quinta-feira, 30 de junho de 2011

NOVO PROJETO DE LEI EM SÃO PAULO


Ontem, Luiz Ferreirinha, assessor do deputado estadual paulista Carlos Giannazi (PSOL) me mandou email dizendo que o parlamentar apresentou novo projeto sobre albinismo à Assembleia Legislativa. 
Fico lisonjeado em ter sido citado na Justificativa do Projeto e agradeço ao deputado e a sua equipe pela atenção que vem prestando às pessoas com albinismo do estado de São Paulo. 
Leia o texto do PL:


PROJETO DE LEI Nº 649, DE 2011
Assegura às pessoas portadoras de albinismo o exercício de direitos básicos nas áreas de educação,
saúde e trabalho,no estado de São Paulo.
A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO
DECRETA:
Artigo 1º - Fica assegurado às pessoas portadoras de necessidades especiais em razão de
hipopigmentação congênita (albinismo) direitos básicos nas áreas de educação, saúde e trabalho,
com vistas ao seu bem-estar pessoal e à sua integração social:
I - em educação:
a) assegurar matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos educacionais públicos
em todos os níveis, com vistas à sua integração ao sistema regular de ensino;
b) criar, na escola, ambiente estimulante e apropriado às especificidades do aluno portador de
deficiência visual em razão do albinismo;
c) instituir cotas nas universidades públicas estaduais para alunos portadores de albinismo egressos
de escolas ;
d) assegurar a presença, na escola, de professor especializado, conhecedor das particularidades
educacionais dos portadores de albinismo;
e) apoiar, na sala de aula, os alunos portadores de albinismo no uso de recursos óticos e não-óticos e
no acesso a textos e livros impressos em tipos ampliados que compensem suas limitações individuais;
f) orientar e disponibilizar ao aluno portador de albinismo na utilização de protetores solares quando
da realização de atividades externas e, na prática de educação física;
g) facilitar a escolha de atividades condizentes com suas limitações visuais sem prejuizo ao seu
desenvolvimento educacional.
II - na saúde:
a) estabelecer prioridade no atendimento e no tratamento de portadores de albinismo, nas unidades
públicas de saúde;
b) proporcionar acesso dos portadores de albinismo aos serviços públicos de saúde para a realização
periódica de exames oftalmológicos e dermatológicos e oncológicos, para o monitoramento dos riscos
de cegueira e de câncer de pele;
c) facilitar a aquisição de equipamentos necessários à proteção dos olhos (óculos de sol ) e da pele
(protetores solares de diversos fatores) e que permitam a melhoria funcional e a autonomia pessoal
dos portadores de albinismo;
d) promover o trabalho de prevenção, através do aconselhamento genético e psicológicos.
III - no trabalho:
a) intermediar a inserção das pessoas portadoras de albinismo no mercado de trabalho, utilizando
sistemas de apoio especial ou de colocação seletiva;
b)promover serviços de habilitação e de reabilitação profissional das pessoas portadoras de albinismo,
com o objetivo de capacitá-las para o trabalho.
Artigo 2º - O Poder Executivo determinará às Secretarias de Estado pertinentes para a garantia dos
direitos elencados no artigo anterior as providências necessárias.
Artigo 3º - Os gastos para a execução dessa lei correrão por conta das dotações orçamentárias
próprias, suplementadas se necessário.
Artigo 4º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, devendo ser regulamentada no que
couber, em 90 (noventa) dias.
JUSTIFICATIVA
O Albinismo confere à pessoa a cor branca (rósea) da pele, dos pelos do corpo e olhos, devido à
ausência da produção da melanina - substância que confere a proteção aos raios UVA e UVB. Em
consequência, as pessoas estão sujeitas a desenvolver precocemente diminuição da acuidade visual
e até cegueira, além de inúmeras lesões de pele pré-cancerígenas e cancerígenas, mesmo quando
expostos à iluminação solar indireta.
Apesar da abrangência de uma importante parcela da população, as pessoas com albinismo vivem
hoje em um processo descriminatório constante e em situação de pobreza e abandono, obrigadas a
se lançarem cedo no mercado de trabalho geralmente informal, em atividades desenvolvidas sob
grande exposição solar, tais como: ajudantes de pedreiro, jornaleiro, verdureiro, o que contribui para
agravar suas mazelas. Apesar disso, até o momento, inexistem ações públicas específicas voltadas
para a acessibilidade e inclusão das pessoas com albinismo. Existem vários tipos de albinismo,
entretanto a forma mais perigosa é a que determina a total ausência de pigmentação por todo o corpo.
O cotidiano do albino, portanto, é marcado pela intolerância à luz solar e ameaçado, constantemente,
pelos riscos da cegueira e do câncer de pele. Por ser considerada uma pessoa portadora de
necessidades especiais, o albino precisa de apoio para que seja assegurado o exercício dos seus
direitos básicos hoje contidos em vários artigos da Constituição Federal.
O Estado de São Paulo precisa criar políticas públicas de atenção aos portadores de albinismo,
contemplando as diversas fases da vida, desde o nascimento até a fase adulta, com ênfase para o
atendimento nas áreas de dermatologia e oftalmologia. É preciso dar visibilidade à luta das pessoas
com albinismo, hoje totalmente invisíveis ao poder público e à sociedade; é preciso mobilizar estas
pessoas e, principalmente, sensibilizar os poderes públicos para os problemas enfrentados pelos
albinos. Ou tração necessária é o levantamento diagnóstico da situação real do país nessa questão da
saúde pública: um censo de toda a população albina do Brasil. Como diz o professor doutor
ROBERTO BISCARO, militante da causa albina, criador do blog o albino incoerente:
"devemos discutir não só a questão da atenção básica para os portadores de albinismo, mas
aproveitar para discutir como podemos avançar na quebra da ‘invisibilidade’ das pessoas albinas,
porque quanto menos o albino aparece, menos consegue alcançar seus direitos hoje".
Neste sentido e por estas razões esperamos que a tramitação desse projeto de lei encontre guarida
entre os nobres deputados e possa merecer aprovação desta casa.
Sala das Sessões, em 22/6/2011
a) Carlos Giannazi - PSOL
(Encontrado em ftp://ftp.saude.sp.gov.br/ftpsessp/bibliote/informe_eletronico/2011/iels.jun.11/Iels120/E_PL-649_2011.pdf)

