domingo, 30 de agosto de 2009

DRAMA SOCIAL

(A foto acima mostra uma criança negra no meio de 2 albinas)

Ontem à noite, antes de dormir, chequei o blog pra ver se havia algum comentário novo e encontrei um elogioso do Emmanuel. Além da gentileza do elogio, Emmanuel também me enviou link pruma excelente reportagem sobre uma família pernambucana que não tem condições de adquirir protetor solar. Vale a pena ler. A história prova por a + b a necessidade da distribuição gratuita de protetor solar pra albinos pela rede pública NO BRASIL INTEIRO!!
Emmanuel, grato pelo envio da reportagem.

Pernambuco // Drama familiar
Irmãos sem direito a brincadeiras à luz do dia
Publicado em 29.08.2009, às 18h37

João Valadares
Do Jornal do Commercio
Nasceram sem cor, numa família de pretos. Três irmãos que sobrevivem fugindo da luz, procurando alegria no escuro. O mais novo diz que é branco vira-lata. Os insultos do colégio viraram identidade. A mãe cochicha que são anjinhos. Eles têm raça sim. São filhos de mãe negra. O pai é moreno. Estiraram língua para as estatísticas e, por um defeito genético, nasceram albinos. Negros de pele branca. A chance dos três nascerem assim na mesma família era de uma em um milhão. Nasceram. Dos cinco irmãos, apenas a mais nova é filha de outro pai.
Essa é a história do contrário. Os dedos cruzados são sempre para chover. É o convite para o banho de mar na Praia Del Chifre, em Olinda. Rezam para espantar o domingo de sol. Só assim, com o céu pintado de preto, são crianças. Kauan, 5 anos, Ruth Caroline, 10, e Esthefany Caroline, 8, têm a liberdade controlada pelo fator do protetor solar. Não é só isso. São pobres e feridos. Não há dinheiro para parcelar a proteção. O PhotoDerm 100 é o maior sonho dos “galeguinhos” da V-9, favela de Olinda. Custa R$ 96 e só dura três semanas. O jeito é se esconder em casa mesmo. Televisão grudada no rosto. Vez por outra, Kauan, num estouro de criança, desafia o maior inimigo. Fecha os olhos e corre feito louco no meio da rua. Grita para o sol e escuta outro grito maior lá de dentro. É a mãe, Rosemere Fernandes de Andrade, 27, tentando evitar mais uma noite de ardor e ventilador ligado no máximo.
Sem protetor, ir para a escola, distante 200 metros de casa, é um martírio. A menina mais velha se veste de menino. “Tem que colocar camisão. Não ligo. Tenho orgulho de ser assim.” Os dias de vaidade são também os dias de ferida. O sol não quer saber da teimosia. Queima onde não tem pano. Moraram um tempo no meio da rua, na Avenida Presidente Kennedy. Era bem pior. “Hoje, as feridas diminuíram muito. Ainda aparecem. Tenho medo do câncer de pele porque não tenho dinheiro para o protetor. Há dois meses, eles não usam. Ficam em casa. É tudo para comida. Entreguei a mais nova ao pai porque não tinha como comprar leite. Passamos um tempo na rua e, de manhã, era sol na cara e feridas enormes”, conta Rosemere.
Há uma ferida pior, maior ainda, daquelas que não vira casca nunca. A mãe quer ser chamada de mãe. Não tem remédio que dê jeito. “Só me chamam de babá.” Lembra uma vez que foi passear no shopping com os meninos e o avô, também negro. “Os seguranças nos abordaram porque estávamos com os meninos brancos. Fomos revistados. Não acreditavam que eu era mãe dos meus filhos.” Mas, na maternidade, nem ela mesmo acreditou. Teve certeza de que Ruth havia sido trocada. “Não havia como ela ser assim. A gente era escuro.” Depois veio João, da sua cor. Mesmo com as explicações médicas de que era possível, na cabeça de Rosemere, João era a confirmação de que havia algo errado com Ruth, a primeira. “Ele era da minha cor e Ruth daquele jeito.” Só com o nascimento de Esthefany e Kauan, albinos, o coração de mãe deu voto de confiança à natureza.
Rosemere conta que um bandido já tentou sequestrar um dos meninos. “Estava passando por uma casa de rico, muito bonita, com muro alto. O homem, na certa, pensou que eu era babá e estava passeando com a criança, a dona da casa. Tentou levá-la, mas me agarrei com ele e acabou fugindo.” Hoje, a preocupação é outra. “Ficaria feliz se pudesse cuidar bem deles, comprar os protetores. Tô usando pasta d’água.” A conta é simples. Rosemere ganha R$ 122 de um programa social. O pai ajuda com R$ 200. “Tive que colocá-lo na Justiça para comprar os óculos dos três.” O albinismo afeta o desenvolvimento do olho ainda no processo embrionário. A visão é comprometida, mas os três óculos estão quebrados. As feridas aumentaram porque os olhos ficam fechados. As quedas são frequentes. João é o olho dos três. Para o colégio, seguem todos de mãos dadas. “Preste atenção, João. Você sabe que é o olho dele”, alerta a mãe.
Logo quando chegaram ao colégio, todas as outras crianças, grande maioria negra, tinham medo. Muito medo. A brincadeira principal do recreio era correr das louras. Um esconde-esconde diferente. Ninguém poderia tocá-las. Até que a professora Angélica Caldas teve uma ideia. Antes da aula, fazia uma grande roda. Todos tinham que dar as mãos. O medo foi sumindo, sumindo e sumiu. A professora conta que Kauan sempre fecha a janela da sala. “A mínima luz o incomoda.” Sem os óculos, o aprendizado é comprometido. Mas seguem. A prima deles, Tainá (foto nesta página), 2 anos, virou irmã. O pai e a mãe foram assassinados a tiros. O pai faz um mês, na frente dos meninos. “Ele comprava sempre que podia o protetor. Mas mataram. Eu vi. Quando tiver um filho, vou colocar o nome de tio Glebson”, diz Ruth. Ela quer ser policial, Kauan, bombeiro ou dentista, e Esthefany, modelo.
O professor do Departamento de Genética da Universidade Federal de Pernambuco Valdir Balbino rabisca um cálculo rápido. Os dois são heterozigotos, possuem pares de genes que apresentam um gene diferente do outro. O pai e a mãe têm um gene dominante e outro recessivo. Cada filho herda metade de carga genética do pai e a outra metade da mãe. “Com dois pais heterozigotos, a chance de cada filho ser albino é de 25%.” Há outra conta. A chance de os pais das crianças, entre os quatro primeiros filhos, terem produzidos três deles albinos era de 1,5%. O gene recessivo, que apresenta o defeito, ocasiona um problema na enzima tirosinase, responsável pela síntese de produção de melanina, pigmento responsável pela coloração e proteção de olhos, cabelos e pele. “Pelo caso apresentado, se os pais são negros, os meninos são tão negros quanto eles. Etnicamente e geneticamente. Só não produzem melanina.”
(Encontrado em http://jc.uol.com.br/canal/cotidiano/pernambuco/noticia/2009/08/29/irmaos-sem-direito-a-brincadeiras-a-luz-do-dia-198084.php)
(Abaixo, vídeo com a canção Miséria, dos Titãs.)

