sábado, 31 de outubro de 2015

ALBINO GOURMET 187

A filha de uma colega de trabalho não pode comer glúten. Isso me motivou a procurar receitas sem glúten e achei o canal Delícias Sem Glúten, do qual destaco essas receitas, mas sugiro que o leitor o visite e divulgue, afinal, deve haver muita gente que não pode consumir o produto.  

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

INFORMAR MOÇAMBIQUE

“Informação é a principal arma para combater caça aos albinos”

De acordo com Jamisse Taimo, antigo reitor do ISRI (Instituto Superior de Relações Internacionais) é preciso desconstruir as ideias erradas sobre o albinismo existentes na nossa sociedade. Só com acesso à informação é que os cidadãos irão se desapegar dos mitos e entender que o albino é igual a outras pessoas, apenas tem problemas de pigmentação da pele. “As famílias devem ter explicações assim que tiverem um albino em casa. Temos que desconstruir a percepção que o albino é fonte de riqueza. Temos de acabar com os mitos que são alimentados e acabam se tornando verdades. Isso só será possível se as pessoas tiverem acesso a essa informação”, defendeu Taimo durante uma palestra proferida na última quarta-feira, na Universidade Lúrio.
O acadêmico disse ainda que ao longo dos anos foi se construindo uma visão negativa que está a vingar nas comunidades e que torna este cenário de violência mais activo.

TELONA QUENTE 133

Resultado de imagem para que horas ela volta filme
Roberto Rillo Bíscaro

Gostei dos 2 filmes dirigidos por Anna Muylaert a que assisti, um comentado aqui. Por isso, achei ótimo o sucesso que Que Horas Ela Volta? (2015) fez em Berlim e em Sundance. Ainda mais quando soube que a empregada doméstica nordestina, embora com seus momentos engraçados, não é objeto de risada, como em tantos outros produtos culturais brasileiros. Não sou rabugento condenador de risadas direcionadas a algum grupo, mas enche o saco que certos segmentos sejam quase exclusivamente representados de uma forma só. Sou pessoa com albinismo, sei bem disso.
Semana passada, vi o filme estrelado por Regina Casé. Ela está ótima como Val, a empregada doméstica nordestina que não vê a filha há anos, trabalha na casa dum casal paulistano de classe média-alta e nutre amor maternal pelo filhão adolescente do casal, o qual criou, porque a descolada mãe que traz jogos de café da Suécia, embora não padeça das vicissitudes que obrigam mães a abandonarem filhos, foi tão ausente estando geograficamente próxima, quanto Val estando separada por diversos estados. O filme, nem sempre sutil, joga com algumas semelhanças entre as 2 famílias, mas insiste nas diferenças. Quando a filha de Val vem a São Paulo prestar vestibular pra USP, sua postura de não ver a família empregadora como objeto de culto – e o desejo que desperta no patrão e no filhão – repercutirão em todos.
Guardando semelhanças com o chileno La Nana (resenhado aqui), Que Horas Ela Volta? tem o mérito de provocar discussão a respeito da mania de certos setores da sociedade considerarem as empregadas como “quase da família” ao mesmo tempo relegando-as a quartinhos abafados e pedindo copos d’água mesmo estando ao lado da geladeira.
No atacado gostei, mas alguns pontos no varejo poderiam ser mais azeitados. O pai da família é indolente demais, a filha sai intempestivamente numa noite de chuva forte pra prestar vestibular no dia seguinte e jamais sabemos como aquilo foi resolvido.
Isso, porém, não diminui a importância do filme pra cinematografia nacional, que precisa também de comédias de cunho social, não apenas aquelas mostrando domésticas ouvindo música “brega” e falando “errado”.  

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

TRÁFICO DE CABELO

Detidos no Niassa vendedores de cabelo de albino

A Polícia da República de Moçambique (PRM), a nível da cidade de Lichinga, em Niassa, deteve há dias dois indivíduos na posse de cabelo de uma pessoa com problema de pigmentação na pele.
Os indivíduos pretendiam vender o cabelo ao preço de um milhão e duzentos mil Meticais.


Refira-se que nos últimos dias cidadãos albinos na região norte do país, tem vindo a sofrer crimes hediondos motivados pela onda desinformação

CONTANDO A VIDA 129

Nosso historiador-cronista leu um poema e divagou sobre a história e a representação da obesidade/magreza ao longo da História. Crônica erudita é outra coisa, né?

ARTE E OBESIDADE: o tempo do corpo.

