quarta-feira, 31 de agosto de 2011

CONTANDO A VIDA 49

De volta à interpretação histórica via MPB, nosso professor-cronista veste balangandãs e fala sobre a alfinetada que Carmem Miranda deu em Gegê. Além disso, aprenderemos porque comer salsicha à noite não é bom.  

CARMEM MIRANDA E MOREIRA DA SILVA: sambas em paródia.

José Carlos Sebe Bom Meihy

Em 1940, depois de brilhar na Broadway, nossa Carmem Miranda voltava ao Brasil. Havia duas tendências críticas, uma a seu favor, outra oposta. Consagrada, a “pequena notável” era presença obrigatória nos noticiários e arrebatava um público fiel, mas, avesso disso, os olhos atentos do governo varguista, então, lançavam pejas aos “modos americanizados”, pretensamente assumidos pela interprete que figurava já como a cantora e atriz mais aclamada do mundo. O debate crescia e em sua intimidade dimensionava posturas políticas vinculadas às crises internacionais.

Enquanto a Europa ardia na Segunda Guerra Mundial, aqui, articulava-se de um lado os postulados nacionalistas do Estado Novo, de nítidas feições ítalo-germânicas, e de outro a simpatia popular crescente para com os Aliados imersos na contenda. Até então, o Brasil não participava diretamente do conflito, fato que apenas ocorreu a partir de 1942. Antes, porém, o Presidente Vargas, mostrava-se germanófilo convicto e nesse então, a música popular brasileira filtrava tensões polarizadas. Foi assim que se deu o incidente envolvendo Carmem Miranda, chamada pelos governistas de “vendilhona”. Tudo se deveu principalmente ao fato de ter se apresentado, em março de 1940, na Casa Branca, para o Presidente Roosevelt. De volta ao Rio, viu insuflada contra ela vil campanha. Isso, aliás, era contraste perfeito com o crescente sucesso popular. De toda forma, no Cassino da Urca em junho daquele mesmo ano, quando se apresentou no show de estreia, teve gélida acolhida, pois a plateia constituía-se da cúpula governamental. Logicamente, a inquieta cantora não se conteve e apresentou uma resposta humorada, na qual retrucava as acusações. Em composição de Luiz Peixoto e Vicente Paiva intitulada “Dizem que Voltei Americanizada” Carmem rebatia: “E disseram que eu voltei americanizada/Com o ‘burro’ do dinheiro, que estou muito rica/Que não suporto mais o breque de um pandeiro/E fico arrepiada ouvindo uma cuíca/Disseram que com as mãos estou preocupada/E corre por aí que ouvi um certo zum-zum/que já não tenho molho, ritmo, nem nada/E dos balangandãs já nem existe mais nenhum/Mas p'rá cima de mim, p'rá que tanto veneno?/Eu posso lá ficar americanizada?/Eu que nasci com samba e vivo no sereno/topando a noite inteira a velha batucada/Nas rodas de malandro, minhas preferidas/eu digo é mesmo ‘eu te amo’ e nunca ‘I love you’/Enquanto houver Brasil... na hora das comidas/eu sou do camarão ensopadinho com chuchu!”.
Pois bem, ainda que “Dizem que Voltei Americanizada” seja muito mais conhecida, não foi a única agulhada que o sistema sofreu. Outro samba de semelhante feição paródica, expunha o lado popular da crescente crítica às posturas do governo. Em termos musicais, talvez a melhor prova da não aceitação da posição de Hitler derivou do samba “Esta Noite Eu Tive um Sonho”, de 1941, feito pela dupla Wilson Batista e Moreira da Silva. Vejamos a letra: “Saltei em Berlim, entrei num botequim/Pedi café, pão e manteiga pra mim/O garçom respondeu: não pode ser não!/Fiquei furioso e fui ‘hablar’ ao patrão/Que me recebeu com duas pedras na mão/E me disse quatro frases em Alemão/’Néris’ disso, sou doutor em samba/Venho de outra nação!/Tive vontade de comer uns bifes/Ich nag dich, seu Fritz/Não se resolve assim não/Venho do Brasil/Trago um presente pro senhor/Esta ganha e esta perde/Na voltinha que eu dou/Já tinha ganho todos os marcos para mim/Quando ouvi o ruído de um Zeppelin/Eu acordei, tinha caído no chão/Salsicha à noite, não faz boa digestão”.
Pelo sim ou pelo não, de forma indireta, como se vê nos dois casos, a música popular expressava tendências que se apresentavam como alternativas ao discurso político estadonovista. O que chama a atenção no caso é nosso despreparo para ouvir na música os apelos que dimensionavam contextos que as explicam. Vale também ressaltar o caráter espirituoso do principal ritmo nacional que sabiamente se imiscuiu na opinião pública de forma a atuar na decisão nacional de sermos o único país da América Latina a participar daquela que foi a mais fatal das Guerras.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

MEA CULPA


EUA reconhecem morte de 83 guatemaltecos em estudo sobre sífilis


O governo dos Estados Unidos reconheceu nesta segunda-feira a morte de 83 cidadãos da Guatemala, infectados nos anos 1940 com doenças sexualmente transmissíveis (DST), como sífilis e gonorreia, durante experimentos médicos.
Uma comissão de inquérito, formada a pedido do presidente americano, Barack Obama, concluiu que cerca de 1.300 pessoas foram expostas às doenças.
Ao todo, 5.500 pessoas participaram dos estudos, sem saber dos riscos que corriam, segundo declarações de um dos investigadores, Stephen Hauser.
Entre os infectados, apenas 700 receberam tratamento médico. Ao fim, 83 morreram.
A sífilis pode causar cegueira, distúrbios mentais e até a morte, caso os doentes não recebam o devido tratamento.
Menos nociva e mais fácil de curar que a sífilis, a gonorreia pode se espalhar pelo organismo e até causar infertilidade nos homens.
A comissão reconheceu que os cientistas americanos infectaram prisioneiros, pacientes psiquiátricos e órfãos guatemaltecos em estudos que testavam a abrangência do uso da penicilina.
A presidente da comissão, Amy Gutmann, classificou o estudo como “um pedaço vergonhoso da história médica”. Um relatório deve ser publicado em setembro com as conclusões finais sobre o caso.
Obama fez um pedido de desculpas por telefone ao presidente da Guatemala, Álvaro Colom, dizendo que os estudos contrariam os valores americanos.
No início deste ano, vários cidadãos guatemaltecos infectados à época e familiares das vítimas anunciaram que estavam abrindo um processo contra o governo americano.
Pesquisa
A história dos experimentos americanos na Guatemala veio à tona no ano passado, fruto de uma pesquisa histórica da professora Susan Reverby, do Wellesley College, de Massachusetts.
Segundo a acadêmica, o governo guatemalteco da época deu permissão aos estudos, que ocorreram entre 1946 e 1948.
Os cientistas usaram prostitutas portadoras da sífilis e fizeram inoculações nos pacientes para determinar se a penicilina também poderia evitar a doença, e não apenas curá-la.
Na ocasião, o presidente Colom classificou os estudos como “crime contra a humanidade” por parte dos Estados Unidos.

