quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

TELONA QUENTE 348

 


Em Medo de Chuva/Fear Of Rain, uma adolescente com esquizofrenia luta com alucinações vívidas e terríveis, quando começa a suspeitar que sua vizinha tenha sequestrado uma criança. Seus pais tentam desesperadamente ajudá-la a viver uma vida normal, sem expor seus próprios trágicos segredos, e a única pessoa que acredita nela é Caleb - um garoto que ela nem tem certeza se existe.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

CONTANDO A VIDA 330

 A MORAL DA VACINA... OU A VACINA IMORAL.


José Carlos Sebe Bom Meihy


Sei de muitos que como eu estão estonteados com questões afeitas à ética neste tempo dominado pela Covid 19. Sem dúvidas, o confinamento tem promovido alterações nas relações humanas, e as redes sociais cumprem papeis compensatórios no isolamento. A urgência mecânica das comunicações eletrônicas, por sua vez, tem apressado raciocínios e o apelo para respostas instantâneas anda anulado espaços de ponderações. Tudo é “para ontem”, e essa pressa nos obriga a respostas que ficam devendo ao bom senso. Por vezes, me vejo perdido em meio a arrependimentos, repetindo para meus botões: pois é, poderia ter esperado um pouco mais, ajuizado melhor, antes de responder a esta ou àquela instigação.

A propósito, lembrei-me de uma historinha que ilumina perplexidades repontadas no terreno da lógica e da moral modernas. Vamos a ela “era uma vez um atendente de loja de laticínios que teria que prestar serviço a uma fila que ia longe. Basicamente, ele se dividia entre venda de presunto e de queijo. Mediante reclamações pela demora no fatiamento, optou por potencializar o melhor atendimento separando duas filas: os que queriam presunto à esquerda, os que buscavam queijo à direita. Para ele foi um alento, posto que não precisava trocar a mercadoria a cada freguês”. Pois bem, em termos de gestão não há o que reparar nessa conduta racional, né?! Analisemos, contudo o dilema: de um lado, o servente teve seu mister facilitado, a fila andava célere e ele exercia a eficiência requerida. Fordismo aplicado. Instalou-se, porém, um outro problema: e quem quisesse ambos? E mais grave ainda, qual o sentido de chegar primeiro e compor a fila? Que critério seria praticado para determinar o momento de mudança de uma para outra peça? Esta espécie de “parábola capitalista” se me acentuou frente ao controle da aplicação das vacinas contra o vírus da Covid 19. Vejamos...

Os jornais têm noticiado, com insistente indignação, aberrantes casos de pessoas que corrompem a ordem estabelecida e furam as filas das vacinas. Vejam que estou falando de cerca de 3 mil denúncias comprovadas. Nem vou discutir questões de ansiedade coletiva, de direito natural à luta pela vida, pois tais inerências são instintivas e, diga-se, os animais também as exercitam. Mas estamos tocando na situação de pessoas, gente que vive em sociedade segundo pactos sociais firmados. Frente à inevitável agressão ao sentido de vida pública, levanta-se uma questão imposta pela crueza das consequências: como agir? Que fazer então? A pergunta que está no ar exige respostas: os furões, merecem tomar a segunda dose? Que devem ser punidos é resposta pronta, mas não é tão simples assim, pois outro problema se apresenta: mas e a “imunização de rebanho”? Caso confirme-se a segunda aplicação, não estaríamos dando bençãos à ação bandida e admitindo injustiças? A quem compete decidir sobre essa matéria, aos juízes ou os infectologistas? Notemos que os transgressores são sempre autoridades, empresários, políticos, gente de poder, tipos que deveriam dar exemplo. E a piorar tudo temos que ter claro: desperdiçar doses jamais!

Frente à essas questões de fundo moral preside uma alternativa que vem sendo cultivada em particular por defensores da aplicação do Direito Público: mesmo os errados devem sim receber a segunda dose, mas merecem outras penalidades severas (discute-se a reclusão de 1 a 3 anos + multa). Vago, né? Vago, mas indicador de uma alternativa que conduz aos argumentos dos infectologistas: a responsabilidade também é da vigilância sanitária que não teve competência para barrar os infratores. Não há como deixar de considerar a responsabilidades de órgãos de comando central – municipal, estadual e federal principalmente. A discussão está colocada a público e judicializada a partir de um caso que serve de parâmetro nacional: o de Manaus, a cidade com maior número proporcional de infectados no planeta. Como se sabe, na capital amazonense duas jovens médicas, filhas de empresário destacado na economia local, tomaram sem devido respeito a primeira dose. O fato foi amplamente mostrado pela mídia. O Ministério Público Federal, frente a isso, condenou a atitude, mas abriu brecha para que as irmãs tenham acesso à dose complementar. E daí? Como nos posicionar?

No meu foro pessoal, esforço-me para ter uma resposta coerente, acontece, porém que a cada certeza alcançada resta alargar a responsabilidade do bem comum. Elas erram sim, mas no conjunto a atitude equivocada tem um efeito coletivo ao engrossar a lista final de imunizados. E, ademais, não podemos isolar os gestores que permitiram tais atos. Não mesmo. É aí que entra o personagem ausente: o governo em diferentes escalas, setor que tinha que assumir comando firme de tudo. Que se aplique a segunda dose, puna-se exemplarmente os corruptores e que saibamos cobrar a conta de tanta incúria nas próximas eleições. Tudo sem esquecer que entre os “larápios beneficiados” e nós estão os mediadores que nos representam.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

TELINHA QUENTE 437

 

Uma mãe solo se envolve em um jogo perigoso ao ter um caso com o chefe e fazer amizade com a enigmática esposa dele.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

CAIXA DE MÚSICA 443

 


Roberto Rillo Bíscaro

A diva da MPB dueta com dez cantores da nova geração, recriando canções de seu extenso repertório.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

TELONA QUENTE 347

 


Roberto Rillo Bíscaro

A farta safra de filmes de ficção-científica da década de 1950 embute a categoria das criaturas agigantadas como efeito colateral imprevisto da radiação. No decênio que vendia Contador Geiger de brinquedo, o público em geral não tinha noção real das devastadoras consequências pós-ataque nuclear.

