quarta-feira, 31 de março de 2021

CONTANDO A VIDA 335

 

UMA JANELA NO MEU TEMPO PANDÊMICO.

José Carlos Sebe Bom Meihy

Em pleno confinamento, imerso em sentimentos curtidos ao longo de mais de um ano restrito às paredes de casa, decretei alforria aos pessimismos escravizados em minhas senzalas pessoais. Soltei as agonias enroscadas nas farpas do tempo pandêmico e resolvi flanar, propor enredo à história deste meu/nosso momento extraordinário. Dei, consciente, ar a tanta fantasia que ensaiava mofo e nela aos enleios que insistiram em buscas de supostos campos de alfazema. Para tanto, por um bom momento, deixei quieto os noticiários, desliguei informações de políticas, apaguei dores por mortes de parentes, amigos, conhecidos ou não, e me permiti supor que estatísticas são poções de um feitiço imaginado, ficção pura. Na mesma toada, dei corda às ilusões que transformavam contaminados em anjos barrocos, e cuidadores em mestres de folguedos, algo próximo das gravuras de Heitor dos Prazeres, das músicas infantis de Toquinho e do ballet de Copélia. E foi muito bom.

Troquei recursos que abusam de sons por sonatas melodiosas, ouvi o mar imaginado, adivinhei matas em verdes plenos, dei acalanto às flores convencionais, coloridas e perfumadas. Ouvi silente o silêncio e nele a mansa voz católica de Adelia Prado declamando seu verso mais oportuno, “Janela”:

Janela, palavra linda/

Janela é o bater das asas da borboleta amarela.

Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,

Janela jeca, de azul.

Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,

Meu pé esbarra no chão/

Janela sobre o mundo aberta, por onde vi o casamento da Anita esperando neném,

A mãe do Pedro Cisterna urinando na chuva,

Por onde vi meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai: minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.

Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão, claraboia na minha alma,
olho no meu coração.

E esvaziado de ruins, pude gozar dos registros sobre meu distanciamento social cumprido. A solenidade do diálogo pessoal impôs brandura e compaixão. Periodizei etapas sob o critério da busca de alternativas redentoras, e, com certo apreço, reconheci o primeiro esforço: arrumar a casa, olhar os cantos do meu canto e reconhecê-los como lar: armários refeitos, roupas dispensadas, revisão de objetos descartáveis, diria que gastei os primeiros dois ou três meses driblando o medo trocando-o pela reorientação caseira. Era como me preparar para uma visita íntima, com o mais centrado encontro de mim com meu eu purificado. Dessa fase, talvez a lição maior tenha sido a constatação de que poderia viver com bem menos, sem alguns luxos tolos.

Diria que meu segundo movimento foi estabelecer ações que me davam prazer e que poderiam me ligar a outras pessoas, sem riscos. E cozinhar virou um verbo conjugado diariamente, sob a pretensão de ajudar duas vizinhas dependentes de assistência. Foram meses de envios quase diários e estabelecimento de afetos que nutriram aquelas duas vidas que, infelizmente, chegaram a termo no mês passado. No pulso desse movimento, troquei a obrigação pela gostosura e me melhorei como cozinheiro. E cresci como gente também. Na mesma sanha, defini que elegeria alguns poucos amigos para conversas semanais. Logo eu que detesto telefone, me deixei atrair por uma experiência que tanto conforto me trouxe. Optei por fazer diferença em um grupo de amigos de WhatsApp e me dediquei como causa amorosa, tentando encurtar distâncias e conhecer melhor quantos julgava saber.

Rendo graças a uma prática que aprendi no confinamento do menino de um colégio interno que fui: ler... Alguma luz divinal sugeriu que eu ordenasse algumas leituras de maneira a corrigir minha formação sempre fragmentada. Proust se me apresentou e resolvi retomar página, por página os sete livros que compõem “Em Busca do tempo perdido”. Nossa, foi uma viagem no país da memória. Nova série me plenificou bastante na visita dos “Sermões do Padre Antônio Vieira. Foram meses perfilando entendimento e admiração. Senti-me mais maneirista que nunca justificando Pessoa ao coroá-lo “imperador da língua portuguesa”. E passei para outra esfera ao ler tudo de Lobato, da obra infantil à adulta. Devo dizer que neste quesito briguei com a crítica, me vi convidado a perpetrar artigos, e lastimar o que tentam fazer com o nosso “taubateano rebelde”. Além dessas três séries, outros textos repontaram como brisa no escaldo de um verão louco.

