terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

TELINHA QUENTE 151

Roberto Rillo Bíscaro

O sucesso das séries policiais escandinavas na Inglaterra acostumou o público a ler legendas e influenciou na produção de shows com clima Nordic Noir. Irlanda, Escócia e Gales e suas línguas/dialetos passaram a ser lócus/veículos de programas logo batizados de Celtic Noir. Já resenhei Hinterland; leia aqui.
Aproveitando semelhanças climáticas e geográficas com Suécia & Cia, o Celtic Noir traz detetives macambúzios resolvendo intrincados crimes em locais frios e escuros. Que tais locações na vida real apresentem taxas de criminalidade muito baixas não importa, afinal, um dos atrativos das variantes ultrasetentrionais do noir é a poluição da ideia de paraíso social. Los Angeles, Chicago e Nova York do noir ianque não causam surpresa como antro de infrações, mas um paraíso gélido e ventoso como as ilhas Shetland, com suas menos de 30 mil almas, é ideal pra noção alarmista de que não existe local seguro na face da Terra.
E o arquipélago de Shetland, ao norte da Escócia, foi escolhido pela sucursal da BBC naquele país como cenário pro Celtic Noir que leva o nome das ilhas. Os 8 capítulos das 2 temporadas de Shetland foram exibidos em 2013-4.
A bandeira de Shetland tem mais a ver com Escandinávia do que com Reino Unido, o sol brilha bem pouco – e os realizadores ainda usaram filtros pra deixar os dias mais sombrios -, quer lugar melhor prum filhote de Nordic Noir? Islândia e Noruega são citadas em vários episódios.
O Inspetor Detetive Jimmy Perez (Douglas Henshall da minissérie The Secret of Crickley Hall, resenhada aqui) é o policial meio deprimido que investiga horripilantes assassinatos. Viúvo e criando uma adolescente em conjunto com o pai biológico dela (moderno isso!), sua vida pessoal não influi na condução das investigações, como no caso da colega dinamarquesa Sarah Lund, mas o estilo tristonho de Perez insere-o no receituário Nordic Noir, que esse Celtic Noir segue ao pé da letra.
São 4 histórias divididas em 2 capítulos cada, o que não proporciona tempo pra altos voos como na por vezes delirante Bron/Broen, mas as tramas são decentes e mantém o interesse. Um resenhista jocosamente qualificou Shetland como “Morse meets Norse”, brincando com o inspetor oxfordiano (resenha aqui) usando sua lógica num contexto de noir do extremo norte. Peraltices linguísticas espertas à parte, nenhum capítulo de Shetland é entediante, o contrário de muitos em Inspector Morse.
Shetland não oferece novidade pros iniciados em Nordic ou Celtic Noir, mas isso não é demérito, porque quem aprecia policiais soturnos, cozidos em fogo lento, com paisagens absurdamente fabulosas, gostará imenso. Como bônus, o ótimo Brian Cox participa da primeira história da temporada 2.  
E a notícia ainda melhor é que a BBC garantiu 3ª temporada pra esse ano, dessa vez com uma história única percorrendo 8 episódios. As perspectivas são animadoras.  
Aviso aos que assistem em inglês sem legendas: o sotaque é bem diferente do usual norte-americano ou do “Inglês da Rainha” da BBC padrão, portanto, cuidado.

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