TELONA QUENTE 26


cartaz de Fora do Jogo
Outro Gol da Seleção Iraniana

Roberto Rillo Bíscaro


Dia importante pros ávidos amantes do futebol no Irã; a seleção enfrenta o Bahrein pra tentar garantir uma vaga no mundial da Alemanha. Teerã mobiliza-se pra partida e o clima é de frenesi. Entretanto, parcela expressiva está proibida de fazê-lo: as mulheres não são permitidas em estádios porque ouviriam muitos impropérios ditos pelos homens. Numa sociedade tão conservadora e repressora existe espaço pra transgredir? Sim. Neste caso, mulheres disfarçam-se de homens pra driblar a polícia e assistir ao certame, algumas vezes auxiliadas pelo próprio sexo masculino. Correm o risco de serem presas, mas, usam a confusão de gêneros na arena esportiva como forma de fissurar tabus.
Offside (2006. Fora do Jogo, em português), do diretor Jafar Panahi é um misto de docudrama, comédia e farsa, filmado quase inteiramente no estádio, bem no dia da partida decisiva. A censura no Irã é pesada e agressiva (Panahi mesmo foi sentenciado a 10 anos de prisão ano passado), por isso, pra filmar Offside no estádio, o diretor mentiu que se tratava de outro filme. Assim como suas personagens travestidas, Offside teve que recorrer ao mesmo estratagema.
Nele, vemos uma jovem que se disfarça (mal) de homem e acaba confinada num cercadinho junto com outras mulheres igualmente subversivas. Tomando conta delas, soldados que estão ali a contragosto, uma vez que prefeririam estar em suas aldeias cuidando de seu gado ou assistindo à decisiva partida.
Os diálogos são ágeis, inteligentes e quicam com humor irônico e atrevido, mostrando personagens femininas rápidas no raciocínio e na língua, além de sem temor de ousar. Panahi usa o microcosmo do estádio como alegoria da repressão e da possibilidade de se achar respiradouros nela.
A sequência onde a jovem pede ao guarda que a leve ao banheiro é uma das mais brilhantes de Fora do Jogo. O recinto obviamente não tem sanitários femininos. O que se vê são minutos de pura farsa, recheados de tensões e alusões e confusão de gêneros.
Como as meninas, o espectador não vê o jogo, a não ser em fugazes momentos pela tela duma TV. Isso não impede – talvez até seja o motivo – de que vibre e sofra e torça por elas e até pelo time.
Com certeza, Offside é a melhor partida de futebol que (não) vi e o melhor filme do semestre!    

IPAD INCLUINDO ALBINOS


iPad ajuda menina com problemas de visão

Por Bianca Hayashi,
A história da vida de Holly Bligh, 9 anos, conseguiu comover até mesmo o CEO da Apple,Steve Jobs. Holly tem albinismo, um distúrbio congênito que afeta a pigmentação parcial ou completa da pele, cabelo e olhos – e também a visão.
Como conta o site Herald Sun, Holly costumava usar pesados óculos e a falta de visãoprejudicava sua atenção em sala de aula. Mas tudo mudou quando seus pais lhe presentearam com um iPad.
Com o tablet da Apple, o simples fato da estudante poder aumentar o texto a ser estudado já está ajudando muito no aprendizado. Antigamente, os textos precisavam ter aumentados pelos professores nas máquinas de xerox. Segundo a mãe de Holly, Fiona, a capacidade da filha de focar em uma atividade aumentou muito e a fatiga visual demora o dobro do tempo para aparecer.
“O entusiasmo de Holly em ler aumentou muito e [o iPad] aumentou a sua independência”, explica Fiona ao Herald Sun. Ela ficou tão impressionada com a transformação da filha que mandou um email para Steve Jobs contando a história.
Em horas, ela recebeu uma resposta não esperada do cofundador da Apple:
“Obrigado por compartilhar a sua experiência comigo. Você se importaria se eu lesse o seu email ao nosso grupo de 100 líderes na Apple?
Obrigado, Steve”
Steve também pediu uma foto em alta resolução da menina com o iPad. “Eu nunca pensei que ele nos responderia”, disse Fiona. “Eu sei que muitas pessoas pensam que o iPad é apenas um ótimo gadget, mas ele mudou completamente a vida da Holly”, afirma. Fiona e seu marido James não sabiam que carregavam o gene do albinismo (as chances de ter um filho albino são de uma em quatro) até terem Holly, a terceira criança do casal.
Agora, a filha é vista como alguém interessante pelos colegas de escola. “As outras crianças acham maravilhoso que ela tem um iPad. Algumas vezes no passado, a Holly achava o equipamento extra dela vergonhoso… mas o iPad é um aparelho muito legal”, completa.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O QUE É GINÁSTICA LABORAL?

CONTANDO A VIDA 40

Com a correria da vida contemporânea e suas geringonças maravilhosas, será que ainda cabe afirmar que existe um tempo para cada coisa? É sobre essa questão que nosso cronista filosofa sebianamente hoje.  

A MÁQUINA DO TEMPO...
José Carlos Sebe Bom Meihy
Dia desses, nem sei por que motivo, me veio à lembrança uma das passagens bíblicas de que mais gosto. Inscrita no Eclesiastes, lê-se que há um “tempo para tudo”: tempo para amar, tempo de guerrear, de lembrar e esquecer; há um tempo de rasgar e outro de coser.” Bonito, não? Profundo também. Impossível, contudo. Se considerarmos os atropelos e encargos da vida moderna tem-se direito de duvidar da possibilidade de separação temporal, do tempo único, exclusivo, seleto e bom. Vidro frágil e sujeito a pedradas, a meditação sobre a tranquilidade faz com que consideremos os doces versos de Tom Jobim, uma ilusão sem lugar, pois como supor além da utopia, hoje, “um cantinho um violão/ Este amor, uma canção/ Pra fazer feliz a quem se ama/ Muita calma pra pensar/ E ter tempo pra sonhar...”. Tempo pra sonhar... aiai...