Escrevi muito. Muito. Mais do que nunca, e pela escrita pude filtrar significados da passagem solitária pela pandemia. Essa foi/tem sido outra grande lição, a consciência da solitude. Trabalhando em casa, precisei aprender a dividir o tempo e não me permitir alucinar com a astúcia de sua passagem. Minhas recentes fases têm sido difíceis, pois não há como disfarçar a dor tantos amigos que partiram. É muito triste e esse imponderável me abate de jeito irremediável. Mas se é possível extrair alguma lição desta experiência coletiva, se puder superar o desdém de autoridades culpadas, e neste esforço recortar uma moral para a história da pandemia, com certeza diria que ela me valeu como a tal janela indicada por Adélia Prado, aquela de folhas que tanto se abrem “pra dentro e pra fora” e que, sobretudo, funcionam como “claraboia na minha alma, olho no coração”. Estou aberto ao que vier. Purificado. Grato por chegar até aqui, esperançoso de ir até lá, mas com a certeza de que fiz o melhor que pude abrindo minhas janelas “como asas de uma borboleta amarela”.

terça-feira, 30 de março de 2021

TELINHA QUENTE 439



Roberto Rillo Bíscaro

Baseada na investigação real sobre o assassinato de uma jornalista sueca, a minissérie The Investigation/Efterforskningen traz várias novidades. A Dinamarca mudou, de novo, o paradigma das séries policiais?

segunda-feira, 29 de março de 2021

CAIXA DE MÚSICA 446

 


Roberto Rillo Bíscaro

Em seu álbum de estreia, o qunteto norte-americano AmuZeum faz prog sinfônico, que remete aos áureos tempos do Yes, combinando elementos de neo-prog e AOR.

domingo, 28 de março de 2021

SESAU

Sesau cria a Linha de Cuidado das Pessoas com Albinismo em âmbito estadual


Para assegurar assistência integral às pessoas com albinismo, condição que, em Alagoas, atinge principalmente os afrodescendentes e que se caracterizada pela ausência parcial ou total de pigmento na pele, olhos e cabelos, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) definiu a Linha de Cuidado das Pessoas com Albinismo. Para isso, o secretário de Estado da Saúde, Alexandre Ayres, assinou a Portaria Estadual Nº. 2.657, que foi publicada na página 35 do Diário Oficial do Estado (DOE), e que pode ser acessada por meio do endereço eletrônico (https://www.imprensaoficial.al.gov.br/storage/files/diary/2021/03/DOEAL-2021-03-19-COMPLETO-alDQPvpSKJTL2bnOovvcLuQFoOcHyVLt1Kh-UqMFJxqgDHz1P7H96.pdf) .

Por meio da portaria, elaborada pela equipe multidisciplinar da Supervisão de Políticas Transversais da Gerência de Atenção Primária (GAP) da Sesau, com a participação de representantes de movimentos sociais ligados às pessoas com albinismo, fica assegurado o atendimento aos albinos, garantindo assistência médica e multiprofissional. Para isso, caberá à Sesau, gerir a atenção à saúde das pessoas com albinismo, ofertando equipamentos e insumos especificados nos Protocolos Clínicos, bem como, atuar para aprimorar a infraestrutura das unidades de saúde, contratar profissionais habilitados e disponibilizar a logística para a promoção do atendimento a cada um dos albinos residentes em Alagoas.

A portaria nº 2.657 especifica, ainda, que a Sesau irá disponibilizar medicamentos, protetor solar para corpo e lábios, óculos, lupas para auxílio visual, vestimentas com proteção ultravioleta, e demais acessórios essenciais para os cuidados das pessoas com albinismo, de acordo com os protocolos clínicos para conduta e tratamento. Também será responsabilidade do Governo do Estado, promover treinamentos, formação continuada e outras ações de educação em saúde para equipes envolvidas no cuidado integral à saúde da pessoa com albinismo.

A Linha de Cuidado das Pessoas com Albinismo em Alagoas também prevê o acesso à informação e ao aconselhamento genético aos familiares e às pessoas acometidas por essa característica genética. Ela também garante, que o Governo do Estado deverá promover a regulação das demandas das unidades de Atenção Básica para os centros de referência, organizando o acesso às pessoas que necessitarem de atenção especializada, bem como, integrar as pessoas diagnosticadas com albinismo em todas as ações disponíveis na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima da residência do assistido, visando à promoção da saúde.

O Estado também deverá, conforme ressalta a portaria nº 2.657, manter cadastro atualizado das pessoas com albinismo no âmbito do SUS e promover interlocução entre as Secretarias de Estado, garantindo ações de educação, saneamento básico, moradia, emprego e renda para pessoas albinas residentes em Alagoas. A Linha de Cuidado das Pessoas com Albinismo em âmbito estadual também prevê o fornecimento de uma carteira de identificação de saúde, que facilite o acesso às UBS e hospitais, além das ações de promoção da saúde integral das pessoas albinas.

Equipe Multiprofissional

Em seu artigo 4º, a portaria nº 2.657 determina que o atendimento às pessoas com albinismo deve ser realizado por equipe multiprofissional. Além de um médico clínico, também devem integrar o grupo assistencial, um médico dermatologista, um oftalmologista, um geneticista, enfermeiro, técnico de enfermagem, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, odontólogo e nutricionista.

