quarta-feira, 24 de agosto de 2011

CONTANDO A VIDA 48

A caixinha de emeihyls do Professor Sebe deve estar sendo abarrotada com lixo... 

CHATOS CIBERNÉTICOS...

José Carlos Sebe Bom Meihy

Há mais de meio século, o “imortal” Guilherme Figueiredo escreveu um livro que fez a alegria de muita gente. “Tratado Geral dos Chatos” era um escrito de mestre, coisa de quem entendia mesmo do assunto – aliás, como irmão do General João Batista Figueiredo, o ditador, o autor certamente sabia das coisas desde o berço. Passados muitos anos, dia desses, lembrei-me de alguns tipos arrolados no livro e me dispus a atualizar a lista indicativa, pois afinal, os tempos mudaram.
Antes, os chatos atuavam mais socialmente, pois habitavam nossas vidas quando saíamos de casa ou nos expúnhamos deliberadamente ao convívio comum. Então, tínhamos os “chatos de galochas”, aqueles prevenidos contra o mau tempo, sempre preparados para chuva, tempestade; havia os “chatos pra chuchu” que estavam em todos os lugares, fosse festa ou velório, consultório médico ou cinema; havia os “chatos cachoeira” que não controlavam a saliva e nos brindavam com banhos quando falavam sempre próximos demais. Também grassavam os “chatos enciclopédia” que tudo sabiam, explicavam em longas dissertações e ajuizavam fatos e pessoas. Como esquecer os “chatos agressivos” aqueles que puxavam a manga de nossas roupas, batiam em nossas costas, davam tapinhas em nossos rostos para chamar atenção? Que dizer dos “chatos memória” que nos interrompiam para complementar com um insuportável “alías”, “lembro-me bem de que”? Sinceramente, até sinto falta desses chatos, pois hoje há um outro, irritante, que aparece no silêncio de nossos lares, sem serem chamados, e que, sem cerimônia, brilham na telinha de nosso computador. Invasivos, arguciosos, insinuantes, chatos dignos do nome científico “pediculus púbis” - aqueles bichinhos que se alojam onde não deviam e se escondem causando coceira impertinente.
 Os novos são os “chatos cibernéticos”, seres grafos que se fazem presentes invariavelmente em nossas caixas de mensagens e mandam e-mails sem critérios. Diariamente lá estão eles, enviando mensagens quase sempre difíceis de abrir, informações inúteis e fofocas bisbilhoteiras da vida de artistas, políticos e demais celebridades. Tudo colado de fontes imprecisas, bandidas, inapropriadas. Até parece que aproveitam da virtualidade para “desvirtualizar” – no sentido de anular as virtudes – as relações humanas.

É lógico que louvo a tecnologia e saúdo a eletrônica pelos benefícios que nos proporcionam, mas não há como absolver os que fazem uso indiscriminado dela. O pior é que tudo tende a se agravar com a campanha contra o “analfabetismo digital”. Tenho um amigo (amigo?) que manda mensagens intermináveis, verdadeiros relatórios sobre o nada. Por educado que quero ser, leio e respondo monossilabicamente, o que, contudo, de nada adianta. Há outro que repete as mensagens se demoro a responder e me põe louco por saber que sou ameaçado de novas investidas. Dos mais daninhos é um que além de mandar e-mails, caso não sejam contestados, telefona para saber se recebi e pede explicações alentadas sobre o proposto. E existem aqueles que escrevem na tal “linguagem digital” e usam naum para dizer “não”, aki para falar “aqui”... Ai! Estes são insuportáveis, pois, além do raciocínio emaranhado se escondem atrás da clareza vernácula sempre maltratada e travestida de moderninha.
Dia desses, vi a Glorinha Kalil explicando as regras de conduta para o uso de celulares. Gostei muito de saber que é falta de educação atender chamados durante refeições amistosas, em reuniões de negócios ou mesmo no banheiro. Sobre os irritantes toques em salas de aulas, apresentações teatrais, de música, nem se fala. Frente às novas regras de etiqueta, fiquei curioso por saber se há alguma coisa escrita sobre os chatos cibernéticos. Procurei no Google e nada achei. Assim, resolvi editar algumas regras que, espero, tenham efeitos.
Diria que uma saída seria colocar uma daquelas mensagens automáticas que dizem “obrigado pelo envio de importantes notícias, quando puder responderei” e não responder jamais. Alternativa seria algo do tipo “suas experiências devem ser testadas ao sol: saia, dê uma volta de dez milhas e verá que tudo estará melhor”. Podemos usar a fórmula sempre sagrada contida na palavra “interessante” ou no velho adágio “amanhã será outro dia”. Coisas vagas podem funcionar nesses casos. Não sei se ajudei, mas, pelo menos espero que se algum amigo se encontrar nesses tipos tenha a bondade de me poupar com uma mensagem do tipo “não gostei”.

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