domingo, 23 de abril de 2023

GOLFINHO ALBINO RARÍSSIMO

Golfinho albino raríssimo é avistado
Damares Alves

Imagem: Lloyd Edwards/Raggy Charters

Um acontecimento extraordinário surpreendeu um casal recém-casado e seus convidados durante um passeio de observação de baleias na África do Sul. No dia 4 de abril, em meio a uma viagem pela Baía de Algoa, na província do Cabo Oriental, um golfinho albino foi avistado, provavelmente pela primeira vez na história da região.

O filhote de golfinho-nariz-de-garrafa do Indo-Pacífico (Tursiops aduncus) foi visto pelo capitão do barco e dono da Raggy Charters, Lloyd Edwards, que descreveu a emoção do momento em uma publicação no Facebook.

O avistamento ocorreu quando Edwards percebeu um clarão branco na água entre cerca de 200 golfinhos. O filhote albino, com aproximadamente um mês de idade e 1 metro de comprimento, é possivelmente um verdadeiro albino, embora especialistas afirmem que apenas testes genéticos poderiam confirmar essa condição com precisão.

Albinismo e leucismo
O albinismo é uma condição genética que impede a produção de melanina, pigmento responsável pela coloração da pele, pelos, penas e olhos dos animais. Por isso, os animais albinos apresentam coloração branca e olhos rosados, mais sensíveis à luz. Essa condição pode ser confundida com o leucismo, que também afeta a produção de melanina, mas resulta em animais com coloração branca, amarela opaca ou manchas de ambas misturadas à coloração normal.

Imagem: Lloyd Edwards/Raggy Charters

A coloração branca sólida do golfinho sugere que ele seja um verdadeiro albino, e não leucista, conforme explicou Erich Hoyt, pesquisador da Whale and Dolphin Conservation (WDC) no Reino Unido e autor da “Encyclopedia of Whales, Dolphins and Porpoises”. No entanto, a falta de informações sobre a cor dos olhos do golfinho dificulta a confirmação do albinismo. Ainda assim, Hoyt acredita que o filhote tenha boas chances de sobrevivência até a idade adulta, mesmo com a visão prejudicada.

Sobrevivência e reprodução

Golfinhos-nariz-de-garrafa têm poucos predadores naturais, como orcas e grandes tubarões, e a cor do filhote albino não deve fazer diferença nesse contexto. Além disso, a visão comprometida não deve afetar significativamente a vida do animal, uma vez que golfinhos se comunicam e caçam por meio de sons. O indivíduo também deverá ser capaz de ter filhotes com coloração normal no futuro, a menos que seu parceiro também possua genes albinos.

Outros avistamentos

Essa não é a primeira vez que um jovem golfinho albino é avistado. Em junho de 2017, um golfinho Risso albino (Grampus griseus) de três anos de idade foi visto nadando com sua mãe na Baía de Monterey, na Califórnia. Na ocasião, especialistas também acreditaram que o indivíduo apresentava boas condições de saúde e grandes chances de sobrevivência.

BONECAS INCLUSIVAS

Artesã cria bonecas inclusivas e linha com personagens regionais

Inês Machado fez bonecas que representam atleta Tião da Zica, bailarina Vitória Bueno e crianças autistas, com síndrome de down e deficiência.

Nayara Andery / 19 abril 2023


Crianças podem encontrar em brinquedos uma forma de se identificar com o mundo. Essa é a ideia da artesã Inês Machado, de Pouso Alegre, ao criar a linha de bonecas inclusivas que representam crianças negras, albinas, com autismo, síndrome de down e deficientes.