Globalizados, vítimas da síndrome do instantâneo ou do chamado “tempo real”, somos arrastados a viver sincronicamente processos variados. O espaço e o tempo modernos se fundem anulando velhas concepções. Em casa, na solitude do quarto, no escritório na imersão do trabalho, no espaço de lazer perturbando o benefício do ócio eis que celulares, computadores, notícias radiofônicas ou televisivas nos tragam. E o ritmo é tão alucinante como o espetáculo que transforma um acontecimento em mais sensacional do que o anterior. Na voracidade da informação, distâncias ficaram anuladas e sem valor a imposição de fusos horários. Tudo é aqui e agora e acontece frente aos nossos olhares cada vez mais desorientados e passíveis. Obsessões de atualidade nos fazem consumidores de novidades como se elas atualizassem nossas ligações com o mundo e nos fizessem mais conscientes. Sem dúvidas, os aparelhos da modernidade eletrônica facilitam muito, mas o fazem em conluio com o capital e com o fito de nos habilitar mais produtivos para o trabalho e seus desdobramentos. Brota daí o dilema ontológico entre o homo sapiens e o homo faber. Tudo é muito sutil e perverso, pois no mesmo impulso do voraz consumismo que nos caracteriza corre a facilitação para avanços da ciência ou da comodidade desejável. A pluralidade de respostas oferecidas pelos tais “progressos” confunde muito. É comum não termos respostas absolutas sobre conveniências ou encargos negativos destes aparelhos que sim, são viciantes na mesma medida em que curam males ou ocasionam prazeres. Como pensar, por exemplo, em viver sem computador? Na sequência em que os serviços – contas, inscrições em concursos, pagamentos agendados pelo ministério público – são feitos via máquinas, como ficar sem eles? E os deleites da música ou do cinema ao se tornarem portáteis? Encantos. Nem preciso evocar o significado de “analfabetismo digital” para dizer do impacto das máquinas na vida cotidiana e da solidão que teríamos, modernamente, sem elas.

O desejável equilíbrio entre virtudes e fatalidades da eletrônica moderna torna-se complicado quando exercitamos a leitura da vida pela ótica do tempo e da temperança. “O tempo não para” alertaram Cazuza e Arnaldo Brandão, que nos agrediram com passagens como esta “Disparo contra o sol/ Sou forte, sou por acaso/ Minha metralhadora cheia de mágoas/ Eu sou um cara/ Cansado de correr/ Na direção contrária/ Sem pódio de chegada ou beijo de namorada/ Eu sou mais um cara”. Antes deles, aliás, Raul Seixas declamava o direito à confusão pessoal dizendo que “Eu prefiro ser/ Essa metamorfose ambulante/ Do que ter aquela velha opinião/ Formada sobre tudo/ Do que ter aquela velha opinião/ Formada sobre tudo/ Sobre o que é o amor/ Sobre o que eu nem sei quem sou/ Se hoje eu sou estrela/ Amanhã já se apagou/ Se hoje eu te odeio/ Amanhã lhe tenho amor”. Sintoma efervescente do posicionamento humano, a exigência da mutação sensível é um dos dramas mais sérios da vida contemporânea. O que mais fica comprometido é a segurança dos valores. Como não nos resta tempo para pensar, decidir, assumir posições que nos definam com fundamentos, o tempo real nos faz vulneráveis aos ventos. O excesso de notícias, o bombardeio de opiniões contrárias e contraditórias, a velocidade da sucessão de fatos dramáticos, permitem pensar que a evocação bíblica tem efeitos poéticos e que por isso mesmo nos deve evocar a saudade do tempo de sua inocente leitura.  

terça-feira, 28 de junho de 2011

VIOLINO ÀS ESCURAS

Violinista cego é convidado a tocar com maestro João Carlos Martins

Apresentação ainda não tem data, mas deve acontecer no segundo semestre deste ano

Hélder Rafael
O violinista e deficiente visual Rittlher Martins, de 22 anos, foi convidado pelo maestro João Carlos Martins para participar de um concerto em São Paulo. O convite foi feito durante a apresentação do musicista ao lado do maestro em uma palestra em Campo Grande, na quinta-feira, dia 16. O concerto ainda não tem data marcada, mas deve acontecer até o fim do ano, segundo Martins.
Um problema genético fez com que Rittlher perdesse totalmente a visão aos 9 anos, mas isso não o impediu de iniciar os estudos de música. Filho de pais musicistas, o jovem conta que a paixão pelos sons nasceu na infância: "eu identificava a música da natureza, a voz do vento soprando na copa das árvores, a arrebentação do mar. Já cego, veio o desejo de tocar violino, porque eu me identificava com o timbre do instrumento", diz. Nas primeiras aulas, aos 12 anos, Rittlher já demonstrava aos professores facilidade para o aprendizado. Em pouco tempo, ele já conseguia interpretar as composições.
Em vez de ser um empecilho, a cegueira serviu como estímulo para o violinista. "As pessoas se motivam vendo a minha capacidade de lidar com o problema. Eu tenho o privilégio de transmitir essa força", afirma. Atualmente ele participa de várias atividades no Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos (Ismac), em Campo Grande.
Rittlher conta que se identificou com a história de vida de João Carlos Martins. "Ele tem uma determinação incrível, porque depois de adquirir tanta habilidade, perdê-la e recuperá-la é algo muito difícil. O maestro transmite alegria e felicidade e serve de espelho para qualquer um", diz o jovem.
O violinista está empolgado com as possibilidades que podem surgir a partir desse convite e sonha com uma carreira internacional. "O ser humano é do tamanho do seu sonho. Acredito que estou a poucos passos de alcançar algo que era quase inatingível para um jovem de cidade pequena e família humilde", diz Rittlher.

