quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A MÍDIA NOSSA DE CADA DIA

Mídia: inimiga ou aliada da pessoa com deficiência?

Manuel Negraes

Vivemos um momento complexo no que diz respeito à participação social das pessoas com deficiência. Por um lado, temos uma legislação específica avançada e o envolvimento cada vez maior dos Ministérios Públicos. Por outro, ainda encontramos no cotidiano atitudes preconceituosas e práticas discriminatórias que preservam e reproduzem concepções antigas e errôneas sobre as deficiências em diversas esferas sociais.
Hoje, após 30 anos da proclamação, pela Organização das Nações Unidas (ONU), do "Ano Internacional da Pessoa Deficiente"1, esta é a contradição enfrentada pela maioria desse segmento no Brasil. Ao mesmo tempo, tem sido cada vez maior o número de pessoas com deficiência e de organizações da sociedade civil que buscam, com diversas práticas e ações, tanto o cumprimento dos direitos conquistados nas últimas décadas como, também, uma reflexão mais profunda e eficaz em toda a comunidade acerca da diversidade humana.
Nesse contexto, a mídia é considerada, por muitos especialistas e representantes das pessoas com deficiência, uma grande aliada para a inclusão social, na medida em que esta pode exercer um duplo papel importante: fiscalizar o poder público em relação ao cumprimento das leis específicas e conscientizar a comunidade com informações que combatem atitudes preconceituosas.
No entanto, a maioria dos meios de comunicação de massa foca suas reportagens e programas nas pessoas com deficiência e não nas causas sociais da desigualdade e da discriminação – como nos obstáculos arquitetônicos, na péssima qualidade da educação básica, da reabilitação e da saúde preventiva e, sobretudo, na desinformação da população em relação ao tema.
Além disso, muitos profissionais dessa área ainda colocam as pessoas com deficiência como "heróis" ou "coitadinhos". Dessa maneira, colaboram para a manutenção de estereótipos e estigmas construídos historicamente e cristalizados no senso comum que prejudicam as relações sociais entre as diferenças (inclusive utilizando termos como "especiais", "vítimas", “superação”, “sofrimento” etc.).
Assim, alguns assuntos como a acessibilidade, as características da síndrome de Down, da baixa visão e do autismo e a importância da Língua de Sinais Brasileira poderiam ser melhor trabalhados pelos jornais, emissoras de rádio e televisão e outros tipos de mídia. Mais ainda, esse campo de atuação poderia tanto inserir as pessoas com deficiência nos temas da vida cotidiana (ex: entrevistar um jovem com deficiência para uma matéria sobre juventude) como, também, incluir os interesses desse grupo nos debates mais amplos (ex: pautar a educação inclusiva nas discussões sobre a qualidade da educação em geral).
Portanto, a mídia só vai ser uma aliada concreta das pessoas com deficiência quando mostrar para todos que essa questão – o convívio entre as diferenças – exige uma responsabilidade de todos. O que esse grupo espera dos meios de comunicação de massa (e de outros setores da sociedade) é uma boa utilização das datas comemorativas relacionadas às pessoas com deficiência, mas, sobretudo, respeito e dignidade em todos os dias do ano.


Notas
1 esse era o termo utilizado na época.

Manoel Negraes, cientista social, 32 anos. Trabalha na área de Mobilização Social da Unilehu – Universidade Livre para a Eficiência Humana (manoel@unilehu.com.br) e no projeto Minuto da Inclusão do MID – Comunicação e Cidadania (manoel.mid@gmail.com).
http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=33818

CONTANDO A VIDA 70

Nosso cronista-folhetineiro escreve sobre uma paixão nacional: a telenovela.


AMORES IMPROVÁVEIS E BANDIDOS MISTERIOSOS...

José Carlos Sebe Bom Meihy

Seguidor que sou de novelas, reconheço que duas situações me amarram às tramas: histórias de amores difíceis e mistérios sobre crimes e maldades que implicam gente ruim. Nas duas situações se opõem o eterno dilema do bem contra o mal, do certo versus o errado, do possível com o inviável. Na mesma medida, prezo o final feliz com a mocinha casando com o galã e o bandido punido ou afastado do convívio de quantos seguiram, aliviados, felizes para sempre.  Simples, não é? Parece. Digo parece porque em cerca de 200 episódios, ao longo de oito ou nove meses, as histórias têm que segurar o público misturando lágrimas com suspense, compaixão com raiva. Ternura pelos sofredores amantes, ódio contra os tiranos que muitas vezes apenas são definidos nas últimas cenas. São sentimentos cultivados e compartidos por um mar de telespectadores que filtram opiniões vida afora.

Diria que nesse sentido sou um duplo voyeur. Tanto sinto prazer no desenrolar dos casos apresentados na telinha como no comportamento do público que vai também sofrendo até o grande final. Sempre leio tudo que posso sobre ambas as situações e me intero do sentimento coletivo de amor pelo que tem que dar certo e pela punição dos malvados. Como resultado feliz desse tipo de folhetim, é fantástico como o conceito de novela no Brasil escapou do que se passa exclusivamente nos roteiros televisionados. Revistas e jornais, obrigatoriamente, devem trazer, com amiúda frequencia, colunas sugerindo isso ou aquilo. Temos até observadores especializados, pessoas atentas a revelar o que pode ou não acontecer. Misturando a vida dos personagens com as histórias ou enredos vivenciais dos atores, tudo se funde de um jeito a marcar comportamento cultural comunitário de difícil explicação. Não é a toa que o tema tem chegado ao nível de estudos por gente da universidade e dissertações e teses multiplicam análises.  


