terça-feira, 31 de janeiro de 2012

TELINHA QUENTE 35

Roberto Rillo Bíscaro

Os britânicos são bons em histórias de fantasmas e casas mal-assombradas. Até há algum tempo, havia hotéis que se gabavam de ter sua assombração particular.
Ano passado, a ITV (a mesma de Downton Abbey) exibiu Marchlands, minissérie em 5 capítulos sobre uma garotinha que morre afogada em 1967 e permanece perambulando na casa onde vivera até que o mistério de sua morte vem á tona. Antes de ser horror, trata-se de mistério, suspense e drama, uma vez que as circunstâncias do passamento de Alice produzirão sofrimento durante mais de 4 décadas.
Em termos de enredo, nada de novo, muito pelo contrário. Marchlands usa todos os chavões dos filmes de casa afantasmada por infantes afogados: balanços que balouçam sozinhos, torneiras que se abrem do nada, banheiras transbordantes, espelhos com mensagens codificadas (que poderiam ser bem mais simples, mas não o são pra esticar – ou antes, pra que se tenha – uma história).
Esses elementos, porém, estão dispostos de maneira sobrepostas no roteiro, que apresenta 3 famílias. Em 1967, temos a família que perde a pequena Alice; em 87, o casal com 2 filhos, cuja menina pode ver e sentir o espectro da afogada e em 2010, o casal biétnico, cuja esposa grávida decide batizar a futura filha de... Alice, que mais?
Temos acesso às 3 histórias em cenas intercaladas, que se explicam, replicam complementam ou contradizem. No comecinho complica um bocadinho, mas não demora pra pegar o jeito da coisa e é essa estrutura retalhada que dá boa parte do charme da série. A história da década de 80 é a menos necessária uma vez que não tem ligação direta com o falecimento ou o descobrimento do porquê Alice se acidentou. Mas, serve como elo pras 2 e também pra definir o espectro como uma fantasminha, digamos camarada, que só queria descansar em paz.
O final tem a reviravolta de praxe – que até que me surpreendeu e agradou porque envolveu o ator que me motivou a ver o show – e o devido caráter moralista/moralizante, essencial em qualquer narrativa de horror, gênero conservador por excelência.
Enfim, Marchlands é indicado pra fãs de histórias tradicionais de assombração, dispostos a aceitar o fracionamento temporal da pós-modernidade. 

MULTA NA INTOLERÂNCIA!


Torcida do Palmeiras pode pagar multa de R$ 55 mil por faixa "A Homofobia Veste Verde"

Ao que tudo indica, a torcida Mancha Verde, do Palmeiras, deve ser multada por homofobia. No início de janeiro, a torcida organizada resolveu protestar por conta de uma possível contratação do jogador Richarlyson, do Atlético-MG.

Colocando sob suspeita a orientação sexual do jogador, os torcedores hastearam uma faixa em frente à sede do clube com os dizeres "A Homofobia Veste Verde".

A Técnica da Coordenação de Políticas para Diversidade Sexual da Secretaria de Justiça, Deborah Malheiros, revelou que tal ato pode render uma multa de R$ 55 mil reais para a torcida.

"É dever do Estado garantir o respeito pelas diferenças. Essa atitude que ocorreu no centro de treinamento é uma forma clara de desrespeito às pessoas que têm orientação sexual diferente da grande maioria da população", declarou Deborah ao site 247.

A Secretária de Justiça de São Paulo está avaliando o episódio e caso seja comprovada homofobia, segundo Deborah, um processo administrativo será instaurado e a Mancha Verde deverá apresentar esclarecimentos sobre a tal faixa.

A gente só não entendeu a parte do "caso seja comprovada homofobia". Já não está claro na própria mensagem da torcida?

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

ASSESSORIA INCLUSIVA


Joven con síndrome de Down será asesora de Obama

El presidente de los Estados Unidos, Barack Obama, solicitó el asesoramiento sobre temas de discapacidad a la actriz con síndrome de Down Lauren Potter, quien saltara a la fama mundial a partir de su papel en la exitosa serie 'Glee', de la cadena Fox.
Debido a su compromiso con los derechos de las personas con síndrome de Down y las campañas anti-bullying, Lauren Potter, que en la serie interpreta a la animadora Becky, ha sido nombrada para trabajar en el Comité Presidencial para las Personas con Discapacidad Intelectual. 
El comité, al que se sumará Potter, está conformado por 21 ciudadanos y 13 representantes federales que tienen la tarea de asesorar al presidente y al secretario de Salud y Servicios Humanos sobre cuestiones relativas a los estadounidenses con discapacidad intelectual.
Potter saltó a la fama en 2009, cuando apareció por primera vez en “Glee”. La actriz se había graduado recientemente en la escuela secundaria, cuando impresionó a los creadores del programa, que decidieron traerla de vuelta para más episodios.
La notoriedad que le dio la serie hizo que Potter participara a nivel nacional como una ferviente defensora de su colectivo, hablando en contra del uso de la palabra “retrasado” (“retard”), tan utilizada en los medios norteamericanos y sobre la intimidación hacia las personas con discapacidad.
http://www.elcisne.org/ampliada.php?id=2282