Os programas governamentais de defesa pública – hoje motivo de chacota pelo absurdo – aconselhavam sobre como se proteger/esconder durante explosões atômicas, mas não falavam do depois, que se tornaria popular nos anos 80, com produções angustiantes, como a britânica Threads.

Havia, porém, informações do desastre genético-ambiental de Hiroshima/Nagasaki e, claro, a imaginação de produtores e cineastas, que conjugaram o poder/perigo nuclear, com outra grande neura dos higienistas anos 50: o pavor das doenças transmitidas pelos insetos, que também podiam destruir lavouras e eram vistos como inimigos pequeninos infiltrados em todo canto das casas e jardins gramados dos cada vez mais populosos subúrbios de classe-média estadunidense.

No decênio enamorado do DDT – ganhou até poema de louvor, em grande jornal – a linguagem de entomólogos e autoridades sanitárias - além da sempre influente mídia – ecoava aquela usada pra se referir ao “perigo” comunista ou atômico. Mais de uma vez, confluíram, inclusive.

Se você lê inglês, seria muito produtivo buscar online Looking Straight at Them! Understanding the Big Bug Movies of the 1950s, de William M. Tsutsui. O sintético artigo faz um balanço das diversas interpretações atribuídas aos filmes de insetos e aracnídeos gigantes, antes de propor que artrópodes mutantes mexem diretamente com o pavor que muitos de nós temos deles. Eu tenho; odeio! Há interpretações desses monstros como metáforas do perigo atômico (a mais comum) e de expressões de repressão da sexualidade e masturbação (WTF!?), mas Tsutsui os interpreta como usar o mote da radioatividade pra nos horripilar perante escorpiões, aranhas, formigas, louva-a-deus.

Cada qual escolha a racionalização que mais lhe convier. Os produtores certamente estavam atrás de lucro e esses filmes relacionavam-se a temas candentes e atraiam público – especialmente jovens homens – pras salas escuras e drive ins. Ou alguém acha que Roger Corman se importava com premissas metafóricas?

Vamos fazer um levantamento dalguns desses filmes? Deixei de fora os que apresentam mamíferos gigantes; a vibe aqui é aracnídeos e insetos. Também excluídas as produções onde esses animaizinhos nojentos de 6 ou 8 pernas coadjuvam ou só aparecem por instantes, senão a lista seria muito maior. Como os 50’s gostavam de botar aranha pra brigar!



Se você quiser apenas um exemplar; só pra saber do que se trata, arquivar mentalmente e seguir sua vida, o indicado é Them! (1954), primeiro e mais referenciado do sub-subgênero. Apesar de datados, os efeitos especiais são impressionantes pra época e tem uma cena ou outra, como as de dentro do formigueiro, que são até meio nojentinhas.

Produzido com grande orçamento pela Warner, O Mundo em Perigo narra a batalha humana contra uma infestação de formigas agigantadas por exposição continua à radiação atômica. O exclamativo título original refere-se à oposição entre Us (Nós) e Them (Eles/as), muito comum na cultura anglófila. Frente ao inimigo comum, as instituições se unem pra manter a ordem. Mesmo que a ciência tenha feito caca ao criar as formigas como subproduto de seus experimentos, é ela quem achará a resposta pra exterminar a praga. Em cooperação com a defesa-civil e os militares. Tudo em ordem, tudo bem anos 50; porque esses filmes revelam bastante bem a ênfase e importância das instituições organizadas: são sempre elas que restituem a ordem aos desorientados e indefesos civis/não cientistas.

Por ser arquetípico, Them! apresenta convenções usadas até hoje em filmes trash do canal Sy Fy sobre insetos mastodônticos. Há um entomólogo à mão, que apresenta info alarmante sobre as formigas, por meio de minidocumentário (imagem de arquivo = economia na produção), militarizando-as. São apresentadas como pertencentes a uma sociedade ferozmente militarizada, vivendo existências anônimas e totalmente controladas. Não estranha que estudiosos há gerações interpretem-nas como metáforas dos frios comedores de criancinhas, os comunistas! Se lembrarmos que Winston Chruchill certa vez fez tal comparação também, essa hermenêutica não fica tão maluca.

Seja lá como você o interprete, Them! ainda tem a clássica tática de não apresentar os monstros desde o início. Primeiramente, surgem mortes, ouvem-se barulhos estranhos (nesses mundos ficcionais, amiúde insetos e aracnídeos têm “voz”, numa lógica, tipo, se cresceram, então seus ruídos amplificaram-se) para deixar a plateia apreensiva. Daí, quando as horrendas formigas mutantes apareciam nas grandes telas das salas escuras cinquentistas deve ter dado muito susto e feito gente fechar os olhos. A gente até meio que ri delas, mas nossos antepassados nunca tinham visto nada igual!

O Mundo em perigo foi o filme mais rentável da Warner, em 1953, então a Universal tinha que ter o seu big bug movie também. Em 1955, saiu Tarântula, que prefiro a Them!, embora aranhas me incomodem deveras. O diretor Jack Arnold contou que esse pânico generalizado que as pernaltas causam motivou a película. O ritmo de Tarântula é mais uniforme que o das formigas, um pouco arrastado no segundo ato. O uso de um aracnídeo real agigantado e sobreposto à maior parte das cenas torna o filme mais arrepiante também.


No meio do deserto, um cientista bem-intencionado pesquisa um supernutriente pra resolver o problema da fome num planeta cada vez mais populoso. Mas, a ingestão do produto, desenvolvido a partir de isótopos radioativos, tem o perigoso efeito de desarranjar o equilíbrio hormonal. Nos animais, causa gigantismo e nos humanos, deformidade que os deixa parecidos à representação clássica do Frankenstein da década de 1930. Jeito sutil de apontar que o Dr. Hastings perigosamente brincava de Deus, como seu antepassado, Dr. Victor Frankenstein.

