Tanizaki entope a narrativa de toda sorte de detalhes: nomes de filme e remédios, cartas, sem falar na pormenorizada inspeção de cada motivação possível pra mais mínima ação. Não é literatura do fluxo da consciência, mas temos mapas mentais detalhados das personagens, que não vivem quase nenhuma situação extraordinária, salvo uma enchente e um tufão. Também não se trata de um esmiuçar woolfiano de páginas a fio. The Makioka Sisters tem muito diálogo e as investigações mentais são profundas, mas sucintas. O quase asfixiante superávit de detalhes dum cotidiano “comum”, portanto ritualizado e repetitivo, é que justamente desidealiza, ironiza e enche de decadentes defeitos todas as personagens, até mesmo a pequena Etsuko, menina neurótica. 
A técnica de Tanizaki foi representar tradição e decadência mediante sucessão de fatos parecidos, mas cada vez mais desoladores, piores, intensos (ou não). As doenças se agravam; as visitas aos cerejais vão ocorrendo com cada vez menos gente; os miais (encontros entre potenciais marido e mulher) tornam-se mais e mais constrangedores e humilhantes.
Pra quem curte/necessita de paralelo com o Ocidente pra se situar, digamos que Junichiro Tanizaki seja uma Jane Austen mais do mal ainda (quem crê que La Austen era dulce e boazinha precisa trocar de laquê; tem produto químico te deixando lesada!). As negociações pras tentativas de casamento são descritas em termos acintosamente dinheiristas e envolvem até mesmo detetives investigando condutas familiares. E se a oração de abertura de Pride & Prejudice é minha favorita na literatura, a final de The Makioka Sisters tem tudo pra ser a predileta nessa posição: “Yukiko’s diarrhea persisted through the twenty-sixth, and was a problem on the train to Tokyo”. Não retornei a ser um jovem que se encanta com escatologia barata; acontece que depois de 3 tomos do cotidianeidade minuciosa e irônica, tal comentário sobre a protagonista, na véspera dum dia que seria de se esperar fosse especial, e com ela terminar um romance é muito forte e genial. Ri alto e quero ler mais coisas de Junichiro.
Existe tradução brasileira, chamada As Irmãs Makioka, lançada pela Editora Estação Liberdade. Também achei uma professora da USP falando sobre a obra de Tanizaki e especificamente sobre esse grande romance. 

POR QUE MULHERES MENSTRUAM - E A MAIORIA DOS ANIMAIS NÃO?

Shreya Dasgupta





A menstruação é algo tão corriqueiro que nem paramos para perceber que somos quase uma exceção no mundo animal. Sim, mesmo entre as espécies com gestações e partos semelhantes aos das mulheres, apenas um punhado delas menstrua.
Não se trata apenas de algo um tanto desconfortável: a menstruação também é um mistério. Afinal, por que ela existe? E se é um mecanismo positivo, por que os outros animais não passam pela experiência?
Bem, a menstruação faz parte do ciclo reprodutivo da mulher. Todo mês o útero se prepara para uma gravidez: em resposta a hormônios como estrógeno e progesterona, o endométrio (parede interna do útero) aumenta de espessura, se divide em várias camadas e desenvolve uma extensa rede de vasos sanguíneos – tudo para permitir que um embrião se implante ali.
Se o embrião não for concebido, o nível de progesterona começa a cair, o endométrio e seus vasos sanguíneos se desprendem e saem do organismo através da vagina. Esse sangramento é a menstruação.
Teorias sem provas


Parede interna do útero engrossa e se vasculariza para receber um possível embrião