CELULAR INCLUSIVO

Celular especial para deficientes auditivos e visuais já está a venda no Brasil
Um celular que presta ajuda às pessoas com perdas auditivas ou visuais, ou que sofrem com problemas de mobilidade e memória. Essa foi a ideia da empresa brasileira CellDesign ao desenvolver o modelo BP01. O celular, que pode ser manuseado de forma bastante rápida e fácil, mantém o usuário conectado, o tempo todo, aos seus parentes ou cuidadores.
As teclas são em alto-relevo, com números em fontes bem grandes, para facilitar a visualização. As cores e o tamanho das letras exibidas na tela também são pensadas para aqueles que têm problemas visuais. Já os deficientes auditivos podem configurar o volume para até 25 dB – muito mais que os modelos comuns, que normalmente não passam de 10 dB.
O aparelho ainda apresenta um acabamento emborrachado, e é resistente a quedas de até 1,80m. Aliás, esta é mais uma vantagem: um sensor de quedas é capaz de detectar grandes impactos. Dessa forma, ele é capaz de reconhecer acidentes e, automaticamente, aciona 5 números cadastrados pelo usuário. Esses contatos são alertados via SMS e, caso não haja retorno, o sistema de ligação é acionado automaticamente, até que algum deles responda. Com a chamada atendida, os celulares entram no modo viva-voz, para facilitar o contato. O botão SOS, para situações emergenciais, possui funcionamento semelhante e é localizado na parte posterior do aparelho.
Aqueles que têm pouca memória e vivem esquecendo o horário de tomar remédios também podem aproveitar dos recursos de assistência médica. O telefone controla o horário e a recarga de medicamentos, e lembra seu dono do dia e horário de consultas médicas, mesmo se o equipamento estiver desligado.
O celular também vem com Bluetooth, lanterna LED, rádio FM e bloqueador de chamadas. Os aparelhos estão à venda no site da empresa por R$ 575,00, ou 10 x R$ 63,98.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

CAIXA DE MÚSICA 38



O Livro do Genesis – Capítulo IV

Roberto Rillo Bíscaro

Formação sólida com músicos de alta qualidade e extensa agenda de shows, que permitiam muito treino. O Genesis tinha tudo pra compor seu primeiro álbum realmente grande. E o fizeram. Lançado em outubro de 1972, Foxtrot é o primeiro da tríade de obras-primas progressivas da era Gabriel. Produção impecável, intrincadas composições - abundantes de referências musicais e literárias – e Supper’s Ready, longa e variada suíte com 23 minutos de duração, fazem de Foxtrot uma das gravações fundamentais do rock progressivo em sua vertente sinfônica.
 O álbum abre com Watcher of the Skies e sua majestosa introdução organística, presente de Tony Banks. O uso do Mellotron 2 provou ser tão influente, que em versões subseqüentes do teclado, a introdução de Watcher of the Skies vinha como um dos riffs embutidos. Phil Collins toca batera em uma espécie de código Morse e Mike Rutherford força o pé no pedal de seu baixo. A guitarra de Steve Hackett pontua e conduz boa parte da canção. Peter Gabriel finalmente alcança maturidade vocal e se sai com uma performance profética, que muitos tentaram imitar (em vão). Sete minutos e meio de pura viagem intergaláctica prog. A letra sci-fi pós-apocalíptica fala sobre um alienígena visitando uma Terra devastada pelo próprio homem. Has life again destroyed life?, pergunta-se o visitante, solitário em um planeta habitado apenas por lagartos. A idéia pra canção foi de Banks e Rutherford, enquanto ensaiavam numa grande e deserta arena italiana. Eles imaginaram como seria se um ET visitasse um planeta Terra deserto. Um bocadinho de influência de Keats e Joyce materializaram a canção. Educação esmerada não faz mal, né?
Uma das acusações ao rock progressivo foi a “alienação”, devido à grande quantidade de letras misticóides e contofadistas. Get’em Out By Friday - outro clássico genesiano/prog presente em Foxtrot – complica esse ataque. A letra mescla ficção-científica, tecnofobia e comentário social. Em seus mais de 8 minutos, Gabriel canta sobre inquilinos despejados pela corporação Styx Enterprises, os quais serão realocados pra outros conjuntos habitacionais. A letra, composta a partir de múltiplos pontos de vista e passagem de tempo, anuncia que em 2012 o órgão intitulado Genetic Control terá reduzido a estatura da espécie humana a fim de colocar o dobro de moradores em um mesmo edifício. De arrepiar quando a voz alterada de Peter anuncia "It is my sad duty to inform you of a four foot restriction on humanoid height" para, em seguida, com outra voz e pronúncia, mudar a cena prum pub onde alguém comenta o real motivo da alteração “It's said now that people will be shorter in height/they can fit twice as many in the same building site.” Na verdade, a canção parece mais uma minipeça de teatro cantada, com grande trabalho de guitarra de Hackett e variações de tempo, conforma cada personagem fala. Submersa sob 3 obras-primas, está Can-Utility and the Coastliners, hoje obscura, mas, uma de minhas favoritas do repertório da banda. Com ela, o Genesis volta ao século XI, pouco antes da invasão normanda á Inglaterra, revisitando a lenda do Rei Cnut. Monarca viking, o hoje esquecido Cnut (ou Kanute) conquistou a Inglaterra. Diz a lenda que ele, perante a abjeta lisonja de seus súditos, ordenou que a maré parasse de subir, pra provar que um rei não possuía tantos poderes como se imaginava. Vocais delicados, violões dedilhados misturam-se com um longo solo de teclado e trechos de guitarra e vocais urgentes, que conduzem ao final operático. A partir do segundo minuto, quando Banks entra com seu Mellotron, a canção vira um sonho de prog sinfônico grandiloquente. Letra e música são pratos cheios pros odiadores da pretensão e “alienação” do rock progressivo! Amo desmesuradamente, porém.  
Sanduichada entre as 2 primeiras canções comentadas neste texto, a delicada Time Table nunca teve chance de se destacar. Herdeira da época de Trespass e Nursery Cryme, a delicada alegoria medieval traz belo trabalho de piano, mas não dá pra não sentir que é filler (termo usado pra designar canções que literalmente estão num álbum pra “enchê-lo”).   
Precedida por Horizons, espécie de vinheta de violão acústico inspirada em Bach, Supper’s Ready ocupava quase todo o lado B do vinil. Pouca dúvida resta de que seja A (maiúscula proposital) obra-prima do Genesis, mesmo que não seja a favorita do coração de algum fã. Supper’s Ready tem todos os elementos que garantem seu lugar como uma das marcas-registradas do rock progressivo.
As influências musicais passam pelo folk, música concreta, clássica, vaudeville, rock. Dividida em 7 seções, com nomes bizarros, trechos se repetem, voltam sob forma ligeiramente alterada em outras seções e há sucessivas modificações de andamento e ritmo. As referências da letra são tantas que ninguém jamais conseguiu realmente saber claramente do que se trata Supper´s Ready. Resumindo, pode-se dizer que é sobre a batalha do bem contra o mal, evocada pelo tom apocalíptico do final. A ceia do título pode ser aquela referida no livro do Apocalipse, capítulo 19, versículo 17: “E vi um anjo que estava no sol, e clamou com grande voz, dizendo a todas as aves que voavam pelo meio do céu: Vinde, e ajuntai-vos à ceia do grande Deus.” Há um “angel standing in the sun” na letra.
Alem disso, há a riqueza poética duma letra que passeia por William Blake, T. S. Elliot, pelo típico humor nonsense britânico ( there's Winston Churchill, dressed in drag, he used to be a British flag, plastic bag, what a drag!"), cheia de jogos de palavras (If you go down to Willow Farm, to look for butterflies, flutterbyes, gutterflies) e aliterações (Six saintly shrouded men move across the lawn slowly/The seventh walks in front with a cross held high in hand). Pra deixar a interpretação ainda mais complexa e fascinante, há relatos de membros da banda que atestam que determinadas partes foram inspiradas por isso ou aquilo. Exemplo: Gabriel diz que o começo da letra diz respeito a experiências que ele e sua esposa Jill tiveram com possessão mediúnica e fantasmas! Seja lá o que Supper’s Ready signifique, a habilidade de Gabriel em criar letras com poderosa força imagética é inegável. 
Ainda me lembro duma apostila de cursinho pré-vestibular da década de 70, pertencente a uma prima, que trazia a primeira parte de Supper´s Ready numa das lições de inglês. Como o planeta era diferente...
Foxtrot colocou o Genesis pela primeira vez no Top 20 britânico, alcançando a 12ª posição. Na Itália, o álbum saiu-se ainda melhor, cravando um oitavo lugar.  






