sábado, 30 de junho de 2018

AUDIÊNCIA PÚBLICA EM SÃO PAULO - III

Infelizmente, não pude estar na audiência pública para pressionar pela aprovação imediata do PL 683/09, da autoria do deputado estadual paulista Carlos Giannazi, que obriga o Estado a fornecer protetor solar e óculos às pessoas albinas. Mas, a Dra. Carolina Marçon, do Programa Pró--Albino, Andreza Cavalli, Priscila Merlin e demais presentes, deram conta de explicitar a importância do projeto. 

Vejam como ficou boa essa matéria da TV Câmara sobre o evento e as necessidades das pessoas com albinismo.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

METAMORFOSE ALBINA

Como Severino virou Sivuca, o multi-instrumentista consagrado pela sanfona

Em 1945, com apenas 15 anos, ele impressionou o maestro Nelson Ferreira, da Rádio Clube; rápido, conquistou a fama nacional com uma música única

Por: Silvia Bessa
Na família de Severino, tinha lavradores, artesãos que curtiam couro para selar cavalos e uma turma grande de sapateiros. Música não se ouvia, até porque nem eletricidade havia. Por vezes, passava na beira da casa, lá em Itabaiana, na Paraíba, um sanfoneiro itinerante. Foi aí que Severino, um menino albino, viu aos nove anos uma sanfona. Aprendeu rápido. Aos 15 anos, veio ao Recife, meca de artistas em meados da década de 1940, destinado a bater à porta da Rádio Clube, a pioneira, sintonizada com o prefixo PRA-8. “Quero falar com seu PRA-8”, disse. Ainda era Severino.

“Eu fui lá numa quarta-feira. Na frente da rádio, havia uma salinha com um balcão e uma mesa de telefone com a telefonista que recebia recado. Era uma senhora meio gordinha, dona Eliodeth. Ela estava brincando com um gatinho. Pensei que ela fosse a dona do rádio porque no interior tem aquelas quitandas, bodegas com senhoras que ficavam na porta, esperando as pessoas pra comprar e geralmente fazendo crochê, brincando com gato. Eu cheguei e disse: “A senhora é a dona do rádio?”. Não era. Dona Eliodeth o encaminhou para a autoridade responsável: “Isso é com seu Nelson”. Severino queria tocar no show de calouros. 

Seu Nelson era o maestro Nelson Ferreira - diretor musical da Rádio Clube, compositor, pianista, violinista e regente pernambucano respeitadíssimo, que logo propôs a Severino: “Quer tocar uma coisinha para mim?”. O rapazote estava com a sanfona debaixo do braço e começou um frevo chamado Mexe com tudo, de Levinho Ferreira.

O maestro ficou impressionado com a habilidade do jovem albino. “Ô, Antônio Maria!” - disse, referindo-se ao jornalista, compositor e grande cronista brasileiro - “vem ouvir uma coisa. Venha ver esse menino que chegou de Itabaiana”. 

Severino ganhou muito mais que uma vaga no show de calouros. Depois que tocou Tico-tico no fubá a mil por hora, conquistou um programa inteirinho no dia seguinte. Quem fez a narrativa foi o próprio rapaz, mais de cinquenta anos depois, em entrevista concedida ao site http://gafieiras.com.br. 

A incumbência de escrever o programa ficou com Antônio Maria. Nesse tempo, fazia-se três músicas e se tocava ao vivo, dentro de um quarto de hora, conta Severino no longo depoimento. Foi aí que Severino, em 1945, trocaria um nome próprio por apelido curto. “Seu nome, rapaz?”, perguntaram-lhe. Ele respondeu: Severino Dias de Oliveira. “Nelson Ferreira chegou junto a mim e disse: ‘Nós temos aqui um problema que precisamos resolver. O seu nome é nome de firma comercial de interior. Vamos simplificar. Que tal Sivuca?’ Eu disse: ‘Está bom, maestro, está bom’. A partir desse momento, eu passei a ser chamado de Sivuca”.

Uma semana depois, estreou na Festa da Mocidade, em Recife. “Aguardem, Sivuca!” , anunciava o locutor. “Mas eu havia esquecido que nome ele tinha me dado”.

Sivuca é um nome na história da música brasileira. Multi-instrumentista, ficou consagrado no mercado internacional pela habilidade única com o acordeon, que ele explicou ser a sanfona, apenas afrancesada. A sanfona, instrumento que ganha vida nas festas juninas no Nordeste.

Severino morreu em 2006, aos 76 anos, sendo Sivuca, como quis Nelson Ferreira e como propagou a Rádio Clube, emissora que o lançou para a fama.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

POLÍTICA CONTRA A DISCRIMINAÇÃO

Seis albinos vão concorrer a eleições no Malawi

O objetivo é o de combater, a nível legislativo e pelo exemplo pessoal, o estigma que afeta uma comunidade que continua a ser alvo de ataques violentos em vários países africanos


No Malawi, como noutros estados africanos, é perigoso ser albino. Só nos últimos quatro anos, pelo menos 22 pessoas com essa diferença genética terão sido mortas - muitas delas para que partes dos seus corpos pudessem ser usados em rituais mágicos. Agora, numa tentativa de combater o estigma social, seis albinos decidiram concorrer a eleições no próximo ano.

Um deles é a a diretora de uma organização de beneficência local que defende os deficientes. Chama-se Elizabeth Machinjiti e diz que esses temas têm sido ignorados: "No nosso parlamento, há só uma ou duas pessoas com deficiência. Creio que um deles nem sequer se vai aposentar nas próximas eleições. precisamos de ser representados. Outras pessoas podem não compreender a dor e as coisas difíceis que sofremos todos os dias". Entre outras exigências, ela quer tornar as escolas e os hospitais acessíveis aos deficientes.

A persistência de raptos e ataques contra albinos em vários países, sobretudo na África subsaariana, levou a ONU em 2015 a criar um mandato especial para a proteção deles. Embora resulte de fatores genéticos geralmente associados à consanguinidade, o albinismo - a ausência de pigmentação na pele, no cabelo e nos olhos - é visto como um sinal de má sorte para as famílias. Inclusivé, levando por vezes os homens a suspeitar que as suas mulheres cometeram adultério com brancos.