TELINHA QUENTE 25

A Teleprima
Nos primeiros anos da televisão no Brasil havia o fenômeno do televizinho, aquele que, não tendo o aparelho assistia à programação na casa de quem tinha. Conta-se que a coisa era tão corriqueira que os apresentadores dirigiam-se igualmente aos telespectadores e televizinhos pra desejarem-lhes boa noite. O termo ficou tão popular que consta até na edição século XXI do Novo Aurélio, mesmo que televizinho seja tão comum quanto um brontossauro hoje.
Quando eu tinha uns 10 anos – há mais de 30... – não mais se usava a expressão porque o contingente com telinha em casa devia ser expressivo. Não me lembro do Sílvio Santos ou do Chacrinha cumprimentando televizinhos. Eu tinha uma teleprima, porém.
Em casa, possuíamos televisor branco e preto, assim, todas as tardes dirigia-me à casa da Irene e do marido Didi pra ver o Sítio do Picapau Amarelo na TV colorida da prima de mamãe.
Monteiro Lobato foi meu primeiro autor predileto. Devorara toda sua obra pra crianças antes dos 11 anos de idade, quando entrei pra quinta série e entrei na geração das borboletas atírias e escaravelhos do diabo.
Quando a versão global setentista do Sítio estreou tornei-me fiel seguidor e ver colorido era outra coisa. Que lindo o Reino das Águas Claras e o rinoceronte Quindim. Não tinha graça ver aquela superprodução em preto, branco e tantos tons de cinza!

Foram décadas sem contato com o programa, o qual jamais saiu de minha cabeça, até porque guardo a excelente trilha sonora, comprada em vinil na época do lançamento, hoje modernamente preservada em mp3. Chorei quando Zilka Salaberry faleceu; afinal, ela foi meio avó de minha geração. Às vezes, visitava alguma página na net que trazia fotos ou via algum trecho no You Tube. Sempre dava aquela saudadezinha gostosa dos tais tempos que não mais voltam e clichês afins.
Há algumas semanas peguei emprestado 2 DVDs com aventuras do Sítio anos 70. 
Primeiro revi O Minotauro, de cuja história, cenas e atores me lembrava tão bem! Talvez pra velocidade da meninada contemporânea a introdução e o desenvolvimento do enredo sejam lentos demais. Divertido ver um Teseu não-bombado. Se fosse hoje, duvido que o fisicamente fraquinho Gracindo Jr. fosse escalado pro papel. E que delícia ver Fábio Mássimo, Lúcia Alves, Lena Krespi e tantas outras faces e vozes da infância. Diversos coadjuvantes também atuavam como dubladores de filmes e desenhos, então gozei de viagem polissêmica associando voes e rostos nacionais a rostos e vozes de personagens estrangeiros igualmente evocativos.
Depois rememorei As Memórias de Emília, que tem sabor de compilação de histórias passadas. Embora tenha rido muito com a esperteza da boneca no que diz respeito à teoria literária (algumas de suas observações sobre a escrita autobiográfica são imapagavelmente verdadeiras), eu preferiria ter visto cada história na sua integralidade, exceto pela do anjinho, que 3 décadas depois ainda consegue me irritar com aquele interminável “saudade”!
Claro que não se tratou apenas duma viagem sentimental no tempo. O Sítio do Picapau Amarelo foi um programa de alta qualidade técnico-pedagógica, numa época em que efeitos especiais na TV brasileira eram na base do heroísmo. Até os bonecos utilizados tinham que vir da Europa, devido à incipiência de nossas condições. Sem contar que o PROJAC não existia, o que implica na inexistência de cidades cinematográficas e recursos materiais à mão e em abundância, como hoje.
Só agora me dei conta de que as personagens lobatianas do paulista Vale do Paraíba tinham sotaque carioca na versão global...
Sobretudo, recordei-me de tantas idas, vindas, prosas e estadias na casa da teleprima Irene e do esposo Didi, que me emprestava enciclopédias. Irene partiu em 86, se não me engano. Didi se foi há alguns meses, após 2 décadas e meia de solidão. Sempre que passo defronte à casa (que provavelmente será remodelada pelos novos proprietários), lembrar-me-ei deles e do Sítio do Picapau Amarelo.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

UMA VIDA COM PARALISIA CEREBRAL

Zé Roberto, com paralisia cerebral, nos abriu a casa e a vida.
Eduardo Nascimento e Lia Segre

Casa
Zona Leste, rua Plínio Cavalcanti. A estação do metrô mais perto era a Artur Alvim, mesmo que não parecesse perto. Deve ter levado entre dez e quinze minutos subir aquelas ruas curvas e íngremes até a casa térrea de José Roberto Amorim - conhecido como Zé Roberto, ou só Zé. Bairro residencial, algum comércio. Não avistamos prédios nem no horizonte. Uma São Paulo bem diferente do centro e de outros bairros - até o céu, um azul intenso que não passou desapercebido.
Zé está sentado em sua cadeira, sua esposa atrás - blusa rosa pink - e sua filha sentada em uma pequena poltrona fúcsia, aos seus pés, do seu lado direito. Ao fundo uma parede branca com alguns retratos, e uma porta de madeira que dá para um quarto. O chão é de piso cor de laranja, como cerâmica.
Zé com a família