Frente histórias de amor, confesso que me comporto de maneira mais tranquila. A equação sentimental é sempre tangível: a menina certa gosta do carinha correto (ou vice versa), mas há um (ou mais) impedimento: família, classe social, raça, religião, idade, enfim algo que justifique drama à la Romeo e Julieta. O direito à lágrima é mais do que desejável e tem que estar presente. Tornar viável o amor impossível é o dever de honra do autor e quanto mais dificuldade conseguir colocar na história, melhor. Vendo tais itinerários, imagino a luta para a realização do sonho fatal projetado na audiência: fazer os amantes chegarem ao casamento. O que alivia a tensão amorosa é que tudo é previsível e sabemos como vai acabar. Se o script dos romances tem rumo certo: o beijo final, no caso dos mistérios a chapa fica mais quente quando os perpetradores são de difícil identificação. O curioso é que tem havido um aperfeiçoamento da “noveslítica brasileira” sobre os bandidos. Não apenas pela excepcional qualidade das soluções fílmicas nacionais, mas também e, sobretudo pelo desempenho da relação autores e atores, podemos dizer que se criou um gênero que extrapola os níveis conseguidos em países como México ou Filipinas. Temos já um panteão de “inventores de bandidos”.

 Em 1977, a mestra Janete Clair, madrinha de toda dramaturgia televisiva brasileira, deixou o país sem fôlego até o último capítulo de “O astro”. Todos se perguntavam – e respondiam – “quem matou Salomão Ayala”. Uma década depois, Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères atormentaram os brasileiros, que se digladiavam para garantir no percurso de “Vale Tudo”, quem teria assassinado a vilã Odete Roitman. Mais recentemente, em 2008, o mistério foi conduzido de maneira mais sutil e todos teriam que imaginar, em a “A Favorita”, de João Emanuel Carneiro, se má era Flora ou Donatella. Talvez a mais malvada e intrigante personagem criada em nossas novelas tenha sido Nazaré Tedesco em “Senhora do Destino”, de 2004, escrita por Agnaldo Silva e que trouxe no papel de ruim mãe/madrasta, Renata Sorrah. Para muitos, Nazaré foi a mais cruel das vilãs reveladas. De toda forma, o que importa dizer é que tem sido constante o impacto do mal aliado ao amor que sempre vence. A pergunta que fica, porém, diz respeito ao crescimento do papel do mal. Será que a novela é espelho da cultura? Afinal gostamos mais de punir os bandidos ou saber da felicidade dos mocinhos?

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

LIVRO E FOTOS SOBRE ALBINISMO EM MOÇAMBIQUE - IV

Moçambique: Livro explora preconceitos rodeando albinismo

Os albinos são um grupo de pessoas que muito sofrem de discriminações em África. Nalguns países são mesmo vítimas de perseguições, agressões e assassinatos. Em Moçambique acaba de ser publicado um livro sobre a questão.

O albinismo e os problemas vividos pelas pessoas que vivem nesta condição baseada em problemas de pigmentação é tema de um livro desafiando a sociedade a reflectir sobre os mitos e preconceitos em volta desta situação.

São testemunhos de vidas cercadas por preconceitos e discriminações baseadas na pigmentação da pele.
Trata-se dos “Filhos da Lua”, uma obra de texto e fotografias que pretende despertar a sociedade para os problemas enfrentados pelos albinos numa sociedade em que continuam a ser considerados como seres de outro mundo.

A obra conta com fotografias de Solange Santos e de Filipa Embaló e visa desmistificar os preconceitos e os mitos em volta dessa questão.

José de Sousa, técnico administrativo de profissão é um dos exemplos vivos de descriminação e contou na primeira pessoa à “Voz da América” um dos casos que continua a marcar a sua vida.

“Um dos casos que mais me marcou foi no emprego. Fui uma vez prestar provas para uma vaga. Tive a melhor nota, mas não fui admitido, simplesmente por ser albino e o patronato achou-me incapaz de exercer a actividade”, lembrou com muita mágoa José de Sousa.

Um dos mitos mais comuns em Moçambique diz que os albinos não morrem, mas sim desaparecem. Este é um dos vários aspectos encontrados e desmistificados no livro. 

O Ministro da Saúde, Alexandre Manguele, considera que a situação em Moçambique continua melhor, relativamente a países como a Tanzânia, onde os albinos chegam a ser perseguidos nas comunidades, contudo, lamenta a prevalência dos preconceitos e disse esperar que a obra ora lançada contribua para consciencializar a sociedade.

http://www.voanews.com/portuguese/news/02_27_12_Moz_albinos-140597643.html

ANIMAÇÃO COM PERSONAGEM ALBINA


Dia 30 de março, estreia a animação Pirates! Band of Misfits, que tem um pirata albino na tripulação. Na foto acima, ele é o segundo da esquerda. O Pirata Albino é tímido e leal, e fará de tudo para ajudar seu capitão a realizar o sonho de ganhar o prêmio de Pirata do Ano.
Li em um jornal espanhol que o jogador Iniesta, do Barcelona, fará a voz da personagem na versão espanhola.   

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

SER ALBINO EM MOÇAMBIQUE


Moçambique: albinos cercados entre mitos e incompreensão

Em Moçambique, ser albino é sinónimo de mito e todos têm um para contar, como o de que "eles não são enterrados, porque desaparecem" ou "a grávida que encontrar um albino vai ter um bebé albino", avança a agência Lusa.

Mas o que mais dói à comunidade de albinos moçambicanos é a incompreensão "de quem era suposto saber mais", principalmente os professores, que se impacientam com as dificuldades de visão de quem a genética deu melanina a menos.

Para vincarem que são "diferentes, mas iguais", os albinos criaram a Associação Defendendo os Nossos Direitos (ADODS), que completou esta semana um ano.
Além da festa, celebrada na histórica Fortaleza de Maputo, o aniversário da ADODS foi também uma oportunidade para os albinos exorcizarem a angústia provocada pelo estigma, dando testemunhos sobre a sua própria experiência.

