quinta-feira, 31 de março de 2016

TELONA QUENTE 152

Roberto Rillo Bíscaro

Geralmente situado ao lado dos também assassinos Jason Voorhees (Sexta-Feira 13) e Michael Myers (Halloween), o falastrão Freddy Krueger é feito d’outro material dramatúrgico, pelo menos em sua aparição primeira, em 1984. Jason e Myers são silentes máquinas de matar determinadas por um mal externo a eles. Eles se deslocam exterminando sem pensar. São clássicos do subgênero slasher.
A Hora do Pesadelo, de Wes Craven, complicou/revigorou a então já desgastada fórmula do slice’n’dice, porque Freddy fala, faz piada, saltita dentro e fora de subconscientes. Preferindo o silêncio de Jason, vi os 2 primeiros A Nightmare on Elm Street, no cinema, e desisti de Krueger. Então, preferia os psicóticos mascarados calados ao histriônico Freddy, brilhante canastrice do ator Robert Englund, que, com sua simpatia fora das telas alimenta certa perversidade ao deixar o tétrico e cruel Krueger gostável.
Incentivado pelo afluxo de leitores na postagem onde comento minha maratona de filmes sobre Amityville, fiz o mesmo com A Hora do Pesadelo.


32 anos após vê-lo no cinema, ainda me lembrava de quase todas as cenas de morte e do final. A Hora do Pesadelo (1984) foi a estreia do cultuado (não por mim) Johnny Depp nas telonas e é mais do que slasher film. A cena onde a primeira moça é possuída por Krueger e pirueta na cama e por todo o quarto é puro O Exorcista (1974), então se trata duma cruza entre slasher e filme de possessão demoníaca, porque Fred não é o típico assassino externo slasher; ele habita os sonhos dos adolescentes e pode sair deles ou agir no mundo real. Assim, está em toda parte e em nenhuma, porque depende que se creia nele pra agir.
Pros que não sabem: Freddy Krueger fora um assassino serial de crianças, que devido a uma tecnicalidade não seria condenado. Um grupo de pais queimou-o vivo e anos depois o carbonizado volta pra aterrorizar e matar adolescentes, filhos desses vingadores por conta própria. A Hora do Pesadelo é como a continuação dum slasher jamais filmado e é sobre como violência gera ciclo interminável e degradante
Wes Craven problematizou mais de um lugar-comum slasher. No subgênero, adolescentes sexualmente ativos ou que se entorpecem são serialmente chacinados em locais isolados, longe da supervisão dos adultos ou incapazes de serem por eles auxiliados. Em A Hora dos Pesadelo, os adultos convivem com os teens, mas não os ajudam porque não acreditam neles ou porque simplesmente também estão/são inaptos/ineptos, desde a mãe alcoólatra ou o pai chefe de polícia, que sequer vive com a filha.
O uso das paisagens oníricas permite a inclusão de elementos surrealistas num filme independente de baixo orçamento, que resistiu muito bem ao tempo. As mortes são divertidas e ainda tem interpretação ruim, ou seja, dá pra agradar fãs de filme B e cinéfilos “cultos”, especialmente porque a crítica especializada contemporânea o elogia, daí não queima o filme gostar desse filme. 

A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy (1985) é provavelmente o filme de horror mais gay que já vi. A volta, ação e temporária derrota de Krueger interessam e divertem bem menos do que as diversas insinuações visuais e na criação de personagem insinuando homoeroticidade. Pra começar, na maior parte do filme, o garoto Jesse (chamado de Jessy, diminutivo pra Jessica também) parece ser a “final girl”. Em slashers, quem é mais assombrado e derrota o assassino sempre é moça. Nessa vingança de Freddy, Jesse não apenas cumpre essa função quase o filme todo, mas até berra como scream queen (gargalhei), dança e dubla cantora pop enquanto limpa o quarto (slasher tem hard rock na trilha, coisa de macho!) e corre pro quarto dum amigo depois de não conseguir transar com a namorada. Não há nudez feminina, mas a película está cheia de bofinho sem camisa e tem até cena onírica em bar sadomasô, à qual se segue uma morte masculina com bumbum de fora e tudo!
A parte slasher mesmo é uma droga, sutileza já era, mas ainda vale ver pelo subtexto gay; muito engraçado.

Em 87, Nancy, a final girl do original, retorna em A Hora do Pesadelo 3: Guerreiros dos Sonhos. O roteiro é de Craven e lida com uma droga capaz de controlar os sonhos. A função de Nancy é ajudar teens aterrorizados a derrotarem Krueger em seu próprio reino dos sonhos. Apesar do envolvimento de Craven, nenhuma metaleitura ou finesse são possíveis. É um filme de terror com boas cenas de sonho e Freddy é derrotado (SQN) na porrada. Também recorre ao estratagema comum nas demais franquias slasher, a saber, começa a detalhar o passado do maníaco: descobrimos que Krueger é fruto dum estupro coletivo. No elenco, Patricia Arquette começando a carreira, Zsa Zsa Gabor aparecendo em talk show e Priscilla Pointer, mãe de Carrie, a Estranha (1976), filme que provavelmente gerou a onda dos vilões não morrerem no final. Fãs de DALLAS também se lembrarão da ex-sogra de Bruno Barreto como Rebeca Wentworth, mãe de Pam, Cliff e da maluca Katherine. 

Em A Hora do Pesadelo 4: O Mestre dos Sonhos (1988), Freddy Krueger já penetrara tanto nos sonhos de consumo que o nome de Robert Englund precede o título, numa época em que créditos iniciais eram longos.
O queimado do demônio começa a infernizar e eliminar o trio de adolescentes que o derrotara na parte 3. A irmã dum deles tem o poder de conseguir trazer pessoas pra seus sonhos, o que pode ser tanto bom quanto ruim, mas também significa que sabe derrotar Krueger. Sabemos, contudo, que o único poder de vencer bicho-papão de franquia é baixa bilheteria. Com elenco desconhecido e historinha meia-boca, essa parte nunca decola além do passável. Um dos elementos que não me atraem quando se mexe demais com sonho é que qualquer coisa vale e isso em mãos menos competentes/honestas é complicado. Há sonho que não me convenceu ter se passado enquanto alguém dormia. Quem curte pode buscar as citações a filmes como Karatê Kid (1984) ou Tubarão (1975). Sacal.
A popularidade de Freddy era tão alta, que gerou série de TV tipo antologia, como Contos da Cripta. Freddy’s Nightmares teve 44 episódios, durou de 88 a 90 e quase ninguém viu. Cada show tem 2 histórias ligadas por personagem comum, que Krueger apresenta e comenta, como a caveirinha da Cripta. Em diversos episódios, participa como agente do horror, inclusive o primeiro conta como morreu e foi dirigido pelo prestigioso Tobe Hooper.
Mas, é tudo muito podre, e o pior que não no tipo “de tão ruim é bom”. A despeito dalguns roteiros promissores, a falta de orçamento implicou “atores” pavorosos, que nem a família conhecia; ambientação esquálida e muita falação pra suprir ausência de acontecimentos por carência de grana. A maioria dos episódios são simplesmente chatos.
Fãs xiitas de Brad Pitt poderão querer vê-lo garantindo tostões no começo de carreira, trabalhando mal pra burro! Pitt também participou de DALLAS e é de minha série favorita que reconheci Mary Crosby, a Kristin Shepard, famosa no começo dos 80’s por ter atirado em JR Ewing e Deborah Rennard, a Sly Lovegreen, fiel secretária do vilão por anos. Sou fã xiita de DALLAS, mas caso você não seja, mantenha distância de Freddy’s Nightmares. A não ser que queira ver se algum ídolo seu de agora começou nessa porcaria, que sequer chegou ter a segunda temporada lançada em DVD, porque a primeira não vendeu nada. 