CAIXA DE MÚSICA 57

O Livro do Genesis – Capítulo VII

Roberto Rillo Bíscaro

A promessa de obra-prima cumpriu-se em 1974, com o lançamento do álbum duplo The Lamb Lies Down on Broadway, que alcançou o décimo lugar nas paradas inglesas.
A banda resolvera trabalhar num álbum conceitual, formato quase obrigatório entre bandas de rock progressivo, que geralmente escolhiam temas míticos, de ficção científica ou de velhos, exóticos e/ou obscuros registros históricos pra comporem obras grandiloqüentes e - frequentemente - autoindulgentes.
Mike Rutherford planejara uma ópera-rock baseada no Pequeno Príncipe, mas foi antagonizado por Peter Gabriel, que tencionava seguir rumo diametralmente distinto: a história de Rael – pseudo-anagrama de seu sobrenome – um porto-riquenho vivendo em Nova York e que desce aos subterrâneos da metrópole em busca de seu irmão John (ou seria à procura de outra parte de sua própria personalidade?). Uma história com protagonista terceiro-mundista no rarefeito mundo do prog rock parece revolucionário à princípio e até é um pouco. Mas, a morenice e punkice da personagem logo dão lugar a um emaranhado de referências gregas, freudianas e de cultura de massa, quando o jovem se depara com as temíveis aventuras no subsolo da Grande Maçã.
Gabriel escreveu todas as letras, isolado dos demais membros. A tensão na banda galgava topos. Decorrentes de sessões de análise, sonhos, experiências mediúnicas, um vasto cabedal de informações jornalísticas e literárias e o que mais Gabriel estivesse tomando na época, as letras têm mantido fãs ocupados há quase 40 anos, tentando decifrar cada referência usada pelo letrista. Há muita coisa escrita sobre cada canção de The Lamb Lies Down on Broadway, tipo de álbum que divide fãs e deixa alguns obcecados.
Freud, Marshall McLuhan, Keats, trocadilhos (inúmeros) e até Burt Bacharach são a ponta dum iceberg quilométrico de alusões, duplos sentidos e obscuridades nos textos gabriélicos.
O show de divulgação de The Lamb foi uma extravaganza com slides, explosões, luz estroboscópica e muitas trocas de roupas do vocalista pra encarnar as distintas personagens. As vinhetas e faixas instrumentais do álbum foram pensadas como intervalos pras tais trocas. Rock no hemisfério norte sempre foi negócio levado á sério e muito profissional. Com toda essa parafernália, a atenção destinava-se cada vez mais á figura do cantor – visto como “líder” do Genesis – desgastando ainda mais o relacionamento entre os músicos.
Todo mundo está no topo da forma. Peter canta como nunca em tantas vozes tão diferentes! O cara vai do doce ao gutural, do grave ao agudo, da voz “natural” aos vocais tratados tecnologicamente. Ajuda muito que o timbre de Phil Collins seja bastante similar, pois as harmonias e vocalizações atingem momentos sublimes, basta conferir Count Out Time, de matriz beatlemaníaca.
A guitarra de Steve Hackett vai dos tons orientalizados da rastejante Fly On a Windshield ao solo derrete-coração e arrepia-pelo de Silent Sorrow in Empty Boats.
Tony Banks deixa o Mellotron de lado e toca bastante piano, mas a enxurrada caudalosa de teclados que faz a alegria de certos fãs de prog – eu incluso – corre solta nos solos de Riding the Scree e In The Cage (com sua citação discreta a Burt Bacharach).
Phil Collins certamente deu um bom passo pra detonar seus pulsos tocando os achados percussivos, que ora pulsam com energia detonante, ora têm tom discreto, mas, junto com o baixo de Mike Rutherford compõem uma cozinha rítmica que poucas bandas tiveram com tal qualidade e criatividade. Basta ouvir Collins em The Grand Parade of Lifeless Packaging. E depois banda brasuca de filhinho de mamãe e papai vem me criticar o baterista, mas leva álbum do Genesis (A Trick of the Tail) pra produtor norte-americano explicar como Collins conseguira tal efeito na batera?
O som pastoral dos álbuns anteriores, de modo geral, cede lugar a uma sonoridade mais rock. Em The Waiting Room, a banda ensaia até uma sonoridade meio space, meio ambient, meio psicodélica, graças à ajuda de Brian Eno. Nada que o Nektar não tivesse feito. Meus 3 minutos desfavoritos entre quase 95 minutos de música intensa, que ouço há 25 anos e ainda me surpreende.
Em retrospecto, aquela formação do Genesis parece que atingira o auge de sua criatividade em The Lamb Lies Down on Broadway. Onde ir depois da obra-prima sempre presente nas listas de melhores álbuns conceituais de todos os tempos?  
Tensões, problemas pessoais e a vontade de seguir caminhos diferentes afastavam Gabriel cada vez mais dos demais membros. Por um par de semanas, durante a pré-produção de The Lamb, o vocalista-letrista ensaiou uma saída do grupo e foi aos EUA trabalhar na trilha-sonora do que seria um filme de William Friedkin, então todo-poderoso devido ao megassucesso O Exorcista. Depois de dar com os burros n’água, voltou com o rabinho entre as pernas pra Inglaterra.
Mas, o vaso já estava trincado demais e depois do último show da turnê de The Lamb Lies Down on Broadway, na cidade francesa de Besançon, Peter Gabriel tornou público o seu desligamento do Genesis.
Era o fim duma era pra banda e período de incerteza. Embora todos fossem excelentes músicos, os holofotes estavam sobre Gabriel e  pra muitos Collins, Banks, Rutherford e Hackett não passavam de músicos de apoio.
Mister achar novo vocalista, mas quem poderia substituir o carisma de Peter Gabriel? Quase todo mundo apostava no apocalipse do Genesis.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