Ivo Nhadele, 24 anos, conta à Lusa que perdeu namoradas por não suportar os olhares desconfiados de pais das meninas, amarrados a mitos negativos sobre a condição de albino que existem na sociedade moçambicana.

"Namoradas? Familiares de namoradas, passei por situações que não eram compreensíveis, pois as pessoas não compreendem que, embora a gente tenha uma situação diferente, nós somos parte da sociedade", frisa Ivo Nhadele.

No domingo, com formação de contabilista, considera que pode ter sido prejudicado várias vezes devido à sua condição de albino, mas é da incompreensão dos professores que sente mais mágoa.

"Nós não estamos a exigir nem merecemos tanta atenção, mas a nossa condição cria-nos dificuldades de visão, não vemos com a mesma facilidade o que está escrito no quadro, e mesmo aqueles que era suposto saberem, como os professores, não nos compreendem", conta.

Argentina Luís, 21 anos, teve de fazer de Beyoncé num famoso concurso de talentos musicais de um dos canais de televisão moçambicanos, para ganhar respeito do bairro e pararem os "apelidos" depreciativos com que antes era tratada.

"Nós, os albinos, como todo o mundo sabe, sofremos muita discriminação, principalmente das crianças na rua, que nos dizem o que os adultos não têm coragem de dizer", narra Argentina Luís.

O sonho de ser uma grande cantora tem ajudado Argentina a ignorar o preconceito e a criação da ADODS deu mais força para se impor como “pessoa normal”.

Stela Banze, 26 anos, que na festa de aniversário da organização foi manequim na sala onde foi montada uma exposição fotográfica alusiva à data, para celebrar o "orgulho albino", diz que o facto de ter feito uma licenciatura em Ciências de Saúde provou-lhe que os albinos são capazes de vencer o estigma e viver normalmente.

"Não é fácil ser albino em Moçambique, porque há muita ignorância, mas o meu lema foi preferir não me achar diferente e, dentro das minhas capacidades, ser uma pessoa normal. Isso mantém-me viva", realça, lembrando que lutou durante um ano contra um cancro de pele.

O estigma também atingiu os membros mais famosos da comunidade. O músico moçambicano Ali Faque não foi tocar num certo ano à Tanzânia, porque ali os mitos levam muitas vezes à morte por curandeiros, que prometem riqueza a quem foi "tratado à base de órgãos extraídos de albino".

O reverendo Jamisse Taímo, ex-presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e antigo reitor do Instituto Superior de Relações Internacionais conta que viu grávidas desviarem o seu caminho por medo que transmitisse ao bebé o seu albinismo.

CAIXA DE MÚSICA 60


O Livro do Genesis – Capítulo VIII


Roberto Rillo Bíscaro

Genesis sem Peter Gabriel era um conceito duro de compreender, nos idos de 1975. Phil Collins, Mike Rutherford, Tony Banks e Steve Hackett não passavam de músicos de apoio pro vocalista, na visão de muitos. Assim, apostava-se no sumiço da banda.
Internamente, os músicos sentiam a pressão de não apenas seguirem sem Peter, mas acharem substituto à altura prum (já) ícone do rock progressivo. Fãs e imprensa estavam mais do que nunca de olho no Genesis.
Conta-se que os testes pra vocalista passaram de 4 centenas. Uma tarde, Phil Collins cantarolou Squonk prum candidato que não acertava de jeito nenhum. (Arrepia imaginar Phil soltando o “like father, like son” inicial…). Naquele momento, a epifania: por que não aproveitar alguém da banda como vocalista? Phil assumira o vocal principal em Nursery Cryme e Selling England By the Pound, além de fazer harmonias e backing vocals pra Gabriel no estúdio e no palco. O timbre dos 2 era parecido e um membro da banda talvez angariasse as simpatias dos fãs mais facilmente do que um forasteiro.
Iniciava-se a “era Collins”, que traria megaestrelato, desprezo dos críticos e cisão entre os fãs. Pergunta comum entre devotos genesianos: você prefere Peter Gabriel ou Phil Collins?. Porém, estamos todavia em 1975 e Collins engatinhava inseguro como líder do grupo.
Em fevereiro de 76, saiu A Trick of the Tail, primeiro álbum da formação Collins-Banks-Rutherford-Hackett e único da fase Collins recebido com generosidade pela imprensa. Ao vivo, muitos fãs responderam bem ao novo vocalista. O baterista-cantor conta que num show no Canadá, um fã vestido com uma das fantasias de Gabriel permaneceu em pé na boca do palco durante metade do show, até indicar que Phil estava aprovado.
Phil não quis competir com a teatralidade fantasiada de Gabriel e optou por uma persona de palco mais brincalhona e próxima ao público. As misteriosas letras gabriélicas cederam lugar a fantasias e tentativas de humor. Não há como negar que as de Peter eram superiores.
Pra bateria nos shows, o Genesis contratou Bill Brufford (ex-Yes) e depois acertou-se com Chester Thompson, que permaneceu décadas com o grupo e com Phil em sua carreira solo. 2 bateras garantiam um duelo instrumental em alguns momentos do espetáculo, que marcou as carreiras do grupo e de Phil. Reconheço: esses duetos deviam funcionar ao vivo; no CD/TV sempre soaram algo enfadonhos após um minuto de bate-panela.
A Trick of the Tail parece sucessor de Selling England e não de The Lamb Lies Down on Broadway, tornando esse último, meio que um álbum “sozinho” na discografia dos caras. Um certo tipo de humor inglês e temas fantásticos, acoplados com instrumentação preciosista, marcam a marcha ré do Genesis.
A responsabilidade do primeiro álbum pós-Gabriel exigia uma faixa de abertura genial, concretizada em Dance on a Volcano. Quase 6 minutos de ritmo crescente com seção rítmica urgente, camadas de guitarras e sintetizadores e um instrumental final de tirar o fôlego de fãs de prog sinfônico: um galope ascendente em direção á cratera. Defeito? Ser curto demais!
Em chaves diferentes, Entangled e Robbery, Assault and Battery mostram a vertente cômica meio nonsense adotada pelos rapazes. A primeira canção é sobre tratamentos psiquiátricos e seus preços exorbitantes. Ao instrumental onírico dominado por cordas da primeira parte, Tony Banks sobrepõe um solo de Mellotron que deve ter sido composto em outra dimensão.
Robbery... é um exercício em humor-negro e múltiplos pontos de vista e entonações vocais, bem ao estilo dos álbuns pré-The Lamb. A letra fala sobre um bandido que se aproveita dos furos do sistema judiciário e o instrumental “pra cima” torna tudo muito irônico. O final, brincando com os canais das caixas de som, é uma maravilha!
Ripples tira a banda do terreno do fantástico e fala sobre o processo de envelhecimento, comparando-o com ondas concêntricas em um lago. A instrumentação entre o folk e o clássico, reproduz o efeito dos círculos. Aos 4 minutos e tanto, um daqueles solos chorados da guitarra de Hackett, que fazem valer a pena estar vivo.
Mad Man Moon é puro Tony Banks com sua letra de conto de fadas e sua instrumentação grandiloquente, com muito piano e mudanças rítmicas e líricas. Uma de minhas favoritas do repertório do Genesis. Amo Tony Banks.
A Trick of the Tail atingiu o terceiro lugar na parada britânica e a turnê mundial tirou o Genesis do vermelho financeiramente.
Era 1976 e a Inglaterra estava prestes a ser sacudida pela rebelião punk de 77, que colocaria o Genesis na posição de “careta”, da qual jamais sairia.  
A Trick of the Tail está inteirinho no You Tube.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