sábado, 29 de agosto de 2009

NO DIVÃ COM PAUL WESTON

Roberto Rillo Bíscaro

Ano passado, um amigo chegou com 2 dvd’s dizendo que se tratava duma série da HBO que ele achava que eu ia amar. In Treatment era o nome. O formato era meio inusitado: o show passava de segunda á sexta, durava cerca de 25 minutos cada episódio e cada dia da semana era sobre um paciente dum psicanalista. Segunda, era uma moça que se apaixonara por ele, terça era um piloto da aeronáutica que se sentia culpado por ter explodido uma escola lotada de crianças no Iraque, quarta era a minha personagem principal, a teen Sophie etc.
Adaptada duma criação originalmente israelense, In Treatment tinha tudo pra me agradar: muuuuito diálogo e pouca ação, além de atuações soberbas. Fiquei apaixonado pela atriz Mia Wasikowska, que interpretou a complicada Sophie. Que atriz fabulosa e tão jovem!! Vivia mandando emails e SMSs dizendo “Sophie rulzzzzzzzzz” ou “ In Treatment rulzzzzzzz”, após cada episódio. Os amigos mais próximos devem ter recebido o link com o perfil da Sophie, umas 3 vezes pelo menos.
Claro que a série teve seus defeitos, e, pra mim, o mais grave foi que os pacientes se “curavam” depressa demais. Sophie tinha problema ali pra anos de terapia, mas em apenas 9 semanas já estava boa. Tudo bem, é apenas um show de TV; basta a gente não achar que numa terapia de verdade seria tão rápido assim. O duro é que tem gente que ainda surpreendentemnte crê em tudo o que vê na TV!
Neste ano, quando constatei que a segunda temporada seria ainda mais curta do que a primeira, pensei que esse problema ficaria ainda mais gritante, afinal, o tempo de cada paciente caiu pra 7 semanas. E, novamente o Paul Weston tinha ossos duros de roer nesta temporada: na segunda, uma 40tona doida, doida que tinha um de problemas mal resolvidos com o próprio Paul, com o pai e a mãe (daqui em diante nao citarei mais pai e mãe, fica subentenddo, afinal, trata-se dum show sobre psicanálise!), com aborto, com solidão, enfim, um coquetel molotov de raiva, frustração, solidão etc. Na terça, uma jovem de 23 anos, perfeccionista, com extrema dificuldade de aceitar fraquezas em si mesma ou nos outros e que tem câncer. No início ela foi minha personagem favorita, a April... Quartas-feiras é o dia do menino obeso Oliver e seus pais separados que não param de brigar e, no fundo, não querem a responsabilidade de cuidar do garoto, que sofre de bullying na escola. O paciente da quinta é Walter, executivo quase 70tão à beira do abismo emocional profissional. Sexta é dia do Paul, genialmente interpretado pelo Gabriel Byrne, fazer sua própria terapia decontrole com a ex-professora, mentora e antagonista, Gina, magistralmente interpretada pela Diane West (a HBO não perdeu a chance de escalar, prum show sobre psicanálise, uma atriz conhecida por trabalhar com o Woody Allen. Espertinhos esses caras.)
A vida pessoal de Paul está de cabeça pra baixo também. Divorciado, longe e às turras com os filhos e a ex-esposa, sendo processado pelo pai dum paciente que se suicidara e lidando com seus próprios demônios com relação a seu pai; além de tudo isso, ainda tem que ouvir pacientes que o atacam o tempo quase todo e trazem, com seus problemas, dolorosas lembranças e associações dos seus próprios fantasmas e dilemas pessoais.
Novamente, muito diálogo e poucaa ação pra minha felicidade. Novamente, ótimas atuações de modo geral. Dessa vez, não tive personagem favorita. Comecei amando a April, mas depois caiu na normalidade. Comecei detestando a Mia, a 40tona das segundas-feiras, mas no último episódio dela, parei de detestar. As persoagens em In Treatment são complexas e acabamos percebendo que são seres humanos com traços bons e também ruíns. Como não se comover e compreender a personalidade de Walter quando ele desaba numa crise soluçante de choro ali, bem na nossa frente?
E o problema que temia acontecesse, não aconteceu, ou seja, a diminuição no número de semanas não resultou em cura ainda mais rápida dos pacientes. Nesse ponto, a segunda temporada foi melhor do que a primeira: ao invés de curas milagrosas, desistência da terapia, mudança de cidade ou simplesmente a constatação de que o paciente começara a trilhar caminho adequado pra sua melhora como ser humano. A parte interessante pra ser mostrada num show pra TV já passara. Hora de seguir em frente com outras personagens. A versão israelense teve apenas 2 temporadas e a HBO meio que seguiu o original. Obviamente, In Treatment não é o tipo de programa pra virar fenômeno de audiência, e ainda não li se a emissora autorizou uma terceira temporada. Tomara que sim. Aliás, li que há fãs preocupados com o destino do show caso haja outra temporada, justamente por não mais haver o exemplo israelense a seguir. Isso não me preocupa porque a TV norte-americana tem ótimos roteiristas e a HBO já deu ao mundo obras-primas televisivas como The Sopranos.
Ah, outra coisa que me desagradou um bocadinhofoi o excesso de explicações que o Paul dava. Não me lembro se na primeira temporada também era assim, mas nessa segunda isso me irritou um pouquinho. Eu já sacara qual era o lance e lá ia o Paul, explicar, explicar. Mas, é claro que entendi porque teve que ser assim. É um show deTV, não um filme do Bergman.
Não sei se as explicações dadas no show são apenas psicanálise de botequim. Inclusive, vi um par de vídeos no U2B onde um suposto terapeuta comenta os procedimentos do Paul e aponta erros e acertos. Pouco me importa, porém. Vejo In Treatment como um show e não como sucedâneo pra sessões de terapia. Se quisesse terapia, procuraria um terapeuta; Paul Weston é apenas uma interessante personagem deTV.
E, não resisto à tentação...IN TREATMENT RULZZZZZZZZZZZZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

DIVULGANDO

Agora que o Projeto de Lei 683 tramita na assembleia legislativa paulista, estou divulgando-o feito doido. Estou enviando emails a todos os jornais paulistas que encontro pela frente, sejam eles grandes ou pequenos. Rádios, emissoras de Tv, enfim, tudo que acho pela frente é alvo pra meus emails.
Também tenho enviado emails a todos meus contatos e amigos blogueiros. A resposta tem sido avassaladora. Pessoas estão repassando os emails pra frente, divulgando em seus twitters e orkuts e postando em seus blogs.
Tenho alguns agradecimentos a fazer.
Ao Célio, do Roteiro Guarantã
http://www.roteironoticias.com.br/
À Madá, do Procusto Nunca Mais
http://procustonuncamais.blogspot.com/
Ao André Augusto Lisboa, do Notícias em Destaque
http://papamayckeandre.blogspot.com/2009/08/alesp-cria-projeto-de-lei-preve.html
À Josiane Gomes, do Serviço Social - A Chave para a Transformação!
http://ssfic.blogspot.com/
À Maria Célia e à Carmen, do Anjos e Guerreiros
http://anjoseguerreiros.blogspot.com/2009/08/projeto-de-lei-beneficia-albinos.html
Ao André R, do, Há 45 Anos...
http://andreromitelli.blogspot.com/
Sei que é perigoso jogar o jogo dos agradecimentos nomianais porque corre-se o risco de deixar nomes de fora. Se o fizer, de antemão, peço desculpas. Realmente, não tenho tido tempo de procurar muito na net. Caso alguém saiba de sites que estão nos dando apoio, sintam-se á vontade pra me enviar o link que farei os agradecimentos devidos.
Transcrevo abaixo, o email que tenho enviado, pedindo ajuda na divulgação. Os leitores que quiserem copiá-lo e enviarem a seus contatos, podem fazê-loa e deixo-lhes, desde já, meus sinceros agradecimentos.

AJUDEM-ME NA DIVULGAÇÃO, POR FAVOR!!!
PROJETO DE LEI Nº 683, DE 2009
O Diário Oficial do estado de São Paulo publicou, no último dia 22, o Projeto de Lei número 683, de autoria do deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL), que prevê a obrigatoriedade da distribuição gratuita de protetor solar para as pessoas com albinismo residentes no estado, e também ajuda na aquisição de óculos para aqueles que não têm condições de adquiri-los.

Agora temos que divulgar a idéia da forma mais abrangente que pudermos e por isso peço a ajuda de vocês. É importante que façamos pressão a fim de que o projeto seja aprovado o mais rapidamente possível. Assim, peço-lhes que reenviem esta mensagem a seus contatos de email, publiquem em blogs e orkut ou twitter. Não apenas para contatos paulistas, mas também em outros estados e também países de língua portuguesa. Temos que exportar essa idéia porque há muitas pessoas com albinismo sem condições de comprar protetor solar e isso é vital para nossa saúde!
O projeto resulta, em parte, de meus esforços no sentido de conferir visibilidade e despertar a atenção da mídia e do poder público para a adoção de políticas públicas de saúde para essa parcela da população.