Em 89, Freddy quis ser papai ou possuir um feto pra retornar à vida. Essa é a estapafúrdia premissa de A Nightmare on Elm Street 5: Dream Child. Essas franquias apresentam elementos em um filme, que depois podem ser contraditos em outros ou reutilizados depois de dormentes por tempos. Lógica não importa, quando se quer fazer grana. Então, retomam a freira Amanda Krueger – mãe de Freddy – que fora serialmente estuprada por 100 pacientes mentais. Nada indicava que Freddy nascera deformado, mas pra chocar em sequência de pesadelo também vale tudo. Lidando com temas como gravidez juvenil, aborto e distúrbios alimentares, o filme tenta se equilibrar entre clima gótico azulado e cenas de humor, mas não convence.

Em 1991, as franquias slasher lucravam cada vez menos e começavam a entrar em hibernação. Hora de matar o queimado com dedos de navalha. A sexta prestação vem com um Freddy tão popular que o nome é Freddy’s Dead: The Final Nightmare; primeiro vem o nome da prima dona, depois o da franquia. Nos créditos iniciais, epígrafes de 2 Freds, o Nietzsche e o Krueger (“welcome to prime time, bitch!”). Os fãs remanescentes queriam Freddy, não havia mais sensação de culpa em torcer pelo vilão até porque ele já estava tão cartunizado que o consumo era de violência tipo Tom e Jerry. Até em videogame Nintendo ele interage, como animação. Boa parte do filme é comédia e nesse quesito funciona. Junto com o primeiro e o aviadado segundo, esse foi outro de que gostei. O enredo é qualquer nota. Dez anos após os eventos do filme anterior, Freddy exterminara todos os adolescentes de Springwood (viram que nome esperançoso, de renascimento pós-invernal, de abundância prometida de primavera?) e a cidadezinha reduzira-se a amontoado de velhos amalucados pela falta de sangue jovem e filhos. E todos seguem descrendo em Freddy, que cisma em reencarnar ou globalizar, assombrando sonhos em escala maior. Pra isso, tenta possuir uma filha que tivera antes de todo o imbróglio que culminaria em seu linchamento. Do nada, após 5 filmes, sacam um rebento de verdade pra Freddy. Franquias são assim mesmo, nonsense; a gente quer é morte! Mas, elas vem poucas, o filme vale mesmo porque é engraçado. Fãs de Johnny Depp, atentem pra ponta que o então já famoso fez. E nos créditos finais, as melhores cenas de Freddy dos filmes anteriores e um RIP. Será que na época acreditaram que ele morrera de verdade?

Em 1994, um decênio após o nascimento do superestelar Freddy Krueger, seu criador, o roteirista e diretor Wes Craven, injetou nova inteligência à franquia com A Hora do Pesadelo 7: Novo Pesadelo. Apesar da ideia de continuidade do título brasuca, não é o caso. Trata-se de esperto metacinema, que abandona o entulho das sequências, as quais, mesmo variando em qualidade de diversão, não passavam disso. Prenunciando vários elementos do bem-sucedido nas bilheterias e influente Pânico (1996), o Novo Pesadelo traz Fred pro mundo real. Ao invés de personagens fictícias, tem-se a atriz que viveu Nancy no filme original interpretando a si mesma. Heather Langenkamp começa a ter sonhos estranhos e seu filho a agir de modo errático e perturbado. Ela recebe ligação da New Line Cinema pruma reunião com produtores e o próprio Wes Craven sobre um novo filme da franquia pra celebrar a década desde o primeiro. E as estranhezas seguem ocorrendo. Ou seja, Kruegger ameaça sair da ficção e tornar-se real, porque Wes Craven’s New Nightmare é mix de reality show irreal com ficção; um roteiro maroto de inteligente! Executivos da New Line, Robert Englund, John Saxon, além de Craven, também aparecem como eles mesmos. Filme cheio de camadas (meta-)interpretativas, vale muito mais pela criatividade do que pelo terror, porque mortes são quase todas (ou todas) fora da tela. Divertidíssimo, mas o que clama por atenção é a forma. 

Em 2003, o sonho de muitos fãs de ver Freddy Kruegger e Jason Voorhees juntos, cristalizou-se com Fredy x Jason. Há anos tencionava-se juntar as 2 franquias mais lucrativas dos 80’s, mas havia problemas de posse de direitos. Quando tudo se resolveu, o diretor Ronny Yu (confesso não fã de nenhum dos bichos-papões) filmou o roteiro que colocou Freddy manipulando Jason pra que este fosse a Springwood aterrorizar pra que a população pensasse ser Freddy. Como todos haviam se esquecido do queimado, ele perdera poder (mas, como o teve pra ressuscitar Jason?) e necessitava ser lembrado pra ser sonhado e poder matar Mas, Jason sempre matou muito mais que Freddy (Jason rules!). Isso desperta a ira dos dedos de navalha e as 2 divas rodam as saias de gilete com babados de canivete! As mitologias são bastante respeitadas e fãs dos 2 não têm do que reclamar. Como Jasonmaníaco, meu meninão mascarado se destaca com as mortes mais legais, especialmente a do cara bebendo cerveja na cama. A parte da luta propriamente dita não me interessou muito, mas de modo geral o filme satisfaz fãs de horror.