Um incêndio no laboratório permite que a personagem-título escape e, crescendo sempre (imagine a velocidade com que teria que cambiar seu exoesqueleto!), começa a devorar o que vê pela frente, até chegar às portas de Desert Rock. O deserto nesses filmes sci fi cinquentistas presta-se muito bem pra metáfora do desconhecido, aparentemente calmo e morto, mas que pode conter a destruição. Também eram locações grátis e abundantes na Califórnia.

Tarantula tem vídeo demonstrando a ferocidade, resistência e “crueldade” das aranhas; tem personagem feminina só pro filme não ter só bofe (veja e me explique sua função dramática, please) e cientista explicando apenas o que convém à narrativa, claro. Em nenhum caso, os doutos se perguntam sobre a questão do exoesqueleto (que aliás, jamais são encontrados) e da respiração quase à flor da pele dos artrópodes. Na Pré-História havia “libélulas” gigantes, porque havia muito mais oxigênio na atmosfera.

Mas, quem vê sci fi de horror tá lá interessado nessas questiúnculas científicas? Queremos ter medo ou aflição e Tarântula provê isso até hoje, mesmo em branco e preto. Ui, que bicho asqueroso!

Esse filme também é exemplar ancestral da simbiose retroalimentar entre cinema e a ainda infante TV, porque o roteiro foi desenvolvido a partir de um episódio da série Science Fiction Theater.

Efeméride: Clint Eastwood – cujo nome sequer consta dos créditos – aparece por uma fração de segundo, como líder da esquadrilha de napalm, que matará a peluda.


1957 foi ocupado pelos artrópodes, que ameaçaram dominar a Terra mais de uma vez.

The Black Scorpion é da Warner, mas a chancela de grande estúdio não impediu o orçamento de ser mixuruca; conta-se que menor que o de King Kong, da década de 30. Por isso, os efeitos especiais são tão risíveis, especialmente quando se mostra a cara do escorpião negro, antropomorfizada e babando! A técnica de stop motion usada pra filmá-lo andando até que funciona, mas quando aparece o close daquela cara de débil mental, só rindo mesmo. E ele faz barulho mix de ronco de dinossauro e das formigas de Them! Sons de arquivo pra economizar.

Não há menção à energia nuclear, porque a história se passa no México; Black Scorpion é coprodução com aquele país. Como em nações “atrasadas”, as superstições e as forças naturais contam mais, os escorpiões gigantes atingem a superfície graças a uma erupção vulcânica gigantesca. Conseguiram escalar a cratera pra apavorar os mexicanos, mas quando os heróis estão em perigo lá embaixo, o escorpião atacante não consegue subir o paredão.

Pra fãs de filmes B é pra lá de asssistível e divertido, porque o escorpião negro – o mais malvado – ataca até trem e a mocinha é a mesma de Tarantula. Que ela seja mexicana e fale inglês sem qualquer sotaque (porque a atriz é norte-americana e não se deu ao trabalho ou não sabia fingir um) é um dos elementos que admiradores desse tipo de produção adoramos.

Beginning Of The End (1957) finge que terá protagonismo da única personagem feminina, mas é só embuste, como o próprio filme. A experiente e durona fotógrafa perde qualquer função dramática assim que encontra o entomólogo que entende de tudo, pois daí ele assume a chefia e ela sequer fotografa os insetos gigantes, porque jamais aparece com a câmera na mão novamente.

Produzido com orçamento diminuto pela Republic Pictures, trata-se de produção que só vale a pena ver pra detectar gambiarras e incorreções. Por exemplo, a história se passa em Illinois, estado superplano, mas dá pra ver altas montanhas californianas em algumas tomadas.

O Começo do Fim, como literalmente traduzido por aqui, além do componente atômico, explicita o desconforto que pesticidas como o DDT já causavam na época. Trabalhando pro departamento de agricultura, o Dr. Ed Wainwright desenvolve superalimentos a partir de radiação. Seu colega mais próximo fica surdo-mudo como consequência, mas as autoridades - nem o sabichão Ed – cogitam estancar a pesquisa. Na verdade, o pesquisador tornado deficiente segue trabalhando! Não por muito tempo, porém... Famintos gafanhotos provam da comida gigante e começam a crescer descontroladamente (oi, H. G. Wells!), dizimando cidades e ameaçando a metropolitana Chicago.

Mesmo genérico, poderia ser bem divertido, mas mesmo pros padrões cinquentistas os efeitos especiais são defeitos. Gafanhotos são filmados sobre fotos de edifícios, então tem hora que dá pra vê-los botando as patas onde já não há mais prédio! É assim, o tempo todo: dá pra perceber direitinho que os insetos foram filmados em separado e as imagens porcamente casadas. Então, as criaturas não destroem nada.

Cada vez mais comuns os relatos de insetos resistentes aos inseticidas progressivamente mais poderosos e devastadores são ecoados quando aprendemos que, mesmo ensopados em pesticidas, os monstrengos não morrem.

Curiosidade mórbida: a produção adquiriu 200 gafanhotos machos pra filmagem. Como os bichos foram comprados no Texas, que acabara de viver infestação, as autoridades sanitárias não permitiram fêmeas pra não correrem o risco de procriação e proliferação na Califórnia. Postos em caixas, os machos não tinham o que ou quem comer e se canibalizaram até sobrar apenas uma dúzia. Mas já deu de bom tamanho pra filmar, porque mesmo que houvesse uma porrada deles, a produção não teria como filmá-los. A gente apenas é noticiado que há um exército de insetos; vemos bem poucos.

The Deadly Mantis (1957) é mistura de O Monstro do Ártico (1951) com O Monstro do Mar (1953), mas, sem a novidade dos primeiros e com orçamento de fome, o resultado chega a ser pior do que o dos gafanhotos, embora o louva-a-deus de papiê machê seja legal e quem curte trash se divertirá com os absurdos científicos e lógicos dessa ficção-científica, que, como tantos de seus congêneres, desdiz qualquer estatuto científico.

