terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

TELINHA QUENTE 152

Roberto Rillo Bíscaro

O estrondo de ET – O Extraterrestre consolidou o império de Steven Spielberg, que nos anos vindouros faria o que bem quisesse. Em 1985, voltou a produzir pra TV, onde praticara técnicas e ganhara trocados nos anos 60 e 70 (escrevi sobre aqui).
Amazing Stories teve 2 temporadas (1985-7) pela NBC. Histórias com metragem abaixo de 25 minutos, enfatizando a fantasia, mas também suspense, pitadas bem leves de horror, ficção científica de quadrinhos datados já nos 80’s e doses de humor. O fracasso de audiência determinou a não renovação do contrato. Spielberg fazia o que bem quisesse enquanto deixavam.
Convidados famosos assumem a direção: Burt Reynolds, Clint Eastwood, Martin Scorcese, Tobe Hooper e o próprio Spielberg, claro. The Mission, dirigido pelo criador do ET, tem um dos defeitos que estragam essas pretendidas Histórias Maravilhosas: Kevin Costner e Kiefer Sutherland participam do episódio sobre soldado entalado na parte inferior dum avião militar prestes a pousar sem trem de aterrissagem. Criativo e tem suspense, mas Spielberg exagera – como de costume – na música incidental, mais indicada pra salas de cine e não pra sala de estar/quarto onde ficam nossas TVs. Grandiloquente demais.
Densamente povoada por crianças e adolescentes, o resultado diversas vezes são espetáculos de apelação, sacarina diabetizante em dose letal e QI de jardim de infância. Fine Tuning me lembrou um filme de River Phoenix do mesmo ano 85. Um garoto sintoniza um canal de TV de outro planeta, onde os programas humorísticos terráqueos dos EUA cinquentistas são obsessivamente refilmados e os ETs até vem a Hollywoood, onde são ciceroneados pelos meninos. Imagine uma civilização avançada a ponto de viajar anos-luz ser tão imbecil quanto descrita no episódio. Spielberg no que tem de mais infantilizador. Isso sem contar que quase todo episódio que tinha extraterrestre, eles fazem aqueles ruídos irritantes e nojentos do ET.
Obsessões spielbergianas como a Segunda Guerra e um mundo já perdido nos 80’s – The Alamo e cine e TV 40’s e 50’s - são temas recorrentes, rendendo bons episódios, mas em quase todos algum elemento impede a plena satisfação. Diluição da trama por falta de tempo ou pra agradar a “família” pra qual Amazing Stories foi apontada. Então, por exemplo, pra garantir alguma risada fácil em Boo, o casal de fantasmas atravessa paredes, mas foge do cão familiar. Por que, se eles seriam atravessados pelo au au??
Não que Amazing Stories seja desprovida de bons momentos, como o emocionante Dorothy and Ben, no qual ele acorda dum coma de 40 anos e consegue se comunicar com uma menininha no mesmo estado.
De costume, a cada introdução – longa demais pros padrões de hoje – esperava nomes caros no elenco. Não faltaram.
James Cromwell num episódio chatinho, onde beberrões tentam matar seu companheiro de cachaça pra ficar com o seguro de vida. Mas o velhote irlandês é duro matar. Legal ver Cromwell ainda 40tão  - lembro dele em DALLAS, na mesma época, como o piloto contratado por JR pra levar Pamela ao redor do mundo atrás de pistas falsas sobre Mark Grayson, que morrera num acidente aéreo. Ou não.
Por falar na esposa de Bob Ewing, Priscila Pointer, a Rebecca Wentworth, mãe de Pam, em um episódio interessante em que pega carona numa noite chuvosa com uma jovem que quer se divorciar, assim que chegar a seu destino. Nada de infantil nesse da segunda temporada, em geral, superior à primeira.
John Lithgow aparece numa história sensível sobre 40tão solitário que compra uma boneca e começa a se comunicar com ela. A surpresa ocorre quando ele visita a mulher que serviu de inspiração – sem saber – pra cara do brinquedo.
Christina Applegate, a piranha loira burra de Married WithChildren, faz ponta num episódio onde um garoto é jogado no filme Psicose pra aprender que a vida é mais rica e importante do que a ficção.
June Lockhart não é querida, mas por estar na resenhada (aqui) Perdidos no Espaço prestei mais atenção. Historiazinha estereotipada envolvendo competição rural de quem produz a maior abóbora. Ela é a boazinha de roupa clara que sempre ganha da megera materialista de vestimenta negra. Profundo, não?
Adam Ant, com carreira de estrela pop já vencida na Europa, começa sua caminhada nas telas num episódio sobre uma família do futuro que foge ao passado porque procriou biologicamente e sua sociedade é asséptica, tudo é in vitro. Tecnofobia com pitadas de Exterminador do Futuro: uma robô policial vem capturá-los e é tão facilmente derrotada que só sobra rir. Ideia até legal, mas o formato de 25 minutos era curto demais e a produção “família” demais também.
Se editada pruma temporada Amazing Stories ficaria uma coleção decente. Pelo jeito, todos, ou quase, os programas estão nessa playlist no You Tube, em inglês sem legendas.  

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