Há relação entre arte e obesidade? As respostas a essa questão são complexas e demandam duas ordens de reflex ões: uma de teor médico e outra estética. A Organização Mundial de Saúde, desde 2003, classificou a obesidade como um problema de saúde pública que, assim, integra a lista dos dez maiores fatores de risco para o bem-estar global. Vista hoje como uma epidemia, a obesidade tem assumido proporções alarmantes, sobretudo nos países desenvolvidos e em fase emergente. Sob essa perspectiva, a sondagem histórica revela que a “gordura” foi vista inicialmente como condição para suprir necessidades vitais, guardando potências energéticas que promovem proteção térmica e nos garantem a sobrevivência. Cabe lembrar que a obesidade sempre incomodou iniciados em medicina e sabe-se, por exemplo, que há 2500 anos Hipócrates, pai da medicina, falava dos perigos da obesidade, apontando índice de mortalidade mais elevado em indivíduos gordos do que magros. Já seu discípulo Galeno estabelecia que a obesidade poderia ser distinguida segundo sua aparência: obesidade em natural ou moderada, e obesidade mórbida, aquela exagerada. Indo além, Galeno afirmava que a obesidade era consequência da falta de disciplina do indivíduo, por isso, preconizava um tratamento que incluía: corridas, massagens, banho, descanso ou lazer, e refeições com bastante comida, mas com alimentos de baixo valor calórico. Como ameaça à vida e como forma de controle, estavam dadas desde a modernidade os critérios de tratamento que acompanham questões ligadas ao excesso de peso. Pelo olhar médico, pois, a história da obesidade busca fundamento na Idade da Pedra, evidenciando a luta por alimentos e proteção térmica, fatores que permitiriam a sobrevivência. A reserva de “gordura”, portanto responderia a necessidade de queima de calorias. No mundo moderno, contudo, tais demandas mudaram e contrastam com a excessiva oferta de alimentos e progressivas conquistas em favor do conforto que tende a nos tornar cada vez mais inativos.
Pelo enfoque estético, sem desprezar as interpretações biológicas, sabe-se que a obesidade e a magreza estão vinculadas a problemas psicossociais, que acatam pressupostos de integração ou exclusão sociais. Seria errado, pois, ver a “gordura” apenas pelo viés médico. Assim, as representações da obesidade se formulam como questões afeitas às tramas ligadas à cultura, sociedade, mundo do trabalho, com implicações de consumo, raça e de gênero. Lembrando que a palavra estética está ligada a sensibilidade, Platão já caracterizava as ambições humanas dizendo que “os três desejos de todo homem são: ser saudável, rico por meios lícitos e belo.” A beleza, portanto, seria condição da felicidade. Foi assim que a cultura se moldou formulando padrões de referência aos ideais do corpo. Tais modelos, contudo variaram ao longo dos tempos.
Na história da representação do corpo, pode-se dizer que há três momentos considerados pontos de virada: o primeiro se deu no Renascimento, o segundo na virada do século XIX para o XX e o último, depois da Segunda Guerra. No primeiro caso, as Madonas arredondadas com seios à mostra metaforizavam a promessa de fartura advinda da era das Grandes Navegações. A virada do século XIX para o XX – os chamados anos loucos – marcaram o surgimento de novos papeis sociais, em particular para a mulher que então ganhava o espaço público impondo novo padrão estético, e, finalmente, o momento da contracultura onde a variedade de padrões corpóreos passa a ser tratada como mercadoria.    
Devo dizer que este breve trajeto em torno da relação do modelo ideal de corpo e arte derivou da leitura de um poema que serve de chave para terminar esta crônica esfomeada de fundamentos. Eis os versos de Otávio Azevedo: Obesidade abstrata/ O que não mata engorda/ Acredito nessa verdade/ Já estou de barriga cheia/ Cabeça cheia/ Alma cheia/ Tudo está cheio, mas não transborda!/ Me sinto um obeso por engolir palavras e problemas demais/ Não quero ser tão pesado assim/ O que a sociedade dirá de mim?/ Chega de engordar/ É hora de morrer!

terça-feira, 27 de outubro de 2015

A MALDIÇÃO DE DAR SORTE

Habituado a dar brilho à Cartier ou à Van Cleef & Arpels, Patrick Gries desceu às trevas para fotografar os albinos da Tanzânia. Aqui, a doença genética que afeta um em cada 1400 habitantes já limita o tempo de vida. A morte aproxima-se ainda mais em eleições – 25 de outubro –, com crianças e adultos vítimas de feiticeiros e políticos supersticiosos
Esta semana, um dos candidatos à presidência da Tanzânia, cujas eleições se realizam este domingo, 25, afirmou que a «caça aos albinos» é uma «vergonha nacional». John Magufuli referia-se à as atrocidades a que se sujeitam as pessoas que sofrem da doença genética também conhecida como acromia e que afeta um em cada 1400 tanzanianos, sete vezes mais do que no resto do mundo. Velhas tradições e crendices, a par do comportamento irresponsável de feiticeiros e políticos, fazem com que os albinos sejam perseguidos e desmembrados para que diferentes partes dos seus corpos sejam usadas como amuletos da sorte. Um fenómeno que costuma agravar-se em periodos eleitorais. Nos últimos 15 anos, as ONU tem identificados 76 homicídios em que os cadáveres dos albinos foram depois vendidos e cujo valor pode ascender a 75 mil dólares.