Para assegurar a efetivação da Linha de Cuidado das Pessoas com Albinismo em Alagoas, será constituído um Grupo de Trabalho (GT) para acompanhar as diretrizes desta portaria nº 2.657, conforme especificado em seu artigo 5º. Conforme consta no parágrafo único, o GT constitui instância de apoio técnico, científico e de controle social da Atenção Integral às pessoas com Albinismo no Estado de Alagoas, inclusive para a atualização do protocolo da Sesau, quando indicado.

Dívida Histórica – Para o secretário de Estado da Saúde, Alexandre Ayres, a Linha de Cuidado das Pessoas com Albinismo em âmbito estadual, representa o cumprimento de uma dívida histórica com os albinos. Isso porque, em Alagoas, essa característica atinge, principalmente, os afrodescendentes e, por ser o Estado natal do líder negro Zumbi dos Palmares, que lutou ativamente pelo direito dos quilombolas, cabe a Alagoas zelar e promover as políticas públicas de saúde aos grupos populacionais específicos, conforme aponta o Relatório Final de 2012, da 14ª Conferência Nacional da Saúde.

“Temos uma dívida histórica com os quilombolas e albinos, principalmente no âmbito da saúde pública. E, como gestor do SUS [Sistema Único de Saúde] em Alagoas, é dever assegurar políticas de saúde que contemplem todos os grupos populacionais, sejam eles camponeses, ribeirinhos, quilombolas, mulheres, indígenas, afrodescendentes, LGBTs [Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros], idosos, pessoas com deficiência, portadores de doença falciforme, albinismo e outras patologias. Por isso, a implementação da Linha de Cuidado das Pessoas com Albinismo é um marco para Alagoas, para o SUS e para a nossa gestão à frente da Sesau”, ressaltou Ayres.

Construção Democrática


E além de representar um marco para a saúde pública em Alagoas, a Linha de Cuidado das Pessoas com Albinismo também ganha notoriedade por ter sido construída de forma democrática, com a participação de técnicos da Sesau e de representantes dos movimentos ligados aos albinos. “Mesmo em meio à pandemia da Covid-19, nos reunimos periodicamente, porque entendemos que a construção deveria ocorrer de forma participativa e democrática, ouvindo todos os segmentos da sociedade e respeitando as especificidades dos albinos. A partir de agora, iremos identificar quantos são e em que municípios residem, focando no aconselhamento genético, prevenção e tratamento de problemas relacionados ao albinismo, como os oftalmológicos e dermatológicos, que podem resultar em cegueira e câncer de pele”, salientou a gerente de Atenção Primária da Sesau, médica Alexandra Ludugero.

Visão defendida também pelo assessor técnico de Políticas Transversais da Sesau, Sidney Santos, ao enfatizar que o objetivo da implantação da Linha de Cuidados das Pessoas com Albinismo é informar sobre os direitos da categoria e, principalmente, assegurar o acesso à assistência em saúde de forma eficiente e qualificada. “Segundo verificamos, são 69 comunidades quilombolas em Alagoas e, a partir de agora, iremos fazer uma busca ativa dos albinos, com o apoio das Secretarias Municipais de Saúde. Vamos tirar essas pessoas da invisibilidade, por meio de ações que assegurem assistência integral, mas, principalmente, dermatológica e oftalmológica, além de assegurarmos o acesso a óculos escuros e protetores solar e labial, para evitarmos graves problemas de saúde”, sentenciou.

quarta-feira, 24 de março de 2021

CONTANDO A VIDA 334

SINDROME DE STENDHAL ou EXTASE, PRAZER E ÓDIO ANTE A BELEZA.

José Carlos Sebe Bom Meihy

Sim, pode parecer estranho, mas há pessoas que sentem perturbações incontroláveis frente a expressões de extrema beleza, em particular ante a obras de arte, monumentos, sítios históricos ou naturais, peças e lugares únicos. A noção de culto ou reverência consagrada funciona como espécie de memória ou depósito de referências que postas a prova atestam o melhor da civilização. E isto não é tão raro como possa parecer à primeira impressão, visto que essas ocorrências têm até registros célebres dos quais o seminal remete ao escritor francês Stendhal que, aliás, emprestou seu nome ao fenômeno: “síndrome de Stendhal”.

Em notável livro escrito em 1817, Nápoles e Florença: uma viagem de Milão a Reggio, o autor relatou o próprio estado de transcendência sentido ao ver os afrescos de Giotto, pintados no teto da Basílica de Santa Croce, em Florença. Vale a pena retomar a descrição de Stendhal ao dizer que sentiu “palpitações desordenadas” motivadas pela “formosura da imagem puxada em azul”. Sem ter claro o que se passava, com emoções incontidas, descreveu padecer naquele instante de “estremecimentos no corpo, o que em Berlim chamam de 'nervos abalados'”.

Por lógico, o tal deslumbramento não ocorre só em Florença e nem afeta apenas observadores famosos. Com o tempo, essa emoção se amiudou socialmente ganhando constância, carreando carga de preocupações comportamentais. Qualquer ser humano de sensibilidade fora do que se considera normal pode ser acometido desses enlevos, bastando que tenha melindres orientados para um tipo de percepção sobre o bom gosto consagrado. A exposição contemplativa em face de situações únicas provoca um circuito de identificação sensível, capaz de inverter os limites de cotidianos pouco entusiasmantes.