SIMBORA

Caros leitores, o blog ficará sem postagens por uns 3 dias, porque estou de malas prontas pra ir a Londrina (PR) pro aniversário de 70 anos duma tia. Desta vez, minha mãe irá comigo; ela está toda animada pra rever os irmãos e sobrinhos. E eu também.
MP3 cheios pras 6 horas de ônibus que me esperam. Uma das canções que vai rolar é esta:

PORQUE ELES LUTAM

Ontem, vi um documentário muito bom da BBC sobre as razões que levam os EUA a se envolverem em tantas guerras. Why We Fight faz uma análise bastante interessante sobre o momento atual e ressalta as imbricações entre democracia e capitalismo, no caso a necessidade da indústria bélica gerar lucros e se agigantar e a compatibilidade disso com a ideia de "liberdade". Dá muito pano pra manga e discussão.
O You Tube tem o documentário inteiro legendado em português.

ESTÔMAGO


Adolescente com doença rara não come nada há 18 anos

Cientistas em Londres estão investigando o caso de um menino que tem uma doença rara que faz com que ele não consiga comer.
O jovem Muhammad Miah, de 18 anos, não consegue nem mesmo beber água da torneira.
"A água precisa ser fervida ou mineral, caso contrário meu estômago não aprova. Meu estômago é muito sensível", diz ele.
Desde a infância, ele é obrigado a se alimentar de forma artificial. Durante o dia, ele toma um líquido acrescido de proteínas, carboidratos, gordura, água, minerais e vitaminas.
À noite, um aparelho especial bombeia nutrientes diretamente em seu estômago através de um tubo especial.
Antigamente, ele era alimentado usando métodos intravenosos, com os nutrientes entrando direto na corrente sanguínea, sem passar pelos processos normais de digestão.
Um episódio, no entanto, marcou Muhammad.
"Meu estômago parou de funcionar totalmente. Eu não conseguia nem mesmo ser alimentado por nutrientes líquidos ou água. Isso durou por vários meses", afirma o jovem.

Doença rara

Muhammad sofre de uma condição rara chamada pseudo-obstrução intestinal, que afeta apenas entre 12 e 15 crianças em toda a Grã-Bretanha. O intestino perde toda a capacidade de fazer a comida passar pelo aparelho digestivo.
Os médicos no hospital Great Ormond Street, em Londres, onde Muhammad está sendo tratado, acreditam que no caso do jovem a doença foi provocada por uma falha nos nervos do músculo do intestino.
Muhammad ainda consegue ver o lado positivo na sua doença.
"Às vezes eu acho que sou mais saudável do que as outras pessoas. Quando você pensa em todos os tipos de porcarias que as pessoas estão comendo... pelo menos eu não vou engordar."
Ele conta também que nunca chega a sentir fome.
"Minhas refeições são tão bem cronometradas agora, que eu sinto fome de verdade, para ser sincero. E quando eu estou passando muito mal, eu não sinto fome. É algo normal para mim."
Apesar da atitude positiva, ele enfrenta muitos problemas no seu cotidiano. Muhammad está estudando para entrar na universidade. Devido à sua doença, há dias em que ele fica tão sem energia que mal consegue sair da cama.
O especialista em pediatria e problemas intestinais Nikhil Tharpar, do Instituto de Saúde Infantil da University College London, afirma que há urgência na medicina em se compreender melhor como o estômago funciona.
"Nós só conseguimos controlar os sintomas no momento. O tratamento é só permitir que pacientes como Muhammad sobrevivam. Nós não vamos oferecer nenhuma cura", diz o médico.
"Mas nós queremos entender como esses defeitos de nascença surgem, e fazer um pouco de pesquisa com células-tronco para desenvolver alguns dos nervos que não existem [no paciente]."
Tharpar diz que crianças com pseudo-obstrução intestinal levam o defeito consigo a vida toda.
"Essas crianças são muito corajosas, apesar de tudo. Ela vivem com uma péssima qualidade de vida, estão sempre entrando e saindo do hospital todas as semanas e sofrem de constipação crônica. Elas vivem no limite", afirma o médico.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