O filme começa com close de mapa mundi, focalizando ilhota próxima da região antártica, uma imagem de vulcão entrando em erupção e voz citando Isaac Newton pra dar credibili/autoridade. A lei da ação e reação. Daí, aparece um louva-a-deus preso num cubo de gelo derretendo. Não creio que Newton aprovasse essa aplicação de sua teoria, mas o mais engraçado está por vir.

Longa sequência de imagens de arquivo fala sobre a DEW Line. DEW é a abreviação de Distant Early Warning, sucessivas barreiras de radar, usados para detectar qualquer “ataque” ao povo norte-americano. Acontece que a DEW Line se estendia em direção ao Ártico e não à Antártica. Assim, o mapa mostra um local, mas a ação de The Deadly Mantis começa no polo antípoda. Como não ser fã desses filmes?

O vulcão descongela louva-a-deus gigante adormecido desde a pré-história, que, uma vez acordado, começa a devorar gente, destruir propriedade e dirigir-se ao sul, provavelmente aos trópicos, seu habitat, por preferir regiões quentes. Pena que pela falta de dinheiro pra efeitos especiais, a maioria das ações seja descrita e o pouco que vemos é sem vida, então a impressão é a de produção mais longa do que seus 78 minutos.

Por mais que a premissa de que esses filmes expressassem um medo ancestral nosso por insetos, a leitura sobre ansiedade perante a Guerra Fria é bem mais difundida, não apenas porque consagrada há décadas, mas porque é muito palpável.

Vários desses filmes B (sendo gentil com o Louva-a-Deus Mortífero pra ele não me comer!) eram curtos pelo orçamento parco, mas também porque eram exibidos em sessões duplas nos cines e drive ins repletos de adolescentes. The Deadly Mantis foi lançado junto com um noir de espionagem chamado The Girl In The Kremlin, com a trashdiva Zsa Zsa Gabor. Daí, no filme do louva-a-deus, 7 minutos falando da DEW Line e um monte de referências ao Civilian Observer Corps alimentam qualquer paranoia. O COC era uma organização nacional de voluntários civis que em seus momentos de folga trepava em telhados pra olhar o céu, sempre alerta prum ataque soviético. Vai que a DEW Line deixasse escapar alguma coisa...

Dentro do subgênero aventura, uma divisão muito popular foi a dos jungle movies, ou seja, aventuras passadas na selva. Foram dezenas de produções pra cine e TV - Tarzan sendo a mais reverenciada até hoje – influenciadas pela popularidade da literatura de Burroughs e Kipling, onde havia muito espaço imaginário pra altas fantasias supremacistas brancas camufladas.

Monster From Green Hell (1957) é bem mais jungle movie do que sci fi. A ficção-científica apenas fornece o mote: vespas são enviadas pro espaço pra testarem a resistência animal a níveis de radiação. O foguete cai na África (nessas narrativas, quase nunca há um país; tudo é “África”, como fazemos até hoje!) e os insetos agigantam-se, devorando a apavora população. Como a ciência fazia e desfazia, o cientista “culpado” pelo monstrengo, Dr. Quent Brady, viaja à África pra consertar o estrago.

A vespa-monstro é muito tosca, mesmo pra padrões de então. Mesmo assim, serviu como modelo pruma linha de brinquedos na década seguinte, que trazia insetos gigantes contra as forças armadas (e depois são os jovens e crianças de hoje os perturbados!).

Como as vespas estão escondidas num lugar remoto, é preciso longo safari pra chegar lá. Então, Monster From Green Hell utiliza um monte de imagens de arquivo de animais e situações típicas de filmes de selva, inclusive com os negros carregando tudo sem camisa, ao passo que os brancos estão vestidos, levando só as armas. E fumando, feito chaminés; onde arrumaram tanto cigarro no meio do mato? Era outro mundo: tiozinho desfalece de fadiga, acorda numa barraca de acampamento e a primeira coisa que acontece, quando desperta é lhe oferecerem um cigarro!

E vocês apostam quanto que morre muito mais negro do que branco e que as situações de covardia estão reservadas aos primeiros? Os afros que enfrentam a pífia batalha final com a vespa são os ocidentalizados, sabe os famigerados pretos d’alma branca? Mas, tem gente que acha que isso não é importante...Então, tá!

Se ainda houver algum fã do DALLAS original: o Dr. Brady é ninguém menos que o patriarca da família Ewing, Jock. Jim Davis foi muito mais popular na TV do que no cinema, veículo onde teve a carreira implodida pelo fiasco de bilheteria de Encontro no Inverno (1948), cujo roteiro era uma bomba e estrelava uma Bette Davis já envelhecida pros padrões de estrela. Mas, quem levou a culpa foi ele por não ser ninguém ainda.

Se filmes independentes norte-americanos tinham orçamento mendigo, o que pensar de seus similares produzidos na ainda dilapidada Grã-Bretanha, de 1957? The Strange World of Planet X tem premissa bem legal e que hoje poderia ser chamada de mashup, porque sobrepõe insetos gigantes com disco-voador pousando pra nos ajudar. Além de uma alteração de ponto de vista: o estranho mundo no tal planeta X é o nosso, aos olhos do benigno ET que visita a Inglaterra pra salvar o mundo. Ele é tão Klaatu, de O Dia Em Que a Terra Parou...


Um cientista maluco pesquisa sobre campos magnéticos e nem se importa quando a ionosfera é afetada, fazendo com que os insetos da floresta se agigantem. Claro que se o filme fosse pelo menos meio legal, não perguntaríamos, porque os domésticos não sofreram mutação. Pena que os curtos 70 minutos parecem 120, porque a maior parte é falação, tagarelice, por falta de verba. Apenas uns 4 minutos finais são excitantes e ainda assim se você gosta de sentir aflição com insetos reais sendo filmados bem de perto (ugh!).