Vi a refilmagem de 2010 imediatamente depois de rever o original pra tê-los frescos na cachola. Uau, que diferença; quase cochilei com essa releitura empobrecida, coisa que no de 1984 é impossível acontecer, porque tudo é tão interessante. Um bando de personagens necessitados de Rivotril (ou os atores estavam péssimos?), com uma final girl impossível de se identificar de tão sorumbática, são eliminados às vezes de modo parecido ao original, mas pasmem, com menos impacto, mesmo com 3 décadas de tecnologia nas costas. Aliás, a morte mais legal do primeiro filme sequer tem nesse. A história pregressa de Krueger é mastigada e praticamente qualquer possibilidade de dupla leitura ou transgressão de convenções é obliterada.
Não invejo o ator que vestiu o suéter, chapéu e luvas cortantes outrora pertencentes a Robert Englund. A personagem ainda é muito conhecida, mesmo por uma geração que jamais tenha visto o original ou alguma continuação. O que me interessava em Englund era que seu Freddy – repulsivo pelas queimaduras e pela sandice assassina – consegue estabelecer uma relação sadomasô com o público. Muita gente acaba amando o assassino em série, porque ele tem seu charme e é engraçado. Claro que isso funciona também como distanciamento, porque ele é tão over que o aspecto de ficção e diversão acabam prevalecendo, tipo, tudo bem amar Freddy, porque sabemos o tempo todo que é de mentira. Tio Englund tem cara de bonzinho; diferente dos demais assassinos slashers, cujos rostos jamais vimos fora das telas, porque são dublês mascarados apenas. Na versão do século XXI, Freddy é apenas abjeto. Feio, com voz horrível, até essa relação está burrificada. Um monte de lixo que nem a participação de Katie Cassidy - de Harper’s Island e da malograda ressurreição de Melrose Place - deixou menos fedido. 

Pra finalizar, vi o excelente documentário Never Sleep Again: the Elm Street Legacy. Pra fãs e neófitos/curiosos, as 4 horas cobrem todos os filmes produzidos pela extinta New Line Cinema, que se fundiu com megacorporação. A pob(d)re refilmagem de 2010 está de fora e é assim que tinha de ser. Essa seria outra história. Seções são dedicadas a cada um dos filmes e à série de TV. Atores, produtores, diretores e mestre Craven compartilham anedotas e há profusão de curiosidades, tipo saber que a maquiagem de queimadura foi inspirada por uma pizza de pepperoni (Fred subiu muuuuito em meu conceito!) ou que a estreante Patricia Arquette teve que fazer mais de 50 tomadas de sua primeira cena, porque não decorava a fala. Claro que os que se tornaram estrelas nunca participam desses documentários, então fica a palavra dos que não foram tão bem-sucedidos. Mesmo falando sobre as tensões em algumas gravações e a precariedade das produções, baixos salários e quase inexistência de roteiros, quando muitos filmes já estavam sendo filmados, não se esqueça de que o documentário foi coproduzido por Heather “Nancy” Langenkamp é que a intenção é mostrar o legado e importância da franquia. Isso resulta em exageros, mas a inclusão de cenas inéditas e a pletora de curiosidades fazem do produto uma delícia. Sei lá se esta versão no Youtube é completa:

MAIS UMA VÍTIMA ALBINA EM MOÇAMBIQUE


Mais uma portadora de albinismo raptada e assassinada em Moçambique, é a nona vítima este ano
Uma menor de quatro anos de idade foi sequestrada e assassinada, na passada quinta-feira(24), no distrito de Muanza, na província de Sofala, simplesmente por ser portadora de albinismo. Os seus algozes pretendiam vender o seu corpinho a feiticeiros que os usam em rituais que alegadamente trazem sorte e riqueza. O @Verdade contabilizou, só baseado nos casos divulgados pela imprensa, nove cidadãos moçambicanos albinos que foram raptados e posteriormente assassinados nestes primeiros três meses de 2016.
A vítima terá sido aliciada pelo seu tio que a levou para um local ermo, durante o dia, onde foi sequestrada por um número não identificado de criminosos que a levaram, de bicicletas e motas, para uma mata onde foi assassinada com recurso a armas brancas. Quatro indivíduos, incluindo o tio da vítima, foram detidos pela Polícia da República de Moçambique (PRM) em Muanza, de acordo com o jornal Diário de Moçambique.
Não foi esclarecimento o móbil do crime mas acredita-se que os criminosos pretendiam cortar partes do corpo da criança portadora de albinismo para venda a feiticeiros que realizam rituais com eles.
“Tem sido largamente reportado e documentado que pessoas com albinismo são caçadas e atacadas fisicamente devido a prevalência de mitos como a crença de que partes do seu corpo, quando usadas em rituais de feitiçaria, poções ou amuletos irão proporcionar abundância, boa sorte a sucesso político. Outro mito preocupante, que estimula os ataques, está relacionado com as percepções sobre a sua aparência, a ideia errada de que pessoas com albinismo não são seres humanos mas fantasmas, a crença de que são sub-humanos e não morrem, mas apenas desaparecem”, refere o primeiro relatório da especialista independente sobre os direitos humanos das pessoas com albinismo, Ikponwosa Ero, divulgado na semana passada e que alerta sobre muitos ataques terem acontecido nas vésperas de períodos eleitorais no continente africano.
Ikponwosa Ero revelou que a maioria dos casos reportados desde que foi nomeada para o cargo, em Junho de 2015 pelo Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), aconteceram em sete países do continente africano, e Moçambique é um deles.
O relatório vem confirmar a existência de um mercado “lucrativo e macabro das partes do corpo de pessoas com albinismo” onde se paga entre 2 mil dólares norte-americanos (cerca de 100 mil meticais) por um membro ou 75 mil norte-americanos (aproximadamente 3,7 milhões de meticais) para um “conjunto completo”, mas não indica quem são ou onde operam esses compradores.
Nove albinos raptados entre Janeiro e Março de 2016
No nosso país, só durante o mês de Março, além da menor com albinismo assassinada na província de Sofala um cidadão adulto, também com a falta de pigmentação na pele, foi abordado no distrito de Mueda, por um criminoso que o atacou e o matou com golpes de catana tendo em seguida decepado os membros superiores do finado e posto-se em fuga. De acordo com o jornal Diário de Moçambique este cidadão foi o quarto albino assassinado desde 2015 na província de Cabo Delgado.
Em Fevereiro, criminosos invadiram uma residência no povoado de Muhela, localidade de Chissaua, em Mecanhelas, e raptaram uma adolescente albina. Ainda na província do Niassa um cidadão tentou sem sucesso raptar o seu sobrinho de apenas seis anos de idade, no distrito de Cuamba.
Em meados do segundo mês de 2016, três cidadãos foram detidos PRM no distrito Eráti, na província de Nampula, na posse de restos mortais de um cidadão que em vida sofria de albinismo.
No início do mês de Fevereiro, um menor de sete anos de idade, portador deste defeito genético hereditário, foi raptado da residência dos seus familiares na localidade de Penda, no distrito de Moatize, na província de Tete, por sete malfeitores com arma de fogo que durante a noite introduziram-se na residência da família.
“Eu gostaria que arranjassem uma forma de protegermos estes dois menores que ficaram(que também são albinos), não sei como é que posso fazer” afirmou impotente na altura o tio da vítima à Rádio Moçambique.
Ainda na província de Tete, em Janeiro, um cidadão de 19 anos de idade, identificado pelo nome de Victorino Fabião, foi raptado por um indivíduo conhecido, na vila de Moatize. Algumas semanas antes três menores de cinco anos de idade, com problemas de pigmentação da pele, foram raptadas nos distritos de Angónia, Changara e Moatize, de acordo com as autoridades policiais, ouvidas pela Rádio Moçambique, as vítimas foram arrastadas nas casas dos seus progenitores.
Na segunda semana de Janeiro no posto administrativo de Micaúne, no distrito de Chinde, na Zambézia, um outro menor, portador de albinismo, foi morto e o seu corpo esquartejado. Na mesma altura cinco indivíduos foram detidos na posse de ossadas humanas no distrito do Molumbo, de acordo com a PRM os restos mortais pertenciam a um cidadão que em vida sofria de falta de pigmentação na sua pele.
Também em Janeiro deste ano, um outro túmulo, de um cidadão que foi portador de albinismo, foi vandalizado no distrito de Mogovolas, província de Nampula, por desconhecidos que levaram os seus ossos.
Crianças albinas são alvo por se acreditar que “quanto mais inocente for a vítima mais potentes serão as partes do corpo”
Tal como indica o primeiro relatório da especialista independente sobre os direitos humanos das pessoas com albinismo, os casos acima reportados são apenas fracção dos ataques, raptos e assassinatos que acontecem em Moçambique, o em pelo menos outros seis países do nosso continente, porque a maioria dos casos ocorre em rituais secretos em áreas rurais que nunca são reportados.
O documento apresentando ao Conselho de Direitos Humanos da ONU igualmente confirma que muitos dos ataques, raptos e mortes envolvem familiares das vítimas como cúmplices, como se vê acontecer nos crimes reportados em Moçambique.
Ikponwosa Ero revela no seu relatório a existência de pessoas portadoras de albinismo que sofreram amputações “ainda em vida ou tiveram dedos, braços, pernas, olhos, genitais, pele, ossos, cabeça ou cabelo cortados”.
De acordo com o relatório que estamos a citar uma grande parte dos alvos é composta por crianças por se acreditar que “quanto mais inocente for a vítima mais potentes serão as partes do corpo” para as preparações. Entre as nove vítimas, que o @Verdade contabilizou entre Janeiro e Março, cinco são menores de idade.
As mulheres albinas, segundo este primeiro documento da especialista independente sobre os direitos humanos das pessoas com albinismo, são alvos de agressões sexuais devido ao mito de que “a prática de sexo com elas poderia curar o VIH/ Sida”.
Há também casos de mães afastadas ou discriminadas por darem à luz a crianças com albinismo por ser considerado maldição, mau presságio ou sinal de infidelidade.
Albinos precisam também de protecção contra o cancro de pele
Em Moçambique a “caça” e assassinato dos portadores de albinismo não são crimes novos, contudo só começaram a ter visibilidade a partir de 2014. Em finais de 2015, com a aparente escalada dos crimes, o Governo moçambicano criou uma comissão, envolvendo vários instituições, com vista a garantir segurança e protecção das pessoas portadoras de albinismo.
De acordo com o ex-ministro moçambicano da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Abdulremane Lino de Almeida, até finais do ano passado haviam sido registados 20 casos na província de Nampula, 15 na Zambézia, alguns no Niassa e dois em Inhambane. Pelo menos meia centena de indivíduos foi detida pela Polícia da República de Moçambique e indiciados pelo rapto e assassinato de albinos contudo nenhum deles identificou o(s) mandante(s).
Ikponwosa Ero acredita que entre as medidas eficazes para acabar com os ataques incluem acelerar a investigação imediata das alegações e a acusação dos supostos autores. As outras acções incluem soluções nas áreas legal, social, psicológica e médica além de compensar as vítimas, acções para prevenir o tráfico de partes do corpo e medidas de reintegração segura dos deslocados com albinismo.
Como se não lhes bastasse a perseguição de são vítimas os albinos - que não são mais do que portadores de um defeito genético hereditário que os impede de produzir o pigmento que dá origem à cor da pele, do cabelo e dos olhos – também correm o risco de contrair cancro de pele devido à exposição aos raios solares. A pobreza e a falta de conhecimentos dos seus familiares, que muitas vezes os deixam ao sol para ver se “bronzeiam-se”, são apontadas como alguns dos motivos. Há relatos da morte da maioria das pessoas africanas com albinismo entre 30 e 40 anos de idade.