SOBREVIVENTES

Não obstante as auspiciosas notícias contidas no último boletim da ONG canadense Under The Same Sun, publicadas ontem, o informativo trouxe á tona mais 2 casos de brutalidade contra pessoas albinas tanzanianas.
A jovem Dotto Mbiti foi envenenada pela própria tia-avó, que não queria uma criança albina família. Desde o ocorrido, sua irmã Milembe teve que se refugiar em um abrigo-escola para albinos. Seus pais não opuseram resistência, dizendo que só a querem de volta depois que concluir um curso universitário, quando será capaz de cuidar de si mesma. O assassinato da irmã não foi denunciado à polícia, porque o avô de Dotto advertiu os pais que estes jamais sobreviveriam ás rígidas tradições de vingança da tribo Sukuma, que não toleram que parentes revelem segredos de família às autoridades.
O outro caso é o do pequeno Meriki, de 4 anos, que foi seqüestrado durante algumas horas por Robert Matage, um vizinho na casa dos 40 anos. Quando o garoto foi recuperado, sua avó notou que parte de seu cabelo desaparecera, certamente para ser usado em poções de bruxaria. O caso foi revelado à polícia, Robert foi interrogado, mas solto em seguida. Em 17 de outubro de 2011, a polícia tanzaniana disse à mídia que o caso foi resolvido entre os vizinhos e as autoridades não podiam interferir.
Antes de serem exercícios em morbidez, revelar tais histórias apontam pra necessidade de contínua pressão sobre as autoridades de certos países africanos, a fim de coibir essas práticas bárbaras.

CONTANDO A VIDA 66

Estudioso e apreciador da obra da escritora negra Carolina Maria de Jesus – autora do um dia famoso Quarto de Despejo -, nosso cronista-literato publica e comenta um de seus contos, desprezados por editoras e críticos literários. 

A FATALIDADE DA POBREZA
José Carlos Sebe Bom Meihy

Depois que escrevi sobre Carolina Maria de Jesus, alguns companheiros saudaram a lembrança daquela intrigante figura, hoje quase esquecida. Pensando na fluidez do tempo e na fragilidade da memória cultural a respeito dos pobres, resolvi recuperar algumas outras passagens da escritora negra que é – pasmem – entre nossos escritores, a pessoa mais lida, divulgada e estudada fora do Brasil.  Atualmente, apenas Paulo Coelho se equipara a ela.

Carolina, como se sabe (ou deveria se saber) foi lançada nos anos dourados pelo jornalista Audálio Dantas. Ele então jovem repórter era uma espécie de Nelson Rodrigues da crônica paulistana. Tendo visitado a Favela do Canindé em 1958, descobriu essa mulher que se propunha a denunciar abusos que alguns adultos faziam em locais públicos. Interessado, foi até o barraco da valente mulher e teve contato com seus cadernos. Um verdadeiro tesouro para o entendimento da genuína cultura popular lhe fora apresentado. Paradoxalmente, o sucesso dos diários apagou a possibilidade de outros escritos. Carolina deixou mais de cinco mil páginas escritas e entre tantas, alguns contos como o que publico abaixo. 

PORQUE DEUS NAO AJUDA OS POBRES.
Coronel Totonho era um homem mau. Timoteo seu capanguinha era um bom pretinho. Uma noite o Coronel sonhou que havia morrido e que as formigas estavam estracalhando sua boca, devorando sua lingua, seus olhos. Acordou nervoso, mas arrependido do todas as safadezas que fazia com os coitados dos colonos da Fazenda Santa Felicidade. Pois bem, arrependido de todos os pecados, o terrivel coronel resolveu recompesar o castigado capanguinha. Foi ate sua casa, mandou-o colocar a melhor roupa e levou o coitadinho ate o armazém do turco Farid, no alto do morro do Breu. Chegando lá, o coronel disse para Timoteo que ele poderia escolher o que quisesse e que poderia levar para sua casa tudo, tudo, tudo o que pudesse carregar.
Espantado, Timoteo logo foi pegando sacos de rapadura, açúcar, café, marmelada cascão, uma cachacinha, cobertor, panelas novas e até um sapato para sua Zulmira. Como o coronel disse que ele poderia pegar tudo que pudesse carregar, não teve dúvida de escolher mais coisas: um machado, um facão novo, uma enxada, um biotônico Fontoura, um fardão e um vestido para a sua patroa. Já era um montão de coisa, mas achou que poderia também pegar uma botina nova para si, uns brinquedos para os dez filhos. O montão ia crescendo, mas ele ainda queria mais: um radinho de pilha, o retrato de Santo Antônio, um ramo de flor de matéria plástica. Tentou agarrar tudo e viu que ainda poderia juntar um pouco de tabaco, carne seca e umas cocadas. Era demais, mas quem sabe quando o coronel daria mais uma oportundidade daquelas?
Depois que viu tudo junto, nem pensou em desanimar. Deu jeito, amarrou tudo com uma corda, e prendeu na cintura. Andou uns dez metros e sentiu-se cansado:
- Ai meu Deus do ceu, me ajuda, ajuda.
 Mas, não desistiu e resolveu carregar de frente, abraçando tudo, com a corda amarrada na cintura. Andou mais uns cinco metros e se cansou; pensou então em puxar o material, caminhou mais uns metros e viu que não aguentava, mas não queria desistir e não desistiu.
-Ai meu Deus do ceu, me ajuda. Resolveu empurrar. Conseguiu pouco. Começou entao a jogar fora a própria roupa. Primeiro o chapéu, depois a farda nova, tirou a botina mas não desistiu de levar tudo. Pouco adiantou. Não coseguiu nada.
Atento, o coronel olhava e dizia: vai Timoteo, vai que voce consegue.
Por fim, o coitado do capanguinha desacorssoado, já sem camisa, sem botina, e com a mercadoria toda enrolada na corda presa à cintura, pensou que poderia tentar uma última coisa: jogar tudo morro a baixo e pegar no pé da serra. Fez. Fez e morreu porque esqueceu-se que tudo estava amarrado na mesma corda presa em sua cintura.