Não estranhe a presença do ianque Forrest Tucker encabeçando o elenco. Frequentemente as produções sci fi da época apresentavam um cientista da ex-colônia, então já no domínio completo da tecnologia e ciência: dava mais “veracidade”. Além de questões práticas como atrair público ou mesmo porque vários realizadores dos EUA filmaram na Inglaterra pra aproveitar os subsídios governamentais.

No ano seguinte a The Beginning Of The End, seu diretor, Bert I. Gordon, voltou raspando o tacho da moda dos filmes de insetos gigantes. No mesmo ano em que A Mosca fazia sucesso (1958), Gordon saiu-se com Earth vs. The Spider, ou, simplesmente, The Spider, como foi marketado pra ressoar com The Fly. O roteiro é tão derivativo que nem se preocupa em explicar porque a aranha se agigantou. Ela vive dentro duma caverna, e pronto. Pensam que ela morre por overdose de DDT, mas um grupo de rock’n’roll a tira de seu torpor e ela aterroriza uma cidadezinha no meio do nada. Não tem nada de “the Earth” nessa trama. Detratores da ainda novidade rock, à época, diziam que o ritmo despertava o demônio dormente em cada um. Pois é o que ocorre. Só não compare a proporção do tamanho do monstrengo barulhento, quando está andando à solta e quando está pendurada na escola e nem repare como tem vez que a aranha é negra e outras bem mais clara. Ou compare só pra rir.

Com elenco de “adolescentes” velhos o bastante pra estarem já formados da universidade e trabalhando, Earth vs. The Spider nada acrescenta à já moribunda voga dos artrópodes gigantes, mas pelo menos dessa vez, Gordon mira melhor as patas do bichão andando sobre fotos. É efeito especial de garagem, tosco mesmo pros padrões cinquentistas, mas um bocadinho melhor e mais ágil do que o dos gafanhotos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

CONTANDO A VIDA 329

SE BOLSONARO FOSSE BICHO DE ZOOLÓGICO...


José Carlos Sebe Bom Meihy

Costumo ser muito respeitoso com os animais e por isto, de saída, peço desculpas aos bichos. E fico imaginando sob a ótica dos estereótipos, qual deles corresponderia ao ex capitão, agora em exercício na presidência. Apoio esta minha audácia em pareceres firmados sobre a tentativa (felizmente) frustrada de dois soldados delinquentes, um deles Jair Bolsonaro, arriscando explodir reservas do Exército Nacional, mediante a reivindicação de aumento de soldos. Recupero, pois duas afirmações que valem como pressupostos para minhas aproximações entre o presidente e certos animais. Começo pelo dizer do general Geisel, garantindo que Bolsonaro era “mau soldado”, e emendo na decisão firmada no processo que levou um dos rebelados, o ex capitão, a processo relatado pelo coronel Carlos Alfredo Pellegrino. Em ato conclusivo sobre a averiguação judicial – que resultou no afastamento de Bolsonaro da linhagem militar – o relator do processo, frente à defesa do terrorista, se manifestou enfatizando tratar-se de “falta de lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos” e pontificou garantindo ser aquele ato característico de alguém com “grave desvio de personalidade”. Pronto, girada a chave dada por Geisel e Pellegrino, imaginemos um passeio pelo zoológico em busca do animal representativo de nossa autoridade máxima.

O primeiro bicho identificado poderia ser um enorme elefante branco que ocupa um espaço apertado para sua capacidade; exemplar exótico na manada, ele se distingue pela falta de modos, de domínio expressivo, de equilíbrio mesmo. Poderia ser também um bode que não sabe se comportar em lugar colocado por equívoco e que, inadequado, quebra tudo a cada movimento. Em seguida poder-se-ia pensar em um papagaio ou uma daquelas aves barulhentas que abusam da penugem verde e amarelo, batendo asas a cada vez que repete os mandamentos da extrema direita. Ah, poderia ser um macaco desses apalhaçados que imitam tudo que mandam fazer e que se comprazem com bananas jogadas por um certo Olavo, seu mentor. Talvez passasse por alguma serpente venenosa, dessas bem peçonhentas e que lhe servisse de corpo capaz de matar mais de 200 mil pessoas, vítimas de políticas negacionistas. Pensei em uma ema, mas resolvi poupá-las, pois aquelas que o bicaram nos jardins do Alvorada me representam e não mereceriam tanto castigo.

Supus depois uma anta, mas acho que também elas ficariam zangadas sendo rebaixadas em sua capacidade de discernimento. E os camaleões valeriam, me indaguei, mas logo achei que pela capacidade sutil de mudar de aparência não daria certo, Bolsonaro não tem a leveza de entendimento das alterações sutis e oportunas, ele só muda de acordo as ordens vindas do exterior. O bicho preguiça poderia ser uma boa alternativa, pensei, pois ocupa lugar sem executar trabalho algum, e mais, além de não fazer nada útil vive com as garras enfiadas em árvores sólidas como se fossem as Forças Armadas. Dispensei os jacarés, pois o próprio ex capitão o elogiou dizendo-o alternativa para a transformação motivada pela vacina.

À medida em que deixava meu pensamento passeando pelas possibilidades ocorriam novas alternativas, todas interessantes, mas tantas eram que optei por eliminar algumas como o portentoso leão, soberano, majestoso. Deixei de lado também os demais grandes felinos, porque são espertos, ágeis, donos de movimentos impensáveis no personagem em foco. E por falar em foco, lembrei-me da foca e, confesso, demorei-me um pouco mais, pois os sons emitidos por ela me fizeram lembrar as reuniões feitas no cercadinho do Palácio onde outras focas aplaudem. Mas fui em frente e, não escapei de uma vaca e, sabe, apoiei essa alternativa supondo os beneficiados das rachadinhas que vazam benesses saídas das tetas ordenhadas pelo famigerado Queiroz. Daí para os coelhos foi um pulo só e nem justifiquei pela prole (01, 02, 03, 04 até ser barrado por uma menina, fruto de vacilo), pois identifiquei pela capacidade de multiplicar problemas de efeitos internacionais e consequências que afetam a China, os Estados Unidos, a Argentina, nossos parceiros maiores. Veado, deixei de lado, pois poderia ferir algum filho e a proposta seria desvirtuada.