DOWN NA ACADEMIA


Aprovado no vestibular, 1º aluno com Down da UFG rompe preconceito


Angela Chagas
Ser aprovado em uma faculdade pública é um sonho de muitos jovens que se tornou realidade para Kallil Assis Tavares, 21 anos, que na próxima segunda-feira começa a estudar geografia no campus de Jataí da Universidade de Goiás (UFG). Para a instituição, a conquista de Kallil é ainda mais importante e precisa ser reverenciada, já que ele é o primeiro aluno com Síndrome de Down a ingressar na universidade. “Isso demonstra que nós estamos conseguindo superar o preconceito, que infelizmente ainda existe em nossa sociedade”, afirma a coordenadora do Núcleo de Acessibilidade da UFG, professora Dulce Barros de Almeida.
Kallil não teve correção diferenciada, concorreu de igual para igual com todos os outros candidatos. “Apenas pedimos para que a universidade disponibilizasse um monitor para ler a prova e que as letras dos textos fossem maiores porque ele tem baixa visão”, disse a mãe do jovem, Eunice Tavares Silveira Lima. Segundo ela, Kallil sempre foi estudioso e desde criança gostava de mapas.
“No segundo ano do ensino médio ele decidiu que iria fazer vestibular para geografia. Nós apoiamos a escolha, mas ficamos surpresos com a aprovação, era uma prova muito difícil”, afirmou Eunice. Ela ainda disse que o filho estudou apenas dois anos em uma escola especial. Com 5 anos de idade ele foi para um colégio privado de ensino regular. “O colégio não tinha nenhum aluno com Down, mas quando há vontade de se trabalhar a inclusão, se dá um jeito. Foi disponibilizado um monitor e os professores sempre apoiaram meu filho”, conta.
Ela acredita que o fato de Kallil ter estudado em uma escola regular vai contribuir com a adaptação na universidade. “Não sou contra as escolas especiais, mas elas devem servir como um apoio, um lugar para onde os alunos vão no contraturno”, explica. A mãe ainda disse que não cria expectativas sobre como será o desempenho dele daqui em diante. “Não estamos programando nada especial para o Kallil quando começar as aulas. De acordo com as necessidades que ele apresentar, nós como família e a universidade teremos de nos adaptar”, disse ao destacar que o filho pode precisar do auxílio de um monitor durante as atividades em aula.
A coordenadora do Núcleo de Acessibilidade da UFG concorda sobre a importância de alunos com necessidades especiais frequentarem escolas regulares e diz que a universidade tem a obrigação de atender todas as exigências desses estudantes para que eles cumpram com o direito de fazer um curso superior. “Nós temos um aluno cego no curso de Ciência da Computação que recebe acompanhamento de um monitor. Se essa for a necessidade de Kallil, com certeza estaremos prontos para disponibilizar isso”.
O núcleo para atender alunos com necessidades especiais na UFG foi criado em 2010. De lá para cá, a instituição ganhou 15 estudantes surdos, que fazem o curso de Letras, além do jovem cego. A professora Dulce espera que o caso de Kallil sirva de exemplo para que nas próximas seleções mais estudantes com necessidades semelhantes sintam-se motivados em fazer um curso superior. “Isso incentiva as famílias a acreditar no potencial que essas pessoas têm. E cabe a nós, como educadores, mostrar que o preconceito não pode existir mais”, completa.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

METAMORFOSE


Pesquisadores criam dispositivo que permite cegos congênitos transformarem som em visão

