segunda-feira, 7 de julho de 2014

CAIXA DE MÚSICA 133

Roberto Rillo Bíscaro

Sou devoto de Lana Del Rey e nunca me importou a discussão se ela é fabricada, fantoche de executivo de gravadora, filha de rico brincando de ser diva. Amo a voz – manipulada ou não – e a mística meio anos 50 que a norte-americana explora.
Ela lançou seu segundo álbum há um par de semanas e ainda há quem a ache manipulada. Manipuladora parece-me mais correto, porque a mudança na direção de Ultraviolence em relação a Born to Die é coisa de quem é dona do nariz. Se não, por que abandonar a fórmula mais acessível da estreia, com seus elementos popeantes de trip hop, hip hop ou sei lá o que, em favor duma produção mais blues, jazz e até rock? Não que Ultraviolence seja hermético, longe disso, mas identifiquei bem menos trechos imediatamente assobiáveis e grudentos a primeira ouvida do que em Born.
A versão normal traz 11 faixas, mas a minha é a Special Edition, com 16. Lana segue cantando sobre relacionamentos com homens prejudiciais, sobre grana, poder, sexo, tristeza e diversos símbolos contraditórios/deteriorados do Sonho Americano, no mundo de Del Rey, asfixiado por álcool e desilusões e em Ultraviolence até mesmo por solos de guitarra, como em Shades of Cool, que assinala com maestria o deslocamento pruma orquestração suntuosa, ainda que mais esparsa do que costumava ser, por mais antitética que possa soar tal afirmação.
Canções com trechos grudentos começam a aparecer a partir da faixa 4, Brooklyn Baby. Em meio a tantas personagens sofredoras, as ótimas Money, Glory, Power e Fucked My Way to the Top trazem femme fatales lutando com as armas que a natureza lhes deram pra vencer num mundo dominado por machos. Sem contar os refrões cantaroláveis, como os diversos contidos em Born. Não há vez que não ouça a lentaça linda Old Money que não emende os primeiros versos aos de A Time for Us, do Romeu e Julieta do Zefirelli lá do ocaso dos anos 1960.
Enfim, Lana Del Rey realizou um grande álbum, que provavelmente não convencerá os detratores, mas não é isso que a mim importa. O que conta é que continuarei a lembrar mais dos muitos trechos assobiáveis de Born to Die. Ultraviolence é bom, mas o álbum de estreia é mais gostoso. 

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