A casa, simples, três quartos, bege. Amarronzada. Roberto nos esperava a poucos metros do portão de grade, que só estava fechado, não trancado. Ouvia rádio – uma mania, disse – sentado na sua cadeira de rodas doada, que não era boa, reclamou, mas era doada pelo menos. Uma adaptação rústica, como um caixote de madeira, mantia seus pés firmes e atados à cadeira de rodas. Desligou o rádio com a língua e nos convidou a entrar.
Na sala ampla, uma grande estante de madeira com todos os tipos de tralha de uma casa de família. Nas paredes fotos antigas, preto e branco, de rostos que não reconhecemos. Zé mora com sua mãe, percebemos depois.
Longe de ser uma casa cheia de tecnologias sofisticadas, de aparências esdrúxulas, ganchos, fios, jeringonças, a casa de Zé Roberto era parecida com a maioria das que já tínhamos visto.
O banheiro talvez seja a parte mais modificada da casa. Com vaso rebaixado, sem divisória para o box. Na cozinha, não notamos alguma adaptação, a não ser uma boa parte da mesa sem cadeiras em seu entorno, de modo que Zé Roberto poderia se aproximar empurrado por alguém. Até gosta de comer sozinho às vezes - “como um cachorrinho”, brincou, pegando a comida com a boca já que não tem coordenação nas mãos. Seu maior sonho é que um dia sua filha, Yara, de dois anos, lhe dê comida na boca.
Tivemos a impressão de que a única parte que ele não podia freqüentar era o banheiro dos fundos, visto que era separado do chão por um par de degraus. O quintal é também o depósito da casa, com caixas de brinquedos, e cadeiras de banho, uma para ele e uma para sua mãe, que já está com 92 anos.
Quem vê Roberto pela primeira vez talvez não imagine que ele escreva no computador. Mas além de escrever, está preparando um livro com a história de sua vida. O título provisório é “Memórias”. Para isso, ele usa o Word e faz tudo com a língua. Por isso, o teclado é inclinado verticalmente – quase 90° -, e o mouse, com os botões invertidos, tem uma grande bola vermelha, que ele também mexe com a língua. Durante nossa visita, escreveu apenas seu nome como demonstração, sem erro de digitação. Seus espamos o impediram de escrever mais urante nossa visita. Quando está nervoso sua deficiência aflora, nos explicou.
Essas adaptações no computador foram feitas para ele especificamente. Comentou de um amigo que prefere o computador na posição horizontal usual. É por isso que não dá pra fazer linha de montagem com objetos adaptados, cada um tem uma necessidade. A melhor adaptação é com o deficiente opinando junto. Não importa terem os melhores profissionais de TO do mundo, se não tiver a opinião da própria pessoa que usará a tecnologia - há de se levar em conta muitas particularidades.
Zé utiliza muito o telefone também. Tinha um telefone adaptado, mas quebrou, mandou pro conserto e até agora não voltou (há dois anos). Uma boa coisa é viva voz. Hoje em dia tem um telefone com viva voz. Quando fala no celular, é preciso que segurem para ele. Zé, desde quando você tem deficiência física?
O teclado é fixado na vertical, com um suporte que o aproxima da cabeça de Zé. Ao lado esquerdo do teclado está o mouse, um suporte com uma grande bola no meio e dois botões dos lados.
Teclado de Zé, adaptado para que ele possa mexer com a língua


Primeiros anos
Eu já nasci assim, a paralisia cerebral é falta de oxigenação no cérebro. Em algum momento na gravidez, ou na hora do parto, faltou oxigênio e alguns neurônios morreram e, vocês sabem, eles não se regeneram. Em 1953 a ciência não tava tão avançada, a parteira que ajudou minha mãe foi minha vó. Mas hoje em dia continua tendo gente com paralisia cerebral, ainda não sabem porque.
Com um ano, eu não conseguia ficar sentado nem tinha firmeza no pescoço. Os médicos achavam que era falta de vitamina e me entupiram de vitamina. Mais tarde minha mãe descobriu que eu tive a paralisia e começou a me levar no fisioterapeuta. Não tinha nem cadeira de rodas e minha mãe me levava no colo.
Não fui para a escola, não tinha alternativa naquela época, tinha vontade de estudar, mas as escolas não aceitavam. Aos seis anos, eu fui internado na AACD - Associação de Assistência à Criança Deficiente -, que naquela época ficava nos Campos Elíseos, e fiquei oito anos lá, até 1967. Cursei até a quarta série e aprendi muita coisa, mas uma coisa que nunca entendia era quando os terapeutas ocupacionais me colocavam num exercício de por cadarço em tênis. Tudo bem, treina a coordenação motora, tal, mas hoje em dia eu não ponho cadarço no meu tênis, e fiquei uns quatro anos fazendo isso - pra que? O que isso significa na minha vida atual?. Me colocavam num aparelho e eu conseguia andar, mas pra que, se hoje eu não consigo andar?
Lá eu descobri que havia muitas pessoas como eu. Mas meus pais só me visitavam uma vez por mês e me sentia um pouco sozinho, mas vendo hoje acho que foi positivo eu ter ficado lá. Naquela época não tinha opção. Família pobre ainda...
Quando saí de lá, não sabia me comunicar com meu vizinho. Fui para casa aos 14 anos, e me senti lesado. Na AACD Não te diziam que você não ia conseguir pegar ônibus, andar de cadeira de rodas na rua. Lá tudo é adaptado, mas do lado de fora num tem banheiro adaptado, rampa em todo lugar. Aqui em casa, meu pai, toda vez que juntava um dinheirinho, construía mais um cômodo e já adaptava.
Eu praticamente não saí de casa até os 30, era uma “internação domiciliar”. Vi meus três irmãos crescerem, se divertirem, namorarem, irem a festas com os amigos, e eu só com meus pais. A rua era de terra e tinha um degrau na saída, então eu quase não saía. Sábado a noite era um tédio.
Além disso, meus pais não entendiam meus desejos de adolescente, e reprimiam minha sexualidade. Eu ficava o dia inteiro olhando o portão, vendo as pessoas passarem. Via a menina bonita passando e acontecia o que é natural, meu pais diziam que eu tinha feito xixi na calça, não me explicavam que aquilo era normal.

Fraternidade Cristã
Só comecei a sair quando conheci a Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência (FDC). Foi a melhor reabilitação possível. Lá na Fraternidade falavam o contrário do que falaram na AACD: que eu podia fazer tudo. Todo terapeuta devia perguntar a seus pacientes: “o que o deficiente quer ser na vida? o que ele tem vontade?” Não adianta a sociedade dizer que você não pode. Por que aí que eu vou ficar com mais vontade de fazer mesmo. O importante é eu descobrir o que posso e não posso.
A FCD começou na França, em 40. Tinha um seminarista - Henri François - que tinha uma doença pulmonar e queria porque queria ser padre, aí acabaram ordenando ele, mas colocaram ele para trabalhar no hospital da cidade – Verdun. Lá, ele realizava reuniões entre os deficientes do hospital, que eram muitos, por causa da guerra. Essa organização cresceu eu se tornou internacional.
Ela veio para o Brasil na década de 70, na mesma época em que muitas outras entidades começaram a surgir no País, como o Núcleo de Integração de Deficientes (NID) e o Movimento dos Direitos da Pessoa com Deficiência (MDPD).
A unidade de FCD daqui segue o modelo francês. A gente faz grupos de debate, luta pelos nossos direitos e integra a comunidade. São cerca de 30 pessoas e nem todos têm deficiência e vocês não sabem o quanto é importante a comunidade para a pessoa com deficiência. Porque se eu não consigo pegar essa almofada, você consegue. Deus me tirou as duas mãos, mas me deu dez, vinte. Fico feliz quando percebo, no fim do dia, que eu não deixei de fazer nada.
Em 1998 eu voltei a estudar, tinha 48 anos. A escola que me aceitou não tinha adaptação, e eu ficava só nas salas do térreo. No começo, ninguém chegava perto. Aí, na época de provas, comecei a ajudar os colegas. A professora fazia uma prova oral comigo na sala de estudos, e meus colegas passavam para ir ao banheiro, e acabavam por ouvir as respostas. A partir daí eu me entrosei e a gente passou a, juntos, a reivindicar melhorias na escola, já que eu era o mais “cara de pau”.
Depois de completar os estudos, fiz vários cursos - de fisioterapia na USP, de artesanato -, e num deles conheci a Zelinda, minha esposa - que também tem deficiência física. Eu esbarrei no trabalho dela e ela ficou brava comigo. Depois, pedi desculpas e acabamos saindo pra jantar. Precisava de alguém para me dar comida na boca, ela se ofereceu e continua dando até hoje. Nos casamos há três anos, e há dois temos a Yara, nosso maior tesouro!
Vida pública
Depois que começou a militar via FCD, não parou mais. Uma das suas atuações mais importantes foi no Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência. O movimento brigou por transporte, rampa, atendimento.“Se as entidades não atuassem, hoje nenhum deficiente pegaria metrô. Hoje, quem vê o elevador na Sé não sabe, mas aquilo foi briga de anos”. Zé conta que, depois de muita luta, o metrô pediu que as entidades vistoriassem todas as estações para checar a acessibilidade.
Zé Roberto está na esquerda da foto, levemente de perfil na sua cadeira de rodas. Leva camiseta polo azul marinha, e calça de moleton branca. Na direita, duas das alunas. Elas sorriem e escrevem no caderno. Ao fundo uma estante de madeira cheia de objetos, como pastas, cadernos,papés, caixas, cestas.
Zé Roberto durante nossa visita. Ao seu lado, duas alunas da Terapia Ocupacional - USP