domingo, 26 de junho de 2011

O TÁXI DO CHOFER SENEGALÊS


Roberto Rillo Bíscaro

Sexta à noite, recusei convite pra ver Piratas do Caribe 4. Há quem acredite que não aprecio filmes norte-americanos. Não se trata disso. Tanto é que fiquei em casa pra assistir à produção estadunidense Goodbye Solo (2008). Dirigido por Ramin Bahrani, o filme é uma pequena jóia informada pelo Neorealismo italiano e por certo cine iraniano, terra dos pais do diretor.
Goodbye Solo começa com uma noturna corrida de táxi numa cidade norte-americana não muito grande. O imigrante senegalês Solo transporta o idoso William, que lhe propõe um gordo pagamento caso o chofer o leve a uma montanha chamada Blowing Rock. Solo desconfia do estado depressivo de William e graceja se o carrancudo sulista tencionava suicidar-se. Mediante o gelado silêncio do homem no banco traseiro, o bem-humorado e otimista contumaz Solo decide tentar demovê-lo do suposto projeto.
O que poderia transformar-se em mais uma história espoliativa - onde alguém que já é pobre tem, ainda por cima, que arcar com o serviço de devolver a alegria de viver a alguém que sempre teve barriga e carteira cheias – nas mãos de Bahrani toma contornos  originais e quase nada mistificadores.
O amador Souleymane Sy Savane compõe um Solo sensacional. Simpático quase a ponto de enjoar e ser intrusivo, o imigrante deseja o Sonho Americano: família e bom emprego pra fazer dinheiro; ele estuda pra ser comissário de bordo. Porém, o diretor não cai no discurso ingênuo (canalha, dependendo de quem o engendra...) do “se você lutar pelo seu sonho, você consegue”, “ o universo conspira a seu favor” e afins. Bilhões não têm simples sonhos de comida realizados e não é por falta de luta! Goodbye Solo não é niilista e insiste na ideia da tentativa de mudança. O que se nega a fazer é mistifcar; entre querer e poder há uma boa distância. Talvez os sonhos até se concretizem, mas nada está garantido a priori.
William é interpretado por Red West, que começou a carreira no showbizz como guarda-costas de Elvis Presley. Sabemos muito pouco sobre as motivações e problemas da personagem, mas a performance do veterano nos faz acreditar em sua tristeza.
Ou será que somos influenciados pela esfuziante personalidade de Solo e sua insistência em achar que o Big Dog quer se matar? Será que o velho não quer apenas ficar só, sem ninguém pra enchê-lo? O fim fica aberto a mais de uma interpretação.
Calcada quase exclusivamente nas 2 personagens, a película junta no mínimo, 2 lados duma mesma moeda. Uma vida cheia de sonhos e de problemas que não esmorecem a luta pela conquista em fazer a América e outra no fim, cansada. Será que vale mesmo a pena tentar fazer com que William tenha restaurada sua alegria de viver? Será que algum dia ele a teve? Será que deseja tê-la de volta, em caso de havê-la perdido?  
Que bom ter recusado o convite pra ver Johnny Depp. Nada contra entretenimento, mas, de vez em quando sinto necessidade de ser adulto.         