quarta-feira, 30 de março de 2016

CONTANDO A VIDA 144

Nessa época de paixões políticas voláteis e por vezes intolerantes, osso historiador-cronista comenta sobre o recente incidente envolvendo Chico Buarque de Hollanda e um ator/diretor que encenava um musical sobre o compositor.  

VELHO CHICO, NOVO CHICO, ETERNO CHICO... CHICO BUARQUE DE HOLLANDA.

José Carlos Sebe Bom Meihy
Para meus queridos amigos Ney e José Rubens

Não, não é sobre a novela da Globo “Velho Chico” que quero falar, ainda que ache que o trabalho de Benedito Rui Barbosa, o apuro da encenação e a qualidade dos intérpretes sejam dignos de nota. Minhas palavras se fazem em referência ao surpreendente caso protagonizado por Claudio Botelho, e o incidente por ele provocado quando da apresentação, em Belo Horizonte, da peça “Todos os musicais de Chico Buarque de Holanda em 90 minutos”. O caso ocorreu da seguinte forma: a sessão ia bem, casa cheia e no palco o diretor e ator, o próprio Claudio Botelho, contracenava com Soraya Ravenle quando, intempestivamente, de maneira aloprada, o personagem colocou um “caco” (para quem não sabe, “cacos” são palavras ou frases proferidas de maneira súbita, fora do script). E foi uma interferência imprópria, dizendo que “aquela era uma noite em que o presidente ladrão foi preso” e, em complemento, foi fazendo ecoar palavras sobre uma “presidenta ladra”. Imediatamente, a plateia veio abaixo e com alaridos, vaias e termos de reprovação, restou o encerramento do espetáculo. Não faltaram imediatas indignações desdobradas frente a leviandade do perpetrador. Noticiado da situação, Chico Buarque pediu para que a peça não mais fosse encenada, na medida em que o sentido original do texto havia sido drasticamente deturpado. A coisa ferveu. Logo as redes sociais expressaram opiniões que se polarizaram entre prós e contras, colocando na berlinda uma obra irretocável com canções que encantam a todos pela engenhosidade do uso das palavras e sutileza na expressão de ideias. Cá entre nós, Chico é inigualável...

Como tudo no momento atual, a contenda virou um Fla X Flu emocional, de lastro político. Em complemento, a postura defensiva de Chico Buarque virou oportunamente “ato censor”. Isso foi exaltado pelo segmento inflamado dos seguidores do processo de derrubada da presidente. Num galope surpreendente, a contrapelo dos incitadores do debate antigovernista, iniciou-se troca de mensagens favoráveis ao consagrado, discreto, e muito amado compositor. É lógico que a reação contrária respondeu na ordem geométrica. E muito frenética. Frente a dimensão que ganhou em âmbito nacional, no entanto, Claudio Botelho apresentou suas desculpas, publicadas em jornal de repercussão nacional. De maneira até humilhante, em sua mensagem o ator/diretor buscou se redimir, felizmente, de forma clara e reconhecida. Dizendo-se “admirador apaixonado”, Botelho como personagem principal do espetáculo dimensionado fora dos palcos, repetiu no texto bem escrito, várias vezes, a palavra “errei”. E mais, de maneira contundente assumiu, na primeira pessoa, “falhei com minha responsabilidade, com Chico, falhei com o teatro, com a música” e encaminhou argumentos dizendo-se “envergonhado”. E concluiu seu libelo com a mais adequada das palavras aplicáveis à essas situações “perdão”.