Também mandaram sugestões para a Constituinte de 88, “a gente acreditava que depois que a Constituição estivesse pronta, tudo se resolveria, e que quando as pessoas com deficiência conseguissem tudo, iam parar de militar”. A legislação, opina, é avançada, mas não é cumprida.
O Conselho, nessa época, só tinha representantes de entidades e Zé acredita que assim ele deixava de ouvir vozes muito importantes, da própria pessoa com deficiência. Acabou extinguindo-se na mesma década de 80, e só foi retomado na gestão de Luíza Erundina, em 89, seguindo um modelo de participação democrática. Hoje as decisões do Conselho são tomadas em plenárias abertas à participação das pessoas com deficiência. Mas os problemas de agora são outros: apesar de não ser mais conselheiro, Zé participou da última eleição e disse que “sentiu vergonha do Conselho que ajudou a criar”, pois viu candidatos a conselheiro sem a vontade política e motivação que ele tinha quando participava.
Atualmente faz parte do Conselho de Segurança da sua região, Artur Alvim, representando as pessoas com deficiência. Zé nos lembrou que o dia 29 de setembro, próximo, é dia da luta da pessoa com deficiência. Dia de luta, salienta, não de churrasco - apesar de gostar de churrasco. “Porque se a gente não chutar o pau da barraca, não sai do quarto!”
Veja mais fotos no álbum do Picasa do Jornalismo Saci: picasa.saci

sábado, 27 de agosto de 2011

ALBINO GOURMET 47


Voltinha rápida pela culinária boliviana.

Majao

Ingredientes
Páprica dissolvida em ½ xícara de água
½ xícara de tomate, sem pele, picado
½ xícara de cebola finamente fatiada
5 xícaras de água
1 xícara de arroz
½ xícara de óleo
½ xícara de água
1 colher de chá de sal
225 gramas de carne seca
Preparo
Colocar as xícaras de água para ferver em uma panela grande (fogo alto). Quando ferver, acrescentar a carne seca e deixar cozinhar até ficar macia. Retirar a carne(não jogue fora a água) e passar no moedor. Na água da carne, colocar o arroz , o sal e deixar cozinhar por 25 minutos em fogo médio até o arroz cozinhar, mas não seco. Reserve. Aquecer ½ xícara de óleo em fogo médio e fritar a carne (já moída) até dourar. Tirar do fogo e reservar. Numa panela, colocar o restante do óleo e aquecer em fogo alto e dourar a cebola. Colocar o tomate, a páprica, ½ xícara de água e o sal. Cozinhar por 5 minutos. Adicionar a carne já frita e mexer. Por fim, colocar a mistura da carne na panela com o arroz e mexer tudo.


Tawa-Tawas
Ingredientes
2 xícaras de manteiga ou óleo para fritar
1 xícara de Karo (xarope de milho)
½ xícara de água ou leite
2 xícaras de farinha
2 colheres de chá de fermento em pó
1 colher de sopa de manteiga
1 colher de chá de sal
2 ovos
Preparo
Numa tigela grande, peneirar a farinha, o fermento e o sal. Adicionar 1 colher (sopa) de manteiga e misturar bem. Adicionar os ovos e bater levemente. Em seguida, adicionar a água ou leite, pouco a pouco, e mexer bem até ficar uma massa macia. Colocar a massa sobre a mesa, polvilhar com um pouco de farinha, e amasse. Deixar a massa descansar por 10 minutos coberta com um pano de prato. Pegar metade da massa e abrir até ficar bem fina (cerca de ½ centímetro). Cortar em forma de losangos médios (uns 5 cm). Cobrir os losangos com um pano. Repetir o procedimento com a outra metade da massa. Numa panela (ou frigideira) grande, aquecer o óleo ou a manteiga em fogo alto. Fritar vários losangos simultaneamente. Quando estiverem dourados de um lado, virar e deixar dourar do outro lado. Retirar os losangos da fritira e colocar para secar sobre papel absorvente de cozinha. Depois que todos estiverem fritos, colocar numa bandeja e espalhar o Karo por cima de cada um. Se quiser refinar, polvilhar com açúcar de confeiteiro ou refinado por cima.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

DIAMANTE SIDERAL

Cientistas descobrem planeta de diamante a 4.00 anos-luz da Terra
Um brilho no céu chamou a atenção dos astrônomos, que documentaram o que acreditam ser o primeiro pequeno planeta feito de diamantes, a cerca de 4.000 anos-luz de distância da Terra, de acordo com um estudo publicado nesta quinta-feira.
A descoberta dessa pequena jóia, com grande velocidade de rotação e que possui mais massa do que o gigante gasoso Júpiter, foi feita por uma equipe internacional de pesquisadores que publicaram seus achados na revista Science.
O planeta de diamante já foi uma estrela maior, mas agora é uma anã branca, já que perdeu a maior parte de sua matéria o pulsar, uma pequena estrela de nêutron de cerca de 20 km de diâmetro, que a orbita.
Uma anã branca é o que resta depois que uma estrela como o Sol esgota a maior parte de sua energia, enquanto um pulsar é uma estrela de nêutrons com um intenso campo magnético que envia pulsos de alta radiação que aparecem como se fossem luzes piscando.
Acredita-se que o planeta tenha cerca de 60 mil km de diâmetro, ou cerca de cinco vezes o diâmetro da Terra, e orbita o pulsar a cada duas horas e 10 minutos.
"Este remanescente deve ser em grande parte de carbono e oxigênio, porque uma estrela feita de elementos mais leves, como hidrogênio e hélio, seria grande demais para caber nos tempos de órbita medidos", explicou o pesquisador Michael Keith.
Os astrônomos detectaram o estranho casal com o radiotelescópio Parkes, do Australian Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization (CSIRO).