Uma equipe de desenvolvedores israelenses está desenvolvendo um dispositivo que permite pessoas com deficiência visual transformarem som em visão. O projeto é parcialmente inspirado na viseira utilizada pelo personagem Jordy LaForge, em Star Trek: The Next Generation.
O projeto está em desenvolvimento pela equipe liderada pelo Dr. Amir Amedi, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Para que o deficiente visual consiga enxergar pelo seu óculos, Amir usa o conceito do som que invade o córtex visual do paciente. Tal conceito foi descoberto há 20 anos, pelo pesquisador holandês Peter Meijer, que criou um algoritmo para traduzir a posição e a aparência de um objeto em diferentes sons. Meijer aplicou essa descoberta em um dispositivo chamado Sensory Substitution Device.
Com apenas um breve treinamento, os usuários podem aprender a interpretar a “paisagem sonora” de objetos, pessoas, e cenários. Na prática, o usuário poderá localizar com facilidade onde cada coisa está, vendo o seu formato e posição, e até mesmo ler as palavras escritas em um livro. O sistema funciona com pessoas que perderam a visão por causa de um acidente ou lesão, e também com aqueles que possuem a cegueira de forma congênita.
O Dr. Amedi lembra que pesquisas anteriores ajudaram a indicar a utilização do som como a melhor solução. A visão trabalha com duas vias paralelas: a primeira via é responsável pela identificação do objeto, mostrando a sua cor e o seu formato.

A segunda via, por sua vez, indica a localização do objeto, coordenando os dados visuais com a função motora da pessoa. Pesquisando os resultados do funcionamento do dispositivo do Dr. Meijer, Dr. Amedi descobriu que as duas vias seguem funcionando, mesmo quando a pessoa não possui a visão normal. A prova disso é que os deficientes visuais ativam essas características do cérebro quando estão lendo um texto em Braile.
Com isso, o grupo de pesquisadores conseguiram desenvolver um sistema complementar que estimulasse as funções visuais através do som captado pelas pessoas e objetos. Abaixo, um vídeo demonstrativo do projeto.

ALBINO GOURMET 63

Jamais curti o desenho do marinheiro Popeye, aquele que comia espinafre pra ganhar superpoderes. Não gostava da musiquinha e, sobretudo, detestava a personagem. Mas, não há como negar o valor nutritivo dessa verdura.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

BOCEJO

Regra das oito horas de sono pode ser 'mito'


Dados científicos e históricos sugerem que a recomendação de oito horas ininterruptas de sono por dia pode ser baseada em um mito. Segundo especialistas, o processo biológico natural prevê um sono segmentado em duas partes, mas o padrão foi aos poucos sendo alterado por transformações sócio-culturais.
No início da década de 90, o psiquiatra Thomas Wehr realizou uma experiência na qual um grupo de pessoas ficou em um ambiente escuro durante 14 horas por dia em um período de um mês.
Os voluntários precisaram de um tempo para regular o sono mas, na quarta semana, eles apresentaram um padrão de sono muito diferente: eles dormiam por quatro horas, acordavam durante uma ou duas horas e depois dormiam por mais quatro horas.
Além desta pesquisa, em 2001 o historiador Roger Ekirch, da Universidade Virginia Tech, publicou um estudo depois de 16 anos de pesquisa que revelou várias provas históricas de que o sono humano é dividido em dois períodos.
Quatro anos depois, Ekirch publicou o livro At Day's Close: Night in Times Past ("No Fim do Dia: A Noite no Passado", em tradução livre), que mostra mais de 500 referências a um padrão de sono segmentado, em diários, registros jurídicos, livros médicos e literatura, desde a Odisseia, de Homero, até um relato antropológico a respeito de tribos modernas da Nigéria.
Estas referências descrevem um primeiro período de sono que começava cerca de duas horas depois do anoitecer, seguido de um período em que a pessoa ficava acordada por uma ou duas horas e então um segundo período de sono.
"Não é apenas um número de referências, é a forma como é relatado, como se fosse de conhecimento de todos", disse Ekirch.

Atividade noturna

Na experiência de Wehr, durante o período de duas horas em que as pessoas ficavam acordadas, havia atividade. Estas pessoas se levantavam, iam ao banheiro ou fumavam e algumas até visitavam os vizinhos.
A maioria das pessoas ficava na cama, lia, escrevia ou rezava. Vários livros de orações do final do século 15 traziam preces especiais para as horas entre os períodos de sono.
Estas horas nem sempre eram solitárias, as pessoas geralmente conversavam ou tinham relações sexuais.
Um manual médico da França do século 16 até aconselhava os casais que a melhor hora para conceber um filho não era no final de um longo dia de trabalho, mas "depois do primeiro sono".
Ekirch descobriu em sua pesquisa que as referências ao primeiro e segundo sono começaram a desaparecer no final do século 17. Isto começou nas classes sociais superiores do norte da Europa e nos 200 anos seguintes se espalhou para o resto da sociedade ocidental.
E, por volta da década de 20, a ideia do primeiro e segundo sono já tinha desaparecido.
O pesquisador atribui esta mudança à melhoria na iluminação pública, na iluminação doméstica e a um aumento do número de cafeterias, que, em alguns casos, ficam abertas a noite inteira. A noite se transformou em um período de atividade normal e o tempo de descanso diminuiu.