Há, sem dúvida, um fator que potencializa possibilidades: o contato direto com os estímulos que catalisam experiências artísticas exemplares. O teórico Walter Benjamin qualifica essas exposições com a palavra “aura”, ou seja, o impacto deslumbrado produzido pela relação direta, pessoal, com a obra de arte ou com situação relevante. A “circunstância aurática” é então potencializada em algumas pessoas que podem ter reações surpreendentes como ficar paralisadas, ter crises de choro, perder a noção de espaço ou tempo, e desmaiar em certos casos.

Desde o crescimento do turismo no mundo moderno, em particular da segunda metade do século passado em diante, tem havido significativo registros desses casos, fato que preocupa responsáveis por exposições e mostras de arte, giros por lugares históricos ou religiosos. Além dos contatos com peças exemplares e ambientes privilegiados, o cansaço natural de roteiros rápidos e o ritmo imprimido pelos programas exaustivos justificam esses acometimentos. De tal forma essas manifestações têm se repetido que há um novo campo da psiquiatria que passa a cuidar do assunto. Em 1979, na Itália, Graziella Magherini descreveu o fenômeno definindo sintomas relacionados a atordoamentos, taquicardia, palpitações que chegam a comprometer a consciência da pessoa que, em certos casos, perdem o equilíbrio, entram em pânico. A duração do fenômeno também é detalhe cuidado, pois há casos de demora na retomada da normalidade.

A relação humana com a beleza merece ser considerada em complexidades que vão além da objetividade razoável. Há dimensões ainda pouco sondadas que implicam, por exemplo, a noção de sublime e a consciência da racionalidade. O próprio Stendhal declarou que o contato que teve continha algo de “celestial”, mas convém supor que o termo “sublime” quase sempre é vulgarmente considerado no superlativo positivo. Segundo Kant, porém, o medo pode conter nível de beleza eletrizante. Cabe no entanto, imaginar que o maravilhoso provoca inclusive distúrbios amedrontadores. Sabe-se por exemplo, que seus efeitos despertam o que tecnicamente é conhecido como “choque iconoclasta” e inclusive leva pessoas a destruição de objetos cultuados. Isso se dá em diferentes campos, seja ante objetos de arte ou peças religiosas (sempre presente na memória brasileira a tentativa impetrada por um fanático que, em 1978 tentou roubar a imagem de Nossa Senhora de Aparecida). São incontáveis os ataques feitos quadros e estátuas famosas, mundo afora.

Em situações que se multiplicam não é raro encontrar relatos de pessoas que ante a escultura de Davi de Michelangelo se imobilizam atônitas; outros choram ao ouvir a Nona Sinfonia de Beethoven; já vi pessoas se ajoelharem no Museu do Prado frente a tela do Cristo Crucificado de Velásquez. E quantos relatos há de delírio ao se deparar com o Monte Fugi, ou no Rio de Janeiro, com as expressões do contorno do Bondinho do Corcovado na em nominada Curva do Ó. Vitrais são espelhos mágicos para apreciadores e nesse quesito os da Notre Dame de Paris competem com os da Mesquita Nasir Al-Mulk de Shiraz no Irã.

Na contramão desses deslumbres também tem crescido a “cultura do simulacros”, ou seja o exagero de reproduções baratas de “obras raras”, fato que resulta no que Baudrillard chama de simulacros. Supondo a Síndrome de Stendhal, no entanto, o efeito fica ainda maior, pois o contraste se evidencia de maneira a produzir maior choque. Há estudos recentes afeitos aos acessos a obras de museus e passeios variados pela internet e a questão que se coloca é sobre a sensibilidade na era das máquinas. Quais serão as escolhas que faremos na relação com o extraordinário? Terão vigor os estudos sobre “Síndrome de Stendhal”, ou a arte perderá a força de culto?

terça-feira, 23 de março de 2021

TELINHA QUENTE 439

 

Na minissérie Por Trás de seus Olhos, uma mãe solo se envolve em um jogo perigoso ao ter um caso com o chefe e fazer amizade com a enigmática esposa dele.

segunda-feira, 22 de março de 2021

CAIXA DE MÚSICA 445

 



Roberto Rillo Bíscaro

O grupo britânico The Far Meadow faz rock progressivo sinfônico salpicado de neo-prog, com vocal feminino.


quarta-feira, 17 de março de 2021

CONTANDO A VIDA 333

LOBATO “neo-caboclo-urbanizado”.