Uma mulher perde, em média, de 30 a 90 ml de fluidos ao longo de um período menstrual de três a sete dias. À primeira vista, o processo parece ser um desperdício – o que levou muitos cientistas a investigarem por que ele existe.
"No início, pensava-se que a menstruação seria para remover toxinas do corpo", lembra Kathryn Clancy, antropóloga da Universidade de Illinois. A crença criou uma série de mitos em torno do processo, e alguns deles ainda persistem hoje em dia em algumas culturas. "Havia uma noção muito forte de que as mulheres eram ruins e repugnantes".
Em 1993, uma teoria completamente diferente chamou a atenção do público. A bióloga Margie Profet, então atuando na Universidade de Berkeley, na Califórnia, sugeriu que a função da menstruação seria "defender o corpo da mulher contra os patógenos transportados ao útero pelo esperma masculino".
No entanto, essa hipótese logo caiu por terra por falta de evidências. Uma das principais críticas de Profet foi a antropóloga Beverly Strassmann, da Universidade de Michigan, que apresentou sua própria teoria sobre a menstruação em 1996.
Ela observou que o útero de outras fêmeas também fica mais espesso e vascularizado para receber um embrião. E se este não é gerado, elas sangram ou simplesmente reabsorvem esse material.
Macacos e morcegos


Macacas rhesus apresentam menstruação semelhante à das mulheres

Mas para conhecer a verdade sobre esse misterioso processo, é necessário comparar animais que menstruam com os que não menstruam.
Além do ser humano, a maioria dos outros animais com um fenômeno semelhante é formada por primatas: dos pequenos, como o macaco rhesus, aos grandes, como chimpanzés, orangotangos e gorilas.
A menstruação também evoluiu de maneira independente em dois outros grupos não tão próximos do Homem: alguns morcegos e musaranhos.
O que essas espécies têm em comum para estarem incluídas nesse rol?
Segundo Deena Emera, geneticista da Universidade de Yale, tudo depende do controle que a fêmea tem sobre seu próprio útero.
Em um artigo publicado em 2011, ela e seus colegas argumentam que, nos animais que menstruam, a transformação da parede do útero é totalmente controlada pela fêmea, através da progesterona.
Um embrião só pode se implantar ali se essa camada for suficientemente espessa e composta de células especializadas. Ou seja, a fêmea é quem controla se pode ou não engravidar – um processo chamado de "decidualização espontânea".
Na maioria dos outros mamíferos, essas mudanças no útero só ocorrem depois que o organismo detecta sinais de que houve concepção. Quer dizer: o útero aumenta de espessura em reposta à presença do embrião.
'Cabo de guerra' evolucionário


Em povos como os dogons, do Mali, mulheres passam maior parte da vida grávidas

Em cavalos, vacas e porcos, o embrião simplesmente se instala na superfície do endométrio. Em cães e gatos, ele penetra um pouco mais nessa camada. Mas em humanos e em outros primatas, o embrião "perfura" toda a parede interna do útero para absorver sangue da mãe diretamente.
"Isso é resultado de um verdadeiro 'cabo de guerra evolucionário' entre as mães e os bebês", explica Elizabeth Rowe, da Purdue University, no Estado americano de Indiana.
A mãe quer fracionar a quantidade de nutrientes que fornece para cada bebê, para assim poder ter outros. Mas o bebê ali implantado quer absorver a maior quantidade de energia possível da mãe.
"Conforme os fetos foram se tornando mais agressivos, a mãe respondeu armando suas defesas antes da invasão começar", explica Emera.
'Descarte natural'’
Há uma segunda hipótese para explicar a função da menstruação: é uma evolução surgida para possibilitar que a fêmea descarte os embriões "ruins".
"O ser humano mantém relações sexuais a qualquer momento do ciclo reprodutivo, ao contrario de muitos outros mamíferos, que copulam perto da ovulação", diz Emera. Isso se chama "cópula estendida" e é um comportamento observado também nos primatas, nos morcegos e nos musaranhos que menstruam.
"O resultado disso é que alguns óvulos podem estar velhos quando são fertilizados, o que pode resultar em embriões geneticamente anormais", afirma. As células da parede interna do útero são capazes de reconhecer e reagir a esses embriões defeituosos. "Isso evita que a mãe invista em um embrião não viável, livrando-se dele imediatamente e se preparando para outra gestação".
A ideia faz sentido, se pensarmos como quase todos os animais que menstruam têm gestações longas e investem muitos recursos para produzir um ou dois bebês em cada uma. Perder um bebê é um preço alto a pagar, portanto a evolução favoreceria qualquer mecanismo que ajudasse a evitar gestações condenadas.
Em espécies que se reproduzem de outras maneiras, a menstruação nunca precisou ocorrer. O fenômeno, aliás, era algo raro até alguns anos atrás e ainda é em algumas comunidades.
Isso porque as fêmeas selvagens que menstruam passam a maior parte de suas vidas grávidas ou amamentando. Em sociedades que não utilizam nenhuma forma de contracepção, isso ainda acontece, como é o caso das mulheres dogons do Mali. Cada uma tem cerca de cem menstruações ao longo da vida – enquanto a maioria das mulheres de hoje tem entre 300 e 500 menstruações.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