Noite, crime e luz

O historiador Craig Koslofsky, tem uma explicação para como a noite mudou, em seu liro Evening's Empire ("Império da Noite", em tradução livre).
"Antes do século 17, as associações feitas com a noite não eram boas", afirmou o historiador. Segundo Koslofsky, a noite era um período ocupado por criminosos, prostitutas e bêbados.
"Mesmo os ricos, que podiam pagar pela luz das velas, tinham coisas melhores nas quais gastar o dinheiro. Não havia prestígio ou valor social associados à noite."
Soldados isralenses dormem depois de completar uma marcha durante a noite (Reuters)
Soldados israelenses dormem durante o dia depois de uma marcha noturna
Mas, tudo começou a mudar na época da Reforma e da Contra Reforma, no século 16, quando protestantes e católicos começaram a participar de cerimônias noturnas.
Esta tendência se espalhou pela esfera social, mas apenas para aqueles que tinham dinheiro para pagar por velas. Mas, com o início da iluminação pública, as atividades noturnas começaram a se espalhar por todas as classes.
Em 1667, Paris se transformou na primeira cidade do mundo a ter luzes nas ruas. Lille ganhou sua iluminação com velas no mesmo ano e Amsterdã, dois anos depois. Londres ganhou suas luzes em 1684 e, no final daquele século, mais de 50 grandes cidades da Europa contavam com iluminação noturna.
A noite virou moda e passar estas horas na cama era visto como perda de tempo.
E, segundo o pesquisador Roger Ekirch, a Revolução Industrial intensificou ainda mais este processo.
Um livro médico de 1829 pede que os pais obriguem suas crianças a não seguirem o padrão do primeiro e segundo período de sono, por exemplo.

Preferência

Nos dias de hoje a maioria das pessoas parece ter se adaptado ao padrão de oito horas ininterruptas de sono, mas Erkich acredita que muitos problemas do sono podem ter suas raízes na preferência natural do corpo humano por um período de sono dividido em períodos. E também à popularização da iluminação artificial.
Passageiros dormem em aeroporto da Tailândia (AFP)
Doenças ligadas à falta de sono tem se multiplicado
E esta parece ser a raiz do problema que acomete muitas pessoas que acordam durante a noite e não conseguem voltar a dormir.
"Na maior parte da evolução nós dormimos de uma certa forma. Acordar durante a noite é parte da fisiologia normal humana", afirmou o psicólogo do sono Gregg Jacobs.
A ideia de que precisamos dormir em um único período pode ser prejudicial à saude, segundo Jacobs, caso as pessoas que acordem à noite fiquem ansiosas.
"Muitas pessoas acordam durante a noite e entram em pânico. Digo a elas que isto é apenas uma volta ao padrão de sono segmentado", disse o neurocientista especialista em relógio biológico da Universidade de Oxford Russell Foster.
Mas, a maioria dos médicos não reconhece que o sono ininterrupto de oito horas pode não ser natural.
"Mais de 30% dos problemas de saúde relatados por médicos têm origem direta no sono. Mas o sono tem sido ignorado em treinamentos médicos e existem poucos centros para o estudo do sono", afirmou Foster.

LIVRO E FOTOS SOBRE ALBINISMO EM MOÇAMBIQUE - III

Fim da Marginalização dos Filhos da Lua
“Filhos da Lua” é o título de uma exposição fotográfica e de um livro lançado esta quarta-feira na Fortaleza de Maputo e que arrastou para aquele recinto muitos apreciadores da arte de fotografar e não só, quiçá como prenúncio do fim da marginalização das pessoas portadoras de albinismo que vivem em Moçambique.

Dezenas de fotografias de autoria de Solange dos Santos e Dominique Andereggen contam a história dos portadores de albinismo no país e desperta a sociedade moçambicana para saber conviver com as pessoas portadoras desta doença causada pela insuficiência de melanina, substância responsável pela colaboração da pele, cabelos e olhos.



Segundo Solange dos Santos, “Filhos da Lua é a arte final criada a partir de um projecto de dois anos sobre pessoas portadoras de albinismo e fala das peripécias por que elas passam nas suas vidas, que são marginalizadas e perseguidas até a morte por causa da sua aparência”.

Para os organizadores desta exposição, a fotografia pode ajudar a melhorar a compreensão de um problema de uma minoria, sobre o qual a maioria das pessoas não sabe muito, por falta de informação sobre esta doença.

“As imagens escolhidas para a exposição deve transformar os chamados erros e anomalias em cada singularidade e beleza”, refere Solange dos Santos.

Para Ana Gabriela, Presidente da Adods, a associação que defende os direitos dos albinos em Moçambique, a “exposição e o livro vão de encontro com a missão de garantir que os direitos das pessoas portadoras desta doença sejam salvaguardados, de modo a que a informação sobre o albinismo, a não descriminação, a inserção social e a assistência médica e medicamentosa para os portadores de albinismo fazem parte do quotidiano dos moçambicanos”.

Para além do lançamento do livro e da abertura da mostra fotográfica, o local acolheu um desfile de moda protagonizado por modelos albinos. A exposição fotografia “Filhos da Lua” estará patente na Fortaleza de Maputo até ao dia 23 de Março.


Alfredo Lituri (Texto) e Sérgio Costa (Fotos)

SAPO MZ

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

TELONA QUENTE 43




Roberto Rillo Bíscaro

Samira Makhmalbaf dirigiu seu primeiro longa aos 17 anos. Filha de Mohsen Makhmalbaf – diretor do ótimo Gabbeh, entre outros – a menina co-escreveu com o papi o roteiro de Sib (A Maçã - 1998).

Baseado em fatos, a narrativa segue o caso de 2 irmãs mantidas em casa, trancafiadas pelo pai desde seu nascimento. Aos 11 anos, vizinhos denunciam ao equivalente iraniano do conselho tutelar o cárcere das gêmeas, que não falavam, não tomavam banho e sequer sabiam comer direito. O pai se compromete a deixar as meninas em liberdade, mas tranca-as de novo assim que retorna da assistência social. Ao descobrir a quebra da promessa, a assistente faz o pai experimentar a mesma sensação das filhas, enquanto libera as crianças para sua primeira aventura nas ruas de Teerã.

As pequenas Zarah e Massoumeh são interpretadas por elas mesmas e Samira consegue atuações comoventes num filme ao mesmo tempo perturbador, tocante e até engraçado. Mistura de drama com documentário, The Apple insiste na imagem da grade como metáfora para a opressão feminina e falta de liberdade política num Irã dividido entre a vontade de ser moderno e a força retardatária da tradição.