TELONA QUENTE 242


Roberto Rillo Bíscaro

O Dia Em Que a Terra Parou é um dos mais influentes filmes de ficção-científica, não apenas dos 50’s. Baseado num conto de 1940 - refilmado em 2008, mas nunca me atrevi a dar chance - inspirou até nome de álbum e canção de Raul Seixas, em 1977.
The Day The Earth Stood Still (TDTESS) é produção B+, porque os grandes estúdios tinham seu departamento pra películas não-estreladas pelas Hepburns ou dirigidas por Hitchcock. Isso não significa que fossem ruins, apenas com elenco menos estelar e orçamentos menores,  afinal, não eram A.
Mas, a 20th Century Fox não economizou muito em TDTESS, dirigido pelo (ainda não) oscarizado Robert Wise, que já concorrera à estatueta na categoria Melhor Edição, nada mais, nada menos, que por Cidadão Kane.
A Terra entra em polvorosa, quando uma nave pousa no Mall, em Washington. O governo apressa-se em afirmar que não se trata de mais uma histeria de discos-voadores, apontando que TDTESS se aproveita - mas se pretende mais sério - da enxurrada de relatos sobre aparições de OVNIs, que precederam e inauguraram os anos 1950, então ainda bebês, quando o filme foi lançado, em setembro, de 51.
Acompanhado dum megarrobô - que demora um monte pra atirar, mas é indestrutível pras armas terrestres – o alien Klaatu vem nos alertar que enquanto usarmos nossas armas pra nos autodestruirmos, o universo não dá a mínima, mas se nossas folias atômicas ameaçarem civilizações bem mais avançadas, daí não tem conversa, seremos aniquilados.
Essa personagem que sequer cogita em educar e não esconde sua total indiferença pra espécie humana como um todo, desde que não interfira com seu mundo, foi modelada a partir de Jesus Cristo! Ele adota o nome John Carpenter, o que equivale às mesmas iniciais e o sobrenome é carpinteiro, profissão do filho de Deus. Klaatu é mal-compreendido pelos homens e tem até que ressuscitar (pra não parecer herege, o roteiro improvisa dizendo que é apenas temporário), antes da ascensão. Viu, porque Klaatu é nossa imagem e semelhança?
Por mais legal e simbólico que seja, TDTESS tem alma B, mesmo que seja +. Produções mais modestas copiaram a invasão, fazendo seus discos-voadores pousarem em áreas remotas, pra não gastar com extras. Wise tinha costas quentes com a Fox, então, há tanques de guerra no Mall, mas TDTESS não deixa de ser sobre civilização (supostamente) ultra-avançada que escolhe mandar UMA espaçonave, tripulada por UM indivíduo e UM robô pra dar conta dum planeta inteiro, que sabem – deveria, pelo menos, se são tão superiores – hostil pra dedéu. Não seria mais simples intervir remotamente ou mandar frota interestelar?
Mas, daí não existiria The Day The Earth Stood Still e isso seria uma pena.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

CONTANDO A VIDA 237


BOLSONARO: o quarto B. 


José Carlos Sebe Bom Meihy 

Sou terminantemente contra abstenção eleitoral em qualquer situação. A democracia se faz e se refaz nos pleitos eleitorais. Depois de tanta luta pelo reestabelecimento do voto direto, da conquista do direito de sonhar com a propalada democracia plena, não admito também coisas do tipo voto nulo ou branco. Mas, por irônico que pareça, sou favorável ao voto livre e a não obrigatoriedade do comparecimento às urnas. Essa meditação se faz pertinente por razões pessoais, pois defendo a franca defesa de posições, de todas, independente de leis e censuras. Isso se me coloca como problema neste momento em que as opções dispostas se apresentam difíceis demais, verdadeiro convite à fuga. Confesso que de início até articulei viagem de trabalho no exterior para o mês de outubro e novembro, pensando em como me escapar da raia, mas a consciência doeu e me cobrei coerência. Quando supus estar fora no próximo sufrágio, levei em conta que a lei me faculta esta opção. Passei dos 70 anos, pronto, estou liberado. Ademais, conhecedor do meu envolvimento e bem alertado para cuidados com os batimentos cardíacos, me parecia prudente “me incluir fora dessa”. Reconsiderei quando vi as primeiras estatísticas. Com Lula vetado da jogada (carregando com ele 30% de eleitores fieis), desponta como segundo colocado o polêmico Jair Bolsonaro. Acho que fica mecanicamente explicada a razão da minha tentativa de catarse. Nem um e nem outro, mas, integrando algumas listas das redes sociais, me coloquei alerta frente os graves riscos que corremos. Sei que, andorinha, meu voto solitário, não faria verão algum, tenho, contudo, que me olhar no espelho e não posso deixar o cômodo acaso desviar minha insistente vocação cidadã. 

Os libelos contra o capitão Bolsonaro se multiplicam ad nauseam e são declinados por feministas, homossexuais, negros, indígenas e todas as minorias antropológicas respeitáveis. Nem vale repeti-las a fim de evitar o convite à depressão. Recentemente, porém, um pronunciamento a mais se somou àquelas parcelas abomináveis: a promessa do ex-militar retirar o Brasil da Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) que, segundo ele “não serve para absolutamente nada”. Não bastasse tal absurdo, refez o elogio ao torturador mor Brilhante Ustra, num claro acinte à história. Convém contextualizar este recente pronunciamento que ocorre num momento particular da vida brasileira. Passados quatro meses da intervenção militar no Rio de Janeiro, depois de repetidas exibições fracassadas de forças bélicas, sem sucesso algum (nem mesmo para apurar o assassinato político da vereadora Marielle Franco, decorridos mais de 90 dias), pasmados assistimos uma histriônica movimentação militar no Rio de Janeiro, destinada a cumprir 22 mandados de prisão, sem sequer ter sucesso em pelo menos um caso. Pelo contrário, o que se vê é o recrudescimento das milícias, a multiplicação de bandidos e o fortalecimento das facções criminosas. E nunca se matou tanto como agora. Não bastasse a triste estatística que exibe quase 60 soldados mortos este ano, e o inominável quadro de crianças, adolescentes e mulheres grávidas atingidas por balas perdidas. Propondo ainda mais violência e repressão, em vez de apelar para inteligência e investimentos em educação e saúde, o capitão candidato a presidente apregoa que “guerra é guerra”. Mas será que guerra é o termo correto? Trata-se de uma guerra particular? Desde 1864, pela Convenção de Genebra, guerra tem regras e nós, povo ou governo brasileiros, não a declaramos. Não basta reprimir, e menos ainda armar a população que, munida, deveria fazer o que a polícia tem sido incapaz. 

Preocupa-me bastante, também, algumas atitudes do capitão presidenciável, sobretudo o fato de não apresentar um projeto de Brasil, um plano de governo que respeite a Constituição e as instituições estabelecidas, e, pelo reverso ele apenas se autoproclama capaz de, presidente, por fim na corrupção “à ferro e fogo”. Não se duvida da valentia do ex-capitão que, em que pese seu personalismo de pavio curto, se vale de apoiadores poderosos, principalmente das forças das bancadas BBB. Sim a turma da BALA, do BOI e da BÍBLIA (da leitura bíblica de certos evangélicos conhecidos, diga-se). Com votos ordenados por estas bancadas, a possibilidade de sua vitória se torna ainda arma mais letal contra a liberdade ampla e o debate público. Bolsonaro é o quarto B dessa combinação ameaçadora. Pensemos BALA, BOI, BÍBLIA E BOLSONARO. Pensemos... 