TELINHA QUENTE 183


Roberto Rillo Bíscaro

Ano passado, resenhei a minissérie islandesa O Penhasco. Como 2015 está sendo marcado por filmes e até viagem ao país, vi 2 das 3 temporadas de Pressa (2007-12). Assim que/Se a terceira cruzar minha reta, assistirei-a com interesse.  
A divorciada Lara consegue emprego num tabloide (Pressa significa Imprensa). No começo é criticada pelo pai e pelo ex-marido, por trabalhar na imprensa marrom. Lara também tem que lidar com a filha gordinha que sofre bullying, com quem deixá-la enquanto corre de lá pra cá, com o ex-marido irresponsável e autocentrado. Mas, o filão de Pressa é a história policial que envolve o desaparecimento e possível morte do marido duma famosa apresentadora de TV, que pouco a pouco desenvolve-se em escândalo com ramificações financeiras e desfecho convincente.
Pressa tem sub-tramas, como o caso de pedofilia, não aproveitadas a contento; maior defeito da primeira temporada. A discussão ética sobre o papel dos tabloides também não interessa aos escritores e o desfecho até indica que não são tão nocivos, afinal. Será? Mas a proposta é ser série policial, não drama social, então não se pode usar isso contra Pressa.
Filmada com câmara móvel e editada de modo a dar a Reikjavik e à redação do jornal aspecto de locais onde tudo acontece aceleradamente – o tráfego em Reikjavik sempre mostrado em imagem acelerada – Pressa tem desvios que poderiam ser enxugados, nem todas as interpretações são boas (dá pra perceber mesmo não se falando islandês) e, claro, tem produção bastante modesta.
Mas, isso não deveria desanimar telespectadores mais curiosos e pesquisadores de conhecer um pouco que seja da TV da Islândia, até pra fugir das produções que mostram apenas os cenários espetaculares da natureza da ilha. Pressa é eminentemente urbana e vai aos terrenos baldios de Reikjavik.
Muito do exposto sobre a primeira vale pra segunda meia dúzia de capítulos, que traz história(s) independente(s) da temporada inicial. Lara enfrenta crise matrimonial com o novo marido, que, desempregado, quer emigrar pro Canadá. A jornalista também é condenada a pagar danos morais a uma mulher sobre quem escrevera uma matéria. Necessitando de 800 mil coroas, o editor do Post recusa-se a ajuda-la e justamente aí, Lara recebe proposta de free lance dum ricaço envolvido no negócio do petróleo, mas também suspeito de ser estuprador serial, além de matar as vítimas. A série abre com uma mulher encontrada enforcada por um garoto num playground. No meio dessa espinha dorsal, há a sub-trama da gangue de motoqueiros, parte mais débil dessa temporada, porque algumas ações dos malfeitores são inverossímeis. Vale pela presença (sub-aproveitada) do dinamarquês Bjarne Henriksen, porém.  
Novamente, discussões éticas como a encruzilhada moral de Lara são evitadas e é interessante notar como os roteiristas procuraram elevar o status do outrora tabloideiro Post, contrapondo-o a um novo concorrente, criado aliás, superssonicamente! Outro defeito da segunda temporada é a marcação de tempo e sua passagem às vezes dão saltos ou as coisas parecem ocorrer demasiadamente rápidas. Será que depois da quebra financeira da Islândia – que ainda não ocorrera quando da temporada 1 – alguém montaria uma estrutura tão grande como o jornal competidor em aparentemente tão pouco tempo?
Como que pra compensar a quebradeira islandesa, a temporada 2 gastou bem mais, tendo até perseguição e carros esbagaçados na “perigosa” e “aloprada” Reikjavik.

Consegui o trailer da temporada um, vejam: 

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

CAIXA DE MÚSICA 189


Roberto Rillo Bíscaro

Quando adolescente, nos anos 80, artistas como Culture Club e Echo & The Bunnymen desenvolveram sonoridade própria, mas apresentavam influência de seus estilos/ídolos da juventude, então, era comum canções soando como Motown ou The Doors. Ouço a história se repetir com artistas contemporâneos evocando memórias oitentistas. Bom pra nós que envelhecemos, mas não queremos viver de recordações. Dá pra chegar a meio termo: curtir coisa moderna sem levar a pecha de dinossauro e ao mesmo tempo celebrar nossas raízes juvenis.
O segundo álbum do escocês Chvrches me fez reouvir o primeiro e arrepender-me de não haver escrito sobre eles. Lauren Mayberry, Iain Cook e Martin Doherty começaram em 2011 e fazem delicioso pop sintetizado. Fiquei mais de uma semana apenas escutando os 2 trabalhos.
The Bones of What You Believe (2013) trouxe aquela chuva de teclados gelados em canções deliciosamente pop, espécie de dia de inverno ensolarado. De dar orgulho a Vince Clark, Chris Lowe e Gillian Gilbert pelo legado. A produção cristalina apenas aumenta a vontade de dançar e ser feliz ao som das pipocantes Gun e Strong Hand. Ao contrário de grupos oitentistas como Propaganda que tinham 2 ou 3 canções contagiantes, o Chvrches é uma mina de delícias tecnopop. A única chatinha é You Caught the Light, mas daí deve ser aquela tradição synth de querer escrever minissinfonias pop. Às vezes lembrando a gelidez do Visage, como não se encantar com a rigorosa muralha de teclados glaciais ao fim de Tether? Science/Visions une techno às lambadas de teclados sci fi B à Giorgio Moroder.