O reconhecimento da família Jesus pelo trabalho que meu companheiro Robert M. Levine e eu fizemos favoreceu a confiança de seus parentes, que nos legaram cuidar daqueles cadernos que hoje estão colocados ao público na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

Deve-se considerar nessa história a fatalidade da pobreza. O que se tem é uma possibilidade de mudança social delegada por um acaso – o sonho – mas a melhoria de vida, mesmo assim, não se realizou. Essa narrativa mostra a tirania dos poderosos e a incapacidade de mudança dos pobres oprimidos pela carência e vontade de ter bens materiais imediatos. A morte se apresenta como resposta à alternativa inevitável frente a ganância. Enfim, a riqueza pela riqueza não fazia sentido a Carolina.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

SEMINÁRIOS ALBINOS

A ONG Under The Same Sun foi criada pelo empresário canadense albino Peter Ash, como conseqüência das horripilantes notícias vindas da Tanzânia sobre assassinatos de pessoas albinas naquele país e em alguns outros locais na África.
Assino o boletim de notícias da organização e o mais recente trouxe notícias animadoras sobre trabalhos de conscientização sobre albinismo realizados no país africano, que ganhou notoriedade mundial depois que a matança de albinos pra fins de bruxaria ganhou a imprensa em nível global.
Ash organizou 5 seminários em diferentes cidades do país, onde os principais oradores foram pessoas albinas, contando suas experiências, dirimindo mitos e tentando melhorar a autoestima dos albinos e conscientizando os não-albinos a respeito de nossas diferenças.
As sessões foram realizadas em escolas e universidades e contaram com a participação de alunos, professores, magistrados, profissionais da área de saúde e serviço social, além de representantes do governo.
Outro destaque foi a visita a um centro dermatológico, onde também funciona um laboratório em fase experimental, que produzirá bloqueador solar pros albinos, uma vez que o produto é inacessível pra maioria dos bolsos tanzanianos. Uma farmacêutica voluntária espanhola supervisiona o programa, e está treinando albinos pra que um dia, assumam a chefia.
Além disso, funciona também uma confecção de chapéus de abas largas, feitos por 2 mulheres albinas.