Devo dizer de minha preocupação com a possibilidade da eleição de Bolsonaro, mas não tenho como deixar de reconhecer que ele concorre em pleito livre. Tem todo direito. E na legitimidade que lhe é garantida, ele se mostra capaz de revelar um Brasil que precisa sim ser posto a público e se conferir. Ele representa parcela da sociedade, inclusive de jovens, e isso é importante de ser notado. É exatamente neste reconhecimento que se convoca a expressão pública para um debate amplo. Amplíssimo. A hora é esta, questionemos nossos valores e vocação para o diálogo e, mais do que nunca, vamos discutir, compor argumentos e coloca-los em todos os níveis.

AUDIÊNCIA PÚBLICA EM SÃO PAULO -II

Infelizmente, não pude estar na audiência pública para pressionar pela aprovação imediata do PL 683/09, da autoria do deputado estadual paulista Carlos Giannazi, que obriga o Estado a fornecer protetor solar e óculos às pessoas albinas. Mas, a Dra. Carolina Marçon, do Programa Pró--Albino, Andreza Cavalli, Priscila Merlin e demais presentes, deram conta de explicitar a importância do projeto.  






terça-feira, 26 de junho de 2018

TELINHA QUENTE 315


Roberto Rillo Bíscaro

Sucesso de público e crítica na segunda metade dos anos 1980, The Golden Girls (Super-Gatas, no Brasil) ficou chato na sétima e derradeira temporada, escorregando pra trigésima colocação no ranque da audiência, em 1992. Sem arranhar seu status de clássico da sitcom, há que reconhecer que a fórmula se esgotara. Bea Arthur – que não gostava de Betty White – deve ter percebido a exaustão da graça e vazou, botando fim ao seriado. Como é sabido, a estrutura do final foi inspirada por The Mary Tyler Moore Show (no qual White trabalhara): a personagem menos apta a sobreviver é a que se dá bem. No caso, a meio-macho Dorothy Zbornak é a Supergata que arruma casamento e sai da república.
Mesmo com esses sinais de declínio, Susan Harris criou The Golden Palace, veículo pras 3 personagens restantes. Mudando pra CBS (The Golden Girls fora exibido pela NBC) e espremida num horário de sexta à noite (naquela época não havia internet, o pessoal saia de casa), os 24 episódios exibidos entre 1992-3 tinham tudo pra dar errado. E deram.
Depois da partida de Dorothy, Blanche, Sophia e Rose vendem a casa e adquirem um hotel, The Golden Palace. Lá, encontram 2 funcionários e um moleque que fala e a gente perde metade. Menos mal que apareceu pouco e se livraram dele quase sem cerimônia. O par de empregados fica a temporada toda e é bem divertido; um afrodescendente e um latino. Politicamente correto, inclusivo e diverso. Mas as donas da hospedagem são brancas, claro.
A estrutura é idêntica à das Golden Girls. Sophia, Blanche e Rose preservam todas suas características, cada episódio tem 2 histórias paralelas, elas comem cheesecake pra discutir seus problemas, sempre resolvidos com um par de frases. Tiazinha é sulista separatista e basta uma argumentação óbvia de Roland (o negro) pra ela perceber o equívoco. Isso nem seria problema, porque sabemos que muitas sitcoms são moralidades disfarçadas de fazer rir. O lance é que não tinha mais graça.
Algumas personagens-acessório das Golden Girls – como Miles e Stan – reaparecem pra terem seus destinos traçados e até Dorothy participa de 2 episódios, visitando a mãe e as amigas. Mas, é tudo no piloto automático. O público não deu bola pra The Golden Palace, que ficou em 57º lugar dentre os shows mais vistos. Isso significa que quase ninguém assistiu e hoje as 2 dúzias de episódios jazem esquecidas, a não ser se você seja completista das Golden Girls.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

CAIXA DE MÚSICA 320



Roberto Rillo Bíscaro

Quando segregação racial era lei em partes dos EUA e costume informalmente aceito no resto, Nat King Cole tornou-se superastro, com sua voz aveludada, que ajudou a popificar o jazz.
Sua vasta celebridade e insistência em não participar de movimentos políticos clamando por direitos civis não o pouparam de inúmeros ataques racistas durante sua vida relativamente curta (morreu aos 45, de tanto fumar).
Alguns desses problemas raciais são abordados mais por sua inevitabilidade do que por desejo, é a impressão que dá o excessivamente laudatório Afraid Of The Dark (2014), que tem dedão da família na produção. Cole realmente foi grande, mas o nível de idolatria edulcora demais o documentário, que vira mais tributo. Merecido, mas tem momentos que enjoa o rosário superlativo despejado por Tony Bennett, Johnny Mathis, Harry Belafonte, George Benson e mais um monte de gente.
Afraid Of The Dark acaba provando mais o limitado alcance que celebridades dessa ou daquela “minoria” tem na desconstrução do preconceito. Não que não sejam vitais como representação modelar pra autoestima, mas hoje tende-se a esperar demasiado que apenas aparecendo na mídia, alguém dirima preconceitos. Se fosse tão fácil...  
Outro ponto inferido é que não adianta muito tentar imitar o opressor; a alteridade grita. Por mais suave, elegante, educado que tenha sido Cole, isso não o livrou de ataque da KKK, de ser agredido no palco em turnê pelo abertamente racista Sul, região que boicotou tanto seu programa de TV, que patrocinadores tinham medo de associar suas marcas a um afroamericano e a NBC o cancelou. Por outro lado, é notável que a emissora tenha tentado um programa estrelado por um negro no início dos 50’s. E é aí que mora um dos dramas: era fácil pros brancos aceitarem voz negra em suas eletrolas e rádios, até porque o som de Nat era bem branqueado. Aparecer negro na TV era outra coisa, havia a imagem, havia a negritude ébana do cantor, que até tentou ser grotescamente disfarçada, mas não deu. Só não vale dizer que Nat foi o primeiro negro a ter programa na TV ianque, senão apenas afirmamos o apagamento de Hazel Scott e Billy Daniels.
Tendo em mente o tempo todo, que Afraid Of the Dark é chapa-albina de tão branca, dá pra usar as informações do documentário pra problematizar várias questões, além de aprender sobre a fundamental importância do artista pra que a Capitol Records se tornasse potência e que o “Rei” era exímio pianista e estava no mesmo nível de estrelato dum Sinatra, em seu auge.