A inspiração veio da sobrinha albina e dois sobrinhos autistas. “Meus sobrinhos gostam muito de brinquedo molinho. E eles não têm como ser representados quando saem para algum lugar, pois o autismo não tem cara. Falei para minha irmã, que tal criar um boneco do autismo para ele? Deu certo, fiz o boneco e ele leva quando sai e agora as pessoas percebem que ele tem autismo.”
Apaixonada por bonecas desde a infância, Inês começou a fabricação há sete anos, por hobby. “Na infância eu tinha vontade de ter aqueles bebezões e eram muito caros. Sempre gostei de boneca e um dia falei que ia comprar uma máquina e iria fazer. Comprei a máquina e comecei a fazer bonecos para o meu filho, com macacão de bebê dele.”


Estilos e identificação

Inês participa do Programa de Gestão do Artesanato (Progeart) e faz bonecas humanizadas, tradicionais e inclusivas. “Criei a boneca deficiente física para brincar, tirar e colocar a prótese e se ver no brinquedo e vou fazer outros modelos como a de óculos.” O objetivo é ajudar as crianças a se relacionarem com o mundo “de forma lúdica, divertida e podendo ser representadas no brinquedo”.

Durante o curso o instrutor descobriu o talento dela para as bonecas inclusivas, um nicho de mercado ainda novo. “O projeto fez a gente sair da caixinha, fazer um trabalho de identidade e puxar o artesanato na raiz. Criei meus moldes e pesquisei histórias de Pouso Alegre para criar bonecos representando a minha cidade e com identidade minha.”

Assim surgiu a linha de bonecos inspirados em pessoas conhecidas e atuantes no Sul de Minas, como o atleta pousoalegrense Sebastião Cezário, conhecido como Tião da Zica. “Ele era casado com minha tia e gostava muito de criança. Ele tinha o sonho de criar uma horta comunitária para ajudar crianças carentes. E hoje tem uma creche que leva o nome dele e tem uma horta lá.”

O protótipo foi aperfeiçoado e ela quer agregar ao boneco sementes de hortifruti para incentivar crianças a plantarem e se alimentarem de forma saudável. “Eu fiz o boneco voltado para minha linha infantil. Criei o Tiãozinho da Zica.”

A bailarina Vitória Bueno, de Santa Rita do Sapucaí, é conhecida mundialmente e inspirou uma boneca. “Vi a história de superação de Vitória, me apaixonei e no outro dia sentei na máquina e saiu uma boneca que representa ela, é uma homenagem.”

Uma das linhas representa produtores de morango, idosos e tem modelos surpresa que serão lançados na feira da Progeart, em junho. Inês valoriza o artesanato colaborativo, a paixão por bonecas e quer fazer crianças felizes ao encontrarem a personalidade delas ou de pessoas da região, retratada em brinquedos.

MELHORIAS PARA OS ALBINOS DA PARAÍBA. SERÁ?

MPPB cobra políticas públicas voltadas às pessoas albinas e secretarias de Saúde se comprometem a coletar informações


A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PB) e o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde da Paraíba (Cosems-PB) deverão elaborar, no prazo de 10 dias, um formulário para que as equipes de saúde dos municípios coletem informações sobre os dados populacionais das pessoas albinas e alimentem, posteriormente, os sistemas de informação do SUS e da Atenção Básica de Saúde (Sisab) com os dados obtidos.

A medida é um dos encaminhamentos da reunião promovida pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) com representantes da SES-PB, Cosems-PB, conselhos regionais de Medicina (CRM), Psicologia (CRP) e Enfermagem (Coren), ativistas e pessoas albinas para discutir e cobrar políticas públicas destinadas à população que tem o distúrbio genético caracterizado pela ausência total ou parcial de melanina (pigmento responsável pela coloração da pele, pelos e olhos).

De acordo com o Coletivo Albinos da Paraíba, as pessoas que têm essa condição sofrem com o preconceito na sociedade, com o bullying na escola e com o despreparo dos profissionais da saúde; também enfrentam dificuldade de acesso a serviços médicos especializados - como dermatologia, oftalmologia e assistência psicológica - e são mais suscetíveis de desenvolverem doenças graves, como câncer de pele e cegueira.