Mês passado saiu Every Open Eye, mais dançável ainda e com sonoridade que mostra uma banda que sabe que tem potencial pra estourar maciçamente e dá uma maneirada na gelidez dos teclados, mas mantém nível de qualidade invejável. Keep You On My Side e Empty Threat foram feitas pra saltitar; esta ultima lembra certo synthpop da Europa continental, mormente escandinavo, tipo o do dinamarquês Alphabeat. Talvez seja a voz de anjo agitado de Lauren. Talvez a felicidade induzida pela canção intoxicante.
Iain assume o vocal em High Enough to Carry You Over e te leva pra 1985 com o synth levemente funkeado e as pesadinhas repetições de Playing Dead, com Lauren de volta aos vocais, fará os oitentistas recordarem o Rock Me Amadeus, do finado Falco. Esse álbum tem espaço até pruma balada: a melodia de Afterglow é construída basicamente por Lauren, que canta sobre fino carpete de teclados.
O DNA do Depeche Mode, presente desde a estreia, produz filho impossível de negar a paternidade em Clearest Blue, com citação musical de Just Can’t Get Enough numa letra que repete “it’s not enough” adoidado. Nem que quisesse o Chvrches conseguiria esconder a ascendência 80’s: a capa de Every Open Eye referencia a de Power, Corruption and Lies, ponto de virada synth da New Order.
Esta playlist promete o álbum completo:

domingo, 25 de outubro de 2015

SUPERAÇÃO TRIATLÉTICA

A triatleta Ana Lídia Borba é goiana, mas há quatro anos vive e treina em Florianópolis. Ela tem um currículo impressionante, com nove participações no Iron Man. Para fazer parte da elite do esporte, ela enfrentou muitos desafios, dentre eles um atropelamento que lhe quebrou todas as costelas, conheça sua história.

sábado, 24 de outubro de 2015

ALBINO GOURMET 186

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

PÂNICO MOÇAMBICANO

Albinos vivem em pânico em Nampula, curandeiros pagam mais de 2,5 milhões de meticais pelos seus órgãos
Em Nampula, o rapto de pessoas com ausência de pigmentação na pele remonta aos finais de 2014. De Dezembro a esta parte, aproximadamente uma centena de pessoas com albinismo foi vítima. Alguns indivíduos foram mortos e outros são dados como desaparecidos. Em conexão com esses casos, 42 indivíduos encontram-se detidos. Curandeiros africanos chegam a pagar 75 mil dólares norte-americanos por um conjunto completo de órgãos de um albino para usá-los em feitiços que acreditam trazer boa sorte, amor e riqueza. Devido a esta “caça”, os albinos vivem em pânico nesta parcela do país.
Em Março do corrente ano Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para o aumento de ataque contra pessoas com albinismo em vários países do sul e leste de África devido a proximidade de eleições em vários países onde políticos recorrem a rituais de bruxaria para aumentar as suas hipóteses de chegar ao poder.
Para se inteirar desta dura realidade que continua a semeiar luto nas famílias moçambicanas, o @Verdade entrevistou familiares das vítimas. Dos nossos entrevistados, ficámos a saber que o recrudescimento do crime deve-se à inoperância das autoridades policiais.
Os casos mais recentes ocorreram em Namina, Larde e Malena, nos meses de Setembro e Outubro, onde um jovem desapareceu em circunstâncias estranhas, e outros foram assassinados, nomeadamente Alfane António e Lídia Carlitos.
Segundo Maurício Carlitos Pedro, irmão da Lídia Pedro que deixou duas menores de seis e sete anos de idade, esta foi raptada na sua casa, no posto administrativo de Muralelo, distrito de Malema, pela calada da noite. A vítima foi levada até a uma mata, perto de um cemitério, onde viria a ser assassinada. Os malfeitores extraíram algumas partes do corpo da malograda desde tripas, seios, dentes, cabelo, entre outras. Os assassinos aproveitaram-se da ausência do marido de Lídia para raptá-la.
Naquele dia, de acordo com Pedro, o seu cunhado não dormiu em sua casa, mas descarta a possibilidade de este ser conivente no assassinato de sua irmã. Lídia tinha 25 anos de idade e vivia nos últimos dias em pânico.
Importa referir que o nosso interlocutor e o seu irmão Ricardo Carlitos Pedro também são albinos e, com o sequestro e morte da sua irmã, eles sentem-se ameaçados. Neste momento, aqueles cidadãos encontram-se na cidade de Nampula.
Pedro disse que o caso está a ser tratado pelas autoridades policiais de Malema, mas desde aquele dia a esta parte não houve nenhum desenvolvimento.
No caso do Alfane António, enfermeiro que foi raptado e esquartejado em Larde, no passado dia 17 de Setembro, o @Verdade soube que seis indivíduos, sendo um deles parente da vítima, se encontram detidos e um processo-crime está a seguir os trâmites legais no distrito de Angoche.
Pela manhã do dia 17 de Dezembro de 2014, um jovem, com albinismo, identificado por Auxílio César Augusto, de 21 anos de idade (até àquela data), desapareceu, após receber o convite de indivíduos ainda a monte para passear. O facto deu-se no bairro de Mutauanha, na cidade de Nampula, e o local do encontro entre a vítima e os presumíveis malfeitores foi na Avenida do Trabalho, concretamente no posto de abastecimento de combustível na zona da Faina.
Segundo Eduardo César Augusto, o pai da vítima, os supostos raptores teriam convidado o seu filho com promessas de empregá-lo na fábrica de Cervejas de Moçambique (CDM), onde auferiria 15 mil meticais mensais.
O pai da vítima encontrava-se fora da cidade, quando foi colhido de surpresa com a notícia e tratou de participar o caso na 1ª Esquadra, onde foi aberto um processo criminal sob número 2857/PIC/2014.
Augusto disse que um dia depois do desaparecimento de Auxílio, um jovem de nome Elias Martins teria chegado à sua casa procurando pelo seu filho, a fim de lhe oferecer um emprego. Tal situação terá chamado a atenção da família, uma vez que tal indivíduo apresentou uma proposta salarial igual a que motivou o desaparecimento  da vítima.
Eduardo Augusto denunciou o indivíduo às autoridades policiais que viriam a detê-lo. O processo para o interrogatório do acusado teria sido remetido à Polícia de Investigação Criminal (PIC) a 05 de Fevereiro de 2015, sendo que foi ouvido no dia 12 de Fevereiro. No dia seguinte (13), o juiz de instrução criminal que instaurou o processo exarou um despacho deliberando que se mantivesse a prisão preventiva do Elias Martins, mas arquivou o processo.
Segundo o nosso entrevistado, desde aquele dia nada houve. Mas para o seu espanto tomou conhecimento da soltura do acusado, alegadamente porque um advogado teria requerido a liberdade do mesmo por insuficiência de provas do seu envolvimento no rapto de Auxílio Augusto. Elias Martins foi solto a 03 de Março, fazendo-se cumprir um despacho exarado pelo juiz, a 27 de Fevereiro, e só o processo foi devolvido à PIC no dia 18 de Março. O acusado não foi, segundo o pai da vítima, interrogado pela Polícia.
“O juiz de instrução criminal é conivente no rapto do meu filho. Primeiro ele exarou um despacho que mantinha a prisão preventiva do acusado, mas engavetou o processo. Porquê?”, indagou Augusto, que acrescentou: “Ele revogou o seu primeiro despacho duas semanas depois, por alegada intervenção de um advogado. Ele engavetou o processo, porque sabia que um advogado apareceria para requerer a liberdade do arguido”.
O nosso interlocutor afirmou ainda que Elias Matins não tem condições financeiras que lhe permitam constituir um advogado, daí que acredita que o mandante do rapto do seu filho foi quem contratou os serviços daquele profissional.
Além disso, a nossa fonte revelou que já denunciou o mandante do crime às autoridades policiais, mas estas mostraram-se indiferentes. Eduardo Augusto disse que já foi expôr a sua preocupação à Procuradoria Provincial há meses. Insatisfeito com a forma como está a ser tratado o caso, o cidadão fez uma exposição ao Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial, a qual deu entrada no dia 21 de Agosto do ano em curso, mas também até à data não foi acusado.
Foto de Fellipe Abreu
É de salientar que Auxílio Augusto não é/era único filho de Eduardo Augusto com albinismo.