TELINHA QUENTE 34


Resultado de imagem para american horror story season 1
Albergue do Terror

Roberto Rillo Bíscaro

Adoro filmes sobre casas mal-assombradas. Foi isso que me motivou a assistir aos 12 episódios da bem-sucedida American Horror Story (2011).
Uma família tentando superar a infidelidade do marido e um aborto da esposa muda-se pruma mansão que fora  cenário de um crime brutal, dai seu preço barato. Acontece que a corretora só era obrigada por lei a revelar eventos ocorridos até 3 anos antes da compra, mas a casa tem um histórico de diversos crimes em seu CV. Sei não, mas alguém com mais paciência devia checar de novo a trama e ver se não ha furo no roteiro ai, porque o crime revelado ocorrera há décadas e a corretora deixou de revelar o casal gay morto na cozinha, ocorrido dentro dos tais 3 anos.
Gente fragilizada é prato cheio pra ser atormentada por fantasmas e assombração é o que não falta na casa, que mais parece um albergue de espíritos danados! A tônica de American Horror Story é chocar o publico, inflacionando a história com todo tipo de exagero e esquisitice de boutique, que os escritores aprenderam assistindo a toneladas de filmes e séries do gênero.
De Six Feet Under a filmes asiáticos de terror, passando por Rosemary’s Baby, The Omen, The Changeling, The Others, Dark Water, Guillermo Del Toro, enfim, tá tudo batido no liquidificador, pronto pra deixar os menos avisados crentes de que se trata de algo original. Nao é. É pura TV trash, que tem até uma bela sulista, que parece que saiu dum conto do Tennessee Williams (Jessica Lange, muito bem no papel).
O ritmo vertiginoso e de novelão gótico (Dark Shadows, hello!) exagerado prende a atenção na maior parte do tempo, mas pode enjoa às vezes. Sabe aquela historia do tudo que é demais?...
A diversão é garantida em quase todos os capítulos, exceto pelo último, horrível em sua maior parte. Parece um especial de Natal de serie “família”. Lógico que é só ilusão de ótica, porque tudo desanda pro terror, mas os trechos água com açúcar e a tentativa falha de “terrir” comprometem o ritmo do episodio. Se a intenção era ser irônico, eles precisavam ter aprendido umas lições com David Lynch. Alem disso, os roteiristas inventaram tantos fantasmas, que alguns acabam sendo sub-aprovietados ou deixados de lado.
A série fez tanto sucesso que tem participações especiais de atores da crista da onda, como Eric Stonestreet, de Modern Family. Sinal de que a produção teve poder, tanto de crítica, quanto de publico.
Dizem que haverá segunda temporada, ambientada noutra casa. Ainda bem, porque essa da primeira já não comporta mais de fantasmas. Ou teriam que mudar o nome pra Albergue Horror Story!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

ARCO ÍRIS ALBINO???


O fotógrafo russo Sam Dobson conseguiu fotografar uma imagem até então desconhecida: Um arco íris albino!
Esse lindo fenômeno da natureza aconteceu no Pólo Norte e ao contrário dos arcos íris normais, que aparecem e refletem as cores após um dia chuvoso, esse surge em dias de neblina quando a luz do sol não esta intensa. A ausência de cores acontece devido a incisão da fraca luz nas pequeníssimas gotas de água presentes na atmosfera.

http://www.revistafotomania.com.br/blog/item/525-sam-dobson-e-seu-arco-%C3%ADris-albino

CAIXA DE MÚSICA 56


O Livro do Genesis – Capítulo VI

Roberto Rillo Bíscaro

Seis meses depois da última postagem a respeito, encontrei tempo pra continuar a trajetória de minha banda favorita, o Genesis.
Novamente trancados em casas de campo, os meninos terminaram o sucessor de Foxtrot. Selling England By The Pound foi lançado em outubro de 1973 e ganhou críticas positivas de meio mundo, inclusive de John Lennon. Chegou ao terceiro lugar da parada inglesa, maior sucesso do grupo até então.
O título alude à transformação econômico-social e o declínio da Inglaterra, engolfada em consumismo, ao mesmo tempo em que enxuta de grana. Em meio ás intrincadas alusões das letras – que vão de Tolkien, Shakespeare e Elliot a uma brincadeira com os nomes das principais redes de supermercados britânicos da época – encontra-se o álbum mais político do Genesis e um dos pináculos do rock progressivo sinfônico. Gabriel, Hackett, Collins, Rutherford e Banks combinaram energia e lirismo em uma obra quase prima, não fosse por um passo maior do que as pernas em Battle of Epping Forest.    
Dancing with the Moonlit Knight sintetiza Selling England by the Pound, até porque o título do álbum foi tirado da faixa de abertura, uma espécie de “ame ou odeie” já no início, solenemente cantado à capela por Peter:

"Can you tell me where my country lies?"
Said the Unifaun to his true love's eyes
"It lies with me!" cried the Queen Of Maybe
for her merchandise, he traded in his prize
 
Tem início um questionamento a respeito dos meios de sustentação do ex-Império Britânico com uma letra recheada de referências a cadeias inglesas de fast food (Wimpy), pronunciamentos de primeiros-ministros e senhoras em portas de saloons com a arma do western moderno: o cartão de crédito. A neo-medievalidade da melodia ganha peso pra voltar ao clima pastoral. Pra fãs genesianos sedentos por curiosidades: o verso "Paper late!" cried a voice in the crowd” seria retomado quase 10 anos depois pra batizar a canção Paperlate, na fase Collins da banda. 
 
I Know What I Like (In Your Wardrobe) é caso raro no mundo prog, que tendia a evitar singles, afinal, a maioria das canções do gênero eram muito longas e complexas. Meio psicodélica, meio glam rock, seus 4 minutos tornaram-se o primeiro single de sucesso do Genesis, alcançando o posto 21 (pruma banda de rock progressivo tava bom demais!). A letra apresenta os característicos pontos de vista múltiplos da fase Gabriel e é sobre um rapaz aconselhado por diversas pessoas a seguir diferentes carreiras pra ser bem sucedido. Ele desdenha os projetos de vida desenhados por outros e afirma ser feliz sendo um aparador de grama. Beirando o pop, a melodia traz cítaras, o teclado de Tony Banks reproduzindo um cortador de grama e refrão grudento, um tanto nonsense. Dizem que foi Peter o descobridor do tom que imitava o cortador de grama no teclado Mellotron, enquanto brincava com o instrumento durante uma ida de Tony ao banheiro.
 