Depois de sua participação no álbum Caracal, do Disclosure, a carreira de Gregory Porter entrou no meu radar. Coroa metido a hipster, ao invés de descobri-lo em círculos jazzísticos, mais apropriados a um 50tão, conheci-o em álbum de molecada de UK Garage.
Os britânicos curtem o norte-americano: seu álbum mais recente, Nat King Cole & Me, cravou terceiro lugar na parada anglo-escocesa.
Lançado em fins de outubro, Nat King Cole & Me, em sua edição de luxo, traz quinzena de canções interpretadas ou ligadas ao falecido crooner. Porter explicou que se trata de álbum-tributo, porque Cole serviu como figura paterna pro solitário Gregory, crescendo na Califórnia.
Porter abre com trinca-chumbo grosso: Mona Lisa, Smile e Nature Boy são três dos maiores sucessos de Cole, daqueles que até ouvintes casuais conhecem, devido a trilhas-sonoras, comerciais, enfim, nem é preciso conhecer Nat Cole. Os arranjos são carbonados dos anos 50, assim como no restante do álbum, que oscila entre a balada e números mais jazzy, como L-O-V-E, com pistão e tudo.
Para o ouvinte casual, o maior desafio certamente será When Love Was King que estoura em muito o tempo médio de 3,5 minutos da canção pop. São quase 8 minutos meio deprês e pouco assobiáveis. Mas, imediatamente entram os menos de 3 minutos de Ballerina, com seu arranjo jazz de jantar dançante chique nova-iorquino.
Hoje é engraçado ouvir letras como a de But Beautiful: Love is tearful, or it's gay. Há não muitas décadas, gay significava só alegre. Mas, por que vocês acham que essa foi uma das duetadas entre Lady Gaga e Tony Bennett? Adivinha quem canta essa frase... Mesmo sem ser superior à de Porter, o aspecto subversivo destaca a versão da diva pop e do octogenário crooner.
E eis o grande dilema de Nat King Cole & Me: é tudo muito bem cantado e produzido, mas não acrescenta nada ao já gravado tantas vezes. Valeu como tributo, mas aguardamos o sucessor de Take Me To The Alley, em termos de material inédito.

sábado, 23 de junho de 2018

REDES SOCIAIS A SERVIÇO DO BEM

Em Gana, albinos encontram conforto nas redes sociais


Alguns ganenses acreditam que os albinos são um sinal de azar, então muitos pais não os reconhecem ou tentam matá-los



ACCRA, GANA - Quando Bernice Agboada tinha 15 anos, abandonou a escola porque não enxergava a lousa. A humilhação de ter de passar na frente dos colegas para poder ver o que estava escrito era maior ainda porque eles zombavam dela constantemente. Dois anos mais tarde, voltou para a escola, pagando alguém para tomar notas para ela.

Agora com 19 anos, Bernice sonha em fazer a faculdade de Direito, cantar e desfilar, mas ela precisa antes concluir o colegial, o que significa ter de pegar uma condução. Quando ela entra em um ônibus em Accra, os passageiros olham para ela espantados e sussurram “obroni” ou “ofri”, o que significa estrangeira, ou branca. “Ninguém quer sentar ao meu lado”, ela disse.

Bernice tem a pele clara e marcas provocadas por anos de exposição ao sol. Ela faz parte de um grupo de ganenses que têm albinismo, uma doença recessiva que reduz drasticamente a quantidade de melanina na pele e pode causar perda de visão e câncer de pele.

Alguns ganenses acreditam que a sua presença é um sinal de azar, levando os pais a evitar reconhecê-los, ou mesmo a tentar matá-los. Outros acreditam que seus corpos dão sorte, e alguns chegam a assassiná-los para os traficantes venderem partes dos corpos.

Em uma população de aproximadamente 28 milhões de habitantes, cerca de 2 mil deles em Gana têm albinismo.

As pessoas com albinismo são isoladas e se tornam incapazes de conseguir recursos para se proteger do sol e enfrentar um mundo que as considera seres descartáveis.

Mas, nos últimos anos, elas se conectaram com plataformas como Facebook e WhatsApp, transformando um estigma social em vínculos sociais e amizades físicas.

Para as pessoas que vivem com albinismo, as experiências variam de acordo com a classe, a idade e a extensão da doença no corpo, mas para as que vivem em Accra, a capital, e nas aldeias, o estigma frequentemente acarreta uma grave negligência e o deboche.

“Meu pai tentou várias vezes me matar porque nasci com albinismo”, disse Adam Abdul Wahab, editor de um jornal que nasceu em uma aldeia perto de Tamale, no norte do país. “Minha família achava que eu era de outro mundo, e algumas pessoas espiritualistas queriam acabar com a minha vida”.


O avô de Wahab conseguiu deter os possíveis assassinos, mas ele ainda lembra que quase morreu.

Nos últimos anos, em Accra, organizações como a Associação Ganense das Pessoas com Albinismo possibilitaram a pesquisa e a defesa destes cidadãos nas instâncias políticas. Mas nas aldeias rurais governadas por chefes, quem tem albinismo está particularmente sujeito à violência, afirma Sylvia Ansah, 34, administradora do programa Engage Now Africa Albinism.

O medo do sequestro é uma preocupação diária para Nancy Darkoa, 20, mãe solteira de uma aldeia rural cuja filha Francisca, 4, nasceu com albinismo. Seu marido não quis reconhecer a filha do casal quando descobriu que ela tinha albinismo, alegando que ninguém na sua família tinha esta doença.

“Criar minha filha na aldeia é muito mais difícil do que na cidade”, disse Nancy segurando Francisca e carregando o filho de 8 meses nas costas.

Sampson Amekoe, 39, que tem uma plantação de bananas e é pai de três filhos, teve experiências semelhantes. “Não importa o que eu faça, as pessoas comentam sempre alguma coisa sobre a minha pele quando passo por elas”.

Poder comprar produtos para a pele, protetores solares e ter acesso a dermatologistas é um problema para os albinos, que vivem com risco permanente de queimaduras do sol. E a situação econômica frequentemente determina este acesso.

“As pessoas com albinismo têm a tendência a ter câncer de pele em taxas extremamente elevadas por causa do clima aqui”, disse a dra. Jeannette Aryee-Boi, dermatologista, que trabalha como voluntária para grupos com albinismo.

A médica explicou que o albinismo pode levar ao nistagmo, uma doença que faz com que o olho tenha movimentos descontrolados, prejudicando a visão.

A formação de uma comunidade tem ajudado pessoas como Bernice a criar autoconsciência.

“Quando conheci outras pessoas com o meu problema, me senti motivada para acreditar que posso sobreviver, e isto me ajudou a não ter piedade de mim mesma”, ela afirmou. “Eu sei que, mesmo com a minha doença, sou bonita e posso fazer qualquer coisa”.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

AUDIÊNCIA PÚBLICA EM SÃO PAULO



Roberto Rillo Bíscaro

Um dos resultados políticos mais expressivos do blog foi o interesse do deputado estadual paulista Carlos Giannazi pela causa albina. Ele é o autor de dois projetos de lei atualmente em trâmite na Assembleia Legislativa, de São Paulo. Um deles garante a distribuição mensal de protetores-solares às pessoas albinas que não  os puderem adquirir e outro assegura o exercício de direitos básicos nas áreas de saúde, educação e trabalho.

É preciso sensibilizar os legisladores e a opinião pública a respeito da importância da aprovação de tais projetos, por isso, uma Audiência Pública será realizada dia 25/06 (segunda-feira), às 18:00, n Plenário Tiradentes, no primeiro andar da ALESP.

Na ocasião, além do deputado, estaremos presentes pessoas com albinismo e a Dra. Carolina Marçon, uma das coordenadoras do excelente Programa Pró-Albino, realizado pela Santa Casa de São Paulo.

É muito importante a presença de pessoas com albinismo e demais interessados na causa, para que possamos expôr nossas reivindicações, mostrar nossas potencialidade, contar nossas necessidades.