Abiazer e Pedro César Augusto vivem aterrorizados por causa da onda de raptos em Nampula. Abiazer Augusto tem 29 anos de idade, é casado, mas ele viu-se obrigado a mudar de residência, porque descobrira que estava a ser “caçado” na zona onde vivia, no bairro de Muatala.
O caso de Auxílio Augusto não é o único nos arquivos das autoridades policiais e judiciais em Nampula. Diamantino António Simila é um jovem que nasceu com albinismo e, por isso, sofreu uma tentativa de rapto perpetrado por uma amigo da sua irmã, que identificou por único nome de Ramadane, no passado mês de Janeiro.
Segundo Simila, tudo teria começado quando o seu telemóvel tocou. Era a chamada de Ramadane, trabalhador da KENMARE em Larde, que lhe recomendou que juntasse documentos para beneficiar de um posto de emprego em Topuito. O suposto infractor teria obtido o número de contacto através da irmã da vítima.
Dias depois, Simila recebeu uma chamada de Ramadane que solicitou que ele fosse ter com este imediatamente. O encontrou foi marcado para as proximidades da Escola Secundária de Namicopo, bairro de Carrupeia. O nosso interlocutor fez-se ao local, onde lhe foi pedido por Ramadane para ir com ele até ao Hospital Central de Nampula, supostamente para doar sangue a uma criança albina que se encontrava de baixa e seria receberia 20 mil meticais.
O indivíduo fazia-se transportar numa viatura na companhia de outras duas pessoas que, para Simila, eram estranhas. Com o apoio de populares, Simila recusou o convite, pese embora Ramadane tenha subido o valor para 25 mil meticais. Chegado a casa, ele informou a sua mãe do que se passava, que tratou de denunciar o caso à Polícia.
Dias depois, ainda em Janeiro, Simila levou o caso à Procuradoria Provincial, onde viria a ser solicitada a comparência de Ramadane, mas na ausência do queixoso. Simila disse que foi dito na Procuradoria que o infractor confessou que pretendia traficar o jovem.
O que preocupa Simila é o facto de, volvidos cerca de 10 meses, o caso não tenha tido nenhum desenvolvimento. “O caso está no Tribunal, mas ainda não fui chamado para ser ouvido e quando lá vou dizem-me para aguardar”, lamentou.
O @Verdade conversou com uma jovem, de 27 anos de idade, que pediu para não ser identificada. Ela foi, várias vezes, vítima de uma tentativa de rapto. A última vez que isso sucedeu foi na Rua Daniel Napatima, onde ela foi abordada por três indivíduos que se faziam transportar numa viatura de marca Toyota Corola.
A cidadã estava na companhia do seu irmão e cunhada, que também se encontravam num carro. Quando ela e a sua cunhada desceram do veículo com o intuito de entrar na loja PEP, viu-se recolhida por dois indivíduos que só a largaram graças à pronta intervenção do seu irmão.
Nos últimos dias, ela tem recebido várias mensagens com um ameaçador. O caso está, segundo a nossa entrevistada, nas autoridades policiais. Algumas pessoas albinas já desistiram das aulas sob pena de serem raptadas. Sania Muaine, de 19 anos de idade, é exemplo disso. Aluna que frequenta a 9ª classe na Escola Secundária de Namicopo, ela viu-se obrigada a abandonar os estudos há quatro meses.
Quarenta e dois indivíduos detidos
Cristóvão Mário Mondlane, procurador provincial de Nampula, disse que a onda de raptos a pessoas com albinismo preocupa as autoridades judiciais na província, daí que foram accionados mecanismos de forma a combater este mal.
Questionado sobre o tratamento dos processos-crimes que deram entrada na sua instituição, Mondlane afirmou que nenhum dos profissionais deve ser apontado como conivente. A morosidade deve-se aos procedimentos que devem ser seguidos. Para além disso, os acusados nunca revelam os seus mandantes.
A nossa fonte disse que até àquele momento que concedia a entrevista ao @Verdade, estavam detidos 42 indivíduos, sendo que dois seriam restituídos à liberdade por ter sido provado que não estavam envolvidos no crime. Em conexão com este tipo de crime, a Procuradoria teria instruído 22 processos-crime, sendo que o primeiro caso a ser julgado teve lugar na passada quarta-feira (14), mas não teve desfecho.
Foto de Fellipe Abreu
Num outro desenvolvimento, Mondlane afirmou que os supostos criminosos “caçam” as pessoas com albinismo e, depois de assassiná-las, procuram clientes; por isso, quando são interpelados não podem dizer quem são os mandantes, tendo dito que “eu pessoalmente, fazendo-me passar por cliente, já fui deter oito indivíduos que vinham aqui à procura de um comprador”.