Elevando ao máximo a tensão contida no lamentável embate, o caso merece destaque por mais um detalhe. No meio de ataque e defesa, na verdadeira guerra que extrema ódio, ressentimento e busca de saídas honrosas, temos um exemplo magnânimo: o erro reconhecido e o perdão aceito. Chico Buarque imediatamente acatou o pedido de perdão e, elegante, deu sua benção para que o espetáculo voltasse a ser exibido. Por todos os motivos temos que parar e refletir sobre este caso. É hora de domesticar nossos impulsos e aprender sobre os limites das coisas. Para o bem geral da nação, precisamos temperar nossas opiniões e saber usar o esforço empenhado em favor de causas – sejam elas quais forem –, pois não dá mais para humilhar os outros por terem opiniões diversas. É hora de crescer. É tempo de honrar a temperança e pôr para fora, de maneira sensata nossas opiniões.

Não deixa de ser irônico que Sergio Buarque de Holanda, exatamente o pai do Chico, tenha cunhado, para os brasileiros, a expressão “homem cordial”. A aludida cordialidade saída da lavra do Professor Sérgio remetia de maneira dúbia, algo ambígua, tanto ao brasileiro gentil, cordial como ao que se expressa pelo cordis, coração apaixonado e assim se cega.  

PÁSCOA SANGRENTA

Mais um albino morto em Tsangano (Tete)

Os raptos e assassinatos de albinos continuam em Moçambique ante ineficácia das autoridades policiais e até certo ponto com a sua cumplicidade. Informações de Tete, concretamente no Posto Aministrativo de Mtengo wa Mbalame, dão conta que na Páscoa foi raptado e morto um albino que em vida respondia pelo nome de Maninho, na aldeia de Sani, povoação de Kachenya. O Pânico instalou-se entre os poucos albinos que vivem na zona. Ao que o MTQ apurou, o rapaz fazia negócio de recargas de telemóveis para sustentar a mãe com quem vivia desde que o pai (conhecido por Betha) lhes abandonou encontrando-se actualmente casado em Tete. Pessoas contactadas pelo nosso correspondente apontam a existência de agentes policiais que estão a colaborar com os bandidos neste crime. Recorde-se que no mês passado um agente da Polícia foi linchado em Moatize quando tentava raptar um albino numa escola pública, algo que a Polícia acabou admitindo pois parte dos raptores tinha-se refugiado na esquadra local e a população para lá foi a fim fazer justiça com as próprias mãos. A nossa fonte está no local e logo que tivermos mais informações iremos actualizar.

terça-feira, 29 de março de 2016

TELINHA QUENTE 205

Roberto Rillo Bíscaro

A produtora Asylum é notória pelas produções baratas e de baixa qualidade que se tornam cult instantâneos. Uma das táticas é aproveitar algum tema da moda cinéfila e improvisar película lotada de truques de computação gráfica baratos e alguma (sub-)celebridade de B pra baixo e faturar em cima da tendência. Por isso, seu catálogo está cheio de filmes de zumbis, contos de fada e muita coisa de animais monstruosos, preferentemente tubarões, aranhas, piranhas, crocodilos e polvos. Esses filmes geralmente são lançados diretamente em DVD e/ou encontram escoamento através do canal SyFy, paraíso trash.
Felizmente, o Hall of Shame parece não ter limites. Imagine produtoras piores que a Asylum despejando tolice trás tolice no mercado, especialmente no SyFy. Há várias nesse mundão globalizado e uma canadense perpetrou Avalanche Sharks (2013), que, claro, passou no SyFy Channel! A ideia de tubarões nadando ameaçadoramente na neve não é tão original assim, sinto desapontar o caro leitor que não conhece Sand Sharks (2011), ode os peixões aterrorizavam na areia.
O sucesso de Sharknado (clássico da Asylum; imperdível) motivou essa tonteira, inicialmente pensada como Sharkalanche, que seria bem mais legal.
Trata-se duma montanha amaldiçoada pelos espíritos de deuses indígenas vingando-se do massacre dos americanos-nativos durante a Corrida do Ouro. Essas divindades coincidentemente têm forma de tubarão e durante o recesso escolar de primavera que os estudantes ianques têm, as feras aprontam na montanha cheia de meninas de biquíni, porque, afinal, pouca roupa é essencial numa região fria! Os peixes nadam em neve tão espessa que até eu enxergava pedras e arbustos encrustados; sem contar que atacam até em banheiras de hidromassagem – acho que nem era, porque não tinham grana pra isso, mas não verei novamente pra confirmar – sem considerar que elas deveriam ter um piso. E também sem se preocupar que as garotas nela aparecem do mesmo jeito em 2 dias diferentes. Enfim, é pataquada do começo ao fim.
Enquanto a Asylum usava a B Tara Reid em seu Sharknado, Avalanche Sharks (a avalanche dura 3 segundos...) traz o poder estelar lá de baixo do alfabeto da modelo Kate Nauta, cujo ponto alto na carreira até agora é papel secundário num filme de ação coescrito por Luc Besson.


Avalanche Sharks não é original. Nem é o fundo do poço e nem a produtora, pior que a Asylum, é a pior. Pasmem: em 2011, Snow Shark: Ancient Snow Beast já aprofundara com louvor a fossa. Numa montanha, remanescentes pré-históricos duma espécie de tubarão hibernam na neve rasa demais até prum peixinho dourado, mas de vez em quando acordam pra lanchar os habitantes locais e turistas (que jamais vemos, porque a produção é paupérrima).
A impressão é de que um grupo de porre resolveu fazer um filme, pais e amigos deram uma força, tudo foi gravado no celular e algum amador usou software gratuito num notebook defasado pra editar efeitos especiais. E nem sei se descrevo apropriadamente a precariedade de tudo. Snow Shark faz Avalanche Sharks parecer Spielberg merecedor de Emmy por efeitos especiais e direção.
Mambembice é charme em produções trash; na verdade, um dos quesitos que fazem delas trash e com que as amemos. Mas isso deve vir num pacote embalado por humor, que é melhor quando involuntário. Snow Shark tem quase tudo de que uma película necessita pra virar cult, exceto o humor. É tudo muito desinteressante, daquele desinteresse de você usar o Whatsapp sem interromper o filme. 