Os nove minutos e meio de Firth of Fifth estão dentre o que de melhor o Genesis compôs. A abertura em piano clássico é seguida por seções de flauta, teclado e um dos solos de guitarra mais lindos de Steve Hackett. O guitarrista tratou o som do instrumento a fim de aproximá-lo do violino e fazer justiça à formação de música clássica de Tony Banks, principal autor da canção. Apenas quem não conhece rock ainda associa o termo a barulho. Ao vivo, a introdução pianística foi abolida ainda em 73, pois Banks sentiu que não podia fazer justiça à sonoridade do grão piano no palco. Também deve ter pesado o fato de ele ter errado a complexa melodia numa apresentação...
 
More Fool Me é uma balada dor-de-cotovelo acústica que traz vocal fininho de Phil. Simples, despojada e popinha, a canção serviu – anos depois - aos muitos detratores do baterista pra detectar um suposto início pro “declínio” do Genesis, sempre atribuído à tomada das rédeas por Collins e sua faina pop. Claramente, um filler, os acusadores parecem esquecer que Mike Rutherford é co-autor. É certo que já havia tensão na banda, mas não foi More Fool me o “começo do fim”.
 
Pra mim, o calcanhar de Aquiles de Selling England é a ambiciosa The Battle of Epping Forest, muita idéia pra pouca realização. A letra quilométrica e trocadílica é sobre uma batalha entre gangues na parte pobre de Londres, com Gabriel mudando de voz pra cada personagem e usando uma espécie de proto-rap em algumas seções, o que leva alguns fãs mais delirantes a dizerem que o Genesis foi precursor do rap (absurdo!). O que acontece é que a letra não se encaixa na melodia por ser verborrágica em excesso. Às vezes Gabriel fala, ás vezes tem que acelerar os vocais pra alcançar a melodia. As inúmeras mudanças de tempo, ritmo e compasso tornam Battle meio com aspecto de colcha de retalhos, onde apenas alguns trechos funcionam bem. Não é uma canção pra se ouvir sempre e foi tirada dos shows da banda assim que a turnê de Selling England terminou.
 
Depois do filler instrumental After the Ordeal – que nada acrescenta ao cânone genesiano e encontrou resistência de Pete e Tony pra ser incluída no álbum – vem outra obra-prima: The Cinema Show. A letra sexualiza a história de Romeu e Julieta, com influência de T. S. Eliot e mitologia grega. Na verdade, parece 2 canções numa só, uma vez que o primeira segmento mais acústico com violão de 12 cordas dedilhado, flauta, fagote e lindas harmonizações vocais entre Gabriel e Collins emenda-se a uma longa seção onde Banks cria uma correnteza de Mellotron, rápida, mas delicada. 11 minutos de êxtase. 
 
A excelência de Selling England by the Pound provou a maturidade do Genesis, sedimentou sua reputação entre as bandas de prog sinfônico e indicou que uma obra-prima irretocável podia sair a qualquer momento. Saiu no ano seguinte, mas as tensões cresciam à galope, devido ao excesso de atenção dado a Gabriel e suas fantasias no palco. O aspecto colaboracionista dos integrantes era desprezado em favor de se atribuir toda a exuberância e qualidade do trabalho ao vocalista. Não que Gabriel o fizesse, mas a mídia em geral fazia vista grossa aos demais membros, holofotando Peter. Conta-se que no processo de composição de Selling England, muitas vezes o cantor e os demais membros trabalharam em locais separados. Todos pressentiam que algo aconteceria.
 
As faixas de Selling England by the Pound, incluindo o lado B do single I Know What I Like.
 