O albinismo é um distúrbio congénito caracterizado pela ausência de pigmento na pele, cabelos e olhos devido a uma deficiência na produção de melanina pelo organismo. Em alguns casos, o distúrbio também provoca problemas de visão.
"Pessoas com albinismo estão entre as mais vulneráveis da região sul e leste de África", disse Ikponwosa Ero, primeiro especialista de direitos humanos em albinismo da ONU, em comunicado.
"Hoje, o infortúnio deles tem sido agravado pelo medo constante de ataques por outras pessoas – incluindo membros da família – que valorizam as partes de seus corpos mais do que a vida deles."
Curandeiros africanos chegam a pagar 75 mil dólares norte-americanos (cerca de 2,5 milhões de meticais) por um conjunto completo de órgãos de um albino, de acordo com um relatório da Cruz Vermelha, para usá-los em feitiços que acreditam trazer boa sorte, amor e riqueza.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

CONTANDO A VIDA 128

Sendo historiador de renome mundial, nosso cronista está sempre viajando. Nunca esquecerei o susto que tomei no 11 de setembro, quando pensava que o Prof. Sebe podia estar sob os escombros do WTC!
Hoje ele nos fala um pouco sobre a diferença entre viajante e turista e revela em qual das categorias se encaixa. 


TURISTAS E VIAJANTES...
José Carlos Sebe Bom Meihy
Constantemente ouço reclamações do tipo “professor, onde o senhor está? ” Vezes há em que mesmo meus filhos se perdem em buscas e reclamam por não conseguirem minha localização. O pior, porém, é que isso tem se complicado pelo tipo de tratamento que dispenso a celulares e outros aparelhos “localizadores”. Brincando, costumo replicar que não apenas sou filho de imigrante, de alguém que atravessou mares para chegar ao Brasil, como também lembro que meu pai foi mascate, andarilho, tipo “pé na estrada”. Viajar tem sido minha vida e garanto tal pressuposto baseado na frase de Fernando Pessoa que afiançava “para viajar basta existir”. Aliás, foi o próprio Pessoa que abonou que “navegar é preciso, viver não é preciso”. Apelando para a poesia ou mesmo para o doloroso périplo dos velhos deslocamentos parentais, creio que no fundo, procuro dar certa dignidade ao fato de estar sempre em trânsito, e assim invento uma mitologia caminhante que, afinal, dignifica a agitação sempre latente. A par da imagem poética ou trágica, contudo, existem também aqueles impertinentes – chatos mesmo – que de forma maldosa deixam entrever que há algo de errado, que o viajante foge de alguma coisa, talvez de si mesmo. Seria cômodo dizer que em qualquer dessas observações residem resquícios de verdades. Até porque me apoio em Milton Nascimento; posso repetir que sou “eu caçador de mim”.
Mas há frases importantes para dizer de minha postura frente às andanças. Uma que me perturba sobremaneira é de Mario de Andrade que reza "o importante não é ficar, é viver. Meu destino não é ficar. Meu destino é lembrar que existem mais coisas que as vistas e ouvidas por todos”. Outro dizer que me inquieta remete a Susan Sontag, que reclama do alcance possível de viagens “não estive em todos os lugares, mas está na minha lista chegar lá”. Há autores mais detalhistas que distinguem turistas de viajantes, Paul Theroux, por exemplo, diz “turistas não sabem onde estiveram. Viajantes não sabem para onde irão”. No dizer geral preside a ânsia de desbravar, de novos desafios e paisagens a serem palmilhadas. Há algo de conquista nessas façanhas que combinam desafio e aventura.
Pois é, tais reflexões feitas na maturidade permitem balanço sobre a própria experiência de viajante ou de turista. Aprendi comigo mesmo que não é sempre que gosto de ir para espaços inéditos e desconhecidos. Quase sempre, prefiro voltar a locais que visitei, sítios que se tornaram clássicos em minha memória de cidadão do mundo. Nessas situações, duplico a investida: uma, aos locais escolhidos ou indicados, e, outra, ao meu próprio passado, guiado pelas lembranças colecionadas. Gosto imenso de passar por onde andei e medir o nível de estranhamento ou familiaridade, ver o que mudou ou se as pessoas ainda estão lá. Aprecio também refletir sobre como estava, quando palmilhei aquelas trilhas. Às vezes, o exageradamente extravagante me assusta e me faz inseguro e também não gosto de ir a espaços que assumam radicalismos políticos ou sectarismos religiosos. Acontece, porém, de se imporem casos que independam de escolhas. Talvez, então, seja por instinto que antes de me aventurar em espaços exóticos eu precise ler e me informar melhor, e assim ter certo preparo. Combinar visitas repetidas com descobertas é um segredo quase mágico. Por força da profissão tenho ido a lugares insuspeitados e o interessante dessas aventuras é que temos obrigações que subvertem a noção de mero divertimento. Ademais, sempre que isso acontece, surgem personagens locais, facilitadores de informações que sugerem ângulos interessantes. Meditando sobre tais situações, acabo por entender que não sou turista. Prefiro ser mesmo viajante e assim repetir como Fernando Pessoa “A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos”. 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