segunda-feira, 28 de março de 2016

CAIXA DE MÚSICA 211

Roberto Rillo Bíscaro

Há alguns anos, enquanto via o filme O Primeiro Que Disse, do diretor turco radicado na Itália, Ferzan Ozpetek, apaixonei-me pela canção 50mila, que mistura ferveção e melodrama num charme pop meio retrô, bem na tradição do pop italiano, uma vez muito popular em nossas rádios nos idos sess/setentistas.
A intérprete é Nina Zilli, que compôs o nome artístico com o sobrenome materno e o nome da cantora favorita: a norte-americana Nina Simone. Essa última escolha é pista importante pra sacar o álbum de estreia, Sempre Lontano (2010), confeito influenciado por pop italiano, jamaicano e ianque na trilha possibilitada pelo estrondoso sucesso da salada vintage da trágica Amy Winehouse. Há um single de Zilli no qual o cabelão parece o bolo de Wino e Il Paradiso, do álbum de estreia tem percussão Motown, mas oh oh oh fortão, da inglesa. Amy para sempre!
O aspecto mais gritante da verve de revisão passadista de Sempre Lontano é a regravação de You Can’t Hurry Love, clássico negro sessentista. A canção das Supremes veio em italiano, rebatizada de L’amore Verrai, mas está mais na linha da cover de Phil Collins, de 1982, do que do original. Uma delícia.
Sempre Lontano tem rockinhos tchap tchura superbem-comportados de bailinho como C’era Una Volta e Tutto Bene e reggae em italiano (Penelope) e inglês (No Pressure). E pra quem ama exagero luxuosamente orquestrado, a lenta L’uomo Che Amava Le Donne dará ganas de agarrar um microfone e se imaginar diva puro drama.
Zilli lançou outros 2 álbuns, mas decidi comentar sobre aquele que me introduziu seu trabalho; o resto é com vocês.

domingo, 27 de março de 2016

DINHEIRO AMBULANTE

Testemunho: a albina chamada de “dinheiro ambulante” em Moçambique

A moçambicana Adelina Patrício Afonso relata o drama das pessoas com albinismo no seu país, na sequência do lançamento de um relatório da ONU que descreve como crenças de ‘feitiçaria’ estão por detrás dos ataques contra o grupo.
O documento lançado esta terça-feira destaca a venda de albinos por até US$ 75 mil para uso em rituais no continente africano.
Em conversa com a Rádio ONU, da cidade central de Chimoio,  a adolescente disse que sonha em seguir carreira de jurista para ajudar a criar leis mais enérgicas para garantir a segurança das pessoas com albinismo no país.

OUÇA O TESTEMUNHO NO LINK ABAIXO, NO CANTO SUPERIOR DIREITO DA PÁGINA:

sexta-feira, 25 de março de 2016

VÍCIO EM ROUBAR

Por dentro da mente de uma cleptomaníaca

Adam Eley
Imaginar alguém roubando algo uma loja pode te trazer à mente a imagem de um adolescente tentando impressionar seus amigos.
Mas para uma mulher que há 20 anos vem cometendo esses pequenos roubos, isso se transformou em um ato compulsivo que está dominando sua vida.
Para a britânica Laura (nome fictício), tudo começou quando ela tinha 7 anos e estava em uma loja com um amigo de seu pai. Ele lhe pediu para esconder algumas coisas em seu bolso.
Em poucos meses, ela começou a roubar brinquedos de seus colegas de classe e a pegar coisas da casa de uma amiga: uma fita para o cabelo e potinhos de tinta.
“Eu fazia isso principalmente porque queria ter uma determinada coisa. Eu pedia aos meus pais para me comprarem algo, e eles dizem que não. Então eu simplesmente ia lá e pegava”, disse Laura à BBC.

'Fora de controle'

Ela conta que essas experiências formaram a base de seu vício, que agora, segundo ela, “está fora de controle”. Tanto que rouba lojas quase todos os dias itens como cosméticos, roupas, geleias e fraldas, inclusive quando está com os filhos.
Antes de deixar de trabalhar fora para cuidar dos filhos, ela roubava dinheiro do caixa e de bolsas de seus colegas.
“Se eu posso pegar algo, vou fazer isso. É uma necessidade. Há algo em meu cérebro que me diz: se você quer isso, vá lá e pegue.”
“Recentemente, eu estava na casa de uma amiga e vi uma saia que adorei. Não peguei nesse dia, porque não tive como. Mas isso ficou na minha cabeça. E logo arranjei uma maneira de voltar à casa dela, já com um plano para pegar a saia. Então, fui lá e peguei.”


Image copyrightThinkstock
Image captionLaura rouba lojas quase todos os dias itens como cosméticos, roupas e geleiasLaura acredita que nenhum de seus parentes ou amigos tenham consciência de seu vício. E ela não pensa em contar sobre isso para o marido.

“Acho que ele não entenderia. E eu tenho muita vergonha.”

Vício como o alcoolismo

O terapeuta que coordena a ONG britânica Addictions (vício em inglês), Simon Stephens, diz que essa atitude de Laura não o surpreende.
Segundo ele, é algo comparável às experiências de muitas outras pessoas que sofrem com algum tipo de vício. E o terapeuta acrescenta que essa necessidade patológica de roubar é muito mais comum dos que se pensa.
“É um vício real, que vem do mesmo problema que causa o vício ao jogo ou o alcoolismo. Essas pessoas que roubam se vêm forçadas por seus subconscientes e não por razões econômicas.”
“Elas têm uma necessidade emocional de viver esse pico de adrenalina e, consequentemente, de dopamina, que recebem ao roubarem. E a única forma de suprir isso é efetivamente roubando.”
“Do ponto de vista de um vício, essa necessidade supera qualquer pensamento sobre as pessoas que podem ser afetadas.”
Laura diz que se arrepende, mas não sempre.
“Quando roubo, na maioria das vezes eu me sinto culpada. Especialmente se roubei algo de um amigo ou de alguém que conheço. Mas quando roubo de lojas grandes, não me sinto tão culpada. Acho que eles não vão notar, já que ganham muito dinheiro.”

Hipnose

Roubos em lojas custam ao Reino Único cerca de US$ 426 milhões anualmente, de acordo com um grupo de varejistas British Retail Consortium, que afirma ainda que esse valor é o recorde em uma década.


Image captionAgora, a britânica espera que uma terapia com hipnose lhe auxilie a vencer seu vícioEstima-se que Laura tenha roubado, em toda sua vida, cerca de US$ 140 mil.