Problemas que poderiam ser resolvidos, inclusive, com medidas simples, já implementadas em outros Estados - a exemplo da Bahia e Alagoas -, como a disponibilização gratuita de kits com protetor solar, óculos escuro, camisas e chapéus com proteção solar (UVA/UVB) a esse público.

Descumprimento da lei

Além da invisibilidade e da ausência de políticas públicas por parte do Estado, o Coletivo também denunciou ao MPPB que a Lei Estadual 9.589/11 - que garante a distribuição de protetores solares à população albina - nunca foi cumprida.

Para garantir o direito à saúde dessa população, a coordenadora do Centro de Apoio Operacional às promotorias de Justiça da Saúde do MPPB, a promotora de Justiça Fabiana Lobo, instaurou o Procedimento Administrativo 001.2023.018079 e promoveu, nessa terça-feira (18/04), reunião híbrida, no auditório da Promotoria de Justiça de João Pessoa e por videoconferência, com gestores públicos, Famup, CRM, CRP e Coren, Funad, ativistas e pessoas albinas. O objetivo é avançar na elaboração de políticas públicas destinadas a esse público.

Também participaram da reunião a coordenadora do Centro de Apoio Operacional às promotorias de Justiça da Cidadania, a promotora de Justiça Liana Carvalho e o promotor de Justiça de João Pessoa que atua na defesa da Saúde, Leonardo Pereira de Assis.


Escuta acolhedora

Os representantes do MPPB destacaram que a reunião teve como objetivo ouvir a população albina do Estado da Paraíba e conhecer as dificuldades enfrentadas nas áreas da saúde e cidadania para que sejam dados os encaminhamentos adequados aos órgãos públicos, a fim de que sejam respeitados os direitos fundamentais dessas pessoas.

Na ocasião, o professor Adailton Aragão, ativista da causa albina, disse que no levantamento realizado para o seu mestrado, foi identificado que existem pessoas albinas nas cidades de João Pessoa, Bayeux, Santa Rita, Alhandra, Itapororoca, São Sebastião de Lagoa de Roça, Areial, Juazeirinho, Boqueirão, Remígio e Taperoá, sendo que 69,2% delas são mulheres e 30,9%, homens. O estudo também apontou que os albinos sofrem forte preconceito na sociedade e que falta representatividade dessas pessoas.

Os conselhos de classe e a Famup defenderam que o conhecimento sobre o albinismo é essencial para a não discriminação das pessoas e se colocaram à disposição para ajudar nas ações que promovam os direitos desse público.

A representante da SES-PB, Maria Izabel Sarmento, por sua vez, defendeu que as políticas públicas para as pessoas com albinismo devem ser reforçadas através da atenção básica e reconheceu que existe uma falha no IBGE e Sisab relacionada ao cadastramento e levantamento de informações sobre esse público, o que leva o Estado a não ter um dado correto sobre a quantidade de pessoas albinas em seu território.

Outros encaminhamentos

Além do levantamento de informações sobre as pessoas albinas no Estado, ficou deliberado que a SES-PB vai promover, em até 30 dias, uma reunião temática sobre o albinismo no Estado, com a participação do CRM, CRP e Coren, Instituto dos Cegos, Funad, Famup, Cosems e os coletivos das pessoas albinas da Paraíba. Foi sugerido que, nesta reunião, sejam discutidas a construção de um protocolo da atenção primária de saúde e a criação de campanha publicitária educativa sobre o albinismo.

Outra medida já adotada pelo CAO Saúde foi a elaboração de peças jurídicas (minutas de portaria para instauração de inquérito civil público, recomendação, TAC e ação civil pública) destinadas aos promotores de Justiça que atuam na defesa da saúde para auxiliá-los a investigar se os municípios em que atuam estão adotando as medidas necessárias para garantir o direito à saúde das pessoas com albinismo.