INSPIRADA POR GUSTAVO LACERDA?

Mais um trabalho fotográfico retrata a beleza das pessoas com albinismo. Angelina d’Auguste defendeu sua tese pra se graduar no Fashion Institute of Technology em Nova York com uma coleção de fotos de pessoas com albinismo fotografadas em tons pastel. Segundo o Daily Mail, ela teve a inspiração depois de ver fotos do modelo com albinismo Shaun Ross. As fotos ficaram lindas, mas será que a inspiração não veio também do fotógrafo brasileiro Gustavo Lacerda, que pioneiramente tem nos fotografado nesses tons desde 2009?













TELINHA QUENTE 182

Roberto Rillo Bíscaro

Em 1996, slasher films estavam em baixa, depois do tsunami oitentista. Mas, em 96, Pânico revigorou o sub-gênero com suas personagens conscientes dos mecanismos narrativos slice’n’dice. Essa esperteza não evitou que fossem mortos, tornando-os ainda mais imbecis que seus colegas da década anterior, que morriam sem saber dos perigos e como evitá-los. Demorei anos pra ver Scream, mas quando vi gostei, embora mortes apenas com faca me entediem; admito que curti o bafejo pós-moderno de pseudo-desmonte de paradigmas.
O fato de amar slashers e a morte do diretor Wes Craven, no declínio de agosto influenciaram bastante em eu ter passado a série Scream (2015) na frente da longa fila. A MTV acertadamente não se esforçou pra abandonar o legado/estilo do filme. Isso não significou, porém, que Pânico – a Série tenha sido boa.
Numa cidadezinha, jovens começam a aparecer mortos e uma jovem “inocente” (mocinha de slahser hoje transa) é o centro delas, porque vem recebendo chamadas e mensagens dum maluco que lhe propõe jogos, de cujos resultados dependerão as vidas de seus amigos e familiares. Além disso, sua mãe envolvera-se com Brandon Sei-Lá-Quem na infância/adolescência e o menino deformado fora morto pela polícia. Será ele que retornou buscando vingança?
A sinopse torna a história muito mais interessante do que é; vi muitos slashers de hora e vinte com mais mortes do que essa série, que poderia tranquilamente ter 5 capítulos; a maior parte do tempo é trololó.
Logo no início, Noah – o geniozinho que tudo entende de computadores e convenções de filmes/séries – afirma ser impossível fazer uma série slasher, então, a finalidade do roteiro é desmentir isso, provando que é fodão. Apesar da enciclopédia de referências despejada por ele nos 10 episódios, um detalhe é “esquecido”. Já houve série-slasher, Harper´s Island, resenhada aqui.
Scream acaba sendo novelinha teen com algum suspense, poucas mortes (umas 2 legais apenas), um assassino que dá pra prever com bastante segurança na metade (conjecturei 2 personagens e deu certo: uma é a assassina e a outra provavelmente será a da segunda temporada).
Nos filmes slasher, o pouco tempo de “convívio” com e a estereotipificação estúpida da maioria das personagens meio que nos tira o sentimento de culpa de ver uma produção onde sabemos que serão barbarizados. Na série, temos mais tempo de empatizar mesmo com as personagens mais “antipáticas”, que realmente inexistem em Scream, porque são teens com tiradas divertidas (e como teclam rápido com ambas as mãos nos smartphones, por Deus, será de verdade?) e alguma qualidade redentora. Com não amar Noah ou mesmo não torcer pela morte da patricinha (ainda se usa esse termo?) Brooke, que, no fundo, descobrimos ter um coração e problemas sérios em casa? Tudo isso noveliza demais Scream, aguando o slasher.
Veja Harper’s Island; é muito mais legal!