PAPIRO VIRTUAL 24

Encontrei um conto erótico envolvendo albina. Embora o blog seja aberto a todos os conteúdos relativos ao albinismo, não faz parte de sua linha editorial publicar textos deste tipo.
Por isso, os interessados devem clicar aqui pra acessar o texto.   

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

OLHO-CÂMERA


Artista faz campanha para implantar webcam em olho perdido em acidente


Desde que perdeu a visão do olho esquerdo em um acidente, em 2005, a artista americana Tanya Vlach sonha com um olho artificial, eletrônico, que contenha uma webcam.
Agora, ela está mais perto desse objetivo: angariou na internet US$ 19.631, que serão entregues a uma equipe de engenheiros, cuja missão será construir um protótipo de olho eletrônico.
“Estou empolgada e impaciente. Será algo novo para mim e para a humanidade. Precisamos pensar nos próximos passos (da ciência médica)”, disse a artista à BBC Brasil.
Tanya, que se dedica a diversos tipos de arte – de fotografia à dança e instalações visuais –, sofreu danos no olho esquerdo após um acidente de carro, há seis anos. Já no hospital, ainda em choque e sob o efeito de medicamentos, já começou a pensar em formas de recompor sua visão.
Recentemente, usou seu blog (Tanyavlach.wordpress.com) e o site Kickstarter para pedir recursos para o olho com webcam. Desde então, diz ter sido contatada por dezenas de engenheiros interessados no projeto.
Etapas
“Ainda não montamos a equipe de engenheiros, porque quis ser cuidadosa e ter um médico na equipe”, disse Tanya. “Mas acho que teremos progresso já no ano que vem. Em uma primeira fase, não creio que o olho será utilizável. A segunda etapa será destinada a fazer a câmera em tamanho pequeno.”
Só depois o olho eletrônico poderá ser testado pela artista – e, mesmo assim, provavelmente não durante as 24 horas do dia, contou Tanya.
Especialistas ouvidos pela imprensa americana para comentar o caso disseram que é improvável que Tanya consiga que a webcam seja conectada ao seu cérebro. Mas um cientista afirmou que uma possibilidade é que uma pequena câmera caiba dentro da prótese de olho usada pela artista. Essa câmera transmitiria, por sistema sem-fio, as imagens para um celular ou para um monitor.
Tanya disse que pretende transformar a empreitada em um filme, mas admitiu ainda sentir apreensão pela possibilidade de ter um equipamento eletrônico instalado em seu corpo.
“Como artista, a perda do olho me afetou dramaticamente. Percebi que a vida é curta e que precisava explorar minha arte”, contou Tanya. “Após o acidente, quando comecei a ver as tendências tecnológicas e a conversar com o público, percebi que todos sentem medo e empolgação com a tecnologia.”

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ADEUS, NICK ASHFORD

Luto no mundo rhythm'n'blues/soul com a partida de Nick Ashford aos 69 anos, devido a um câncer na garganta. 
Com a esposa Valerie Simpson, compôs clássicos da Motown, como Ain't No Mountain High Enough

Também foi responsável por pérolas pop disco como I'm Every Woman, gravada por Chaka Khan e depois por Whitney Houston.

Em 1984, com a dupla Ashford and Simpson, teve o hit Solid, uma das canções oitentistas que mais assobio e cantarolo.  

CONTANDO A VIDA 48

A caixinha de emeihyls do Professor Sebe deve estar sendo abarrotada com lixo... 

CHATOS CIBERNÉTICOS...

José Carlos Sebe Bom Meihy

Há mais de meio século, o “imortal” Guilherme Figueiredo escreveu um livro que fez a alegria de muita gente. “Tratado Geral dos Chatos” era um escrito de mestre, coisa de quem entendia mesmo do assunto – aliás, como irmão do General João Batista Figueiredo, o ditador, o autor certamente sabia das coisas desde o berço. Passados muitos anos, dia desses, lembrei-me de alguns tipos arrolados no livro e me dispus a atualizar a lista indicativa, pois afinal, os tempos mudaram.
Antes, os chatos atuavam mais socialmente, pois habitavam nossas vidas quando saíamos de casa ou nos expúnhamos deliberadamente ao convívio comum. Então, tínhamos os “chatos de galochas”, aqueles prevenidos contra o mau tempo, sempre preparados para chuva, tempestade; havia os “chatos pra chuchu” que estavam em todos os lugares, fosse festa ou velório, consultório médico ou cinema; havia os “chatos cachoeira” que não controlavam a saliva e nos brindavam com banhos quando falavam sempre próximos demais. Também grassavam os “chatos enciclopédia” que tudo sabiam, explicavam em longas dissertações e ajuizavam fatos e pessoas. Como esquecer os “chatos agressivos” aqueles que puxavam a manga de nossas roupas, batiam em nossas costas, davam tapinhas em nossos rostos para chamar atenção? Que dizer dos “chatos memória” que nos interrompiam para complementar com um insuportável “alías”, “lembro-me bem de que”? Sinceramente, até sinto falta desses chatos, pois hoje há um outro, irritante, que aparece no silêncio de nossos lares, sem serem chamados, e que, sem cerimônia, brilham na telinha de nosso computador. Invasivos, arguciosos, insinuantes, chatos dignos do nome científico “pediculus púbis” - aqueles bichinhos que se alojam onde não deviam e se escondem causando coceira impertinente.
 Os novos são os “chatos cibernéticos”, seres grafos que se fazem presentes invariavelmente em nossas caixas de mensagens e mandam e-mails sem critérios. Diariamente lá estão eles, enviando mensagens quase sempre difíceis de abrir, informações inúteis e fofocas bisbilhoteiras da vida de artistas, políticos e demais celebridades. Tudo colado de fontes imprecisas, bandidas, inapropriadas. Até parece que aproveitam da virtualidade para “desvirtualizar” – no sentido de anular as virtudes – as relações humanas.