A maçã do título transcende o pecado original bíblico pra se tornar metáfora do conhecimento, da liberdade de escolher, de ir e vir.

As cenas onde as crianças perambulam pelas ruas encontrando amigos em potencial e vendedores são frescas como a descoberta da liberdade pela meninas. Claro que não deve faltar quem diga que o filme vai do nada ao lugar nenhum porque se afasta do modelo dramático hollywoodiano. Azar deles, não sabem a profundidade das raízes plantadas pela diretora-menina.

Grande trunfo de A Maçã é o de não demonizar o pai, que tem seus motivos pra trancar as meninas: pobre, sem instrução, com uma esposa cega e criado segundo os rígidos códigos da tradição de honra islâmica, ele teme pela segurança e virgindade das petizes. Não é o caso de se concordar com o cárcere. Antes, trata-se de compreender as razoes do outro. Proveniente de lar privilegiado, Samira não caiu na cova rasa de olhar a alteridade tentando explicá-la a partir de seu próprio código de classe. Muita estupidez seria evitada se âncoras “inteligentes” da TV e escribas de revistas e jornais tivessem tal postura...

A Maçã foi fatiada em 8 partes e está no You Tube, com legendas em inglês. Não é permitido inserir o vídeo aqui, mas a primeira fatia pode ser acessada no link

DUPLA ESCURIDÃO

Gêmeos relatam drama de perder a visão repentinamente por doença rara

Os gêmeos britânicos Michael e Daniel Smith, de 20 anos, estavam começando a vida universitária, quando repentinamente começaram a perder a visão.
Eles sofrem de uma rara doença genética incurável, a síndrome de Leber, que causa a morte das células no nervo ótico, impedindo o envio de informações entre os olhos e o cérebro.
Michael foi o primeiro a perceber que havia algo errado, logo depois da semana de calouros da escola de medicina que havia decidido cursar.
"Um dia, eu não conseguia mais ver os rostos das pessoas, ou as palavras na tela do projetor. A partir daí, a cada manhã, minha visão ficava muito pior. Em duas ou três semanas, perdi de 80 a 90% da minha visão", disse Michael à BBC.
Seu irmão gêmeo recebeu a notícia com surpresa.
"Michael e eu fomos inseparáveis por 19 anos até que nós dois saímos de casa para começar a universidade. Aí, apenas uma semana após nos separarmos, ele me telefona para dizer que algo estava estranho, ele não conseguia reconhecer as pessoas e não sabia o porquê", contou Daniel.
"Aquela conversa ainda me assombra. Os médicos acharam que ele tinha um tumor no cérebro, mas depois diagnosticaram a doença genética."

'Nuvem negra'

Daniel foi então informado de que, devido ao fato de eles serem gêmeos idênticos, ele tinha 60 a 70% de chance de também sofrer uma perda de visão.
"Foi muito difícil saber que uma nuvem negra estava pairando sobre a minha cabeça nos dois primeiros anos de universidade (de engenharia aeronáutica, em Bristol). Pelo menos agora, me sinto aliviado por saber onde estou", diz ele, que viu sua visão se deteriorar nos últimos três meses.
A síndrome de Leber normalmente se manifesta na adolescência ou juventude, mas em casos raros pode aparecer na infância ou mais tarde na vida adulta. Por razões desconhecidas, a doença aparece com mais frequência em homens que em mulheres.
Devido a sua raridade - apenas 150 pessoas sofrem da doença na Grã-Bretanha -, não há muitos estudos sobre a síndrome.

Bicicleta

Apesar das dificuldades causadas pela cegueira, os irmãos decidiram continuar seus estudos, mas Michael precisou abandonar a medicina para se dedicar à geografia, na Kings College London.
"Dez anos atrás, teríamos de abandonar a universidade, mas hoje há programas de computador e recebemos apoio para alunos com deficiências, então contamos com ajudantes durante a aula", disse Daniel à BBC.
Os gêmeos também vão pedalar 570 quilômetros, de Londres até Amsterdã, na Holanda, juntamente com outros ciclistas para arrecadar dinheiro para a ONG Blind in Business, que os ajudou desde o diagnóstico.
"Perder a visão tão jovem e ver meu irmão perdê-la também tornou necessário um processo intensivo de reabilitação, funcionalmente e emocionalmente, que colocou muita pressão na família."
"O desafio de bicicleta é nossa forma de dizer 'obrigado' pela ajuda."

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

LIVRO E FOTOS SOBRE ALBINISMO EM MOÇAMBIQUE - II



Livro e exposição fotográfica.


A exposição de fotografia e o livro são resultado de um projecto de dois anos sobre pessoas portadoras de albinismo que vivem em Moçambique e que são membros da Associação ADOD.
“Filhos da Lua” é o título do livro que será lançado esta quarta-feira na Fortaleza de Maputo. O título também é da exposição que será inaugurada na mesma ocasião.
A  exposição de fotografia e o livro são resultado de um projecto de dois anos sobre pessoas portadoras de albinismo que vivem em Moçambique e que são membros da Associação ADOD (Associação Defendendo os Nossos Direitos).
O albinismo é uma anomalia genética caracterizada por insuficiência de melanina, substância responsável pela coloração da pele, cabelos e olhos. É genética, isto é, transmite-se de pais para filhos, caso os pais sejam portadores deste gene na sua informação genética.
Os mitos associados ao albinismo e a falta de informação levam a que muitas pessoas portadoras de albinismo sejam discriminadas e, por vezes, perseguidas para fins de obscurantismo, violando, assim, os direitos mais elementares de todo o cidadão, a violação dos Direitos Humanos.
A fotografia pode ajudar a melhorar a compreensão desta minoria como importante instrumento de intervenção social que é.
Procurou-se, neste trabalho, colocar as pessoas portadoras de albinismo não como vítimas, mas sim realçando a beleza que existe da diferença.
O Livro “Filhos da Lua” procura fazer o cruzamento entre a imagem e o testemunho deixado pela pessoa fotografada.
Pretende-se, com este projecto, celebrar a extraordinária beleza e riqueza da diversidade no ser humano; desafiar e eliminar ideias pré-concebidas sobre o que é “normal”; celebrar a nossa individualidade, unicidade e semelhanças; melhorar  a situação emocional e social e de saúde das pessoas que vivem com albinismo.