Em fevereiro deste ano, criei o Blog do Albino Incoerente e, desde então, venho lutando pela melhora nas condições de vida das pessoas com albinismo. O projeto, caso aprovado e esperemos que o seja, será importante passo nessa luta. O endereço do blog é
http://albinoincoerente.blogspot.com/
A seguir, o texto do Projeto de Lei 683: PROJETO DE LEI Nº 683, DE 2009Determina a obrigatoriedade de distribuição gratuita deprotetor solar pela rede estadual de saúde para as pessoasportadoras de albinismo residentes no estado de SãoPaulo e dá outras providências.A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULODECRETA:Artigo 1º - Fica a Secretaria Estadual de Saúde obrigada,através de seus postos de saúde, a distribuir mensalmenteprotetor e bloqueador solar, compatíveis com a necessidadeespecificada por profissional da área médica, para as pessoasportadoras de albinismo residentes no estado de São Paulo.Artigo 2º- Os postos de saúde estaduais deverão dar atendimentooftalmológico aos portadores de albinismo (hipopigmentaçãocongênita).Artigo 3º - O gozo desses direitos serão garantidos medianteo cadastramento feito nos postos de saúde.Artigo 4º - As verbas para sustentação dessa lei correrãopor conta de dotações próprias, suplementadas se necessário.Artigo 5º - Essa lei entra em vigor na data da sua publicação.JUSTIFICATIVAAlbinismo é uma hipopigmentação congênita: ausênciaparcial ou total do pigmento na pele, nos cabelos e nos olhos.Existem vários tipos de albinismo, entretanto a forma maisperigosa é a que determina a total ausência de pigmentaçãopor todo o corpo, denominado albinismo óculo-cutâneo. Estapatologia, que decorre de um bloqueio incurável da síntese demelanina, ao afetar os olhos, sob a forma de nistagmo, reduçãoda acuidade visual, estrabismo, fotofobia, perda da percepçãode profundidade, causa deficiência visual de moderada a séria.Ao afetar a pele, provoca grande susceptibilidade ao câncerde pele.O cotidiano do albino, portanto, é marcado pela intolerânciaà luz solar, ameaçado constantemente, pelos riscos dacegueira e do câncer de pele. Por ser considerada uma pessoaportadora de necessidades especiais, o albino precisa de apoiopara que seja assegurado o exercício dos seus direitos básicos.Nesse sentido, o Estado de São Paulo precisa estabelecerpolíticas públicas de atenção aos portadores de albinismo,contemplando as diversas fases da vida, desde o nascimentoaté a fase adulta, com ênfase para o atendimento nas áreasde dermatologia e oftalmologia. “É preciso dar visibilidadeà luta das pessoas com albinismo, mobilizar estas pessoas e,principalmente, sensibilizar o poder público para os problemasenfrentados pelos albinos”, é preciso se investir no levantamentoe cadastramento dessas pessoas portadoras de necessidadesespeciais e a distribuição de protetores solar é um começodesse processo de resgate à essas pessoas à cidadania.Esse projeto de lei, que ora apresentamos aos nobrescolegas para conhecimento e apoio, segue determinação daConstituição Estadual de São Paulo que diz no seu artigo 219:“A saúde é direito de todos e dever do Estado” e nos incisosseguintes: I: “a assistência integral à saúde, respeitadas asnecessidades específicas de todos os segmentos da população;II - a identificação e o controle dos fatores determinantese condicionantes da saúde individual e coletiva, mediante,especialmente, ações referentes à saúde dos portadores dedeficiências”.Sala das Sessões, em 19/8/2009a) Carlos Giannazi - PSOLO Projeto também pode ser acessado através do link
ftp://ftp.saude.sp.gov.br/ftpsessp/bibliote/informe_eletronico/2009/iels.ago.09/iels156/E_PL-683_2009.pdf

Atenciosamente,
Roberto Rillo Bíscaro

Para os órgãos de mídia, tenho enviado praticamnte a mesma mensagem, sem o segundo parágrafo, contudo. Caso alguém se disponha a enviar pra jornais, revistas e afins, também agradeço

LENTE

Cegueira e problemas de visão podem ser evitados
Diário do Pará 27/08/2009
Uma das preocupações de muitos oftalmologistas é a prescrição indevida de lentes de contato

No Brasil, estima-se que haja 1,2 milhão de pessoas cegas e cerca de 4 milhões de deficientes visuais. Segundo a Organização Mundial de Saúde, existem 153 milhões de indivíduos cegos no mundo, a maioria acometidos por erros refracionais não corrigidos: miopia, hipermetropia e astigmatismo. Ainda de acordo com a OMS, o acesso aos atuais recursos da medicina e melhores condições de vida podem evitar que mais pessoas sejam acometidas de doenças oftalmológicas.
Segundo o presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, Hamilton Moreira, a defesa da saúde ocular do brasileiro é uma das preocupações que vêm pautando os congressos e seminários da categoria. Há entre os profissionais da área, por exemplo, uma grande preocupação quanto à prescrição indevida ao uso de lentes de contato.
"Uma lente de contato mal adaptada ou com uso inadequado, sem o acompanhamento médico, poderá causar complicações oculares, com sérias repercussões para a visão do paciente, inclusive a cegueira", alertou o médico. Segundo ele, a maior vitória neste sentido foi ter o projeto que regulamenta a profissão do Optometrista, definindo-a como de nível superior, rejeitado pela Comissão de Seguridade Social da Câmara dos Deputados esta semana.
A proposta tramitava na Câmara desde 2007 e até os últimos momentos de sua votação não encontrou consenso entre os integrantes da comissão. Entre as funções propostas para o optometrista no projeto estava a capacidade de adaptar e adequar as lentes às necessidades do paciente.
De acordo com a presidente da Comissão, deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA), que colocou o projeto com parecer pela rejeição em votação, a sociedade oftalmológica brasileira rejeita a proposta alegando faltar ao optometrista o conhecimento indispensável para orientar o paciente com segurança, sem comprometer ou agravar seus problemas visuais.

(Encontrado em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=26543)

(Abaixo, a apresentação dos Paralamas do Sucesso, no primeiro Rock in Rio, cantando Óculos.)

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

OUTRA DO MIGUEL

Ontem, o Miguel Naufel, de Mococa (SP), decidiu compartilhar conosco outra de suas experiências de vida. Abaixo, a divertida historieta:

Sou o mais velho de quatro filhos, o único albino. Meu pai tinha uma loja no ramo de confecções: roupas feitas, no centro da cidade de Mococa. Nos finais de ano, as vendas aumentavam e o estabelecimento ficava superlotado. Eu era obrigado a ficar de vigia, em um mezanino que se localizava acima do caixa onde se faziam os pagamentos; obviamente este caixa era o posto do meu pai dono do estabelecimento. Imaginem um albino de vigia. Nós, os albinos, temos baixa visão, não identificamos detalhes. Um albino não pode ser vigia, guarda, atirador de elite, nada que exija muito da vista. Eu me sentia como um palhaço, era uma tortura. Acima do mezanino havia uma estante cheia de caixas de camisas; era o depósito das camisas. Eu não podia realmente visualizar todo o estabelecimento ou o movimento das pessoas. Mas, meu ouvido estava sempre atento, afinal, Deus é justo e me compensou com o ouvido. Em um destes finais de ano, lá estava eu na posição de vigia, no mezanino, quando ouvi meu pai conversando com um amigo: falavam em voz baixa e meu pai dizia.
- Se algum dia eu traí minha esposa; quero que o teto caía sobre minha cabeça.
Eu não tive a menor duvida, empurrei a estante de camisas que ficava atrás de mim, acima do mezanino. A estante caiu com todas as caixas de camisas em cima de meu pai e seu amigo... Fiquei alguns dias escondido de meu pai.
É a vingança do albino.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

ESTADO DE MINAS

Elizabet Dias de Sá, gerente de coordenação do CAP-BH, enviou-me email contando que uma nota sobre o blog foi publicada no jornal O Estado de Minas
Estado de Minas
Domingo 23 de agosto de 2009
Bem Viver
Dicas
• Albinismo
Professor de inglês e literatura e doutor em dramaturgia norte-americana, Roberto Rillo Bíscaro é albino e lançou o blog Albino incoerente, cuja propostaé dar maior visibilidade às pessoas com albinismo. O blog reúne informações a respeito do tema e o criador está desenvolvendo uma campanha de incentivopara que albinos contem suas histórias no www.albinoincoerente.blogspot.com. Ele também criou o canal do Albino incoerente no You Tube, um espaço de discussão.
Obrigado à Elizabet pelo envio da nota e à equipe do jornal mineiro pela publicação.
(Abaixo, vídeo com imagens do estado de Minas Gerais, ao som da canção Minas, de Milton Nascimento)

LINK

Outro dia, postei instruções pra acesso a um texto sobre albinismo entre indígenas brasileiros. Por algum motivo, nao aparecia o endereço do pdf quando eu o abria em meu pc.
Alguém gentilmente deixou o link como comentário daquele post.
Obrigado
http://www.cenargen.embrapa.br/publica/trabalhos/cot125.pdf

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

PROJETO DE LEI Nº 683, DE 2009

É com imensa satisfação que comunico aos leitores a tramitação do Projeto de Lei número 683, de autoria do deputado estadual Carlos Giannazi, do PSOL, do estado de São Paulo, que prevê a obrigatoriedade da distribuição gratuita de protetor solar para as pessoas com albinismo residentes no estado de São Paulo.