É lógico que louvo a tecnologia e saúdo a eletrônica pelos benefícios que nos proporcionam, mas não há como absolver os que fazem uso indiscriminado dela. O pior é que tudo tende a se agravar com a campanha contra o “analfabetismo digital”. Tenho um amigo (amigo?) que manda mensagens intermináveis, verdadeiros relatórios sobre o nada. Por educado que quero ser, leio e respondo monossilabicamente, o que, contudo, de nada adianta. Há outro que repete as mensagens se demoro a responder e me põe louco por saber que sou ameaçado de novas investidas. Dos mais daninhos é um que além de mandar e-mails, caso não sejam contestados, telefona para saber se recebi e pede explicações alentadas sobre o proposto. E existem aqueles que escrevem na tal “linguagem digital” e usam naum para dizer “não”, aki para falar “aqui”... Ai! Estes são insuportáveis, pois, além do raciocínio emaranhado se escondem atrás da clareza vernácula sempre maltratada e travestida de moderninha.
Dia desses, vi a Glorinha Kalil explicando as regras de conduta para o uso de celulares. Gostei muito de saber que é falta de educação atender chamados durante refeições amistosas, em reuniões de negócios ou mesmo no banheiro. Sobre os irritantes toques em salas de aulas, apresentações teatrais, de música, nem se fala. Frente às novas regras de etiqueta, fiquei curioso por saber se há alguma coisa escrita sobre os chatos cibernéticos. Procurei no Google e nada achei. Assim, resolvi editar algumas regras que, espero, tenham efeitos.
Diria que uma saída seria colocar uma daquelas mensagens automáticas que dizem “obrigado pelo envio de importantes notícias, quando puder responderei” e não responder jamais. Alternativa seria algo do tipo “suas experiências devem ser testadas ao sol: saia, dê uma volta de dez milhas e verá que tudo estará melhor”. Podemos usar a fórmula sempre sagrada contida na palavra “interessante” ou no velho adágio “amanhã será outro dia”. Coisas vagas podem funcionar nesses casos. Não sei se ajudei, mas, pelo menos espero que se algum amigo se encontrar nesses tipos tenha a bondade de me poupar com uma mensagem do tipo “não gostei”.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A COBRA ALBINA DE CASCAIS


Cobra pitão albina encontrada numa rua de Alcabideche


Uma cobra pitão albina com cerca de 1,70 metros foi encontrada domingo, em Alcabideche (Cascais), mas já se encontra protegida no Parque Animal Monte Selvagem, em Lavre – Montemor-o-Novo, anunciou hoje a instituição.

  
O bizarro achado encontrava-se dentro de uma caixa abandonada na via pública que foi descoberta por um popular que contactou imediatamente a linha SOS Ambiente.
  
De imediato, foi montada uma Operação de Resgate em articulação com o SEPNA - Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente, da Guarda Nacional Republicana, e o Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) que procederam à recolha do animal, transferindo-o para o Monte Selvagem – Reserva Animal.
  
Esta espécie não é venenosa, matando as presas por asfixia, alimentando-se de ratos, coelhos e mamíferos de pequeno porte. Pode viver até aos 40 anos e atingir oito metros de comprimento.
  Independentemente da sua imagem de lazer, o Monte Selvagem tem como objectivo principal a protecção da vida animal, recolha e alojamento de animais selvagens, com casos recentes de sucesso junto de algumas espécies.

(Encontrado em  http://www.jn.pt/blogs/osbichos/archive/2011/08/23/cobra-pit-227-o-albina-encontrada-numa-rua-de-alcabideche.aspx)

TELINHA QUENTE 24

Essa Família Moderna Continua Um Amor

A primeira temporada de Modern Family causou furor nos EUA, gerando Emmys e alta expectativa pela segunda. Sempre há a possibilidade do temido sophomore slump/jinx, aquela queda de popularidade/qualidade que vem com as segundas temporadas, segundos álbuns etc. Criam-se ansiedades descomunais em torno de esforços número 2, obviamente resultando em frustração.
Terminei de ver a temporada segunda da sitcom há cerca de 2 semanas e devo dizer que o show continua em excelente forma, ainda que se sinta explicitamente que os roteiristas exageraram um tiquinho pra manter o nível de audiência e popularidade obtido com a temporada de estréia.
As historias de alguns (poucos) episódios não estão bem desenvolvidas em sua estrutura triádica. Situações como o degrau solto na escada da casa de Phil e Claire – ainda que engraçadas – estão mais arbitrárias: o maldito degrau só está solto em determinados episódios agora? A latinidade de Sofia Vergara está estridente e reclamona demais. Como Jay aguenta aquela gralha?
Além disso, achei Cameron "diva" demais. Prato cheio pro ator Eric Stonestreet, que brilha, mas meio ruim pra personagem, que ficou algo caricata. Como efeito colateral, o problema da representação da afetividade homoerótica na TV ficou mais aparente. A série não consegue camuflar o constrangimento nas situações em que o casal gay necessita demonstrar afetividade. Um episódio tentou lidar com isso, atribuindo a Mitch uma personalidade pouco afeita a demonstrações públicas de afeto, herança do pai. Não funcionou.    
Tirando isso, Modern Family segue deliciosa. As piadas continuam engraçadas e o humor também nasce de momentos de fisicalidade hilariante. One liners misturadas com slapstick; tudo de bom!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

AS UTOPIAS DE EDGAR MORIN


Para construir um novo caminho para a humanidade e evitar a catástrofe e a barbárie, é preciso, entre outras coisas, reintegrar saberes que foram separados e ter consciência das ambivalências presentes em todas as dimensões da vida. Fazendo a defesa do “bem-viver” em contraposição ao “bem-estar”, o sociólogo, historiador e filósofo – ou “humanista planetário”, como se define – Edgar Morin plantou suas sementes de utopia para a plateia que lotou a Sala São Paulo em mais uma conferência do ciclo Fronteiras do Pensamento, na noite do dia 9.
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Morin abriu sua fala com a crítica ao fato de que uma agência privada “rebaixar” de três para dois “A” a classificação dos Estados Unidos seja capaz de desencadear uma tempestade mundial nas bolsas de valores. “A especulação financeira dominou os Estados, as nações e os povos”, dispara. “O século 21, que não conheceu o totalitarismo do século 20, viu o desenvolvimento de um novo polvo: o da especulação financeira, de um capitalismo mais forte que tudo.” Para o pensador, a impotência dos governos dos países desenvolvidos em relação a esse quadro é total. É preciso, portanto, implantar políticas capazes de dar respostas a ele.
Morin citou o filósofo espanhol Ortega y Gasset (“não sabemos o que acontece, e é isso que está acontecendo”) para registrar que 95% dos economistas não haviam previsto a crise global de 2008 nem a sua evolução. É mais um sintoma da separação dos saberes: “Separamos a ciência econômica, a psicologia, as ciências da religião, a sociologia, mas esses conjuntos estão ligados. O modo de conhecimento que nos ensinaram torna-nos incapazes de compreender os problemas nacionais e globais. Nossa inteligência está cega”, diz.
Essa situação faz com que exista hoje uma incapacidade de enxergar as relações entre a economia e suas complexas repercussões na sociedade. “O cálculo não pode entender o sofrimento, o amor, a felicidade, as coisas mais importantes de nossa vida”, afirmaMorin. Os números que estão no PIB e nas pesquisas, continua, não podem saber tudo e constituem um saber limitado e cego.