José Carlos Sebe Bom Meihy

“Reinações de Narizinho” foi o livro que inaugurou minha vida de leitor e, agora, a alegria de saber do relançamento em edição preparada por Maria Lajolo provocou retomadas. Eu era garoto ainda e encantado fiquei com as aventuras de Lúcia, a menina “cor de jambo”, moreninha, como moreninho foi Lobato, neto bastardo da ex-escrava Anacleta do Amor Divino, amante do galhardo Visconde de Tremembé. Desde aquele então, nunca me separei de Lobato e adulto tenho voltado a ele não apenas como leitor constante, mas também arriscando análises curtidas em instruções históricas, valeparaibanas. Ninguém viveria impunemente o esvaziamento declinante das vastas fazendas de café e as derrocadas das cidades por ele condenadas como “mortas”. Ninguém.

Emoldurando Lobato em um quadro de classe social sem saídas fáceis, parece fundamental entender as razões do jovem rapaz formado antes de se mudar para São Paulo e de publicar o conto “Ideias de Jeca Tatu”, em 1918. Num lance geral, resenhando os muitos livros sobre ele, sinto falta de exames de seu perfil talhado na cultura valeparaibana. De modo geral - com raras exceções - tudo é mostrado como se Lobato já nascesse adulto, brasileiro nacionalista, sem ser credor de um caipirismo de garras cravadas em sua história pessoal, familiar e em contexto específico. E explica-se isso, pois, a reputação de personagem público cresceu na surdina de seu jeito de se mostrar, sem revelar a sombra alongada de suas origens. Monteiro Lobato soube contornar o legado “neo-caboclo-urbanizado” e deixou-se exibir metido a burguês, mais exibido como neto do Visconde do que da avó negra. E como adentrar em seus escritos sem tais considerações?

Historiador de ofício, taubateano crônico, sinto-me convidado a repensar os fundamentos da geração do jovem Lobato como expressão daquela elite do Vale do Paraíba Paulista. Remeto-me, assim a um grupo que, internando frustrações econômicas, se posicionou desajeitado na modernização do mercado nacional capitaneado por São Paulo. Condenar o campo e elogiar o sucesso permitido pelos imigrantes, maldizer a agricultura e exaltar a máquina, desprezar o caipira em favor do operário, o obrigou a, despreparado, se fiar na talagarça do capitalismo ascendente. E Lobato se perdeu no bordado do tempo moderno e modernista. Sob o signo forçoso da busca de espaço social, a trilha possível o obrigou a ajustes nem sempre bem-sucedidos ou, pelo avesso, em diversas ocasiões mal resolvidos. A sequência de algumas derrotas econômicas explica mais do que as falências nos negócios, certo ardor por delírios que o alucinaram desde sempre: fabricar doces em compotas, ter restaurante em Nova York, publicar livros comestíveis. Desatinos de um caipira que sonhou ser empresário e que, por força de um destino torto e de difícil justificação, acabou por ser nomeado “adido comercial do Brasil” em missão oficial do governo, nos Estados Unidos.

A formulação da hipótese que sustenta explicações de Lobato pelo legado da cultura valeparaibana reponta como dupla crítica historiográfica, ambas ácidas. A primeira se ampara na não existência de vigorosos estudos regionais, valeparaibanos, capazes de exponenciar os desafios vigentes em uma parcela da elite que se fez, no começo do século XX, aflorada do mundo do café. Além desse argumento, o segundo perfilhamento crítico remete aos estudos que projetam interpretações vistas “de fora”, de segmentos que desconhecem as sementes do ramo geracional dos evadidos das fazendas. Assim, cabe propor a provocação desse legado cultural nas alternativas econômicas e nos textos críticos e literários do “taubateano rebelde”. A fim de valorizar tal argumento, convém retraçar o jovem advogado: jovem educado em Taubaté, promotor público em Areias, SP, constituindo família no Vale, e depois fazendeiro em Buquira até 1917.

Consequência do insistente apagamento dessas influências pretéritas, o que se tem é um cacoete analítico que orienta a leitura de Lobato como empreendedor intrépido, uma espécie de baluarte da modernidade industrial, entranhado escritor nacionalista, isso e muito mais, tudo sem avaliar as frustrações que lastrearam seus fracassos sucessivos no mundo dos empresários. Em complemento, seu sucesso literário também não se faz acompanhar de fatores de sua história pessoal, de toques do trato comum aos subalternos do Vale, por exemplo, característica de um mundo frustrado, recém-saído da escravaria. Pelo contrário, aliás, o incessante enquadramento nas teorias do tempo, mais perturbam do que esclarecem. E reduzem tudo a simplismos exagerados.

O resultado de montanhas de estudos sobre Lobato sem seu passado caipira tem proposto dilemas que complicam sua apreensão hoje. A retomada do jovem Lobato, por sua vez demanda exercitar a inevitabilidade do vínculo autor/obra em seu contexto imediato, preso ao andamento da produção dos escritos considerados em sua carga de valores. No galope de apagamentos, o que submerge é a potência das tradições incorporadas nas expressões de um autor que nunca deixou de ser valeparaibano. Talvez a incapacidade de Lobato de se livrar do remoto passado explique as experiências que tentou ao longo de suas andanças recheadas de vulnerabilidades: monarquista, comunista, georgista, taylorista... Eugenista num tempo, espiritualista em outro, Lobato provou de tudo, tudo, sem jamais deixar de ser um caipira no mundo que se movimentava além de seu eixo de controle. Só é possível entender Lobato se o considerarmos um ser em processo de “descaipirização”.

quarta-feira, 10 de março de 2021

CONTANDO A VIDA 332

 “DE CU PRÁ LUA” E OUTROS TURPILÓQUIOS.