Eis o texto do Projeto de Lei 683, publicado no Diário Oficial do estado, no último dia 22:

PROJETO DE LEI Nº 683, DE 2009
Determina a obrigatoriedade de distribuição gratuita de
protetor solar pela rede estadual de saúde para as pessoas
portadoras de albinismo residentes no estado de São
Paulo e dá outras providências.
A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO
DECRETA:
Artigo 1º - Fica a Secretaria Estadual de Saúde obrigada,
através de seus postos de saúde, a distribuir mensalmente
protetor e bloqueador solar, compatíveis com a necessidade
especificada por profissional da área médica, para as pessoas
portadoras de albinismo residentes no estado de São Paulo.
Artigo 2º- Os postos de saúde estaduais deverão dar atendimento
oftalmológico aos portadores de albinismo (hipopigmentação
congênita).
Artigo 3º - O gozo desses direitos serão garantidos mediante
o cadastramento feito nos postos de saúde.
Artigo 4º - As verbas para sustentação dessa lei correrão
por conta de dotações próprias, suplementadas se necessário.
Artigo 5º - Essa lei entra em vigor na data da sua publicação.
JUSTIFICATIVA
Albinismo é uma hipopigmentação congênita: ausência
parcial ou total do pigmento na pele, nos cabelos e nos olhos.
Existem vários tipos de albinismo, entretanto a forma mais
perigosa é a que determina a total ausência de pigmentação
por todo o corpo, denominado albinismo óculo-cutâneo. Esta
patologia, que decorre de um bloqueio incurável da síntese de
melanina, ao afetar os olhos, sob a forma de nistagmo, redução
da acuidade visual, estrabismo, fotofobia, perda da percepção
de profundidade, causa deficiência visual de moderada a séria.
Ao afetar a pele, provoca grande susceptibilidade ao câncer
de pele.O cotidiano do albino, portanto, é marcado pela intolerância
à luz solar, ameaçado constantemente, pelos riscos da
cegueira e do câncer de pele. Por ser considerada uma pessoa
portadora de necessidades especiais, o albino precisa de apoio
para que seja assegurado o exercício dos seus direitos básicos.
Nesse sentido, o Estado de São Paulo precisa estabelecer
políticas públicas de atenção aos portadores de albinismo,
contemplando as diversas fases da vida, desde o nascimento
até a fase adulta, com ênfase para o atendimento nas áreas
de dermatologia e oftalmologia. “É preciso dar visibilidade
à luta das pessoas com albinismo, mobilizar estas pessoas e,
principalmente, sensibilizar o poder público para os problemas
enfrentados pelos albinos”, é preciso se investir no levantamento
e cadastramento dessas pessoas portadoras de necessidades
especiais e a distribuição de protetores solar é um começo
desse processo de resgate à essas pessoas à cidadania.
Esse projeto de lei, que ora apresentamos aos nobres
colegas para conhecimento e apoio, segue determinação da
Constituição Estadual de São Paulo que diz no seu artigo 219:
“A saúde é direito de todos e dever do Estado” e nos incisos
seguintes: I: “a assistência integral à saúde, respeitadas as
necessidades específicas de todos os segmentos da população;
II - a identificação e o controle dos fatores determinantes
e condicionantes da saúde individual e coletiva, mediante,
especialmente, ações referentes à saúde dos portadores de
deficiências”.
Sala das Sessões, em 19/8/2009
a) Carlos Giannazi - PSOL


O Projeto também pode ser acessado através do link
ftp://ftp.saude.sp.gov.br/ftpsessp/bibliote/informe_eletronico/2009/iels.ago.09/iels156/E_PL-683_2009.pdf

Há algumas semanas, tenho estado em contato com um dos assessores do deputado Giannazi, o Luís Ferreirinha. Depois de muitos emails trocados e uma longa conversa telefônica, chegamos a este projeto que é passo importante para a inclusão das pessoas com albinismo nas políticas de saúde pública. Ao deputado e ao Luiz, meus mais sinceros agradecimentos pelo interesse, atenção e esforço na luta por um mundo mais justo e melhor.

Constato com extrema satisfação que meus esforços e os de nossos aliados na imprensa e na rede de forma geral, estejam começando a surtir os efeitos planejados.

Agradeço de coração às pessoas que seguem o blog e enviam comentários tão gentis, aos albinos que têm compartilhdo suas experiências, aos diversos órgãos da mídia que tem nos dado atenção e espaço, aos pioneiros da APALBA pela inspiração, ao professor José Carlos Sebe Bom Meihy pelo incessante suporte técnico, logístico e emocional e a tantos amigos pessoais como o Carlito,o Jayme e alunos e ex-alunos como o Thiago e o Alexandre, sempre lendo o blog, enviando mensagens de apoio e ajudando na disseminação do blog e do canal no You Tube.

Agora é torcer pela aprovação do Projeto de Lei e esperar que outros estados sigam o exemplo e também elaborem projetos no mesmo sentido. Às pessoas com albinismo dos demais estados, fica o pedido e a sugestão de usarem todos os canais possíveis para a divulgação deste projeto, afinal, é de nosso maior interesse, especialmente para aqueles que enfrentam condições econômicas adversas. Mas, não só eles!

domingo, 23 de agosto de 2009

CRIANÇAS ESPACIAIS


Roberto Rillo Bíscaro

Em 1957, a União Soviética parecia perigosamente á frente dos EUA na corrida espacial, com o lançamento do Sputinik. Não faltaram vozes no governo norte-americano pedindo o lançamento de armas nucleares em órbita da terra, a fim de proteger o país e seus aliados contra algum ataque dos países da Cortina de Ferro, até porque, após a Revolução Cubana, o perigo comunista estava literalmente no quintal do Tio Sam. Pra quem acha loucura dos anos 50 a idéia de levar a corrida armamentista ao espaço sempre é bom lembrar que nos anos 80, a administração de Ronald Reagan teve uma brilhante idéia semelhante, chamada Projeto Guerra nas Estrelas.
Do mesmo modo que o filme de George Lucas influenciou o nome do megalomaníaco projeto do reacionário Reagan, a idéia de colocar armas atômicas em órbita nos “anos dourados” influenciou um filme de 1958, chamado The Space Children. Um grupo de crianças, cujos pais trabalham prum projeto governamental de lançar uma bomba de hidrogênio em órbita da terra a fim de protege-la, começa a ser guiada telepaticamente por uma coisa em forma de cérebro, que vem a nosso planeta e se instala numa caverna próxima á base de lançamento do foguete que transportaria a bomba.
Aproveitando a idéia rouseeauniana do bom selvagem, as crianças, tidas e havidas como inocentes devido a seu ainda pouco contato com as mazelas do mundo civilizado, são a escolha ideal pros aliens fazerem seu trabalho. E também por causa da noção bíblica de que serão elas as herdeiras do mundo. O filme, não surpreendentemente, termina com uma citação de São Mateus.
Ao final, descobrimos que o trabalho de influência telepáticas dos alienígenas havia se dado no planeta todo, com as demais crianças, fossem elas norte-americanas, inglesas ou checas. Ao final da década, com a possibilidade cada vez mais concreta de aniquilamento nuclear, a mensagem do filme é pacifista e o trabalho das crianças é precisamente pra colaborar pra que os projetos bélicos dos adultos não vinguem.
O orçamento quase zero do filme é compensado por um roteiro bem escrito e uma película inteligentemente dirigida por Jack Arnold, que sempre soube tirar leite de pedra, quando se tratava de trabalhar com orçamentos beirando a 1,99. Basta checar o influente Tarântula, de 1955, por exemplo. Aliás, o filme da aranha gigante conta com um jovem Clint Eastwood fazendo uma ponta que sequer consta dos créditos.
O filme não teve o poder de frear a corrida armamentista e o perigo de destruição nuclear perdurou por décadas (perdura até hoje, afinal, pelo que eu saiba as armas nucleares colecionadas pelas tais superpotências, não foram destruídas, foram?), entretanto, é boa diversão pruma tarde fria e chuvosa como a de hoje.

sábado, 22 de agosto de 2009

ALBINISMO ENTRE INDÍGENAS BRASILEIROS

Descobri um comunicado técnico intitulado Albinismo em Comunidades Indígenas: o Fator Cultural Afetando a Prevalência da Doença. O texto foi escrito por pesquisadores da EMBRAPA e da FUNASA e explica como as práticas culturais indígenas determinam a baixa incidência do albinismo entre essas populações.