Capivara se afigurou uma boa candidata porque é sempre inconveniente e capaz de incomodar muito e estar em lugares indevidos. Certos animais desengonçados poderiam incorporar o lamentável personagem presidencial, mas a girafa por exemplo foi dispensada não por suas pernas longas, mas pelo pescoço que a faz enxergar distancias, e esse não é o caso do ex capitão. Porco espinho ou gambá se afiguraram e ambos caberiam pelo fato de se defender de maneira agressiva a qualquer demanda, principalmente se for democrática.

Bem, a lista é grande e as aproximações variadas, mas por fim conclui por um animal que realmente me convenceu: o dragão de Komodo. Sei que é estranho, pois esse bicho horripilante não é espécie de zoológico, mas convenhamos, além de amedrontador, feroz, irracional, tem uma baba infecciosa capaz de aniquilar os desiguais. Há um fator a mais nessa escolha, pois a obsessão paterna pela prole o distingue fazendo da proteção dos filhos a virtude única do bicho pavoroso. Sabe o que mais me assusta e mete medo? Sendo o elo mais próximo dos dinossauros, o dragão de Komodo não tem predador capaz de detê-lo... Aí é que a coisa fica séria, se não o controlarmos, o mundo pode virar um zoológico. Impeachment já.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

TELINHA QUENTE 436

 

Em uma vila cheia de segredos, o inspetor Luc Capitani investiga a morte de uma garota de quinze anos. Os Segredos de Manscheid é uma série da pequenina Luxemburgo e está na Netflix.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

CAIXA DE MÚSICA 442

 

Roberto Rillo Bíscaro

Segundo álbum do compositor André Mussalem que resgata o cancioneiro político do século XX, aprofundando as experiências da relação entre samba e política.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

TELONA QUENTE 346


Roberto Rillo Bíscaro

Em Host (Netflix), para driblar o tédio da quarentena devido à pandemia do coronavírus, um grupo de amigos faz uma sessão espírita online e acaba invocando um espírito do mal.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

CONTANDO A VIDA 328

CANCELAR OU NÃO, EIS A QUESTÃO.

José Carlos Sebe Bom Meihy

Imaginemos “atualizações” de trabalhos clássicos. Na pintura, em nome do combate ao preconceito de cor, banir a extensa série “Mulatas” de Di Cavalcanti. O polêmico “Homem amarelo” de Anita Malfatti deveria ser retraçado em coloração e moldes helênicos? De Gauguin (que era mestiço peruano/francês) suas “taitianas” teriam o morado da pele tingido de tons claros, certo isto? E os demais temas ditos polêmicos? “O sono” de Coubert com duas mulheres se entrelaçando e “A criação do mundo” com exposição exuberante do órgão sexual feminino, deveriam ser banidos? Aliás, lembremos dos protestos contra Rembrandt pelo “Monge num campo de milho”, gravura vetada sob o crivo de “desvio”. Michelangelo legou várias cenas de beijos gays na cúpula da Capela Sistina, vamos mitigá-los? O que fazer com a infinita representação de nus bíblicos e mitológicos constantes de incontáveis museus mundo afora?

No âmbito da escultura, a audácia mais comentada é de Bernini, com o incrível olhar lascivo expresso no “Êxtase de Santa Teresa” - que alguns sequer admitem em um altar - heresia? Valeria pagar supostos politicamente corretos, moralistas, em nome da “evolução dos tempos” ou combate a preconceitos? Que fazer então com os desenhos eróticos japoneses, com as ilustrações do Kama Sutra indiano, com a Suite Vollard de Picasso, cancelar? E com as inscrições nos muros recuperados de Pompéia; com as audaciosas montagens de Alexandra Rubinstein propondo visão feminista do papel masculino na relação sexual; com as fotos sensuais de Henry Cartier-Bresson?

E nas músicas, deveríamos silenciar as deliciosas marchinhas de carnaval – Braguinha, João Roberto Kelly, Mário Lago – e negar “Saudade da Amélia”, “Aurora”, e mais objetivamente “Mulata assanhada”, “O teu cabelo não nega”, “Nega do cabelo duro”? E que dizer de “A cabeleira do Zezé”, “Maria sapatão”, “Índio quer apito”, “A pipa do vovô”, e do recorrente “Você pensa que cachaça é água”? Estas, entre centenas de outras peças transpiram provocações e picardia que se presentificam afetivamente na memória coletiva, replicando o que acontece no teatro, cinema, novelas, óperas, revistas.

Escondem-se nos processos seletivos moralizantes, estratégias pouco discutidas, mas necessárias porque reveladoras de políticas e polícias culturais. Em vista de triagens multiplicadas, pergunta-se dos acervos que não compõem a cultura chancelada, seriam desmerecedores de acesso público? Quem decide sobre tais critérios? No geral, contudo, cabe uma questão que não pode mais ser reprimida: como entender a arte fora de seus propósitos questionadores, despistados de nuanças subversivas, transgressoras, danadoras do limite da padronagem? É exatamente seu germe provocativo que instiga, e é por isto também que tanto se quer enquadrá-la.

Estado, igrejas, instituições de ensino, insistem em tutelar a produção e consumo artísticos em geral. Muitas vezes, em nome de sua promoção ou do patrocínio criam-se mecanismos de triagem, e então o veto se apresenta como solução implacável. A qualificação da arte oficial, por séculos se vale de regras disciplinadoras para definir o que pode e o que não deve ser considerado aceitável, conveniente, oportuno. Tudo em nome da sacrossanta moral e dos bons costumes. E crescem leis justificadoras de limites, proibições, banimentos. Isso, diga-se, é estranho no contemporâneo, mas ainda mais em expressões do passado, sugerindo releituras, reescritas e edições. Em nome de ressignificações bastardas não se medem esforços para violências inclementes, sempre idiotas.