SUPERANDO A DEPRESSÃO


Quem vê a mineira Yonara Del’Amore, 35 anos, uma bela loira de olhos verdes, formada em psicologia e filosofia, não imagina que ela luta há 10 anos contra uma depressão crônica. Yonara conseguiu sair do isolamento hoje trabalha quatro horas por dia na loja Giro, da ONG Atas Cidadania*, cujo objetivo é a inclusão de portadores de transtorno mental pelo trabalho.
“A primeira crise que tive foi em 1999 e ela veio do nada, sem explicação nenhuma. Foi uma sensação de morte terrível, algo paralisante que me dominou completamente. Fui internada no hospital Felício Rocho em Belo Horizonte, para fazer exames: tomografia, eletroencefalograma ...fiz tudo, mas o neurologista não descobriu nenhuma doença e me indicou um psiquiatra, que diagnosticou uma depressão crônica. Nunca pensei que pudesse acontecer isto comigo porque sou graduada em psicologia e filosofia...na verdade, a crise ocorreu na época dos trabalhos finais da minha segunda faculdade.
No último ano da psicologia, resolvi fazer filosofia e fui levando os dois cursos e trabalhando – fazia estágio na área de RH em uma grande empresa. Para me formar em filosofia, em 1998, tive que me esforçar muito para as teses finais. Foi aí que tive esse stress terrível e acabei no hospital.
Aquilo que tinha estudado na teoria, passei a vivenciar na prática: só queria ficar dormindo, comecei a engordar muito, perdi totalmente a vaidade,  minha única vontade era ficar sozinha no meu quarto. Passei dois anos terríveis, queria me isolar do mundo: tomava remédio, mudava de remédio e não adiantava nada.
Sempre tive apoio da família e quando engordei 20 quilos e cheguei a 85 quilos minha mãe me levou a um endocrinologista, que me receitou um regime, mas eu não fazia nada direito. Ela não desistiu e procurou um curso de ioga e matriculou-se junto comigo.Era um jeito de me tirar um pouco de casa. Adorei a ioga, mas  continuava sofrendo com os meus pensamentos -- me sentia fracassada na profissão e na vida, não tinha conseguido trabalhar nem constituir a minha família, mas estava tentando vencer o isolamento. Além de ioga, comecei a fazer caminhadas e emagreci até demais.
A recaída
Em 2004, meu pai foi hospitalizado, ficou no CTI e tive que ajudar minha mãe a cuidar dele. E para piorar, meu cunhado, de quem gostava muito, e ia visitar sempre  meu pai no hospital, teve uma aneurisma e morreu 1mês antes do meu pai. Foram perdas muito dolorosas e tive uma recaída da depressão. Não engordei de novo, mas fiquei com medo de tudo: de morrer, de viver, de sair de casa. Eu só queria dormir.Perdi de vez a esperança na vida, achava que todos os meus sonhos tinham ido por água abaixo, que não ia conquistar mais nada. 
Antes da doença, meu projeto era trabalhar como psicóloga em Recursos Humanos, fazer mestrado em filosofia, namorar, casar e ter filhos.
Depois, eu não acreditava em mais nada, nem em mim nem em Deus. E olha que sempre fui muito católica. Mas me achava feia, inadequada, frustrada. Quando você está assim, não tem consciência de que está perdendo a vida, a angústia impede de reagir.  Eu não queria fazer nada, até que minha mãe quebrou a bacia, em 2005, e tive que cuidar dela. Assim que ela melhorou, foi atrás de outro psiquiatra para mim. Foi assim que, em 2006, conheci a Dra. Carolina Verçosa, na Central Psíquica (clínica psiquiátrica). Ela acertou a medicação e alertou  que só isso não bastava – me encaminhou para um tratamento psicológico, com um terapeuta ocupacional.
Minha mãe é pensionista de meu pai, que era contador,  não temos muito dinheiro, mas conseguimos um terapeuta que nos fez um bom preço e me colocou em contato com a ONG Atas Cidadania.
Trabalho terapêutico  
Foi aí que minha vida mudou completamente, virei uma outra pessoa. Primeiro, porque eles me trataram muito bem, respeitaram meus limites, meu tempo, nunca me impuseram nada, tiveram muita paciência comigo. Como a Atas tinha uma loja no shopping Diamond Mall, eu ia lá com o meu terapeuta, fui aos poucos me entrosando e comecei a trabalhar lá.  Para mim, cada venda realizada era uma vitória: produzindo, eu me senti viva. A auto-estima foi melhorando, comecei a arrumar o cabelo, a querer comprar um vestido, a fazer minha unha. Meus sonhos voltaram, mas sei que para realizá-los, o tratamento tem que seguir: minha psiquiatra disse que  tenho que continuar  a terapia e com os remédios. Eu sempre tive muito preconceito com antidepressivos, resistia a tomá-los. Mas a médica me disse que sou como uma pessoa que tem diabetes: tenho que tomar remédios todos os dias. A luta tem que ser constante.