Não consegui copiar o texto do arquivo em pdf e reproduzi-lo aqui. Tampouco aparece algum link de acesso quando abro o pdf. Assim, os leitores interessados em saber porque a incidência de pessoas com albinismo é baixa entre populações indígenas brasileiras terão 2 alternativas:

1 - Digitar o nome do texto no Google e acessá-lo por lá.

2 - Escrever pro email do blog (pode ser encontrado no meu perfil) e terei prazer em enviar a cópia em pdf que salvei no meu pc.

(Abaixo, vídeo com a canção Um Índio, de Caetano Veloso)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

ALBINO INCOERENTE NA TV CÂMARA DE PENÁPOLIS

Quarta-feira da semana passada, fui convidado a dar uma entrevista pra TV Câmara, emissora à cabo local aqui de Penápolis.

Num papo de mais de meia hora com o jornalista Ricardo Alves, falei sobre albinismo, o blog, nossas reivindicações e também sobre inglês, afinal, como se trata duma emissora local, é como professor de inglês e literatura que a maior parte das pessoas me conhece.

A equipe da TV Câmara me presenteou com uma cópia da entrevista em dvd e me autorizou a colocá-la no You Tube na íntegra. Meu sobrinho Lucas já se dispôs a picotar o vídeo pra que eu possa inseri-lo. Assim, que conseguir fazê-lo, divulgarei no blog e colocarei os links pros leitores poderem conferir o papo completo.

Agradeço ao Ricardo e à equipe da TV Câmara pela oportunidade.

Abaixo, resumo da entrevista, colocado no You Tube pela equipe da TV Câmara.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

OUTRA FORNADA DE CINE 50'S


(Acima, trailer do filme The Colossus of New York)
Andei vendo mais alguns filmes de ficção científica e terror dos anos 50.

Roberto Rillo Bíscaro

O primeiro foi The Magnetic Monster (1953). Um cientista cria um novo elemento chamado serranium, bastante instável, radioativo e que duplica de tamanho a cada 11 horas sugando energia e ameaçando a população terráquea com a radiação e a própria órbita do planeta porque pode crescer tanto a ponto de ameaçar tirar o planeta de lugar. O monstro do título não se materializa jamais, mas é tratado como qualquer monstro de filme de monstro, ou seja, tem que ser “morto” antes que seja tarde demais. O filme é recheado de blá-blá-blá científico e raramente vi película que mostrasse tanto aparelho de ponta, de época, quanto esse! Pra quem curte tecnologia vintage, The Magnetic Monster causará frêmitos: são super-computadores, contadores geiger e um monte de outros aparelho eletrônicos da primeira metade dos anos 50. Fredric Jameson escreveu que a fascinação pelos cientistas e pelo trabalho cientifico na década de 50 pode ser entendida como forma de compensação pela rotina chata e sem graça de nossos empregos de 8 às 5. Cientistas trabalhavam em locais estimulantes, cheios de luzinhas e bips, não precisavam se submeter à tediosa rotina e, ainda por cima, salvavam o planeta. Acredito também que importava muito vender e consumir a imagem de que os EUA eram tecnologicamente mais avançados do que a inimiga URSS. The Magnetic Monster cumpre ambas tarefas muito eficientemente e ainda diverte com uma história narrada em off, remetendo aos filmes noir.

Depois foi a vez de Red Planet Mars (1952), que é pura propaganda anti-comunista e não usa sutileza ou metáfora alguma pra esconder o que é. Pelo contrário, o fervor nacionalista-religioso do filme equilibra-se entre o aterrador e o risível. Um casal de cientistas estabelece contato com o planeta vermelho e no começo as mensagens causam caos no mundo ocidental, ou mundo civilizado, como dizem no filme. Mas, eis que de repente, os marcianos começam a enviar mensagens religiosas conclamando a paz mundial. Imediatamente, estabelece-se a crença de que Deus está falando por intermédio dos marcianos e o mundo inteiro magicamente passa a seguir seus ensinamentos. Inclusive, os países detrás da Cortina de Ferro, os quais, depois de muitas mortes e rebeliões, finalmente banem o comunismo e passam a viver sob a chefia dum membro da igreja ortodoxa russa!!! E tem mais, acreditem, muito mais. Visto após a queda do comunismo soviético – quando sabemos que a palavra de Deus nada teve a ver com o fim dos regimes comunistas – a película não deixa de ser altamente irônica. Cada vez entendo melhor alguns amigos norte-americanos mais velhos que sempre me relatam o pavor que sentiam nos anos 50. Red Planet Mars é puro panfletarismo e está longe de ser produto isolado na época. No entanto, é provavelmente o filme mais completo que já vi pra ilustrar o chamado Red Scare do pós-guerra. Os atores estão todos, sem exceção, 10 tons acima duma interpretação “normal”. A personagem feminina parece estar possuída por algum anjo reparador, tamanha a melodramaticidade e fanatismo de sua atuação. Red Planet Mars requer estômago forte, mas, dentro do que se propõe é eficaz até o último fio de cabelo. De arrepiar!

Noutro dia, vi The Colossus of New York (1958), enésima recriação da história de Frankenstein, com bastante carga melodramática. A música incidental é puro acompanhamento musical de peças teatrais de melodrama, cujo nome, alías, vem de melodia acoplada a drama. Um cientista disposto a erradicar a fome no mundo morre e seu pai transplanta seu cérebro pro corpo de um robô, criado pelo irmão do brilhante cientista morto. Devido à aparência horrível e à solidão proveniente do medo qu causa nos outros, o robô vai desenvolvendo idéias homicidas e as coloca em prática com seus brilhantes olhos, que disparam raios capazes de fritar as pessoas. A moral da história é que não compensa viver uma vida puramente cerebral, desprovida de emoções. O final “apoteótico” se dá num dos saguões do prédio da ONU, onde somos brindados com um festival de efeitos especiais de baixo orçamento e final pra lá de melodramático. Indispensável pra admiradores de trash movies.

Também de 1958 é Terror From the Year 5000, Um cientista desenvolve uma máquina capaz de enviar coisas pro futuro e trazer coisas de lá para o passado que no caso é o presente do filme). O assistente idiota – também financiador do projeto – e afoito acaba por trazer uma mulher deformada do futuro. A explicação pra deformação [e adivinhem qual??? Quem respondeu radiação atômica acertou!! No ano 5000 uma em cada 5 crianças nasce mutante devido à forte radiação no ar. A mulher fora enviada do futuro a fim de levar para lá um homem com genes saudáveis pra acabar com o problema e salvar a espécie humana. Você que até agora acreditava na genialidade de Back to the Future e Terminator deve estar desapontado... Desafio algum espectador a não gargalhar quando da primeira aparição da mulher radioativa. Os grunhidos e gritos são muito engraçados. Efeitos especiais impagáveis e um momento fantástico onde a mutante troca de rosto com uma enfermeira fazem dessa película outro must pra trashers. Como pude viver tantas décadas sem conhecer isso?
(Abaixo, trailer de Terror From the Year 5000)

COMUNICADO À IMPRENSA

Semana passada, quando publiquei o email da ONG canadense Under the Same Sun, que tem atuado pra tentar coibir os assassinatos de albinos na Tanzânia, prometi também trazer a público o comunicado à imprnesa, anexo ao email.

Como estava atolado até o último fio de cabelo branco com coisas pra fazer, pedi socorro à Andreza Cavalli, jovem albina uspiana muito atuante nos grupos de discussão do Orkut. Ela passou o texto pra tradutora Carla Dutra, que gentilmente cedeu seu tempo pra nos ajudar. Obrigado.