domingo, 22 de janeiro de 2012

A SUPERAÇÃO DE RODRIGO


Apaixonado por motos desde os 14 anos, Rodrigo começou a pilotar com o seu irmão, mais novo que ele. Gosta de adrenalina e da sensação de liberdade. Assistia aos pilotos americanos de MotoCross e sonhava em um dia ser um aventureiro de Freestyle. “Eu ainda pensava: pô eles sempre fazem as mesmas coisas. Será que não é hora de alguém entrar com uma manobra nova?”, lembra Rodrigo.
Não se contentava em só pilotar. Queria também entender motos. Dos 15 aos 19 anos foi mecânico e ao falar disso, soltou uma das colocações que me marcaram. “Tenho vontade de melhorar as coisas. Achava legal pegar uma moto quebrada e transformar ela em quase nova”.
Logo depois do acidente, a sua vida mudou por completo, mas o que mudou primeiro?
O mais básico. Eu cheguei em casa e não conseguia fazer nada sozinho, nem comer, nem me vestir, nem ir ao banheiro, nada. A minha mãe ficava comigo o tempo todo, fazendo tudo. Eu recuperei um pouco de independência, mas devagar. Já faz mais de um ano que o acidente aconteceu. Eu também não sabia muito se eu queria continuar vivendo, ou não. A força que eu tive dos meus pais foi muito importante.
Essa recuperação de independência começou como?
Um dia a minha mãe estava ocupada e eu queria tomar banho. Meus braços ainda funcionam, então eu dei um jeito. Fui me arrastando pelas paredes e consegui. Não queria que minha mãe continuasse a fazer tudo por mim, então resolvi começar a me virar, do jeito que dava.
No meio de tudo isso, você passou por uma recuperação emocional também. Emocional e mental.
Pois é. Antes do acidente o pessoal sempre ia pra minha casa [Eu me mudei de Colombo para Cerro Azul] e meus amigos me chamavam pra sair, dar uma volta e tal. Depois do acidente os meus amigos foram se afastando, acho que pensavam que não daria mais pra gente sair junto, pensavam se teriam que ficar me empurrando, sei lá. Acho que isso é normal, mas seria mais fácil se eu tivesse mais gente perto de mim.
Você fez fisioterapia e recentemente conheceu a ADFP (Associação dos Deficientes Físicos do Paraná). Como foi procurar essas coisas todas?
A gente teve sorte. A Dona Vera já foi minha sogra e perdeu uma filha em um acidente de carro. Ela que apontou os caminhos. Ficou muito perto da minha família e foi indicando pessoas. Sem ela seria bem mais complicado buscar ajuda, porque a minha mãe não iria saber por onde procurar. Ninguém imagina que esse tipo de coisa vai acontecer com alguém perto de você.
A matéria da Gazeta falou que você era um cara namorador. Como é isso agora?
(Risos) Depois do acidente até rolou uma namorada. Era a filha da Dona Vera, a menina com quem eu já tinha namorado, acredita? Quando ela soube o que tinha acontecido, quis se aproximar de mim, cuidar, acho. Mas aí veio uma sensação estranha, achei que ela estava querendo ficar comigo por dó. Até o dia que eu confirmei isso e não quis mais. Dó não é bom pra ninguém.
Eu acho que isso é um assunto meio complicado ainda. Ás vezes a gente até percebe que tem uma menina querendo se aproximar, ter contato. Mas ela pensa “Poxa, ele está numa cadeira de rodas. Como vai ser? O que os outros vão pensar?”. Acontece.
Como você vê o mundo hoje?
Eu olho para as pessoas de outro jeito. A gente entende melhor o que a pessoa está pensando, ou pelo menos dá mais atenção para essas coisas. Parece até que eu fiquei mais inteligente depois do acidente (Risos). Comecei a me relacionar com as pessoas de outro jeito, eu penso mais nas coisas.
Hoje eu tenho vontade de fazer o bem, de falar com as pessoas, de contar a minha história. Eu tenho dois braços que funcionam, uma mente que pensa e uma boca que fala normalmente. Dá pra fazer muita coisa ainda.
O que você quer pro futuro?
Voltar a estudar. Quero ser arquiteto, acho legal pensar em como construir as coisas. Larguei os estudos faz tempo, estudei até a 5ª série, mas sei que é importante voltar.
Depois de conversar por um tempo com Rodrigo, fui falar com a mãe dele, a Fátima, mãe de outros dois meninos. Uma mulher simples na fala que me deu outro ponto de vista sobre o que aconteceu e sobre o que mudou na vida da família. “Ele passou cinco dias em coma. Eu demorei muito para criar coragem e ir visitar o meu filho no hospital. No dia que eu fui, ele saiu do coma”, conta Fátima.
“Meu filho voltou a ser criança pequena. Não fazia nada sem mim e é muito difícil lidar com isso. A gente sempre pediu muita força e rezou bastante. Não pode desistir, né?”
Quis saber como foi a batalha particular dessa mãe. Como é para os pais? Por onde começar? Com quem conversar?
“Ter a Dona Vera por perto foi um presente. Ela foi como uma segunda mãe para o Rodrigo e ajudou muito a gente. Eu até encontrei outras mães e vi que é realmente complicado agüentar por muito tempo. Conheci mães que desistiram, não aguentaram e largaram mão”, lamenta a mãe de Rodrigo.
No fim da conversa ela me disse uma coisa que me fez pensar muito. A esperança maior é algo delicadíssimo de lidar. Fátima, assim como muitas outras mães, tem a esperança que o filho volte a andar e acredita em um milagre. Fiquei pensando nessa palavra. Milagre.
O Rodrigo bateu em um caminhão, deu uma pirueta com a moto e esmagou a nuca em uma mureta de concreto. Ficou em coma por cinco dias e precisou ter a cabeça dos dois fêmures cerradas. Teve a sua vida interrompida no período de transição entre a adolescência e a idade adulta e agora lida com escaras, feridas na pele comuns entre pessoas sem mobilidade em alguma parte do corpo.
Mesmo com tudo isso, ele tem “braços que funcionam, uma cabeça que pensa e uma boca que fala”. Será que o milagre não é esse?