TELONA QUENTE 119

Roberto Rillo Bíscaro

Em agosto de 2014, fiz dobradinha de cine islandês (leia aqui). Resolvi fazer outra, desta vez reduzindo ainda mais o foco: são 2 filmes com Nína Dögg Filippusdóttir. Como não amar a internet? Na quente noroeste paulista tem-se  acesso a mais de um trabalho duma atriz dum frio país de 300 mil habitantes!

Primeiro vi Grafir & Bein (2014). Um casal com problemas – Gunnar envolvido com fraude e Sonja ainda de luto pesado pela morte da filhinha – vão a uma remota casa de fazenda pra resolver o que fazer com a sobrinha, traumatizada após encontrar o pai enforcado. A pequena Perla é estranha e a essa estranheza somam-se relatos de assombração na casa, oferecidos por Fannar, que aparece e desaparece a seu bel prazer. Não tardam a começar os desdobramentos inexplicáveis de todos esses ingredientes manjados de narrativas de horror, que ameaçam a sanidade (ela existe mesmo?) e a vida dos protagonistas.
Mesmo sem ser a história mais original do mundo, o enredo tinha potencial pra se tornar queridinho cult, porque o filme é de país “exótico”, há reviravolta no finalzinho e espaço pra sequências, o que poderia atrair até refilmagem ianque. Infelizmente, a despeito da cinematografia perfeita e das boas atuações, a falta da perícia do roteiro e da direção põem muito a perder. A exposição e desenvolvimento, indecisos entre drama familiar ou psicológico e thriller – não conseguem provocar suspense ou medo. As coisas vão acontecendo fria e automaticamente e quando ocorre o desfecho a chance de empatia já estava irremediavelmente perdida, então, resta-nos o papel de testemunhas indiferentes.
Se você procura por filmes de casa mal-assombrada de países não-canônicos no mundo do cine de horror e que a despeito de baixo orçamento mandaram muito bem, leia esta e esta postagens.  
Mas, se lê inglês e prefere formar sua opinião, por que não confere Grafin & Bein no Youtube? Não garanto a integridade da cópia, porque vi de outra fonte.
2 noites depois, vi Brim (2010); que filmão! Nada de paisagens de cartão-postal lunar ou das loucas noites turísticas de Reikjavik. Os personagens são marinheiros que frequentam igreja evangélica, compram pornô pirata na versão islandesa de nossos camelódromos e arrebentam cara de mulher em banheiro de bar.
Um tripulante de barco pesqueiro morre e precisa ser substituído. Como se os homens não tivessem que aguentar turnos de 16 horas isolados no meio do oceano numa embarcação que vive quebrando, ainda têm que se haver com uma aprendiz a bordo, que emperra a rotina por não estar familiarizada com o trabalho pesado e sujo e, claro, por ser mulher no meio de marujos que passam seu tempo livre em parte vendo produções com títulos como The Sperminator. Filmado em estilo bastante documental, Brim explora com competência e sem alarde o tédio, as neuroses, a fadiga e as esperanças perdidas ou não desses homens, jamais demonizados, apenas mostrados em sua complexidade. Drifa, a estranha no ninho, acaba negligenciada como personagem, porém. Ela está na narrativa apenas pra conhecermos os homens, afinal, nunca sabemos nada sobre ela. E viva a igualdade feminina escandinava!
Tive dificuldade pra compreender que havia 2 tempos diegéticos em andamento durante a viagem do navio, mas uma vez percebido quando se está num ou noutro, a soma dos 2 planos/acontecimentos ilustra a cotidianidade deles na vida desses homens que alimentam turistas e islandeses, mas não compõem o imaginário de exotismo e pacifismo que temos da ilha.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

CONTANDO A VIDA 111

Pouco depois de criar o blog, fiz postagem sobre o então famoso filme Doubt. Reclamei do fim das grandes narrativas e do politicamente correto da pós-modernidade (leia aqui). Nosso historiador-cronista também teve ataque de saudade dos tempos em que filmes terminavam com o "The End" e tudo se resolvia. Mais erudito que eu, nosso professor Sebe fala sobre implicações ideológicas, efeitos especiais e esperança. 