PARA DIVULGAÇÃO IMEDIATA
Com o aumento da matança de Albinos, a corte da Tanzânia abandona acusações
Vancouver BC, Canadá – 6 de agosto de 2009:

Como a matança de albinos continua, as promessas do Presidente da Tanzania Jakaya Kikweteand e do primeiro-Ministro Mizengo Pinda de que os assassinos seriam trazidos a justiça rapidamente não estão mais sendo cumpridas. Agora as Cortes da Kahama e Shinyanga, que estão fazendo os julgamentos para 4 dos assassinos suspeitos de vítimas com albinismo disseram que eles estão sem fundos. ESTES JULGAMENTOS AGORA FORAM SUSPENSOS ATÉ NOVA ORDEM. Para os 170.000 albinos da Tanzânia, há um sentimento crescente de temor e abandono. Com seu governo incapaz ou relutante para protegê-los dos assassinos dos seguidores dos bruxos, não há nenhum lugar para se esconder e pouca razão para esperança.
Quando Peter Ash, Fundador da ONG Canadense “UNDER THE SAME SUN (SOB O MESMO SOL)” voltou da sua segunda missão de pesquisa a Tanzânia em abril passado, ele estava cautelosamente otimista. Durante a visita, Ash e a sua delegação encontraram-se com líderes na comunidade de albinismo bem como líderes religiosos e funcionários do governo, incluindo o Primeiro Ministro e o Vice-Presidente, Dr. Ali Mohamed Shein. Infelizmente, quatro meses mais tarde como o genocídio continua aumentando, Ash questiona seriamente se há qualquer política dentro deste governo africano Oriental para fornecer proteção significativa para seus cidadãos com albinismo.
A vítima mais recente tinha 4 anos de idade Muanda Sita da Vila Madilana no Bairro Bariadi, região da Shinyanga. Os assassinos, usando violentamente facas para cortar cana, surpreenderam o menino e cortaram as suas pernas uma por uma, enquanto ele gritava em agonia. matança traz o número de assassinatos de Tanzanianos com albinismo durante o mês passado para 4. Além disso, outros países Africanos agora informam ocorrências semelhantes, incluindo o vizinho Burundi onde ao menos 12 pessoas com albinismo foram mortas no ano passado. Entratanto, a República de Burundi não parece estar aflita com o mesmo tipo de apatia judicial. Enquanto os julgamentos na Tanzânia pararam completamente, 9 pessoas em Burundi foram recentemente condenadas pelos assassinatos. Todos os 9 assassinos cumprem pena na cadeia, com um deles cumprindo uma pena de prisão perpétua.
De acordo com Ash, a crise na Tanzânia só intensificou. “Se tem albinismo na Tanzânia", diz, "você vive num estado constante de temor. Desde 2007relatórios de polícia confirmam que pelo menos 53 crianças inocentes e adultos foram mortos como animais para que as partes de seus corpos possam ser negociadas e vendidas como meras mercadorias por bruxos a seus clientes. A escuridão da Feitiçaria está violenta com contas documentadas de recém-nascidos, alguns tão jovens com 6 meses de idade, sendo mortos vivos na frente das suas famílias, desmembrando um membro frágil por vez”.
“Em outro caso mais cedo este ano, ele adiciona, "o corpo de um bebê de dois dias de vida com albinismo em Shinyanga foi exumado de uma sepultura cavada um dia após o seu nascimento. Este recém-nascido foi achado sem braços ou pernas. Há três contas repetidas de cortes na garganta, sangue drenado e, algumas vezes, bebida na mancha pelos assassinos. As vítimas não têm em quem confiar e nenhum lugar para ir, pois a evidência mostra que em muitos casos, parentes ou amigos próximos das vítimas estão diretamente envolvidos nos assassinatos. Tragicamente, funcionários de execução de lei também estavam envolvidos. Este mal que se espalha alcançou proporções epidêmicas”.
Mais
Enquanto visitava a Tanzânia no dia 28 de fevereiro de 2009, o Secretário Geral da ONU Ban Ki-moon condenou os assassinatos, observando “Recebi queixas sobre esta infração bruta dos direitos humanos. É um assunto muito sério…”. No pequeno número de julgamentos que ocorreram até há pouco tempo, testemunhas disseram que os promotores frequentemente conduziram mal as investigações. As 170.000 pessoas da Tanzânia com albinismo sentem-se agora totalmente abandonadas por seu sistema de justiça sem míngüem para os salvar deste genocídio.
Os comunicados tranquilizadores da imprensa dos políticos nada fizeram para salvar a bela Eunice Bahati de 14 anos do bairro de Sengerema (Região da Mwanza) em 17 de fevereiro deste ano quando os assassinos cortaram cada um de seus membros enquanto sua família observava tudo. Tragicamente, Eunice é somente um exemplo de muitas pessoas inocentes que foram assassinadas em conseqüência deste crime contra a humanidade espalhando através da Tanzânia.
Aumentando a Pressão Internacional
Meios de comunicação mundiais fizeram observações muito sérias a respeito da continuidade desta farra de assassinatos. O estado desesperado da comunidade de albinos da Tanzânia e o trabalho da ONG Under The Same Sun (Sob o mesmo sol) foi caracterizado em cobertura internacional de meios de comunicação, tais como The New York Times, BBC, The National Post, The Guardian, Voice of America, NBC News e outras incontáveis rádios, TVs e jornais. E com o sistema judicial da Tanzânia em declaração recente de que eles não podem continuar as acusações dos assassinos suspeitos devido a falta de dinheiro , Ash acredita que a comunidade internacional deve pressionar o Governo da Tanzânia para reconsiderar esta decisão. “As cortes devem agir rapidamente para processar os perpetradores destes crimes odiosos” diz Ash, “e então o governo deve cometer recursos suficientes para proteger a comunidade vulnerável dos albinos da Tanzânia.”
“Devemos todos erguer nossas vozes e nos unir aos nossos companheiros seres humanos com albinismo na Tanzânia!” implora Ash. “Devemos gritar com um grito alto e impetuoso por justiça e um apelo para segurança. Tudo o que é necessitado para prevalecer o mal é os homens bons não fazerem nada. Não seja apontado entre aqueles que falharam ao mudar para salvar vidas”.
Uma petição internacional pode ser assinada e mais informações obtidas visitando o site: www.underthesamesun.com.
Para solicitações de entrevista, envie um e-mail para media@underthesamesun.com ou ligue +1-604-5876502.

Tradução de Carla Dutra carla.tradutora@terra.com.br

terça-feira, 18 de agosto de 2009

NAVEGAR NA NET FICOU MAIS PRECISO

Brasil ganha primeira rede social acessível do mundo
Conversa de Menina18/08/2009
Instituto Superar e ALE lançam a primeira rede social totalmente acessível do mundo
Andreia Santana


Na última quinta-feira, dia 13, o Acesse (
www.acesse.org.br), primeiro site de relacionamento do mundo criado para ser totalmente acessível, entrou no ar. Assim como as outras redes sociais já existentes, o Acesse tem como objetivo ajudar seus membros a criar novas amizades e estreitar relacionamentos, promovendo a socialização e a troca de experiência entre os participantes.
O diferencial e pioneirismo do Acesse estão mesmo na acessibilidade, tornando suas ferramentas e páginas disponíveis a um maior número de usuários e beneficiando não só os deficientes como também as pessoas idosas, usuários de tecnologia assistiva (ponteira de cabeça, teclado expandido, impressora em braile, etc) e de acesso móvel, através de navegadores alternativos (DOSVOX, Safari, Firefox).
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a web hoje ultrapassa a TV e jornais como a mídia mais consumida no mundo. Já as redes sociais contam com 300 milhões de usuários em todo planeta e 90% dos usuários de internet no Brasil estão conectados a um site de relacionamento, segundo o Google Brasil. Com base nessas informações, o Acesse foi desenvolvido para permitir a inclusão de pessoas com necessidades especiais a essas redes sociais, que hoje ditam tendências, comportamentos e são usadas como ferramenta de marketing.
Atletas Paraolímpicos

A criação do Acesse favorece deficientes que atuam em diversos setores da sociedade, mas para uma categoria em especial, a dos atletas paraolímpicos, a rede se configura em chances de comunicação com outros atletas mundo afora.
"Vai ser muito bom ter um site como o Acesse. Agora será muito mais fácil manter contato com os meus amigos e com o pessoal do mundo esportivo. Estávamos impedidos de usufruir desses sites, dependíamos dos outros e me sentia excluído", afirma o atleta cego Lucas Prado, corredor da equipe ALE de Atletismo, também patrocinado pela Unimed, Loterias Caixa e Amaggi.
As pessoas com deficiência visual, como Lucas, navegarão facilmente pelo Acesse por meio de programas de transcrição de conteúdo desenvolvidos para a web. São softwares como o Jaws e o DOSVOX e que são capazes de ler o texto que está na tela.
"A gente tem a preocupação de que o Acesse seja para todo e qualquer usuário de internet, mas, inovadoramente, ele permite e facilita o relacionamento entre pessoas com deficiências sensoriais e físicas. Por isso, ele também é uma comunidade para atletas paraolímpicos e simpatizantes que acreditam no esporte como uma forma de integração social", conta Marcos Malafaia, presidente do Instituto Superar.
Desde maio deste ano, o Superar conta com o patrocínio institucional da ALE. A companhia se uniu ao Instituto e criou uma equipe de atletismo com os melhores velocistas cegos do mundo. "Além do apoio constante ao Superar, também estamos investindo em várias ações em parceria, como essa nova rede social, que promete ser um marco no Brasil", comenta Jucelino Sousa, vice-presidente da ALE.