José Carlos Sebe Bom Meihy

Não, não se trata de baixaria, jamais faria isso. Imagine... Pelo contrário, busco a redenção de algumas palavras, dizeres e expressões que são, por diferentes motivos, interditados e, no geral, tidos como avessos civilizatórios. Em nome do refinamento imposto pela “norma culta”, termos “vulgares” têm se distinguido das manifestações depuradas pela chamada “boa educação”. Com tensões, o abismo se alarga entre o que se diz e o que se escreve, conferindo tolerâncias filtradas por diferenças geracionais, de classes sociais e, sobretudo, de comprometimento erudito. É lógico que há nuanças que calibram extremos (de Gregório de Matos a Jorge Amado, de Chiquinha Gonzaga a Dercy Gonçalves), exceções que, contudo, só confirmam a regra. Sabe-se que o palavrão permeia todas as faixas, mas seu uso (cada vez menor) não é tão liberado ou libertador como parece à primeira vista. Impõe-se então entender enunciados circunstanciais: de quem e para quem, se entre emissores socialmente próximos ou subalternos, se escritos ou verbalizados.

Sabe-se que na fluidez das falas somos flexíveis, mas quando escrevemos galgamos solenidades às vezes perversas... É lógico que a língua é viva, maleável, progressiva, mas se isso acontece em ambos os códigos, no oral repontam permissões inconvenientes na transposição grafada. Aliás, é na escrita, que a coisa pega mais. Nos deploráveis manuais de redação - guias impostos pelos importantes jornais (Folha, Estadão, O Globo) – por exemplo, marcas da fala são proscritas como crimes (“cacete”, “bicha”, “esporro” e até “membro” devem ser vetados).

Sei que a seguinte afirmativa é polêmica, mas na chave do “livre pensar” ouso dizer que a nossa língua portuguesa não é bonita como ufanistas decantam, longe disso, aliás. Cheia de “ãos” e “ães”, terminantes em “or”, “ar”, “ir”, o uso sugere rimas fáceis demais, sem muitos mistérios, plenas de soluções imediatas. Rendo tributo aos poetas lusófonos que precisam de muito engenho e arte para dar vida à brutalidade das palavras (Pessoa, Drummond, Chico Buarque, José Craveirinha e Luís Carlos Patraquim que o digam). E mora na exaltação despudorada da língua de Camões certa consciência ambígua que condensa a penúria cândida contida no verso “última flor do lácio inculta e bela”. Devo dizer que meditando sobre alguns pressupostos bilacquianos, encontro amparo na passagem em que ele, em vacilo freudiano, declara “amo-te, ó rude e doloroso idioma”. Em termos comparativos é bom que, tendo o latim como matriz, sejam coroadas outras línguas muito mais melodiosas e musicais como o italiano, francês, espanhol e até o catalão.

E tem mais, fomos colonizados por um segmento que, frente a fidelidade vernacular, tinha sim algumas exceções, mas que no geral era muito mal instruído em termos de controle formal da língua. A corte portuguesa que chegou ao Brasil em 1808 era constituída de maioria analfabeta, gente de modos e de falar rude, chulo mesmo, e que maltratava a expressão oficial e, sobretudo, era dada a palavrões que se multiplicavam em colóquios pouco corteses e até, em muitos casos, escatológicos. Dona Carlota Joaquina, que o diga. E sabe-se que Dom Pedro I também era dono de vocabulário nada condizente com a fantasia de qualquer nobreza. Ademais, numa sociedade escravocrata, a agressão cotidiana exercitada não era apenas física, pelo contrário era coerente com trato verbal.

Houve esforço incontestável de Dom Pedro II no sentido de mudar o perfil de nossa elite instituída. Chegado à ciência, devoto de lances da modernidade, o segundo imperador (1840 – 1889) bem que tentou impor certo glamour que, contudo, ficou reduzido a pequeno grupo – nesse quesito, convém dar uma boa olhada na demora para a valorização das escolas no Brasil - inclusive na criação das universidades que apenas repontaram na República. E não podemos nos esquecer que o tempo colonial nos impôs um gerúndio crônico, persistente e perturbador (“continuando”, “falando”, “palavreando”) que se distanciou do português metropolitano, algo mais exato (“a continuar”, “a falar” e “a palavrear”). Mas nada nos foi mais cruel do que o legado dos chamados turpilóquios, ou seja, do culto aos palavrões que se popularizaram. No cotidiano, soltamos “puta que pariu”, “vá a merda”, “pô”, ou “tô de saco cheio” com fluidez até consentida, mas... Mas não escrevemos com a mesma facilidade.