THE END...

José Carlos Sebe Bom Meihy
De repente deu saudade. Muita saudade!... Lembram-se do tempo em que íamos ao cinema e os filmes terminavam com o famoso “The End”? E quando tudo terminava com um prolongado – mas discreto – beijo? Pois é, por anos fazíamos questão de ir aos cinemas e saíamos com a certeza de que a história tinha acabado com um final feliz. E a certeza do bom fim nos animava, como se fossemos contagiados. E, felizmente, por mais complicada que fosse a trama, sempre as coisas davam certo e tudo acabava bem. Demorou muito para lembrar-me de velhos filmes que tiveram final trágico. Creio que a ideia de teias que resultavam mal é bem recente. O pior é que agora algumas histórias não acabam e sem termo final explicativo, olhamos uns para os outros e, meio desapontados, aprendemos que é de bom tom fazer cara de inteligente e não perguntar para ninguém o que teria acontecido. Reparem bem como nessas situações as pessoas saem quietas e não comentam nada. Sem muita simplificação, no entanto, devemos pensar que há uma mudança no conceito de público que deixa de ser inativo e deve passar a agente capaz de dar continuidade ao enredo segundo sua imaginação. Para gaudio de muitos, porém, ainda as comédias românticas, os filminhos melosos, não aderiram a prática das “películas cabeça”.
Ponderando sobre acabamentos de histórias contadas em filmes que acabam bem, sempre me redimo e insisto em dizer que gosto mesmo é de um final feliz, com soluções que apontam para a eternidade resolvida, para encontros e paz. Por certo, contudo, a proposta do “The End” é mais complexa do que aparece. Mesmo achando que “cinema é a maior diversão”, a tendência da “espetaculização” dos argumentos compromete o desenrolar das histórias. E são inúmeros os casos em que a falta de teor da trama dá lugar a cenas de violência incontrolada, lutas incríveis, bombardeios interplanetários, pedaços de corpos destroçados, cidades destruídas. Da premiação do Oscar, a parte que menos gosto, invariavelmente, é a dos efeitos especiais que podem ser bem feitos, mas desumanizam os casos narrados. Também não gosto de filmes de ficção científica onde o que menos interessa é o final que se sabe o bem sempre vence e o mocinho se contenta com a vitória e prescinde da mocinha. Aliás, me irrito muito quando a cena final é o herói olhando para o público como se nos dissesse “viu só, eu sou o vencedor e vocês seriam as vítimas”. Pior ainda é quando depois de destruir o inimigo ele vira a cara e vai embora sem sequer dar satisfação.
Demorou para que eu aprendesse que as narrativas cinematográficas com final feliz tinham implicações ideológicas. São sutis as explicações que trabalham com o efeito do cinema em nossa formação cidadã. Ainda que os intelectuais da Escola de Frankfurt tenham nos alertado sobre o impacto das imagens em nossa mente, da combinação de som/música, do escuro e do posicionamento passivo, sentado em poltronas confortáveis, nos tornamos presas fáceis de manipulações. Não chegaria ao ponto de pensar que somos domesticados pela fantasia cinematográfica, mas não nego o efeito do produto cinematográfico em nosso comportamento. Os nazistas sabiam bem disso e não tiveram pudores em manipular segmentos da população. É verdade que podemos pensar de outra forma, supondo, por exemplo, o cinema educativo, mas ele também não deixa de atuar em nossa reflexão. O andamento argumentativo destas linhas, inexoravelmente, reconduz a busca do tema proposto, pois, afinal o que significaria o “The End”? Seria uma maneira alienante, um mecanismo apto a nos deixar mais brandos? Pode ser, mas se for, melhor assim, porque ainda sou dos que pensam que é melhor esperar finais felizes do que se sentir sem saídas ou com fins vagos. “The End”.