Instituto Superar
O Instituto Superar é uma entidade sem fins lucrativos com o objetivo principal de fomentar o esporte paraolímpico em busca de performance técnica e resultados, além de visibilidade e reconhecimento da sociedade, promovendo o desenvolvimento da pessoa com deficiência por meio do esporte adaptado, da educação, agindo como um provedor de recursos com nítida ação de inclusão social.
(Encontrado em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=26381)

(Abaixo, vídeo da canção Os Argonautas, com Caetano Veloso)

XILINDRÓ

23/07/2009
Justiça do Burundi Condena Cinco por Assassinatos de Albinos


BUJUMBURA (Reuters) – A justiça do Burundi anunciou na quinta-feira, a condenação de uma pessoa à prisão perpétua e outras 4 com penas de alguns anos por matarem albinos e venderem partes de seus corpos para uso em bruxaria
A minúscula nação centro-africana, de 8 milhões de habitantes, tem cerca de 200 albinos – desprovidos de pigmentação na pele, olhos e cabelo – e 11 foram mortos no ano passado.
Os curandeiros dizem que partes de corpos de albinos trazem sorte no amor, na vida e nos negócios.
“Uma pessoa foi julgada culpada de planejar e executar o crime; 3 outras tentaram raptar e matar uma mulher e uma criança”, Dodolin Nahamasabo, chefe da justiça na província oriental de Ruyigi, relatou por telefone à Reuters.
Cada um dos três foi condenado a 15 anos de prisão, acrescentou.
“Uma outra pessoa foi condenada por mutilação e formação de quadrilha (e pegou 7 anos de cadeia). Decidimos libertar 3 deles porque não encontramos evidência suficiente”, concluiu.
A associação de albinos do Burundi não quis comentar o caso.
Muitas sociedades africanas rejeitam albinos e os tratam como se trouxessem má sorte ou os acusam de envolvimento com bruxaria.

(O original em inglês encontra-se em http://in.reuters.com/article/worldNews/idINIndia-41268220090723?FORM=ZZNR2 )

99,3%

O fator mascarado
Revista Educação17/08/2009
Combatido nos discursos, o preconceito ainda está muito entranhado na sociedade e nas escolas brasileiras
Filipe Jahn

Uma pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em 501 escolas públicas do país, e divulgada em junho deste ano, revelou dados preocupantes sobre o preconceito no ambiente escolar brasileiro. Das 18,5 mil pessoas entrevistadas, entre alunos, professores, funcionários e pais, 99,3% demonstram algum tipo de preconceito - étnico-racial, socioeconômico, de gênero, geração, orientação sexual ou territorial ou em relação a pessoas com algum tipo de necessidade especial.
De acordo com a pesquisa, os tipos de preconceito que apresentaram maior abrangência são aqueles relacionados a pessoas com necessidades especiais (96,5%), seguido por diferenças étnico-raciais (94,2%), e aqueles relativos a diferenças de gênero (93,5%). Além disso, assim como o preconceito, percebeu-se entre todos os públicos-alvo da pesquisa uma predisposição em manter menor proximidade em relação a determinados grupos sociais, como homossexuais, pessoas com necessidades especiais de natureza mental e ciganos.
Cláudia Vianna, professora da Faculdade de Educação da USP que pesquisa as relações de gênero e sexualidade na educação, explica que o preconceito é uma disposição afetiva que pode ou não se transformar em um ato de discriminação. Só que, no Brasil, muitas vezes o preconceito não chega a ser explicitado, ou mesmo entendido como tal. Uma das razões para tanto está no estereótipo disseminado do brasileiro brincalhão. Ofensas sobre a cor de pele ou a orientação sexual, por exemplo, são entendidas apenas como traço típico de uma personalidade nacional. "Mas certamente existe", adverte Cláudia.

Neutralidade inexistente

Apesar de, em tese, a escola dever desempenhar um "papel neutro" no processo de transmissão de valores culturais - entenda-se por neutro o fato de não privilegiar nenhum credo, cultura ou procedência - e colaborar para a superação de preconceitos, na prática ela acaba sendo um fator de reforço daqueles já existentes. Isso porque os professores e autoridades escolares reproduzem, por meio de gestos, posturas e falas, sistemas de pensamento e atitudes que são excludentes. Ou seja, os educadores fazem eco, no ambiente escolar, às imagens negativas e estereótipos entre os quais muito provavelmente foram socializados.
Há, por exemplo, casos em que professores relacionam o rendimento escolar de alunas apenas ao esforço e ao bom comportamento, sem estimular a criatividade ou o potencial para certas matérias curriculares como matemática. "Essa baixa expectativa sobre o desempenho escolar de meninas claramente contém um padrão sexista", afirma Cláudia Vianna. O cientista social Paulo Neves conta que uma pesquisa de sua autoria verificou que em alguns casos alunas recorrem à violência como forma de serem respeitadas. "Mas assim são duplamente repreendidas: por utilizarem uma forma de agressão para resolver os conflitos e por serem meninas, portanto utilizando-se de algo considerado contrário à sua natureza", revela o estudioso.
No artigo "O fracasso escolar de meninos e meninas: articulações entre gênero e raça", publicado em 2003, a também professora da Feusp e estudiosa das relações de gênero Marília de Carvalho coletou informações sobre a cor atribuída às crianças da quarta série de uma escola fundamental de São Paulo, a partir de duas percepções: a dos professores e a dos próprios alunos. Após cruzar essas informações com o índice de aproveitamento de cada estudante, constatou-se uma tendência dos professores em "embranquecer" os melhores e "escurecer" os piores.
Não que as instituições de ensino sejam as principais responsáveis pela permanência ou não de práticas discriminatórias, mas elas são parte fundamental para o entendimento e aceitação da diferença. Para exercer a função de inserir os jovens no espaço público, que é aquele em que se dá (ou, ao menos, em que deveria se dar) a aceitação da diversidade, a escola precisa se colocar de maneira firme contra as práticas preconceituosas e discriminatórias. E isso pode começar pela compreensão das relações existentes nesse ambiente, mostrando suas fissuras e contradições. "O educador deve estar preparado afetiva e intelectualmente para interferir nas situações em que os conflitos emergem", afirma Luiz Alberto Gonçalves, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O problema é que, segundo Gonçalves, a introdução do tema da diversidade nas escolas ainda é algo recente no país e muitos professores não têm formação e conhecimento para mediar apropriadamente essas situações. Só a partir dos anos 90 as políticas educacionais, por força das demandas sociais, sobretudo dos grupos excluí­dos na sociedade, foram obrigadas a reconhecer que o ambiente escolar brasileiro é pluricultural e pluriétnico.