Além da supremacia da especulação e dos números, há um outro “polvo” perigoso, diz o filósofo: o do maniqueísmo e do fanatismo, que se manifesta em visões fechadas, capazes de levar a conflitos étnicos, religiosos ou nacionalistas. “Tudo isso é antigo, mas foi retomado com vigor e poder extraordinário em nossa época”, lamenta. “Tivemos agora na Noruega um exemplo extremo, mas simbólico de alguma coisa nova.”
União e divisão
Um dos paradoxos – ou ambivalências – de nosso tempo é que o mundo está ao mesmo tempo cada vez mais unificado e cada vez mais dividido. Na esteira da queda da União Soviética e “dos países pretensamente socialistas”, na virada das décadas de 1980 e 90, houve a unificação técnica e econômica do globo. Paralelamente, surgiram formas de ruptura, com fechamento e isolamento de países ou povos. Entre os exemplos estão as guerras na antiga Iugoslávia, a divisão da Tchecoslováquia e os massacres étnicos no Iraque, cita o pensador.
Muitas comunidades incorporaram os aspectos técnicos da globalização, mas se fecharam no plano político e psicológico. “A unificação tende a destruir culturas singulares e ligadas a conceitos históricos específicos”, considera. Junto à globalização, o fim do século 20 trouxe o desmonte da crença de que o progresso era uma lei histórica e que a humanidade só poderia evoluir para o melhor – crença que vigorava de diferentes formas no Ocidente, nos países socialistas ou no mundo árabe. “Em todos esses lugares houve o desabamento da esperança e o crescimento do medo e da angústia. Em momentos de crise e medo do futuro, tendemos a nos refugiar no passado e nos fechar sobre nossa identidade”, descreve Morin.
Para construir um novo cenário, defende, é preciso procurar a unidade humana em sua diversidade. “A unificação não pode ser só técnica e econômica, mas sim de cultura, de pátria e de nações. Há uma unidade humana genética, fisiológica, cerebral. Todos os seres humanos riem, choram, sofrem, amam. Mas essa unidade se manifesta em diversidade extraordinária, porque cada indivíduo é diferente do outro. Precisamos de diversidade, mas ela precisa de unidade.” A mudança inclui uma política que não divinize a si mesmo e nem veja no outro o inimigo.

A crise econômica, aponta Morin, “é apenas um aspecto virulento de uma crise múltipla que a globalização desencadeou”. No mesmo pacote estão o aumento das diferenças e a redução da solidariedade em prol do individualismo e do egoísmo. As ameaças em nossos dias vão desde o poder cada vez maior das armas de destruição em massa até a possibilidade de degradação total da biosfera. Para o filósofo, as crises nunca são apenas econômicas. A Grande Depressão de 1929 começou com o crash da Bolsa de Nova York, mas seus efeitos fizeram com que o Partido Nazista chegasse ao poder pelas vias legais na Alemanha em 1933, além de deflagrar a Guerra Civil na Espanha, em 1936, integrando todo um contexto que levou à Segunda Guerra Mundial três anos depois. “Da economia, chegou-se a uma crise generalizada para toda a humanidade”, diz. “Todos os problemas estão interligados. Nos nossos dias, a proliferação de armas de destruição em massa no contexto dos tribalismos é grave.”
Metamorfose 
Para não se dizer que Morin não falou em flores, o humanista planetário considera que um dos lados positivos da globalização é permitir que toda a humanidade compreenda que a Terra é uma só pátria. “A globalização origina o melhor e o pior das coisas”, define. Como? Em muitas comunidades, explica, ela libertou as novas gerações do patriarcalismo, criou novas classes médias e gerou aumento do consumo, além de propiciar a incorporação de novas noções de direitos humanos. Ao mesmo tempo em que trouxe progresso, porém, a globalização levou à transformação da pobreza em miséria. O pequeno agricultor, ainda que tire da terra apenas o mínimo para seu sustento básico, consegue manter sua autonomia. Porém, se é expulso do campo, engrossa os cinturões de miséria presentes em praticamente todas as grandes cidades do mundo. “É preciso ter consciência da ambivalência”, repete Morin.
Mudar de caminho é necessário porque “a nave Terra está cada vez mais sendo levada sem que haja piloto ou ponto de controle da pilotagem”, diz. A nova via – que, Morinadverte, não está pronta e não se sabe ao certo como será – exigirá novas formas de política e de pensamento, mas deve incorporar elementos trazidos à tona pela globalização. “De um lado é preciso desglobalizar e salvaguardar as culturas regionais, e de outro globalizar o que colabora com a cultura planetária.” O Ocidente, exemplifica, precisa reencontrar a solidariedade das sociedades tradicionais e suas relações com a natureza, além de valorizar o que chamou de “pensamento do Sul”, que pode revitalizar o ressecado humanismo europeu.