A Assembleia Legislativa de São Paulo fica na A. Pedro Álvares Cabral, 201, no bairro do Ibirapuera, na capital paulista.  

quinta-feira, 21 de junho de 2018

TELONA QUENTE 241


Roberto Rillo Bíscaro

Diante dalgumas tristes notícias sobre Geoffrey Rush, lembrei-me de não ter ainda visto O Melhor Lance (2013). Como curto a ator australiano e o filme está no catálogo da Netflix, enfrentei as mais de duas horas roteirizadas e dirigidas por Giuseppe Tornatore.
Debaixo de toneladas de pretensão, esconde-se divertida trama de vingança, suspense e melodrama num romance maio-dezembro. Mas, alguém disse pra ele, e Tornatore acredita, que faz “arte”, então a história do velho leiloeiro que esconde tesouros artísticos apenas pra si e se envolve com moçoila misteriosa é contada em clima de conto de fadas simbólico, com umas duas pitadinhas de “doideira surreal” pra ficar mais cabeça (de bagre) ainda. Tive que pausar o filme quando é revelada a propriedade do casarão, de tanto que ria.
Ou Tornatore não conhece sutileza ou não confia nos miolos de seu público-alvo, porque o roteiro é reiterativo, explicando o tempo todo o que pretende metaforizar. O Melhor Lance é um guia completo para entender cultura middlebrow.
A trama causaria frêmitos nas mãos de alguém menos compromissado em fazer “arte” e mais interessado em contar boa história ou fazer cinema de suspense eficiente. Nas mãos do italiano, ficou um filme longo e cheio de frases de citação nível meme pra rede social.
O Melhor Lance não é inassistível, pelo contrário, a cinematografia é elegante e Rush está impecável (ele vale o filme). Mas, aspira a ser mais do que é e poderia ter sido mais eficiente, se se achasse menos.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

NOVO ALERTA DA ONU

ONU alerta para estigma e exclusão social contra pessoas albinas

13 de junho, é Dia Internacional de Conscientização sobre o Albinismo.
Em algumas comunidades do Burundi, Malauí e Tanzânia, pessoas albinas são vítimas de criminosos que as mutilam para vender partes de seus corpos, considerados sagrados ou mágicos. Órgãos e membros de indivíduos com albinismo chegam a ser comercializados num mercado ilegal extremamente lucrativo: braços e pernas podem custar 2 mil dólares, enquanto que um corpo inteiro chega a 75 mil dólares.


Em mensagem para o Dia Internacional de Conscientização sobre o Albinismo, lembrado neste 13 de junho, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que as pessoas com essa condição genética continuam “tragicamente” a sofrer “discriminação generalizada, estima e exclusão social”. Em alguns países africanos, indivíduos albinos são vítimas de perseguição por conta de preconceito e de crenças culturalmente arraigadas.

“Muitos deles, incluindo crianças e mulheres, estão extremamente vulneráveis, isolados e sujeitos a abuso e violência”, ressaltou o chefe das Nações Unidas, que pediu solidariedade para os albinos. Em 2018, o tema da data global é “Brilhando a nossa luz para o mundo”.

Em algumas comunidades do Burundi, Malauí e Tanzânia, pessoas albinas são vítimas de criminosos que as mutilam para vender partes de seus corpos, considerados sagrados ou mágicos. Órgãos e membros de indivíduos com albinismo chegam a ser comercializados num mercado ilegal extremamente lucrativo: braços e pernas podem custar 2 mil dólares, enquanto que um corpo inteiro chega a 75 mil dólares.

Há relatos de casos em que indivíduos são desmembrados ainda vivos, tendo seus dedos, membros, olhos, partes genitais, pele, ossos, a cabeça e o cabelo arrancados com facões. No Moçambique, também há relatos de agressões e violações dos direitos.

Segundo Guterres, o aval da Comissão Africana de Direitos Humanos e do Parlamento Pan-Africano para o Plano de Ação Regional sobre Albinismo no continente é “um passo adiante fundamental”. “Mas muito mais pode ser feito globalmente para conscientizar sobre o suplício das pessoas com albinismo.”

O secretário-geral pediu um esforço coletivo para garantir que essa população viva livre de medo e discriminação e possa exercer plenamente seus direitos humanos.
Especialista alerta para acesso à educação

A especialista independente da ONU Ikponwosa Ero ressaltou conquistas e desafios que a população albina enfrenta. Para a nigeriana, que é ela mesma albina, o 13 de junho é uma data para celebrar “as contribuições consideráveis de pessoas com albinismo, incluindo Goldalyn Kakuya, a menina de 14 anos com albinismo que foi a melhor nos exames nacionais da escola primária no Quênia, em dezembro”.

O marco, afirma Ikponwosa Ero, “quebrou estereótipos e preconceitos”. “Ainda se acredita frequentemente que pessoas com albinismo são incapazes de aprender. Esse preconceito ilustra a discriminação particular que elas enfrentam no que diz respeito ao acesso à educação, incluindo o bullying persistente e a ausência de instalações adequadas para a deficiência visual que é frequentemente parte do albinismo”, explicou.

A especialista também lembrou que “seis mulheres com albinismo, incluindo vítimas de ataques e mutilação, estão atualmente se preparando para chegar ao cume do Monte Kilimanjaro”. “Essa campanha é uma demonstração ricamente simbólica das capacidades das mulheres com albinismo”, completou Ero.

CONTANDO A VIDA 236

ÉTICA NAS REDES SOCIAIS

José Carlos Sebe Bom Meihy

Falta muito para que possamos assimilar os efeitos da eletrônica na rotina de nossos dias. Quando olhamos pelo retrovisor, torna-se fantástica a admiração de como era a vida. Imaginemos, por exemplo o que aconteceu com o telefone. Lembremos que existiam “profissionais da telefônica”, que mediavam contatos entre as partes. Ligar para qualquer pessoa era quase um cerimonial e muitas vezes implicava demora, retornos e custava muito. Depois veio a fase dos sinais que muitas vezes nos fazia torcer para que não tardassem muito. E os fios telefônicos que nos aprisionavam em distâncias curtas?! Aliás, perto dos aparelhos sempre havia um banquinho ou cadeira. Isso não deixa de ser intrigante, pois as falas deveriam ser curtas. O custo dos aparelhos era enorme e demorava-se muito para chegar a oportunidade nas longas filas. De tal forma o problema da telefonia era expressivo que o estado interveio colocando os aparelhos na rua. Dia desses, um amigo chamava atenção em esclarecimento ao filho adolescente, explicando a expressão “cair a ficha”, pois as novas gerações sequer têm noção. O mesmo se diz dos cartões em desuso pela superação do sistema. 

