quinta-feira, 30 de junho de 2011

TELONA QUENTE 26


cartaz de Fora do Jogo
Outro Gol da Seleção Iraniana

Roberto Rillo Bíscaro


Dia importante pros ávidos amantes do futebol no Irã; a seleção enfrenta o Bahrein pra tentar garantir uma vaga no mundial da Alemanha. Teerã mobiliza-se pra partida e o clima é de frenesi. Entretanto, parcela expressiva está proibida de fazê-lo: as mulheres não são permitidas em estádios porque ouviriam muitos impropérios ditos pelos homens. Numa sociedade tão conservadora e repressora existe espaço pra transgredir? Sim. Neste caso, mulheres disfarçam-se de homens pra driblar a polícia e assistir ao certame, algumas vezes auxiliadas pelo próprio sexo masculino. Correm o risco de serem presas, mas, usam a confusão de gêneros na arena esportiva como forma de fissurar tabus.
Offside (2006. Fora do Jogo, em português), do diretor Jafar Panahi é um misto de docudrama, comédia e farsa, filmado quase inteiramente no estádio, bem no dia da partida decisiva. A censura no Irã é pesada e agressiva (Panahi mesmo foi sentenciado a 10 anos de prisão ano passado), por isso, pra filmar Offside no estádio, o diretor mentiu que se tratava de outro filme. Assim como suas personagens travestidas, Offside teve que recorrer ao mesmo estratagema.
Nele, vemos uma jovem que se disfarça (mal) de homem e acaba confinada num cercadinho junto com outras mulheres igualmente subversivas. Tomando conta delas, soldados que estão ali a contragosto, uma vez que prefeririam estar em suas aldeias cuidando de seu gado ou assistindo à decisiva partida.
Os diálogos são ágeis, inteligentes e quicam com humor irônico e atrevido, mostrando personagens femininas rápidas no raciocínio e na língua, além de sem temor de ousar. Panahi usa o microcosmo do estádio como alegoria da repressão e da possibilidade de se achar respiradouros nela.
A sequência onde a jovem pede ao guarda que a leve ao banheiro é uma das mais brilhantes de Fora do Jogo. O recinto obviamente não tem sanitários femininos. O que se vê são minutos de pura farsa, recheados de tensões e alusões e confusão de gêneros.
Como as meninas, o espectador não vê o jogo, a não ser em fugazes momentos pela tela duma TV. Isso não impede – talvez até seja o motivo – de que vibre e sofra e torça por elas e até pelo time.
Com certeza, Offside é a melhor partida de futebol que (não) vi e o melhor filme do semestre!    

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