“Quando eu chego em casa e vejo o que tenho, me sinto feliz.”
Mas ainda que diga que sinta uma emoção ao roubar, ela diz que o ato de roubar em si a deixa nervosa.
“Meu coração dispara. Tenho medo. Estou sempre analisando mentalmente a loja. Quem está do meu lado? Quem está atrás de mim? Levo até 25 minutos (para roubar algo), já que sou bem paranoica.”
Ela conta que está decidida a deixar esse vício. “Estou preocupada com meus filhos seguirem meus passos e acabem roubando também. Esse é meu pior pesadelo.”
Laura fez 12 sessões de terapia cognitiva comportamental, nas quais a ensinaram estratégias para ajuda-la a superar a compulsão.
Uma delas era uma carta com cinco razões-chave para resistir à tentação de roubar – algo que pode ser consultado a qualquer momento.
Mas Laura disse que isso só funcionou por poucas semanas. Agora, ela espera que uma terapia com hipnose lhe auxilie a vencer seu vício.
No Reino Unido, a pena máxima para quem é surpreendido roubando é de seis meses de prisão. Laura já foi pega duas vezes em uma loja, mas nunca chamaram a polícia. “Não me imagino indo para a cadeia. Não quero nem pensar nisso.”

quinta-feira, 24 de março de 2016

TELONA QUENTE 151

Roberto Rillo Bíscaro

Parece que é amanhã a estreia mundial do aguardado Superman x Batman. Semana passada, abordei a primeira aparição do Homem-Morcego nas telonas no serial Batman. Na véspera do frenesi heroico, voltemos a 1949, pra segunda vinda de Batman aos cines, em outro serial: Batman and Robin. Com shortinho mínimo, o Menino-Prodígio ainda andava a tiracolo e ninguém suspeitava de pedofilia.
Vencida a Segunda Guerra, Batman enfrenta inimigo interno e não mais um estrangeiro, como em 43. O Wizard apodera-se dum controle remoto universal, capaz de comandar até humanos (embora isso jamais seja mostrado). Como a engenhoca é alimentada por diamantes, ele e seus asseclas têm que se esforçar pra conseguir as preciosidades. Os 15 capítulos em branco e preto são a) sobre as tentativas da Dupla Dinâmica em reaver o controle, b) sobre o vilão tentando conseguir diamantes e/ou destruir Batman e Robin.
Mesmo com orçamento risível, há ideias legais como um esconderijo numa ilha acessível apenas via submarino, maquinas de hipnose ou zumbificação e até de invisibilidade. No fundo, Batman e Robin são novamente 2 sujeitos de collant, com capas mais atrapalhando que beneficiando a movimentação e a máscara do Batman parece ter um bico mais apropriado ao vilão Pinguim.
Mas, como resistir ao charme dum Bat-sinal que reluz mesmo durante o dia?   Sem ter cinto de utilidades, de onde ele tira um maçarico e-nor-me pra escapar duma sala gaseificada? Mesmo que portasse o cinturão, onde enfiara um objeto daquele tamanho? (mente suja, caro leitor, que vergonha pensar isso!)
Nessa versão já há o Comissário Gordon e a imagem de Alfred continua a de senhor magro e distinto, que de vez em quando serve de alívio cômico. Ele não mais dirige os super-heróis pra cá e pra lá, mas Bruce Wayne/Batman usam o mesmo carro. Grande modo de manter identidade secreta! Numa cena a namorada fotógrafa de Wayne (Superman tinha a Lois Lane, então...) vê Batman com o carro, este mente dizendo que Wayne emprestara, ela chega a comentar que se o milionário não fosse tão indolente, poderia ser Batman e fica por isso mesmo. Ela não reconhece a voz, queixo e nem o fato de Batman andar com o baixinho Robin o tempo todo, o mesmo que Bruce faz com seu pupilo. Adogo!
O Wizard passa a maior parte do serial em seu esconderijo secreto. Se está só, porque usa capona e máscara?
Não assisto a serials só pra achar defeito e escrever resenhas paternalistas do tipo “olha como eram ingênuos outrora”. Essas superproduções de hoje devem estar repletas de tolices; é que não as vejo pra comentar.
Se você curte produção B de barata e boboca, não perca. É bem divertido. E vintage. E vintage é fashion.

quarta-feira, 23 de março de 2016

CONTANDO A VIDA 143

Inspirado pela publicação de uma foto de seu pai em um grupo de rede social, nosso historiador-cronista divaga sobre internet, memória, gerações e manifesta um desejo. 

SOBRE UMA FOTO DE MEU PAI...

José Carlos Sebe Bom Meihy.

Honrosamente, fui incluído em uma dessas listas que, sei lá porque, são conhecidas como redes sociais. Dias passados, aliás, gastei horas pensando na lógica do nome e para lograr algum sucesso decompus “redes”, separando-a de “sociais”. Fica fácil imaginar a lógica de “redes”, pois é mecânico arquitetar a malha tecida enredando “amigos” que chamam “amigos” multiplicando elos numa ilusão planetária. Confesso que acho até bonito este esforço visto pelo prisma da utopia humana e da fraternidade dos “afins”. Complicado mesmo foi justificar “sociais” porque para mim o social se realiza em sociedade, e só se constituiu tal situação no contato direto. Por certo, como profissional da área de humanidades, não deixo de reconhecer “social” na dimensão clássica do pensamento científico que alarga o conceito para grupos de pessoas afinadas ou submetidas a algumas questões sociológicas. Derivado dessas maneiras de pensar, me fica complicado admitir uma rede de “amigos” que não se veem e nem são sujeitos coletivos amoldados em causas comuns. E tudo se complica por meio de mediações exercidas por máquinas velozes e de clamores indiscretos. Permito-me não me deixar perder nas pantanosas discussões sobre vantagens e/ou desvantagens da internet e nem na formidável parafernália oferecida pelo mundo eletrônico. Seria, diga-se, inútil e demasiado monótono. Devo até dizer que entrar nessa discussão seria repetir chavões que desprezo, coisa do tipo “todo mundo fala mal da Rede Globo, mas ninguém deixa de assisti-la”. É verdade, mesmos os mais ácidos críticos dos “interfones” não conseguem mais se despregar deles. Nem eu...

Aconteceu de um grupo de amigos coetâneos, pessoas com quem reparti minha juventude, se articular de maneira esperta. Convite vai, convite vem, de repente um mar de gente se costurava emendando saudades. Tudo ocorreu com rapidez, pois pessoas que hoje beiram a sétima década de vida, por certo têm o que contar. E rola de tudo na tal rede: localização de pessoas distantes geograficamente, informações sobre falecimento de conhecidos, convocação política, apresentação de projetos pessoais, notícias de feitos importantes. Enfim, é uma alegria só. As surpresas se avolumam a cada nova postagem. Sem dúvida, se constituiu um espaço democrático, onde as opiniões mais se afinam do que divergem. Isso me é extremamente importante para medir o tônus da minha geração. Sem dúvidas, envelhecemos mais conservadores e pensando nisto me vejo repetindo o refrão entoado inigualavelmente pela saudosa Elis Regina, no verso perpetrado por Antonio Carlos Belchior, em “Como nossos pais”: “minha dor é perceber/ Que apesar de termos/ Feito tudo, tudo/ Tudo o que fizemos/ Nós ainda somos/ Os mesmos e vivemos/ Ainda somos/ Os mesmos e vivemos/ Ainda somos/
Os mesmos e vivemos/ Como os nossos pais”.
E por falar em país devo registrar algo decorrente da participação desse grupo. À guisa de esclarecimento devo dizer que leio religiosamente tudo o que é registrado. Emoções brotam aqui e ali e não raro viajo pelo país do meu passado interiorano. Dia desses, porém, fui surpreendido como nunca pensei ser capaz. Um amigo que cultiva a memória da cidade e da região, colocou uma foto de meu pai num campo de futebol. Pronto, foi o bastante para abrir uma legião de saudade. Fiquei atônito, pois além de tudo a foto é bela. Entre uma multidão de torcedores do Esporte Clube Taubaté, meu pai, de terno escuro, com um saquinho de pipoca na mão, na primeira fila, contemplava o time do coração. Segundo meus cálculos, a cena remetia aos anos iniciais da década de 1950, mas meu voo foi muito mais longe. Com olhos beirado de lágrimas deixei meu coração solto e ouvi vozes, o grito entusiasmado de meu pai que sabia o significado de um gol. Foi assim que voltei à letra da canção e que ainda me resta um tempo para voltar a viver “como nossos pais”. Preciso ir a um campo de futebol e mesmo sem terno, comer pipoca e me deixar fotografar para o futuro.  