Quando surgiram os primeiros aparelhos sem fios, as mudanças foram muito bem recebidas, graças a mobilidade tida como libertadora. Outra decorrência desse avanço pode ser medida pela simultaneidade: falava-se ao telefone ao mesmo tempo que se cozinhava, arrumava-se alguma coisa ou se vestia. Foi dessa época a mania de apoiar o fone no pescoço, e, falando nisso, não há como deixar de lado a capacidade feminina em repartir atividades paralelas. Os celulares significaram verdadeira revolução em todo processo. De repente, de uma hora para outra, uma síntese acelerada de tudo: espaço, tempo, mobilidade, tamanho, tudo se somou em uma maquininha que se tornou essencial. A tal ponto a dependência dos aparelhos se fez imperiosa que esquecê-lo em casa, dizia uma amiga, é como sair sem um dos braços. Em termos técnicos, o celular foi permitindo outras possibilidades que não apenas ser telefone. A internet talvez tenha sido a mais consequente decorrência e dela as redes sociais.

Alastrando-se como rastilho, começaram-se a multiplicar as redes sociais. Virando brinquedinho de adultos, como garotos em visita a um parque de diversão. E são legiões de adultos que rearticulam contatos e desdobraram-se em saudações, notícias e fofocas. Na surdina do progresso dos contatos, todos viram protagonistas, se assumem como divulgadores de suas causas e na sutileza da dualidade emissora, as fake news se fizeram personagens venenosas na intenção de confundir incautos. Semeando desavenças, certas invencionices foram ganhando tons políticos e consequentes. O fator multiplicação, sem dúvida, se responsabiliza pelo risco e pela popularização dos eventos criados para confundir. Sobre esta matéria, poderíamos alongar discursos que tenderiam ao infinito, mas interessa explorar outro lance que causa incômodos e exige cuidados. Por mexer em temas sensíveis, cabe inclusive lances de tangência filosófica ou pelo menos moral. 

Dia desse foi postada a imagem de uma criança de uns três anos, abrindo a bolsa da mãe e tirando dinheiro que escondia na própria roupa. Com o título de “filho de deputado”, houve compartilhamentos bem-humorados como que saudando a atitude malandrinha da criança. Em outra ocasião, a cena remetia a um cão sendo estraçalhado por um jacaré. Sobre cães e gatos há vasto repertório explorando, por exemplo, o medo dos animais que se apavoram com fogos. Sobre mulheres, loiras e mulatas principalmente, aquelas piadas que pretendem se situar no limite do pitoresco com o preconceituoso, tornam-se perigosas. O mesmo se diz de gays, gordos, anões, mendigos e religiões não bem aceitas. Todos esses procedimentos são discutíveis, mas um me atinge e convoca reflexões éticas mais consequentes: a exposição de crianças. Ora usadas como argumento sutil que reproduz defeitos sociais, são também evocadas como campo de experiências toleradas. Como que delegando falta de controle, crianças são mostradas fazendo coisas condenáveis, mas com condescendência. Entre a malandragem e a candura, se misturam usos impróprios de menores. E nem percebemos o mal que isso propaga. 

Convém assinalar que dois fatores se trançam de forma a complicar tudo: o engraçado e o interdito. No campo do humor, parece que vale tudo pelo riso ou malícia. O silêncio também atua como fator agravante, pois não se discute a gravidade do problema, e assim tudo rola na naturalidade do fluxo das postagens, que se sucedem vertiginosamente. Integram o mesmo pacote os cansativos desatinos ao que se convencionou chamar de “politicamente correto”. Como consciência culpada, é comum depois de um achaque desses, alguém falar mal do propósito ético que questiona o valor da brincadeira.

Frente a tudo isso, a questão que se coloca é: que fazer? Além de provocar o debate, sem apoios argumentativos coletivos, tenho tomado outra atitude: não reproduzir ou sequer comentar os casos. Considerando a necessidade de se discutir ética, cabe motivar discussões e saudar o respeito. Por certo, muito dos que enviam tais piadas ou comentários não têm intenção maldosa, mas intuitivamente atingem alvos frágeis. É chegada a hora de trocarmos ideias sobre essas coisas, pois a moral de história consagra do respeito além do riso.

terça-feira, 19 de junho de 2018

"SER ALBINO NÃO É CRIME, MAS ÀS VEZES ATÉ PARECE"


Os albinos em Angola continuam a enfrentar “problemas e barreiras” que vão desde a dificuldade de inserção no emprego e no sistema de ensino, à falta de assistência social e medicamentosa, advertiu hoje a Associação de Apoio aos Albinos de Angola.

Ainformação foi transmitida pelo presidente da Associação, Manuel Vapor, durante uma palestra realizada hoje, em Luanda, a propósito do dia mundial para a consciencialização sobre o Albinismo.

De acordo com aquele responsável, ainda há casos de discriminação no país e grande parte dos albinos em Angola não tem emprego e encontra dificuldades para adquirir cremes de protecção da pele, pedindo por isso ao Ministério da Saúde a subvenção desses fármacos.

“Porque o protector solar nas farmácias, o preço, é elevadíssimo e então gostaríamos que também ficassem naqueles produtos a custo zero e subvencionados pelo Governo. Por isso é preciso que o ministério ponha a mão neste caso, porque principalmente os adultos que não trabalham têm grande dificuldade”, disse.

Manuel Vapor referiu, igualmente, que o país “carece de uma política virada à pessoa albina”, que no seu entender deveria ser superintendida pelo Ministério da Saúde, exemplificando que as consultas nos hospitais ainda são feitas “graças ao bom senso dos dermatologistas”.

As consultas, acrescentou, são feitas com recurso às “parcerias” que a associação criou junto dos dermatologistas, no sentido de responderem às “necessidades diárias” da pessoa albina.

Durante a sua intervenção, o presidente da Associação de Apoio aos Albinos de Angola, considerou também que a falta de informação sobre o albinismo faz persistir o preconceito na sociedade angolana.

“Porque se desde tenra idade e sobretudo nos manuais escolares do ensino de base se começar a ministrar matérias sobre o albinismo, essas situações não deveriam colocar-se e a criança já não veria o albino como um fantasma e haveria melhor familiarização”, realçou.

No capítulo do emprego, aquela associação defende que o Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTESS) encontre mecanismos que “pelo menos reservassem vagas exclusivas” para a pessoa albina.

“Reconhecemos que o emprego no país está difícil, mas é possível o ministério adoptar esse mecanismo, porque muitos associados estão vulneráveis e isso agrava ainda mais a sua condição de saúde, devido à falta de cuidados”, adiantou.

A consciencialização à pessoa com albinismo e o albinismo no campo científico foi o tema desta palestra, animada pelo dermatologista e director do serviço de Dermatologia e Venereologia do Hospital Américo Boavida, Juliano Isaías.

Na ocasião, o responsável lamentou a situação de carência de albinos para aquisição de cremes de pele, tendo revelado que a unidade hospitalar acompanha regularmente cerca de 300 doentes albinos, na sua maioria com cancro de pele.

“E os nossos serviços ambulatórios continuam a registar novos casos, sobretudo ligados a lesões de pele em crianças e adultos”, explicou.