O caso da literatura, no conjunto de manifestações censuráveis, por sua gênese inerente à estruturação da sociedade, potencializa complicações, pois são operadas em nome de causas justas e de direitos humanos. Suponhamos, por exemplo, acabar com a discussão sobre “preconceito de marca” em “A escrava Isaura” de Bernardo Guimarães, ou ainda refazer o delicioso perfil de Gabriela (que afinal só se casou porque um árabe, seu Nacib, a aceitou). Vamos “corrigir”, ou “passar a limpo”, Jorge Amado, Nelson Rodrigues, Plínio Marcos, Rubem Fonseca, Rose Marie Muraro, Cassandra Rios, Zéfiro? Discutir ou cancelar, eis a questão! Aliás, que dizer de nossa literatura nacional inteira onde poucas negras ficam grávidas, não se casam, não constituem famílias? Vamos execrar esses livros, ou pelo contrário, vamos abri-los para discussões sobre o que era e o que é hoje?

O revisionismo tem estrada garantida nos debates sobre gênero e raça, e assim, travestindo-se de tema da hora, se alça à condição de mutilador autorizado. E que se danem os anacronismos, ou seja a relação com o tempo da produção artística. Sob tal pressuposto lembremos que a Bíblia contém 23 menções valorativas do consumo do sal – “voz sois o sal da terra” –, tais passagens deveriam ser modificadas frente a condenação do consumo de sódio? É, aliás, exatamente pela adequação da obra ao seu momento histórico que se pretende ferir a discussão, e nela perguntar por que Monteiro Lobato tem sido tão vitimado? Bem, este é outro debate e merece reflexão específica, mas vale destacá-la na cultura do cancelamento. E cabe devotar atenção a esse tema como pretexto para discussões sadias porque exigentes de conhecimento histórico e de bom senso.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

ALBINOS NA PANDEMIA

Alguém se lembrou dos albinos?

Falta às autoridades o olhar apurado para dar conta de grupos minoritários durante a imunização contra a covid-19


EDUARDO OLIMPIO | Do R7


Andamos assistindo no Brasil, desde a liberação da vacinação para combater a atual pandemia, atropelos, furadas de filas, alguma inquietação quanto à disponibilidade da segunda dose em tempo hábil e inacreditáveis cenas, como a de uma ‘profissional da saúde’ em Alagoas que passou um algodão no braço de uma idosa, pôs o dedo no êmbolo da seringa e não o apertou para, em seguida, assear novamente o local da suposta picada. Não dá pra escapar do infame trocadilho; é o fim da picada tudo isso.

Mas vamos em frente. Apesar dos absurdos e em meio à repercussão de notícias boas e ruins sobre a vacinação, uma das coisas que mais chamam a atenção da população é quando chegará a vez de cada um. Pergunta-se sobre grupos de riscos, cobra-se uma punição aos fura-filas (num país que ignora o vexame da carteirada!), discute-se acerca de categorias profissionais que devem ou não entrar nas listas de prioridades, dos educadores e a volta às aulas, se cabe (mesmo!) imunizar detentos etc.






Dentre inúmeras comunidades formadoras da sociedade, uma anda sempre meio esquecida e não apenas em tempos de pandemia. Os albinos, cuja condição genética apresenta uma mutação que prejudica ou mesmo impede a produção de melanina que dá cor à pele, aos pelos/cabelos e olhos, costumam frequentar uma certa marginalidade e, porque não, preconceito quanto à visibilidade e peculiaridade em relação as suas demandas para garantir a saúde e dignidade.

Não se sabe quantas são as pessoas nessas condições (os números variam pelas fontes e o IBGE não inclui essa medição nos questionários) mas a pandemia, na opinião dos dirigentes da Associação das Pessoas com Albinismo na Bahia, impactou os albinos com redução nos atendimentos de saúde, e não só pelo fato das instituições terem de priorizar os pacientes de covid-19; as pessoas com albinismo sentiram a necessidade de se isolarem ainda mais como prevenção contra o vírus.

De acordo com a APALBA, esta população deve ser classificada como grupo de risco e ter prioridade no Programa Nacional de Imunização contra o coronavírus já que não pode se expor ao sol e necessita de reposição de vitamina D para aumentar a imunidade e evitar sequelas do albinismo. Lembra a associação que esta vitamina é a responsável pela saúde dos ossos e músculos e, sem ela, ‘não conseguiriam nem ficar em pé’.


Segundo a Organização das Nações Unidas, embora não existam dados completos, a prevalência do albinismo é maior entre as populações indígenas e afrodescendentes - incluindo comunidades quilombolas. O PNI já inclui esses na vacinação, no entanto, parece que os albinos de fora destes nichos estão ou foram negligenciados pelas autoridades.

Conversando com portadores de albinismo ouvidos pela entidade baiana, a maioria concorda com a inclusão do coletivo na lista de prioridades do programa de vacinação, assim como sente que houve uma piora na visibilidade deles. “Na pandemia fomos obrigados a nos esconder”, ressalta uma delas. Mais extensa, a reflexão de outra albina avança sobre mais questões: “em relação à sociedade, devido ao acesso à Educação nos últimos 15 anos, a discriminação explícita (xingamentos nas ruas, escolas) diminuiu, porém, ainda percebemos muita dificuldade em socialização e aceitação”.

Assim, pergunta-se por que não incluí-los não só na imunização contra o coronavírus mas em tudo que diz respeito à plena cidadania e entrosamento social? Disseram bastante, e se mais espaço houvesse, por certo, mais seria dito aqui sobre capacidade de mobilização, empatia, solidariedade, normalização das relações sociais, diálogos, direitos, acessos, miopia racial, segregação, esquecimento, dor, emoções, olhares, (in)completudes, toques.

