domingo, 26 de junho de 2011

O TÁXI DO CHOFER SENEGALÊS


Roberto Rillo Bíscaro

Sexta à noite, recusei convite pra ver Piratas do Caribe 4. Há quem acredite que não aprecio filmes norte-americanos. Não se trata disso. Tanto é que fiquei em casa pra assistir à produção estadunidense Goodbye Solo (2008). Dirigido por Ramin Bahrani, o filme é uma pequena jóia informada pelo Neorealismo italiano e por certo cine iraniano, terra dos pais do diretor.
Goodbye Solo começa com uma noturna corrida de táxi numa cidade norte-americana não muito grande. O imigrante senegalês Solo transporta o idoso William, que lhe propõe um gordo pagamento caso o chofer o leve a uma montanha chamada Blowing Rock. Solo desconfia do estado depressivo de William e graceja se o carrancudo sulista tencionava suicidar-se. Mediante o gelado silêncio do homem no banco traseiro, o bem-humorado e otimista contumaz Solo decide tentar demovê-lo do suposto projeto.
O que poderia transformar-se em mais uma história espoliativa - onde alguém que já é pobre tem, ainda por cima, que arcar com o serviço de devolver a alegria de viver a alguém que sempre teve barriga e carteira cheias – nas mãos de Bahrani toma contornos  originais e quase nada mistificadores.
O amador Souleymane Sy Savane compõe um Solo sensacional. Simpático quase a ponto de enjoar e ser intrusivo, o imigrante deseja o Sonho Americano: família e bom emprego pra fazer dinheiro; ele estuda pra ser comissário de bordo. Porém, o diretor não cai no discurso ingênuo (canalha, dependendo de quem o engendra...) do “se você lutar pelo seu sonho, você consegue”, “ o universo conspira a seu favor” e afins. Bilhões não têm simples sonhos de comida realizados e não é por falta de luta! Goodbye Solo não é niilista e insiste na ideia da tentativa de mudança. O que se nega a fazer é mistifcar; entre querer e poder há uma boa distância. Talvez os sonhos até se concretizem, mas nada está garantido a priori.
William é interpretado por Red West, que começou a carreira no showbizz como guarda-costas de Elvis Presley. Sabemos muito pouco sobre as motivações e problemas da personagem, mas a performance do veterano nos faz acreditar em sua tristeza.
Ou será que somos influenciados pela esfuziante personalidade de Solo e sua insistência em achar que o Big Dog quer se matar? Será que o velho não quer apenas ficar só, sem ninguém pra enchê-lo? O fim fica aberto a mais de uma interpretação.
Calcada quase exclusivamente nas 2 personagens, a película junta no mínimo, 2 lados duma mesma moeda. Uma vida cheia de sonhos e de problemas que não esmorecem a luta pela conquista em fazer a América e outra no fim, cansada. Será que vale mesmo a pena tentar fazer com que William tenha restaurada sua alegria de viver? Será que algum dia ele a teve? Será que deseja tê-la de volta, em caso de havê-la perdido?  
Que bom ter recusado o convite pra ver Johnny Depp. Nada contra entretenimento, mas, de vez em quando sinto necessidade de ser adulto.         

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