NEUTRALIZANDO O MAL

NIASSA/POLICIA NEUTRALIZA CINCO ACUSADOS DE RAPTO E ASSASSINATO DE ALBINA



Maputo, 22 Mar (AIM) - A Polícia moçambicana (PRM) deteve, semana passada, na província nortenha de Niassa, cinco indivíduos acusados de rapto e assassinato de uma menor albina.


“A PRM deteve cinco moçambicanos indiciados de prática dos crimes de rapto e assassinato de uma menor albina de quatro anos de idade”, lê-se num comunicado de imprensa do Ministério do Interior (MINT), hoje recebido pela AIM.

Os indiciados têm idades compreendidas entre os 20 e 34 anos, segundo a nota da PRM que aborda as principais ocorrências policiais da semana passada. 

Em 2015, a província de Nampula, também no Norte, foi a que registou maior número de sequestros e assassinatos de pessoas com problemas de pigmentação da pele. 

Os raptos e assassinatos de albinos em Moçambique persistem. Os seus mentores acreditam que partes de corpos de albinos são usadas para a fabricação de poções mágicas que alegadamente tornam pobres em ricos.

terça-feira, 22 de março de 2016

TELINHA QUENTE 204

Roberto Rillo Bíscaro

As 2 curtas temporadas iniciais do Celtic Noir Shetland foram baseadas nos livros de Ann Cleeves. Pra terceira, a BBC escocesa anunciara alterações: as personagens são inspiradas nos livros policiais da escritora, mas seria uma trama original de 6 capítulos. Segundo o ator Douglas Henshall, Cleeves abençoou a utilização de suas criações em história escrita por outrem, durante as leituras dramáticas pelo elenco. Sábia Ann, porque a meia dúzia de episódios, que terminaram dia 4 de março, foi a melhor até agora.
Uma mocinha presencia altercação entre um senhor barbudo e um jovem na balsa que cruza da Escócia pra Lerwick, principal porto das Ilhas Shetland (tô virando experto!). Logo depois, os 2 jovens começam a flertar e beber juntos. Na manhã seguinte, ela não o encontra pra desembarcar e começa a procura por Robbie Morton. Na mesma manhã, um garotinho brincando na praia encontra o que parecem ser gominhas coloridas. Ele as come e vai parar na UTI com o fígado (ou seria rim?) detonado, porque as bolotinhas eram Ecstasy turbinado com qualquer outra porcaria veneno-alucinógena. O senhor que brigara com Robbie está na ilha e é muito misterioso e hostil, qual será a dele? E essa mocinha não tá interessada demais pelo que aconteceu com um cara que afinal nem conhecia? Esse é apenas o começo duma história que levará o Detetive-Inspetor Jimmy Perez e sua reduzida equipe a percorrer as lindas paisagens soturnas, frias e úmidas das Shetland, mas também da escocesa Glasgow.
DI Perez não tem os dilacerantes problemas pessoais e de saúde como o DI Tom Mathias, de Hinterland ou a Síndrome de Asperger como Saga Norén ou mesmo as alucinações de DI River, mas como bom policial noir tem cara e jeito de falar de quem precisava ter Rivotril na caixa d’água; amo demais. Douglas Henshall é irretocável no papel; todo mundo está ótimo. Ele tem mais motivo pra depressão porque a filhota saiu pra faculdade. Pros brasileiros, fica a efeméride de uma personagem tupiniquim que aparece por uns 2 minutos. Edson Arantes, não, não é do Nascimento, é Carvalho diz que nossa economia está bombando, mais até do que a escocesa. A maior falha do roteiro.
Mais Nordic Noir que nunca, essa terceira temporada tem reviravolta final duma simplicidade pragmática formidável e durante os 6 episódios, embora quietos e de pouca ação, sentem-se tensão e perigo no ar. Nada que ver com Morse Meets Norse como brincou resenhista inglês. Nesses shows britânicos tipo whodunnit “clássico” inexiste essa fricção depressiva que torna o Nordic ou Celtic Noir tão fascinantes. Em Inspector Morse & Cia, a ênfase está no cérebro idealizadamente privilegiado dum comissário; em Shetland há um conjunto de fatores - trilha sonora, céus cinzentos, personagens que não sorriem e estão embrulhados pelo frio – que hipnotizam e nos levam pra dentro daquele clima casmurro.   
A BBC ainda não se pronunciou sobre possível 4ª temporada, embora a audiência tenha sido boa. Tomara que role, porque Shetland já está na minha lista de melhores do ano.

segunda-feira, 21 de março de 2016

MAIS LINCHAMENTO EM MOÇAMBIQUE

Linchado suposto assassino de albino

UM indivíduo cuja identidade não conseguimos apurar foi linchado na semana passada, no distrito de Mueda, acusado de ter arrancado dois braços a uma pessoa com problemas de pigmentação da pele na aldeia de Miúla, a qual viria a morrer devido à gravidade dos ferimentos.
Dados apurados pela nossa Reportagem indicam que o suposto criminoso encontrou a vítima na companhia da esposa e infringiu-lhe golpes com recurso a um instrumento contundente. Depois de conseguir seus intentos, de arrancar os dois braços, pôs-se em fuga através de uma motorizada em direcção à fronteira com a República Unida da Tanzania.
As mesmas informações dão conta que os moradores de Miúla quando se aperceberam do sucedido iniciaram uma perseguição ao homem, e quando este se viu encurralado meteu-se na mata, onde enterrou os membros arrancados ao portador de albinismo. Mais tarde foi apanhado e espancado até à morte pela população enfurecida.
Sem entrar em pormenores, a porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) no comando provincial, Márcia Zucula, confirmou apenas a morte do albino, afirmando, no entanto, que a corporação estava no terreno a trabalhar para esclarecer o caso.