CONTANDO A VIDA 69

Rendendo-me momentaneamente ao truísmo que reza que no Brasil o ano começa só após o Carnaval, selecionei um texto de nosso cronista-filosofal, onde ele responde à questão “professor, na sua vida faria tudo do mesmo jeito?”

COMEÇAR DE NOVO?

José Carlos Sebe Bom Meihy

Dizem que são as perguntas que movem o mundo, e não as respostas. Há sabedoria nisso, com certeza. Mas, questões podem nos perturbar. Muito. Lembro-me que na juventude, frente às primeiras namoradinhas, eu sempre começava qualquer encontro com uma chuva de perguntas. Era um jeito de disfarçar a timidez e provocar reações, mas nem sempre dava certo. Era essa uma estratégia diferente dos amigos que encantavam as garotas com elogios diversos, decantando belezas às vezes inexistentes, que poderiam recair no rosto, jeito de dançar, cabelo, sorriso. Isso, porém, não funcionava comigo. Antes de tomar qualquer iniciativa eu punha a cabeça para funcionar e elaborava diálogos que, contudo, nunca se realizavam do jeito que supunha. Estava sempre fadado ao insucesso galanteador. Na minha cabeça a coisa funcionava mais ou menos assim: imaginava uma pergunta inicial e esperava que as respostas viessem nas poucas alternativas que eu elaborava. Como raramente acertava, não conseguia substituir o plano por outros. Pois bem, essas recordações me vieram à cabeça quando alguém pouco dado à censura lançou a sentença: professor, na sua vida faria tudo do mesmo jeito? Gelei. Na realidade, não precisava dar uma resposta fiel, dizer algo definitivo, expressar exegeses ontológicas. Mas, a surpresa abriu um buraco em minha perplexidade. Sabe como reagi? Apelei para a MPB e ressuscitei Gonzaguinha balbuciando um trecho de “Começaria tudo outra vez”, carro-chefe de seu primeiro álbum, de 1977: “Começaria tudo outra vez, se preciso fosse meu amor/ A chama no meu peito ainda queima, saiba, nada foi em vão”. Dei uma manhosa pulada no teor romântico e recobrei a parte, digamos, civil que me interessava “e então eu cantaria a noite inteira/ Como eu já cantei e cantarei/ As coisas todas que já tive, tenho e sei que um dia terei/ A fé no que virá e a alegria de poder olhar pra trás”. Com chave de ouro, já sem cantarolar, cravei: “começaria tudo outra vez”. Como peste ameaçadora, no entanto, a pergunta foi impregnando minha alma e convocando o meu “eu caçador de mim”, como se um Milton Nascimento cantasse dentro de mim. Logo me veio à mente outra música, esta provocando diálogo inverso. Dessa feita, era Ivan Lins cantando a superação de tramas, sem o que não valeria a experiência. Novamente, abdiquei o sentido amoroso e no lugar insisti no sentido existencial das palavras que diziam “Começar de novo e contar comigo/ Vai valer a pena ter amanhecido/ Ter me rebelado, ter me debatido/ Ter me machucado, ter sobrevivido/ Ter virado a mesa, ter me conhecido/ Ter virado o barco, ter me socorrido/ Começar de novo e só contar comigo”. Alinhei outras canções até o ponto de responder que deveria buscar meu próprio exame, pois, afinal, faria tudo outra vez?

Devo dizer que era um fim de tarde, um quase anoitecer desses em que o não frio se disfarça em não calor e tudo fica incerto. Sentei-me, troquei o olhar para fora, buscando no interior ver o essencial. Fiquei surpreso com a rapidez da resposta. E logo fui me sentenciando favoravelmente. Acho que acertei muito. Fiz muitas coisas dignas de saudação pessoal. Mesmo delegando aos outros direitos de opiniões diversas, creio que acertei como pai, fui bom marido, fiz excelentes amigos, profissionalmente fui sucedido com algum sucesso e, creio, deixo um legado que não envergonhará minha memória. Mesmo assim, creio que não repetiria algumas coisas. Na altura dos tempos, tenho concluído que perdi muito tempo com alguns detalhes tolos, deixei de elogiar ou reconhecer méritos devidos a alguns parceiros, chorei demais algumas perdas pífias e demorei-me muito em outras que não deixo calar. Talvez tenha sido muito severo com os filhos na primeira infância e agido com muito rigor com alunos que precisavam de tempo para expressar seu melhor. Mas,  nada que me convidasse à negação. Para mim mesmo, desdobrei a questão: o que aprendi da vida? Meio que companheiro de mim mesmo, como uma espécie de anjo clemente, me vieram alguns sentimentos que procurei cultivar com zelo extremo: não guardar mágoas; saber que tudo pode ser dito desde que de forma adequada; ter capacidade de pedir perdão se necessário e sobretudo negociar diferenças. Estava nesse ponto quando fui virado pelo avesso e de fora. Vez mais, aflorou um verso que se pôs em lugar de canções. Foi Fernando Pessoa quem, como colocando a mão em meu ombro, disse: tudo vale a pena se a alma não é pequena.