Tem dias que não quero ir ao psicólogo. Ligo para desmarcar, mas ele me remarca o horário e diz:  “Vem para você não desanimar, não perder o que você já conquistou”. Então ele me leva para passear, tomar um lanche, bater perna. Aí melhoro.
Às vezes,  também não tenho vontade de ir trabalhar, mas insisto. Nunca faltei. Basta eu ir para a loja e conversar com as outras vendedoras que eu melhoro. Durante alguns meses, fiquei parada  -- a loja do shopping fechou porque ia reabrir em outro lugar, no bairro de Lourdes. Esse período foi péssimo, voltei de novo a querer só dormir, mas quando a loja ficou pronta e eles me chamaram de volta, foi uma alegria muito grande. Sei que todos me vêem com outros olhos porque estou lutando, trabalhando, ganhando meu dinheiro. Antes, tinha medo de tudo, agora já pego o ônibus, vou ao trabalho e ao médico sozinha, em sinto segura.
Agora minhas perspectivas são as melhores, tenho 35 anos, quero trabalhar, me relacionar com as pessoas, namorar, estou mais aberta. Me sinto mais forte e mais bonita. Sei que não posso correr, tenho que ir devagar. Mas eu já dei o primeiro passo.
Sei que hoje existem muitas pessoas que sofrem de depressão e gostaria de dizer a elas que existe saída. Mas que é fundamental procurar ajuda. Sozinho, ninguém consegue. Mesmo as pessoas que não têm condição financeira, podem procurar um posto de saúde, serviços credenciados pela prefeitura, sei que existem psicólogos trabalhando até em igrejas, como voluntários. O importante é se informar onde buscar apoio e tratamento.
Eu adoro música e  tem uma do J. Quest que diz: “Ei medo, eu não te escuto mais, ei dor, eu não te escuto mais, você não me leva a nada. Se você quiser saber para onde eu vou, eu vou para onde houver sol, é para lá que eu vou”.

sábado, 25 de junho de 2011

75



Outro artigo falando sobre os 75 anos de Hermeto Pascoal e dos eventos celebratórios dessa data tão importante pra MPB. 

A alquimia de Hermeto
Um mito só cai pelas mãos de outro. Nos anos 1960, como de costume, Miles Davis chegava aos palcos de suas apresentações passando antes pelo camarim. O americano seguia decidido, passos confiantes, sem nunca dirigir olhares nem palavras a alguém. Abriu uma exceção certa noite. Encarou de perto a figura excêntrica do alagoano Hermeto Pascoal e soltou algumas palavras em inglês, traduzidas pelo baterista e compositor Airto Moreira, que na época integrava a banda de Miles e havia levado o multi-instrumentista ao show.

Dias depois, Hermeto atendeu ao pedido e foi ao encontro do jazzista para lhe mostrar algumas composições. A história é pitoresca, mas horas depois de apresentar seus temas no violão, o brasileiro foi convidado por Miles a enfrentá-lo ali mesmo, em um ringue de boxe de sua propriedade. Como os olhos de Hermeto ficam sempre rodando e apontando cada um para um lado, o americano foi surpreendido com um soco na cara e desabou.
Miles levou na esportiva e apelidou Hermeto carinhosamente de Albino Louco. Tempos depois, por falta de lisura de seus produtores, de uma maneira ou de outra acabou devolvendo o golpe ao gravar duas composições de Hermeto, Nem Um Talvez e Igrejinha, ocultando da ficha técnica o crédito ao verdadeiro compositor. O brasileiro não recebe direitos autorais relativo aos dois temas até hoje, mas não reclama. Nunca criou guiado por caça-níqueis. “Tem muita gente fazendo música com apelo comercial. Cada nota musical deles é tão ruim que é como um tiro na alma da gente. Eu prefiro ficar devendo o aluguel, como já fiz, do que fazer música ruim. A riqueza é o câncer da alma”, diz Hermeto.
O músico, nascido em Lagoa da Canoa, no município de Arapiraca, em Alagoas, já viveu no Rio, em São Paulo e há sete anos e meio mora no bairro de Santa Felicidade, em Curitiba, com sua mulher e também musicista Aline Morena. Um dos maiores revolucionários da música brasileira, “100% intuitivo” e influenciando diversas gerações, seja no piano, na sanfona, na flauta, na chaleira ou na bomba de encher bola, Hermeto segue em plena efervescência criativa, comemorando hoje 75 anos. Como parte dos festejos, o multi-instrumentista se apresenta na Lona Cultural Hermeto Pascoal, em Bangu, bairro onde morou no Rio.

Os eventos relativos às sete décadas e meia de vida do Bruxo de Lagoa da Canoa se estendem até o ano que vem. Hoje, com a ajuda do pianista Jovino Santos Neto, que durante anos fez parte da banda de Hermeto, o site do multi-instrumentista oferecerá gratuitamente 41 partituras de temas inéditos do compositor. Depois, em outubro e novembro, Hermeto segue com seu grupo em turnê pela Europa, onde a série de shows servirá de ensaios para a gravação de um DVD, com lançamento previsto para 2012. Nos próximos meses, ainda em trabalho de edição, deve chegar ao mercado o DVD da gravação do show gratuito que Hermeto fez em outubro de 2009, no Parque do Ibirapuera, com o bandolinista e compositor Hamilton de Holanda e seu quinteto. “Hermeto é uma grande árvore em que as frutas são músicas, ritmos, melodias, e harmonias. O tempo passa, essa árvore fica mais forte, e mais gente – do mundo todo – quer se alimentar desses frutos vistosos e com muito sabor”, diz Hamilton, que já havia lançado no começo deste ano o belo discoGismontipascoal, ao lado do pianista André Mehmari, enriquecendo temas de Hermeto e Egberto Gismonti, além de gravar composições próprias.
Ainda hoje a música de Hermeto se renova de maneira impressionante. Conhecido como figura folclórica e encarado por muitos como um maluco, não se pode negar que a música do autor de temas como Bebê, Forró Brasil, Chorinho Pra Ele, Santo Antonio, Fátima, O Ovo eSão Jorge faz a cabeça de diversas gerações há mais de 50 anos. “Na década de 70, eu estava nos Estados Unidos com o Airto (Moreira) e a Flora (Purim) para gravar. O Tom tinha me convidado para gravar Quebra-Pedra no disco dele. Começou a tocar Garota de Ipanema, ele passou a mão na cabeça e disse: ‘Eu já estou cansado dessa música’. Fiquei assustado. E ele falou: ‘Hermeto, eu gostaria de fazer um som como o do Quarteto Novo, aquele grupo de vocês’. Aí eu disse pro Tom passar mais tempo no Brasil. Depois de uns três meses apareceu É pau, é pedra… Águas de Março. Eu pensei: ah, isso é bem brasileiro, bem nordestino. Graças a Deus, o Tom escutou o que eu falei”, lembra.
Tom não foi o único. Anos antes, em 1967, o também craque Edu Lobo venceu o Festival da Canção com Ponteio. A banda que o acompanhava ao lado de Marília Medalha? O Quarteto Novo, com Hermeto, Airto Moreira, Théo de Barros e Heraldo do Monte. No exterior, despertou o mesmo fascínio sobre nomes como Herbie Hancock, Wayne Shorter, Chick Corea, Ron Carter, Herbie Mann e o próprio Miles Davis.
O legado que Hermeto segue construindo não para de aumentar. Sempre pensando em inovar, não apenas musicalmente, o compositor tem escrito ultimamente seus temas em telas de pintura. Em sua casa, hoje são mais de 200 “partituras-quadro”. “Antes, o Hermeto compunha uma por dia, agora são duas, três, sempre com muita qualidade”, diz Aline Morena