Cortando pela raiz

Para enfrentar esses problemas, atualmente o MEC oferece cursos de formação continuada trabalhando a temática da diversidade e colocou em vigor a Lei 10.369, de 2003, que torna obrigatória a inclusão do estudo das "Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana". Só que Luiz Gonçalves entende que essas ações podem criar a expectativa de que basta introduzir mudanças no currículo escolar e o problema do preconceito estará resolvido. Para ele, é preciso mudar a postura do corpo docente frente aos conteúdos e às relações escolares, assim como é preciso haver um esforço para construir uma nova forma de fazer a educação escolar. Combater o preconceito pressupõe reconhecer o outro na sua diferença e esse reconhecimento começa no próprio docente. "Muitas crenças que foram difundidas pelos conteúdos tradicionais terão de ser questionadas e até banidas", fala.
Já Paulo Neves diz que não basta a escola desenvolver um trabalho para dias como o da consciência negra ou das mulheres se, no seu cotidiano, aqueles que pertencem a esses grupos são discriminados. Por isso, é importante elaborar um projeto político-pedagógico consistente, em que o estudo da temática esteja inserido tanto na sala de aula quanto nas horas de trabalho pedagógico coletivo. Entretanto, deve-se tomar cuidado para não haver exageros. Muitas discussões sobre as questões ou a excessiva criação de projetos acabam por prejudicar a consistência da reflexão dos envolvidos. "No fim, após passar pela escola, posso continuar acreditando nos preceitos de minha religião, por exemplo, mas não posso sair pensando que ela é a única e verdadeira", explica.
Cláudia Vianna compartilha a tese e entende que caminhar nessa direção requer o reconhecimento do conflito como pilar dos projetos coletivos. A partir daí, os professores podem promover a interação da diversidade, criando ambientes seguros para que eles e seus alunos possam questionar e refletir os valores hierarquizantes relacionados ao gênero, raça, classe social e idade, além de interferir na reprodução de estereótipos, sem medo do preconceito ou da exclusão. Vianna propõe também analisar com os alunos as atribuições e significados dominantes estudando-se os veículos da comunicação. De fato, a pesquisa da Fipe mostra que o incentivo ao acesso às mídias pode reduzir o preconceito observado entre os alunos em relação a todos os temas pesquisados.
Ainda assim, além da sala de aula, o preconceito deve ser encarado como um problema complexo, que atinge esferas diferentes. O diretor de Estudos e Acompanhamento das Vulnerabilidades do MEC, Daniel Ximenes, acredita que qualquer ato desse tipo deve ser combatido via educação, mas isso não é tarefa somente da escola. Instâncias como o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal de Justiça também precisam denunciar e tomar posições. "No caso da escola, deve haver uma integração com os órgãos públicos e a comunidade ao seu redor, com iniciativas e diálogos sendo constantemente estimulados", completa.

Maus resultados

Um dos pontos mais polêmicos da pesquisa publicada pela Fipe indica que as ações discriminatórias são um fator importante para a qualidade no desempenho escolar dos alunos. Utilizando como base a Prova Brasil de 2007, chegou-se à conclusão de que existe uma correlação negativa sobre o conhecimento de ações discriminatórias e as médias dessa avaliação nas escolas. Ou seja, onde as ocorrências foram maiores, as notas tenderam a ser menores.
Paulo Neves diz que não há como medir as consequências dessas atitudes no longo prazo, mas se elas não forem rechaçadas, acabam se tornando legítimas e prejudicam não somente o ambiente e o desempenho escolar como a fase em que crianças e adolescentes estão construindo uma identidade. "Se não há uma atitude contrária, a postura é reforçada e um aluno pode entender que é normal ter o mesmo procedimento", fala.
A pesquisa mostra ainda que a ocorrência de agressões, simbólicas ou de fato, contra professores e funcionários é mais nociva ao desempenho escolar dos alunos do que onde essas ações ocorrem contra os próprios estudantes. O estudo comparou as escolas em que se tinha conhecimento desse tipo de ocorrência (designadas como bullying no estudo) contra os dois grupos, cotejando esse fator com o desempenho na Prova Brasil. A agressão contra professores e funcionários mostrou-se pior, revelando que, quando isso acontece, passa a haver uma maior desestruturação da instituição.
Luiz Gonçalves afirma que tal razão é evidente, pois os educadores sem boas condições psicológicas acabam comprometendo o conteúdo a ser ensinado. Isso também ajuda a confirmar a ideia de que o educador é um dos profissionais que mais apresentam estresse em decorrência do trabalho. Segundo dados da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), 30% dos afastamentos em escolas da rede pública do país são resultantes de estresse e depressão. Outra pesquisa, realizada em 2003 pelo Sindicato dos Professores de Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), apontou que a depressão atingia então um em cada quatro professores paulistas. Para 62,4% deles, a violência escolar era a causa.
(Encontrado em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=26369)

(Abaixo, uma apresentação ao vivo da banda Escola de Escândalo, dos anos 80)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

CLICK SERGIPE

Obrigado ao Ronaldo Ramos, que incorporou ao site Click Sergipe um texto divulgando nosso blog e o canal no You Tube.

http://www.clicksergipe.blog.br/blog.asp?pagina=1&postagem=3005#topo

(Abaixo, vídeo turístico sobre Sergipe.)

DERRUBANDO BARREIRAS

É hoje, às 14:30, que vai ao ar pela Rádio Elodrado AM, de São Paulo, o programa Derrubando Barreiras, comandado por Mara Gabrilli.

Semana passada, gravei um pequeno depoimento que irá ao ar na edição de hoje.

Conforme prometera, eis o link praqueles que preferem ouvir a transmissão via internet.

http://int.territorioeldorado.limao.com.br/eldorado/audios!programas.action?editoria=AM

Basta clicar em "Ouça Agora", no canto superior direito da tela.

HARPER'S ISLAND

Roberto Rillo Bíscaro

Há 7 anos, John Wakefield chacinou diversas pessoas em Harper's Island, na costa do estado de Washington. O serial killer supostamente foi morto pelo xerife; desde então, a paz voltou ao local. Agora, um grande grupo de amigos está de volta à linda ilha pra celebrar o casamento dum casal perfeito, apaixonadissimo, cujo noivo era ilhéu. Durante as comemorações do casório, que durarão dias, novos assassinatos começam a acontecer na ilha e o espectro de John Wakefield volta a atormentar Harper's Island.

Essa é a premissa da série em 13 capítulos, Harper's Island, produzida pela CBS, uma das redes norte-americanas. Terminei de ver ontem à noite. Como fã de slasher films, minha curiosidade foi aguçada pelo enredo, afinal, tratava-se duma série slasher. Pra fãs do gênero, especialmente os slashers dos anos 80, a série é uma boa pedida. Também pra fãs de Agatha Christie, que, em certo sentido, pré-data a fórmula slasher em algumas de suas obras, como em O Caso dos Dez Negrinhos. Nao estou dizendo que Agatha tenha escrito slashers, mas a fórmula de ter um grupo de pessoas, mortas uma após a outra de maneira criativa e inusitada aparece em algumas obras da escritora inglesa.

Harper's Island funciona mais ou menos como versão ampliada de slashers como Sexta-Feira 13 ou congêneres ambientados em florestas, com mortes utilizando os mais diversos tipos de implementos. A cada episódio, pelo menos uma morte e todos os clichês e modos de matar do gênero estão lá.

O suspense e tensão demoram alguns capítulos pra se instalarem. Os primeiros 5 episódios, embora com algumas mortes, contem também elementos de novelão norte-americano, o que provavelmente deve ter afugentado telespectadores com menos paciência. O roteiro não é eletrizante como nos 2 Epitáfios, a excelente produção argentina da HBO, que pega a gente e põe na montanha-russa desde as primeiras cenas.

Mesmo no sexto episódio, quando o negócio realmente começa a pegar fogo, os roteiristas quebram a tensão com uma irritante e desnecessária subtrama cômica, que só faz dar nos nervos. Quem é fã desse tipo de filme quer é morte e suspense!

No quinto episódio consegui formular minha hipótese de quem poderia ser o assassino. Uma observação duma das personagens, durante um passeio de bicicleta na floresta, me fez pensar: "Ah, então quem tá matando é o/a......". Ontem de manhã, num ligeiro papo com uma amiga pelo MSN ela me perguntou se eu já sacara quem era o assassino. Eu dei 2 nomes porque um elemento novo na trama me confundira por uns instantes, mas mesmo assim, em primeiro lugar escrevi o nome da personagem que pensara primeiro. Não deu outra. Mas, há elementos e plot twists suficientes pra confundir o espectador.

A explicação final é meio tolinha e a produção contou com orçamento bem menor do que Epitáfios, mas, repito, isso também pode agradar aos fãs de slasher dos anos 80.

Ao fim e ao cabo, Harper's Island é uma série que diverte e aos poucos vai crescendo e conquistando a gente. Algo como um novelão que vira slasher aos poucos.

(Abaixo, o vídeo promocional de Harper's Island.)