TELINHA QUENTE 435

 

Na série brasileira Cidade Invisível (Netflix), após uma tragédia familiar, um homem descobre criaturas folclóricas vivendo entre os humanos e logo se dá conta de que elas são a resposta para seu passado misterioso.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

CAIXA DE MÚSICA 441

 



Roberto Rillo Bíscaro

Um mar de tranquilidade prog, cheio de lindas instrumentações e harmonias vocais. Assim é 
Il Risveglio del Principe, do italiano Celeste.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

TELONA QUENTE 345

 

Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, uma viúva inglesa faz uma descoberta histórica ao contratar um arqueólogo amador para escavar misteriosas formações em suas terras. Baseado numa das mais importantes descobertas arqueológicas das Ilhas Britânicas.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

CONTANDO A VIDA 327

ACASOS, COINCIDÊNCIAS, DESTINO... SORTE OU AZAR?

(Mistérios da sala 904)

José Carlos Sebe Bom Meihy

É parte integrante da conversação árabe repetir “tudo está escrito”. Em particular os setores religiosos acreditam que nada acontece fora do comando de uma força absoluta, dona de todos os traçados, senhora dos tempos, onipresente, onisciente, onipotente. “Maktub”, dizem!... A palavra kitub, aliás, significa “livro” e mak “estar lá”, “gravado”. Assim, pelo valor sagrado da escrita, a tradição da fatalidade inevitável não descola nossa submissão dos desígnios de um destino demarcado, preexistente, e do qual não escapamos. Essa certeza inegociável para qualquer crente deriva de uma raiz islâmica que foi filtrada também pelo cristianismo, sem deixar de se fazer presente no messianismo judaico. Aliás, a tradição dos profetas deriva de tal pressuposto que se imiscuiu inclusive nas adivinhações tão caras aos videntes e cartomantes. E haja ciganas, tarôs, quiromancia...

É claro que as divergências sobre o poder total dos destinos fizeram germinar árduos debates teológicos que no Ocidente se intensificaram a partir de Santo Agostinho, sendo levados ao limite polêmico por Lutero, Calvino, Erasmo e tantos outros. Como tema candente da Reforma Protestante, o chamado “livre-arbítrio”, ou direito de escolha e interpretação das Escrituras, esquivou-se da erudição dos “doutores da Lei” e encontrou abrigo na literatura popular – no Brasil Júlio César Mello e Souza (Malba Tahan) e Paulo Coelho, são expressões destacadas dessa linhagem. Segundo tais preceitos, o significado do devir marcado por determinações superiores atinge a todos, tornando o assunto uma espécie de garantia de nosso alcance ou domínio sobre nossas escolhas e eventuais desvios. Dimensão de um barroquismo prolongado, entre nós esse dilema se expressa na chamada sabedoria popular com ditos sempre prontos como: “pois é, tinha que ser”, “Deus quis assim”, “estava escrito nas estrelas”, “o que é do homem, o gato não come”, e daí por diante... O inescapável então torna-se tanto explicador de fatos notáveis como de situações corriqueiras, todas incontornáveis.

Essas reflexões me vieram à lembrança ao deparar com uma situação singular ocorrida recentemente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Antes de ir aos fatos, imaginemos a intensidade da mágoa que a recém eleita vereadora Mônica Benício (PSOL) nutre em relação ao filho do presidente, o 03, Carlos Bolsonaro. Viúva de Marielle Franco, assassinada por supostos mandados milicianos ligados à família do ex capitão, por sorteio o número de seu gabinete na Câmara foi 904. Nada demais, ainda que certos numerólogos temerosos lembrassem que a soma é 13. Pois bem, creio que isso seria absorvido com alguma naturalidade não fosse uma outra coincidência adicional e até chocante: Mônica terá como vizinho o reeleito vereador Carlos Bolsonaro. E tem mais, vejam como o acaso caprichou nessa história, eram 17 novatos e entre tantas possibilidades o destino (“destino”?) tramou tudo, sorteio feito, sorte lançada e a eis a dança do acaso. Além do vizinho à esquerda, o 3, tratava-se exatamente do gabinete ao lado do que antes era ocupado pela própria Marielle. Não bastasse tudo isso, a sala fica porta a porta com um aliado na busca de responsabilidades daquele extermínio político, um tipo que também marca igual pressão na busca dos assassinos, o edil Márcio Santos de Araújo (PTB). Vale dizer em complemento que este vereador ostenta na porta uma placa chamativa indagando “Quem mandou matar Marielle?”. Sobre essa série de “estranhas coincidências” Mônica Benício, admirada, declarou à coluna de Ancelmo Góis nO GLOBO “onde quer que esteja, ela (Marielle) deve estar rindo de mim. De tantos gabinetes para eu sortear, acabo ficando ao lado daquele que ela ocupou e ao lado de outro (Carlos Bolsonaro) com pautas bem diferentes das nossas”.

A fermentar tantas ironias, cabe lembrar que as portas dos escritórios de muitos vereadores contém mensagens reveladoras de suas posições e posicionamentos que dialogam com fatos marcantes, e, no caso do 03, não seria diferente. Alguns adesivos denunciando que “partidos de esquerda incentivam invasões” se compõem com outros – estes muito mais consequentes – que questionam “Quem mandou matar Bolsonaro?”. As expectativas de boa vizinhança são esperadas. Democracia implica mediação com as diferenças, diálogo com os desiguais, principalmente em situação de debates em favor das causas da população. Em termos filosóficos ou religiosos, porém, a coisa se complica muito. Teria tudo isto sido uma cilada do destino? O acaso teria conspirado a favor do diálogo (ou da intriga)? Mistérios.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

TELINHA QUENTE 434

 

Em busca da verdade sobre seu passado, um homem comete uma traição e assume uma nova identidade em um bairro de Istambul.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

CAIXA DE MÚSICA 440

 

Se você quer um álbum de soul music que te faça se sentir em 1970, não deixe de ver este vídeo e conhecer American Love Call, de Durand Jones & The Indications