A Associação de Apoio aos Albinos de Angola conta com cerca de 600 associados e tem representações em seis das 18 províncias do país.
Nada pior do que ser africano e albino

A Tanzânia viveu nos finais de 2016 uma onda de ataques contra albinos, considerados por alguns a cura de doenças e, por outros, o símbolo do azar, da maldição e da bruxaria.

Said Abdallah, uma menina de 10 anos, teve os braços cortados depois de ser tacada por homens que a acusaram de ser uma “bruxa amaldiçoada”. Mas o real motivo pela qual Said foi agredida foi ser albina. A Tanzânia é o país de África com o maior número de albinos.

Principalmente nas áreas rurais, acredita-se que a ausência de melanina na pele, no cabelo e nos olhos, principais causas que levam ao albinismo, são sinais de maldição e azar. A intensificação dos problemas de intolerância fez com o que o governo da Tanzânia passasse a abrir centros de acolhimento a albinos por todo país. Muitos são expulsos de suas próprias casas porque as suas famílias têm vergonha de criá-los.

De acordo com a Associação de Albinismo da Tanzânia, foram registados em 2016 oito mil albinos no país, entre homens, mulheres e crianças. Acredita-se, contudo, que essa população é muito maior já que a maioria dos albinos se esconde ou não se declara albina com medo da repressão.

“Muitos albinos fogem das suas vilas com medo de serem esquartejadas e terem os seus órgãos vendidas por traficantes”, explica a jornalista Ana Palacios ao jornal britânico “Metro”. De acordo com a jornalista, alguns acreditam que “os órgãos de albinos podem ser usados em poções mágicas”.

Enquanto para alguns a doença é vista como uma maldição; para outros, os albinos são milagrosos. “Eles são estuprados porque alguns acreditam que eles carregam a cura da Sida. Eles são alienados da sociedade por serem considerados mágicos”, enfatiza Ana Palacios.

Algumas famílias africanas acreditam que as crianças brancas são um “estigma” e, dessa forma, eles passam a ser “maltratados” e “menos alimentados”. Muitos, inclusive, não recebem o tratamento necessário e acabam como vítimas do cancro de pele.
Dramas que têm de acabar

O pescador Mtobi Namigambo vive na ilha de Ukerewe, na Tanzânia. Situada a três horas de distância de Mwanza, segunda maior cidade do país, a ilha remota já foi tida como um santuário para albinos. Mas a situação mudou.

Um dos filhos de Namigambo, May Mosi, com quatro anos de idade, é albino. Quando tinha três meses, escapou de uma tentativa de sequestro. “Tinha ido pescar no lago. A minha mulher e as crianças estavam sozinhas na casa quando foram atacadas”, conta o pai, acrescentando que “ela pulou pela janela e correu com May em busca de um local seguro, deixando as outras duas crianças para trás. Elas não sofreram nada.”

“Os agressores estavam à procura de May”, diz a esposa do pescador: “O meu marido estava fora, pescando, e eles sabiam disso. Por isso vieram. Após eu pular pela janela, eles ainda vieram atrás de mim e gritei por socorro. Só desistiram quando acordei os vizinhos.”

O albinismo é um distúrbio congénito caracterizado pela ausência de pigmento na pele, cabelos e olhos devido a uma deficiência na produção de melanina pelo organismo. Em alguns casos também provoca problemas de visão. O distúrbio é raro, afectando uma em cada 17 mil pessoas aproximadamente.

No Brasil, por exemplo, haveria (embora não haja dados oficiais) entre 10 mil e 12 mil pessoas com albinismo. Entre elas está o compositor e multi-instrumentista Hermeto Paschoal, reverenciado por músicos de jazz em todo o mundo.

Pouco presente no mundo ocidental, o albinismo, no entanto, é comum na África Subsaariana. Na Tanzânia e em outros países africanos, especialmente no leste do continente, há muitos. E eles sofrem perseguições.

Em algumas regiões, são tidos como demoníacos e perigosos. Na Tanzânia, alguns acreditam que poções feitas utilizando partes dos corpos dos albinos trariam sorte e riqueza.

Como resultado, perto de uma centena de albinos foram mortos no país nos últimos anos. Segundo grupos que fazem campanha em sua defesa, apenas dez pessoas foram presas em consequência desses assassinatos.

Nos últimos anos, houve várias iniciativas para tentar conscientizar a população e romper preconceitos e superstições em torno do albinismo. Em 2012, na África do Sul, uma modelo albina foi destaque no continente quando desfilou pelas passarelas da Africa Fashion Week.

Na Tanzânia, o governo também lançou campanhas de conscientização. Mas o problema persiste, especialmente em regiões remotas como a ilha Ukerewe, onde vivem May e sua família.

“Nós apelamos ao governo por mais iniciativas para educar a comunidade aqui (na ilha)”, diz Namigambo, pai de May. “No passado, as autoridades faziam seminários sobre albinismo. Faziam muita diferença, mas agora não mais.”

A ONG Under the Same Sun (em tradução livre, Sob o Mesmo Sol), que actua junto da população albina da ilha, diz que o lugar não é tão seguro como alguns imaginam. Alfred Kapole, presidente da sucursal regional da Tanzania Albinism Society, nativo da ilha, foi obrigado a fugir para Mwanza.

“Ele foi um dos primeiros albinos a levar o seu caso aos tribunais após um líder local ter tentado matá-lo para ficar com seu cabelo”, diz Vicky Ntetema, directora da ONG Under the Same Sun. Ele lamenta que esse tipo de experiência seja comum entre albinos no país.

No centro da cidadezinha de Sengerema, a 60 km de Mwanza, uma estátua mostra um casal que não tem albinismo segurando um bebé albino. A mãe da criança coloca na cabeça do filho um chapéu de abas largas para protegê-lo do sol. O monumento também traz 139 nomes de pessoas albinas que foram mortas, atacadas ou cujos corpos foram roubados dos cemitérios.

Um representante da sociedade de albinos de Sengerema, Mashaka Benedict, diz que mesmo pessoas com certo nível educacional acreditam que partes dos corpos dos albinos podem trazer riqueza.

“Se isso é verdade, por que não somos ricos?”, pergunta. E acrescenta: pessoas importantes estão por trás do “comércio da morte”. É por isso que pouquíssimas foram presas, acusadas ou condenadas: “Como poderia um pobre oferecer fortunas por um pedaço de um cadáver? Os envolvidos são empresários e políticos.”

A polícia, por sua vez, diz que faz o que pode. “São casos complicados porque a maioria dos incidentes ocorre em regiões remotas, onde não há electricidade, por exemplo”, diz o chefe de polícia de Mwanza, Valentino Mlowola. “Isso dificulta a identificação dos infractores durante a noite. Investigamos cada caso e cada alegação, mas não é simples,” explica.

Apesar das dificuldades, activistas persistem na luta para combater o preconceito e a ignorância. Num evento organizado para promover os direitos dos albinos, uma artista com albinismo cantou: “Estamos sendo mortos como animais. Por favor, rezem por nós”.