Todo este trololó se me apresentou frente ao título de um livro recém-lançado no Brasil: “De Cu Pra Lua: dramas, Comédias e Mistérios de um Rapaz de Sorte”. Assinado pelo eterno Nelson Motta, esse garoto de quase 80 anos, trata-se de um relato de memórias pessoais onde o autor narra suas peripécias como jornalista, escritor, produtor artístico. Tudo interessa nessa rota vivencial que também é nossa, mas para o momento vale ressaltar o título que, afinal, remete ao alvo desta proposta, pois, se afinal “De cu pra lua” apenas significa “ter sorte” porque usar o “palavrão” na capa? Por estar no lugar certo, na hora certa, Nelsinho quis chamar a atenção para uma característica da nossa brasilidade coloquial: a distância entre o que se fala e o que se escreve. Ele quis provocar. Eu também...

sexta-feira, 5 de março de 2021

PAPIRO VIRTUAL 171

 

Roberto Rillo Bíscaro

Crítica do livro The Long Call (2019), de Ann Cleeves

Após um assassinato em sua cidade natal, o melancólico detetive-inspetor Matthew Venn tem que reencontrar sua mãe e a seita fundamentalista que abandonara há anos.

quinta-feira, 4 de março de 2021

TELONA QUENTE 349

 

Um grupo de voluntários entra em uma densa floresta para resgatar um adolescente desaparecido. Nesse mesmo lugar, diversas pessoas sumiram nas últimas três décadas, e apenas alguns corpos foram encontrados, todos nus.

quarta-feira, 3 de março de 2021

CONTANDO A VIDA 331

 VOCÊ SABE O QUE É “BROMANCE”?


José Carlos Sebe Bom Meihy

Já declarei que apenas respeito fidelidade no campo amoroso, fora desse compromisso sagrado advogo promiscuidades. Sou volúvel, demais. Leviano mesmo. Não me refiro às roupas, acho bobagem, mas à cada livro, à cada frasco de perfume, bom restaurante, vinho, álbum musical, filme ou peça de teatro, me apaixono irremediavelmente. No campo do consumo, sou daqueles que não prestam. Na hora, juro devoção eterna, mas traio ante a primeira mercadoria que me sorrir. Credo! Sabe, não me culpo de todo, pois viver dias tão plenos de seduções consumistas me faz evocar trocas constantes, e me sinto algo mais moderninho, atualizado, tudo up to date. Preside, contudo, de tempo em tempo, um quê culposo, mas dá e passa. Logo entrego-me à volúpia crônica.

Admito: sou uma contradição ambulante. Ao mesmo tempo apadrinho apoio irrestrito ao ambientalismo positivo, faço até doações para o Green Peace, mas... A favorecer meu lado freguês tenho como meta alcançável a certeza de que novos produtos ajudarão a melhorar minha performance - adoro escrever perfumado, julgo melhorar meus textos com computador novo, lançamentos de papelaria me escravizam. Tudo sob a chancela de reposições justificadas em supostas economias: de energia elétrica, de espaço físico, de melhor aproveitamento do tempo. E multiplico ilusões com a qualidade do ar, com o cuidado com a alimentação (ah, as panelas que dispensam gordura) e até com vitaminas. Enfim, justificações não me faltam e provo isso frequentando supermercados, shoppings atraentes, boutiques especializadas. E haja sistema de créditos, vale-compras e até pela entrega em domicílio... Pois é, dava-me a esses devaneios quando, dia desses dei conta das alterações sentimentais nesta nossa “era das máquinas” e, perplexo, me perguntei dos limites propostos por Zygmunt Balman no livro “Amor líquido”. Pronto estava formulado o teorema que me impôs aproximações entre a oferta de mercadorias e os sentimentos ou valores morais da chamada pós-modernidade. E me inquiri: os sentimentos íntimos teriam o mesmo prazo de velocidade nas reposições?

A meu favor, é importante dizer, por mais cheio de vontades que seja, mantenho resquícios de memória, afinal sou historiador de ofício. E então escavo no acervo de leituras marcantes alguns textos que funcionam bússola. Entre os meus poucos autores permanentes C.S Lewis ocupa lugar especial e, de seus livros, “Quatro amores” desponta com loas. Dentre tantas definições de amor – desde os dicionários, livros religiosos e tratados filosóficos – a qualificação oferecida por esse autor irlandês acende luzes brilhantes. Lewis indica quatro tipos de amor: a afeição (Storge), a amizade (Philia), o amor romântico (Eros) e a caridade (Ágape). Até pouco tempo esse estoque de referências me bastava, mas eis que de repente deparei com um outro conceito que agora me aturde “bromance”.

Foi automático chamar Lewis à discussão, pois ele defende com empenho a amizade (Philia), mas ao contrapô-la com “bromance” entendi que há algo a mais. Antes, cabe dizer que a novidade do “bromance” decorre da junção de dois termos que se explicam em inglês “brother” e “romance”. A junção gerando algo novo não cabe na “philia” ou “amizade”, como também no sentido do “romance” ou “eros”. Cilada armada restava entender o que seria “bromance”, e assim os exemplos ajudam quando vistos pelo denominador comum das relações entre pessoas, homens, do mesmo sexo, seres que se atraem sem vínculos sexuais. Não tem, portanto, absolutamente nada a ver com homossexualismo. Nada.