UM CASAMENTO NA FRONTEIRA



Roberto Rillo Bíscaro

Em outubro, elogiei Etz Limon (2008), dirigido pelo israelense Eram Riklis a partir dum roteiro do palestino Smadar Yaaron. Gostei tanto da dobradinha judaico-palestina que decidi ver A Noiva Síria (2004), outra produção realizada pelos dois.
A estúpida rivalidade racial e a desumana pressão social ameaçam sufocar a vida de gente basicamente decente em um filme multitramado, onde não há mocinhos ou vilões, apenas pessoas reagindo a descomunais poderes sociopolíticos.
A história se desenvolve na região das colinas de Golã, ocupadas por Israel há mais de 4 décadas. O passaporte dos cidadãos atesta seu status apátrida – “nacionalidade: indefinida”. Funcionários da ONU tentam – às vezes em vão – mediar as surreais situações decorrentes do status de suspensão de pertencimento enfrentado por aquelas terras.
É o dia do casamento de Mona, que contrairá núpcias com um primo residente na Síria. Assim que cruzar a fronteira de Golã para o país arqui-inimigo de Israel, a moça jamais poderá retornar para visitar seus familiares. As bodas têm que se realizar forçosamente na fronteira, posto que o noivo não pode entrar em Golã.  Como se isso não fosse estresse suficiente, naquele dia aregião enfrenta maciços protestos políticos. Hammed, um dos líderes drusos da aldeia – preso pela milícia israelense durante anos – é pai de Mona, o qual está proibido de chegar até a fronteira pra assistir ao casamento da filha.
A situação se complica muito mais com a chegada de 2 irmãos de Mona. Hatten emigrara pra Rússia, onde se casara com uma médica local. Embora tencionasse se reconciliar com o filho, Hammed é advertido pelos anciãos da aldeia de que se o fizer, cairá no ostracismo. Intolerância não é atributo desta ou daquela etnia, antes, compartilhada em todo canto. O outro irmão, Marwan, emigrara pra Itália, onde vivia de negócios que parecem escusos. Não sei se é falha do roteiro ou minha, mas não entendi porque um é discriminado e o outro não. De todo modo, a antiga ligação amorosa entre Marwan e uma funcionária francesa das Nações Unidas, ainda que sirva pra somar um elemento de desconfiança de vingança pessoal nos momentos de maior suspense do filme, não está bem delineada, sendo um dos poucos pontos fracos dum roteiro muito complexo.
Ainda há Amal (vivida pela excelente Hiam Abbass), que quer ser mais independente, mas tem que se haver com o medo do marido, que teme tornar-se objeto de falatório na cidade, caso dê mais liberdade à esposa e filhas, uma das quais, está de namorico com o filho dum colaboracionista da ocupação israelense (outro fio da meada que se perde).
A complicação do roteiro não faz mais do que mimetizar o labirinto de discursos e contradiscursos que povoam e bombardeiam o mundo das relações judaico-palestinas. Os pontos fracos apontados de forma alguma comprometem o roteiro de Smadar Yaaron, que cria uma história fascinante, triste sem ser depressiva, mas não desprovida de esperança.   
Os momentos de suspense, quando não sabemos se o casamento realizar-se-á, combinam-se com um clima de aberração burrocrática poucas vezes visto depois de Kafka.
Tudo isso sem tornar-se chato ou proselitista.
O entrelace do pessoal com o político - que deixa de ser mero pano de fundo – aliado a competência de contar uma história sui generis pra nós, faz da Noiva Síria um grande filme, que merecia ser mais visto.
No You Tube parece que há o filme completo, legendado em inglês. Eis a primeira parte. 

ALBINO GOURMET 41

Que tal africanizar o almoço com uma receita típica da Nigéria?

Arroz Jollof
Ingredientes
1 xícara de chá de arroz
3 colheres de sopa de azeite
1 colher de chá de cominho
1 colher de chá de curry
1 colher de café de noz-moscada
1 cebola picada
2 dentes de alho, picados
Gengibre ralado à gosto
1 pimentão verde
2 colheres de sopa de extrato de tomates
2 tomates em cubos pequenos
1 cenoura em cubos pequenos
500 gr. de alcatra em cubos médios
1/2 xícara de chá de ervilha
1/2 xícara de chá de vagem
Sal à gosto
quanto baste de cúrcuma
200 ml de Caldo de Legumes 
 
Preparo
Aqueça uma panela e adicione o azeite. Adicione a cebola e o alho picados. Acrescente o pimentão, o gengibre, a carne, cenoura, tomate e todos os temperos. Doure bem tudo. Depois, coloque o arroz e misture com tudo isso. Acrescente o caldo de legumes. Depois, mexa e cozinhe. Com o arroz quase cozido, acrescente a ervilha, vagem, cúrcuma e sal.