TELINHA QUENTE 314


Roberto Rillo Bíscaro

A história do uso de substâncias que melhoram o desempenho físico é mais antiga do que os jogos olímpicos. Os chineses, há 4 mil anos, conheciam os efeitos do chá de machuang, que contém efedrina em altas doses e era utilizado para aumentar a capacidade de trabalho. Nos jogos olímpicos da Antiguidade, em 800 antes de Cristo, os atletas bebiam chás de diversas ervas e usavam óleos e cogumelos para melhorar seu desempenho. No século 19, popularizou-se entre os competidores uma bebida chamada “Vin Mariani”, à base de folhas de cocaína. Então, doping não é sinal de nossa sociedade decadente em comparação a um passado quando tudo era amor à competição honesta.
Doping genético é o tema central dos cinco capítulos da minissérie Alpimaja (2012). A equipe feminina de natação da Estônia perde suas medalhas olímpicas depois que auditoria revela que as nadadoras usaram substâncias proibidas. O governo estoniano contrata a ajuda do expatriado Martin Kütt, experto solucionador de crises, que fizera carreira fora de seu país natal, pronde tencionava retornar nunca mais.
Não demora pra ele se dar conta de que a manipulação genética de atletas desde a infância estava gerando pequeno batalhão de mutantes inválidos. Em um ambiente ainda muito viciado com as posturas autoritárias do Partidão na época soviética, Martin terá que se mover entre políticos corruptos/oportunistas/carreiristas; celebridades de TV que fingem apreciar decência e verdade, mas querem mesmo só audiência e uma revelação de sua vida pessoal, enquanto vivia na Estônia.
Malgrado algumas cenas e diálogo longos em demasia; umas musiquinhas incidentais que lembram a TV ocidental ainda nos 80’s e equalização sonora estranha, quando se trata de cenas com ruídos externos tipo rua ou aeroporto, Alpimaja mantém o interesse. Não apenas, talvez, porque a história tenha seus méritos próprios de sustentação, mas porque, afinal, com que frequência acessamos material da TV estoniana?
Essa é uma das coisas mais legais da globalização: ver atores d’outro lado do globo, atuando numa língua que nunca ouvíramos, em locações com neve até nos tímpanos, filmando ruas que jamais visitaremos provavelmente, mas que se tornam menos alienígenas, porque podemos vê-las por imagens de produções tão decentes, quanto Alpimaja.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

DEBATENDO ALBINISMO EM MACEIÓ; ASSISTA

Audiência pública debate política de inclusão e preconceito contra albinos



“Sofri e sofro preconceito na faculdade de Direito que estudo aqui em Maceió por ser albino. Todo o processo de exclusão pelo qual passei me levou à depressão. Com ajuda de muita gente, consegui superar esse processo, mas não é fácil ser albino no Brasil, e em Alagoas não é diferente”. A declaração foi dada pelo universitário Davi Souza na audiência pública com o tema “Albinismo: a luta contra a invisibilidade do poder público”, que foi realizada nesta sexta-feira (15), na Câmara Municipal de Maceió. O encontro ainda faz parte do 13 de junho, Dia Municipal do Albinismo.

Além do estudnate, especialistas e membros de associações que lutam para garantir direitos aos albinos também participaram da audiência. O albinismo se caracteriza pela existência de um gene recessivo que causa deficiência na produção de melanina. Tal deficiência altera a cor da pele, pode causar problemas na visão e, em casos onde não há cuidado devido, o aparecimento de câncer de pele. Maceió possui uma lei, de autoria de Tereza Nelma (PSDB), que obriga o poder público municipal a fornecer protetor solar aos albinos da cidade. Ele foi a propositora da audiência.

Conforme dados apresentados nesta sexta, o Brasil não tem números concretos sobre o albinismo. Para se ter ideia, o censo demográfico realizado no país pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não dá ao albino a opção de se reconhecer como tal no questionário que trata da cor da pele. Ainda de acordo com os números, no mundo nasce um albino a cada 20 mil habitantes.

“Antes da associação, era bastante complicado vermos, como aqui em Maceió, jovens albinos interagindo uns com os outros. Esse foi um dos objetivos de criamos a Apalba: nos tornarmos visíveis e autônomos. O albinismo não é uma doença, mas sim uma deficiência causada por problemas na produção de melanina. As dificuldades ainda são enormes para quem é albino, mas o engajamento de muita gente, a exemplo da vereadora Tereza Nelma, e de vocês aqui de Alagoas, tem feito a diferença para nós. Temos uma luta desenvolvida há 17 anos na Bahia, e não foi nada fácil. Por isso, as palmas que vocês me deram agora vão para vocês, não para mim. A mensagem é que deixo é não desistirmos”, afirmou Maria Helena Machado, diretora da Associação das Pessoas com Albinismo da Bahia (Apalba).

A entidade baiana também foi representada na audiência desta sexta-feira por Joselito Pereira da Luz, membro da Comissão de Ética.

“Apesar de tudo, os albinos ainda são invisíveis no Brasil. Tanto é assim que o poder público não possui dados sobre o número de pessoas com essa deficiência no país. Maceió e a Bahia deram passo importante na luta pela inclusão do albino. Mas, precisamos seguir nos organizando para não dependermos de ações outras isoladas. A iniciativa da vereadora Tereza Nelma na apresentação e consequente aprovação da lei que garante, aqui, a entrega de protetor solar para o albino é um grande passo. Para os albinos, o protetor solar é vida. Porém, o trabalho tem que existir no sentido de integrarmos saúde, educação e inclusão social, sempre. Parabenizo Maceió pelo trabalho feito”, disse Joselito de Souza.

Assistente social, Luciana Ferreira de Castro, integra a coordenação de Gerência de Atenção à Pessoa com Deficiência ligada à Secretaria Municipal de Saúde de Maceió. A Gerência trabalha, atualmente, com mais de 60 albinos.

“Acompanhamos os albinos desde 2009. São crianças, jovens e adultos que buscamos fazer o processo de inclusão, psicológico e, ao lado da vereadora Tereza Nelma, conseguimos que hoje o poder público forneça o protetor solar e labial que são essenciais na prevenção de doenças de pele. Dos mais de 60 albinos, metade é daqui da capital e o restante de cidades do interior. É uma luta por também fazer com que eles aprendam e se fortaleçam como seres humanos e cidadãos, que são”, disse Luciana de Castro.

“Um de meus nortes de vida é que o mundo é um lugar que cabe todos. Dessa forma, realizamos mais uma audiência pública para debater inclusão e denunciar preconceito contra albinos. Infelizmente, isso existe e não podemos fingir o contrário. Mesmo assim, trabalhamos para mudar tal realidade e ajudar, com a lei de minha autoria, que obriga o poder público a fornecer o protetor solar a quem tem albinismo. Foi muito enriquecedor ouvir os depoimentos de quem trabalha para dar visibilidade aos albinos, como a Apalba, da Bahia, a Gerência de Atenção à Pessoa com Deficiência aqui de Maceió, mas também nos entristece ouvir relatos como do Davi, que só agora, depois de um ano, retorna à faculdade após superar uma depressão que sofreu por conta do preconceito”, declarou Tereza Nelma.