Talvez, a formação do termo permita melhorar a compreensão do neologismo. Acatando a radical como elemento básico que orienta o significado da palavra (“brother”), o fator secundário “romance” o suplementa. Então, em termos práticos seria algo além de “amor de irmãos”. “Bromance”, é amizade fecunda, intensa, indispensável mesmo entre homens que não se vexam em vivê-lo. É bom insistir que nada tem a ver com ser ou não gay, aliás, ainda que seja também comum entre homossexuais, é no meio hétero que ganha sentido. E os exemplos se multiplicam seja na ficção (Batman e Robin), nos contos infantis (Elliot e ET), na vida real (Brad Pitt e George Clooney ou Lázaro Ramos e Wagner Moura).

Mais do que tema para filólogos, semiologistas, antropólogos, creio, vale aquilatar na invenção do “bromance” uma conquista dos tempos modernos. Foi preciso que o movimento gay, que as conquistas do feminismo e o combate ao machismo se tornassem causas coletivas para pudéssemos admitir a generosidade de tal sentimento. Vivas! algo bom surge na agenda dos comportamentos tão pobremente analisados. Uma questão final se levanta: será que este novo realinhamento dos sentimentos masculinos tem a ver como a já estabelecida “sororidade”, com o companheirismo exercitado entre mulheres? É bem provável que sim, pois é do ventre materno que os homens nascem e é com elas que germinamos o que de melhor ostentamos.

terça-feira, 2 de março de 2021

TELINHA QUENTE 438

 

Nesta minissérie da Netflix, uma mãe solo se envolve em um jogo perigoso ao ter um caso com o chefe e fazer amizade com a enigmática esposa dele.

segunda-feira, 1 de março de 2021

CENSO ALBINO NA GUINÉ-BISSAU




Governo guineense inicia recenseamento de pessoas com albinismo

A diretora-geral da Inclusão Social da Guiné-Bissau, Paula Saad, anunciou hoje estar em marcha uma campanha de recenseamento de pessoas portadoras de albinismo para o Governo disponibilizar apoios concretos para a sua melhor inserção na sociedade.


Paula Saad explicou que a campanha promovida pelo ministério da Mulher, Família e Solidariedade Social pretende criar um banco de dados atualizado sobre a população com albinismo, saber quantos são, onde vivem e quais as suas reais necessidades.

De acordo com a responsável, há mais de dez anos que esse trabalho não era feito.

Em colaboração com a Associação de Pessoas com Albinismo na Guiné-Bissau e uma organização não-governamental portuguesa, a campanha de registo de albinos conseguiu detetar 40 indivíduos em Bissau.

Paula Saad apela aos familiares e conhecidos de pessoas com albinismo para colaborarem para um maior registo e para deixarem de lado qualquer preconceito em relação à campanha que, disse, está a gerar alguma desconfiança.

"As pessoas com albinismo são desconfiadas para já pelo estigmatismo, sentem-se marginalizadas", observou Paula Saad, referindo que os inquiridores foram informados pela vizinhança que existem pessoas com albinismo que ficaram por ser recenseadas por não terem sido apresentadas.

Neste momento, 10 inquiridores, pessoas com albinismo, percorrem bairros de Bissau à procura de indivíduos com aquele problema de pele para serem recenseadas, mas Paula Saad lamenta as dificuldades.

"Há o pensamento de que alguém está a aproveitar-se da sua condição de albinos. Não é nada disso, só conseguimos ajudar se soubermos quantos são, onde estão e quais as reais necessidades", defendeu a diretora-geral da Inclusão Social.

Assim que terminar a campanha de recenseamento em Bissau, o processo será estendido para o interior da Guiné-Bissau para onde muitos se terão deslocado com a pandemia da covid-19, frisou.

A diretora-geral da Inclusão Social acredita que possam existir na Guiné-Bissau cerca de 100 indivíduos com o albinismo.

Paula Saad também disse à Lusa que na Guiné-Bissau não há registo de perseguição aos albinos com a finalidade de usar parte do seu corpo para práticas místicas como acontece em outros países africanos.

"Na Guiné-Bissau, graças a Deus, nós não temos essas práticas, temos outras crenças sim, mas essa de que o albino, a pele, o cabelo, da riqueza, isso não há", notou Paula Saad.

Para já, entre os problemas que afetam a população com o albinismo, Paula Saad aponta indivíduos sem registo civil, falta de oportunidades para prosseguir os estudos e cuidados de saúde.

A todos, Saad promete que o Governo vai tentar arranjar soluções desde que saiba onde vivem.

CAIXA DE MÚSICA 444

 

Roberto Rillo Bíscaro

O Cirrus Bay faz prog melódico, com forte influência de folk e artistas como Renaissance e Sally Oldfield.