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

CAIXA DE MÚSICA 188

Roberto Rillo Bíscaro

Quando Lana Del Rey emergiu, não faltou quem dissesse que era armação, que a moça era fantoche. La Del Rey sabe bastante bem/controla pra onde vai sua carreira. Com variações de entonação ela tem batido na tecla do ennui glamuroso dos corações partidos e cabeças entupidas d’algum narcótico.
Há quem diga que tem feito a mesma coisa desde que Video Games bombou no Youtube (2010). Não é bem assim e o contra-argumento pra essa acusação é corolário da defesa anterior. Por definir uma personagem e comandar os caminhos estéticos de sua jornada, Del Rey – que lançou seu terceiro álbum há um par de semanas – escolheu o nicho retrô, evocando imagens idealizadas duma América anos 50 (portanto, bem careta), O que faz em seus álbuns é enfatizar certos aspectos, mas sempre batendo na mesma tecla. O disco de estreia por uma grande gravadora, Born to Die (2012) e sua metamorfose em Born to Die: the Paradise Edition (2012) são anos 50 temperados com trip hop. Ultraviolence (2014) serviu-se de clima mais ameaçadoramente rock’n’roll e o presente Honeymoon tem sonoridade mais tradicionalmente cinquentista. Não dá pra tirar 100% da razão dos detratores dessa ala, mas há que se considerar essa mudança na ênfase de cada álbum.
Honeymoon, a faixa-título, abre o álbum, sublime, parece trilha de filme de 1958, com orquestração de violinos, vocal à La Bacall. Lana Del Rey tem fã jovem? Salvatore é convite ao drama, como resistir ao "Ah-ah-ah-ah/Ah-ah-ah-ah/Cacciatore/La-da-da-da-da/La-da-da-da-da/Limousines/Ah-ah-ah-ahAh-ah-ah-ah/Ciao amore/La-da-da-da-da/La-da-da-da-da/

Soft ice cream" com aquela voz angelical e atmosfera de filmes de Dean Martin? Essa é a ênfase de Honeymoon, no caso da escolha estética da cantora, uma volta às origens, que jamais existiram. Ouça 24 e terás vontade de mudar o penteado pruma coisa assim, Lana Turner sofrendo!

Mas, Del Rey sabe que está em 2015 e mesmo seu público mais maduro ainda é jovem demais pra ficar só nos anos 50. Por isso, o primeiro single é o trip hop cinquentizado de High By the Sea, com seu vocal de ninfeta chapada de boca suja, refrão viciante e ritmo hipnotizante. Puro fetiche, a mais perfeita tradução de Lana. Music to Watch Boys To e Art Déco, embora não tão viciantes, são da mesma lavra fetichenta e moderninha travestida de retro-50’s.
A mitologia da Califórnia como terra das possibilidades e liberdade – afinal, Hollywood fica lá – é reafirmada no trip hop sexy de Freak, mas Lana dispôs-se a alargar um bocadinho suas referências, antes centradas na Americana de Elvis e Monroe. Em Religion ela evoca o pacifista Bob Dylan e Terrence Loves You concede a existência de algo externo ao universo ianque, com sua referência ao Bowie de Space Oddity. 
Honeymoon não é igual aos demais álbuns, mas desperta a questão de por quanto tempo a artista conseguirá manter essa fórmula, apenas mudando uma variável. Sinais de fastio de alguns ouvintes já existem e a própria Lana – que de inocente nada tem – abre o álbum desferindo “ambos sabemos que me amar não está na moda”.
Ultraviolence desinteressara-me um pouco, mas com Honeymoon voltei a ser súdito de Lana!

domingo, 18 de outubro de 2015

URNA SANGRENTA

Menina albina sorri numa escola em Nyawilimilwa, na Tanzânia. 21/11/2009  REUTERS/Katrina Manson

Ataques contra albinos aumentam com proximidade de eleições na África


LONDRES (Thomson Reuters Foundation) - Ataques contra pessoas albinas na África têm aumentado com a proximidade de eleições em vários países africanos devido a uma crescente demanda de aspirantes a políticos por partes de corpos albinos valorizadas na magia negra.
A Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que os ataques contra albinos, cujas partes dos corpos são altamente valorizadas em rituais de bruxaria e podem alcançar altos preços, têm sido registrados desde agosto em seis países no sul e leste do continente africano.
Na África do Sul, o corpo de uma jovem albina foi encontrado em uma cova rasa sem a maior parte dos órgãos e da pele. Um albino de 56 anos do Quênia morreu depois que partes do seu corpo foram arrancadas em um ataque, disse a ONU.
"Pessoas com albinismo estão entre as mais vulneráveis da região", disse Ikponwosa Ero, primeiro especialista de direitos humanos em albinismo da ONU, em comunicado.
"Hoje, o infortúnio deles tem sido agravado pelo medo constante de ataques por outras pessoas – incluindo membros da família – que valorizam as partes de seus corpos mais do que a vida deles."
Curandeiros chegam a pagar 75.000 dólares por um conjunto completo de órgãos de um albino, de acordo com um relatório da Cruz Vermelha, para usá-los em feitiços que acreditam trazer boa sorte, amor e riqueza.
A ONU alertou em março que 2015 seria um ano perigoso para os albinos na Tanzânia, à medida que políticos recorrem a bruxos para aumentar suas chances de vencerem nas urnas.
(Reportagem de Magdalena Mis)