Também se deve rever o conceito de desenvolvimento, que impõe uma fórmula padronizada a países e povos distintos. Ao mesmo tempo, é preciso envolver, ou seja, proteger o que nos situa numa comunidade específica. Novamente, Morin chama a atenção para a necessidade de considerar as ambivalências: precisaremos do individualismo e do comunitarismo; de condenação e de combinação; de desenvolvimento e redução.
Nas crises, os sistemas que mantêm o equilíbrio são bloqueados e os desvios se desenvolvem – porém, existe a capacidade da metamorfose, como ocorre com a lagarta que se encerra como crisálida e ressurge como borboleta. Um inseto que começa rastejando termina voando, mas para isso a lagarta precisa se autodestruir e dar origem à borboleta, aponta Morin. Essa possibilidade não se restringe aos insetos: cada ser humano nasceu de uma metamorfose, porque transformou-se de óvulo em embrião e passou nove meses em meio líquido “até chegar gritando ao mundo em que temos que respirar sozinhos”, compara.
Muitas vezes houve grandes mudanças que começaram com indivíduos. No campo religioso, os exemplos estão em Buda, Jesus Cristo e Maomé. O próprio capitalismo nasce dos parasitas da sociedade feudal, até que a burguesia se desenvolve e ganha poder. Os teóricos socialistas também eram ignorados quando escreveram, mas no final do século 19 suas ideias ganharam relevância e surgiram os partidos e revoluções socialistas e o que se seguiu a elas, “para o melhor e o pior”. Também para o melhor e o pior as sociedades se transformaram ao longo da história, criando classes sociais, cidades, governos etc. “A história é feita de momentos sublimes, por exemplo, na arte, e horríveis, como nas guerras e na barbárie”, lembra Morin.
Dimensão poética
Para traçar o novo caminho, que será feito no próprio caminhar, como diz o poeta espanhol Antonio Machado, citado pelo conferencista, será necessário reformular a educação, reintegrando os saberes hoje fragmentados, e levar em conta não só o aspecto quantitativo. “O quantitativo abafa o qualitativo. O viver é a qualidade poética da vida”, considera o pensador. “A vida é prosa e poesia. A prosa é a parte das obrigações, o que nos aborrece e que temos que fazer para nosso sustento. Na poesia estão a alegria, o amor, a liberdade.” Nessa perspectiva, Morin sugere que o conceito de bem-estar deve ser trocado pelo de bem-viver. “O bem-estar foi reduzido só ao conforto e aos recursos materiais e técnicos. O bem-viver inclui as outras dimensões que constituem o tecido da nossa vida”, diz.
Fácil não será, adverte, porque as relações humanas são complexas, assim como viver em proximidade e comunidade – a incompreensão reside em nós mesmos, na família, no trabalho, na universidade. “Tendemos a projetar no outro nossos defeitos, carências e culpas, e ao mesmo tempo nos inocentar”, ressalta. Porém, já há sinais dispersos de mudanças. Morin os enxerga nas medidas que muitas cidades europeias estão tomando para melhorar a alimentação, restringindo o comércio de produtos industrializados e com alto uso de agrotóxicos, e valorizando a produção local e orgânica. Em outras localidades, inclusive no Brasil, orquestras formadas nas periferias permitem que jovens reinventem sua vida com a arte. Essas pequenas experiências podem ser comparadas, em sua visão, à junção de pequenos rios que conformam um colosso como o Amazonas.
Morin diz que, ao longo de toda a sua vida, apostou no improvável – lutou, por exemplo, no movimento de resistência à ocupação nazista da França, num momento em que o avanço alemão era avassalador e a vitória das tropas de Hitler na Segunda Guerra parecia inevitável. “No improvável há a esperança. Não é certeza, mas a esperança pode ressuscitar nas novas gerações e mostrar que um novo caminho é possível”, diz. Ao responder a uma pergunta da plateia sobre o que espera da vida agora que chega aos 90 anos, esse parisiense, enfático, respondeu com firmeza e um sorriso no rosto: “Nunca tive planos. O que sou, continuo sendo. Vou continuar em minhas buscas com curiosidade, conhecimento e amor”.
(Encontrado em http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=46391)

domingo, 21 de agosto de 2011

JOGO TERAPEUTICO


Pai cria jogo de computador para ajudar no tratamento de doença da filha



Foto: Universidade de Derby
David Day (à frente) contou com apoio de colegas como Andreas Oikonomou para ajudar a filha Alicia
O pai de uma menina de 4 anos que sofre de fibrose cística desenvolveu um jogo de computador que ajuda no tratamento da doença.
David Day, que é professor de computação e matemática na Universidade de Derby, na Grã-Bretanha, sofria com as sessões diárias de fisioterapia respiratória com a filha Alicia.
"Toda noite, ela chorava e gritava e fugia e a coisa estava ficando progressivamente mais difícil quanto mais velha ela ficava", diz Day.
Foi então que ele percebeu que poderia usar o talento de seus colegas de universidade para diminuir o sofrimento da menina. Junto com especialistas da Escola de Computação e Matemática, ele desenvolveu uma linha de jogos de computador que tornam o tratamento divertido e ainda podem ajudar a monitorar a progressão da doença.
Ao respirar através de uma máscara conectada por tubos aos computador, as crianças controlam personagens e formas na tela ao expirar com determinada força.
Doença incurável
A fibrose cística é uma doença genética grave e incurável que causa uma alteração nas glândulas que faz com que o corpo produza um muco mais espesso, que bloqueia as vias respiratórias e outros órgãos.
"As crianças precisam de fisioterapia regular para que possam expelir o muco de seus pulmões, caso contrário ele vira local de proliferação de bactérias que podem agravar seu estado de saúde", explica Day.
"A fisioterapia inclui leves batidas nas costas ou peito do paciente. Também usamos uma máscara de pressão expiratória positiva (PEP), que é colocada no rosto e que dificulta a expiração, fazendo com que eles puxem o muco do pulmão e consigam expeli-lo tossindo. As crianças acham o tratamento de PEP difícil, desagradável e chato e pode ser bastante complicado conseguir que elas façam os exercícios."
Evolução
Foto: BBC
Além de um jogo com flores, há outros com piratas e dragões
Após observar a evolução dos videogames nos últimos anos, Day achou que seria possível criar um jogo que tornasse a fisioterapia mais atraente para as crianças.
Usando verbas da universidade e de bolsas de pesquisa europeias, a equipe de jogos de computador de Derby transformou a ideia em realidade.
Os pesquisadores colocaram um dispositivo na máscara de PEP que converte a respiração das crianças em sinais eletrônicos. Controlando sua respiração, elas controlam também os personagens na tela.
A tecnologia é similar à maneira como paraplégicos usam tubos respiratórios para controlar cadeiras de rodas e outros aparelhos eletrônicos.
"Organizando um registro da performance do jogador ao longo do tempo, um médico pode aferir a eficiência de seus pulmões. A flexibilidade dos jogos significa que mesmo as crianças mais jovens conseguem jogar nos níveis iniciais", explica Andreas Oikonomou, especialista em jogos de computador da universidade.
Flores e dragões
Segundo David Day, o efeito em Alicia foi imediato.
"Ela soprou no aparelho, viu flores na tela e olhou para mim com uma expressão maravilhada", diz o pai.
Foto: BBC
Alicia agora se diverte durante as sessões de fisioterapia
"Ela me perguntou como funcionava e eu disse que era mágica. Ela adorou e desde então, isso tirou toda a pressão e preocupação de garantir que ela fizesse a fisioterapia."
Além do jogo das flores, o favorito de Alicia, a equipe também desenvolveu jogos com navios piratas e dragões.
Agora, Day espera conseguir verbas para testar os jogos com mais dez crianças, entre seis e nove anos de idade.
"Esperamos que nos próximos 12 meses tenhamos uma versão disso à venda para o público para que outras crianças e pais possam se beneficiar. Até onde sei, todos os pais sofrem para conseguir que os filhos façam a fisioterapia", diz o professor.
"É uma batalha que todos os pais de crianças com fibrose cística têm de lutar, então acho que o que estamos fazendo é absolutamente fundamental."
O Grupo Brasileiro de Estudos de Fibrose Cística (GBEFC) afirma que há mais de 2,5 mil pacientes com fibrose cística em tratamento no Brasil, mas segundo a associação, para cada paciente diagnosticado no país, há quatro sem diagnóstico.