segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

MELHORES DE 2016 – PARTE II


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Roberto Rillo Bíscaro

O blog está se dando umas 3 semanas de férias. Mas, há material indicado nele pra meses de pesquisa. Pra facilitar, chegou a hora de eleger o melhor resenhado no segundo semestre de 2016.
O link pros melhores do primeiro semestre está aqui:
Vejamos agora o que mais me agradou entre junho e agora:

MÚSICA
Before The Dawn – registro impecável da temporada de espetáculos que Kate Bush fez em Londres, em 2014.
The Complete Trio Collection – quase tudo gravado em conjunto pelas 3 divas country Dolly Parton, Emmylou Harris e Linda Ronsdatd estão nesse CD triplo.
Pitanga Em Pé De Amora – os 2 álbuns do grupo paulistano são deliciosos.
A Troça Harmônica – a nova MPB não carece de talentos a julgar por essa mistura de Chico Buarque com Clube da Esquina, que é muito mais do que isso.

LITERATURA
Madame Bovary – A releitura do clássico de Gustave Flaubert mostra que Emma Bovary hoje frequenta o Instagram, postando fotos duma felicidade que não possui.

TV
Paranoid – minissérie policial britânica cheia de contradições, mas viciante (talvez por ellas). Bobby Day é minha personagem do ano!

The Crown – luxuosa produção da Netflix sobre a Família Real mais famosa; adivinha qual!

Black Mirror – migrado pra Netflix, o mundo distópico de Charlie Brooker não perdeu nada de sua força e criatividade. Não houve um fime de horror este ano que chegasse perto de um par de episódios desta maravilha.

Trapped – é a Islândia entrando em grande e gelado estilo ao mundo do bom Nordic Noir.

Kroniken – não tão boa quanto Matador, mas ainda assim, bela crônica da história social dinamarquesa dos anos 50 aos 70, em clima de novelão.

Devious Maids – as 4 temporadas das mucamas de Beverly Hills são puro besteirol noveleiro. Ótimo pra época em que más notícias se empilham.

CINEMA
Das Letzte Schweigen  – mistério alemão que se passa no verão, mas mantém geleira invernal.

Isso é tudo, pessoal, até 2017. Tudo de melhor pra vocês!

domingo, 25 de dezembro de 2016

REDE DA SUPERAÇÃO

Seu Antonio mora na cidade de Batalha, Piauí. Devido a um acidente de trabalho ficou cego. Tem dois apelidos, Ceguinho das Redes e Ceguinho da Vila. Seu Antonio é muito conhecido, principalmente pelo oficio de fazer e vender redes, profissão que aprendeu numa associação de deficientes visuais. Apesar dos problemas de saúde que enfrenta, nunca desanimou da vida. Uma história muito inspiradora para este Natal.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

TITIO ALBINO NO YOUTUBE

Flávio André Silva é uma das pessoas albinas de destaque no Brasil. Já atuou no telefilme Andaluz, lançou livros de poemas, editou coletânea de autores albinos. De uns tempos pra cá, virou Youtuber, com o canal Titio Albino, onde discorre sobre vários temas, desde a educação de crianças a discussões sobre patrimônio público.

Maravilha ver pessoas com albinismo botando a boca no trombone não apenas pra reclamar ou falar sobre albinismo!

Eis o endereço pra se inscrever no canal:

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

TELONA QUENTE 181

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Roberto Rillo Bíscaro

Se “Então é Natal”, inspiremo-nos em Simone e deixemos de lado um pouco os filmes de horror, dramas pesados, ficções-científicas e atentemos pruma produção francesa deste ano chamada Bem-Vindo a Marly Gomont. Numa França cada vez mais racialmente beligerante e morrendo de medo de atentados, o filme de Julien Rambaldi é daquelas comédias dramáticas que tratam da superação dum obstáculo pra que ao final nos sintamos dispostos a seguir adiante nesse mundo tão injusto. Os protagonistas se dão bem e temos a esperança de que no fundo a alma humana é generosa, basta nos conhecermos. Quer mais indicado pra época natalina?

Baseado num fato já musicado por um de seus protagonistas, o rapper Kamini, Bem-Vindo a Marly Gomont narra a história de integração racial do médico zairense Seyolo Zantoko e sua família em um vilarejo da Picardia, no norte francês. Em 1975, depois de se formar em medicina e não-desejoso de trabalhar pro corrupto presidente de seu país, o Dr. Zantoko aceita emprego desafiador: ser médico numa aldeia que jamais vira um negro, quanto mais um doutor. Como a comédia-romântica Você É Tão Bonito, um dos trunfos de Bem-Vindo a Marly Gomont é apresentar uma França que nada tem a ver com o glamur fabricado de Paris. Em meados dos 70’s, mentalidade e higiene daquela gente nada tinham que ver com a urbanidade da capital (como se toda a Paris fosse chique...).
A narrativa traz os desafios da família acostumada a clima quente e ensolarado, onde as relações sociais são mais vivazes, para adaptar-se à frialdade não apenas climática do norte. Questões como realçar ou sublimar traços identitários étnico-culturais e a dificuldade de um eurocentrado branco para aceitar que um diferente possa saber mais são tangencialmente abordadas. Mas, tudo bem emotivamente, em chave dramática ou cômica, afinal, a vibe de Bem-Vindo a Marly Gomont é nos fazer sentir bem com uma história de sucesso. Tipo, se eles puderam, por que não você?
Poderíamos começar contra-argumentando que nem todo zairense tem dinheiro pra estudar medicina na França, mas, pra que estragar o espírito natalino? É nessa data que um acontecimento liga os imigrantes aos autóctones, adquirindo valor simbólico de comunhão entre nações, entre etnias, que podem ser distintas em termos de geografia e cor de pele, mas apresentam denominador comum. E quando o diferente é percebido como não-totalmente alienígena, a integração se faz possível, mesmo que alguns radicais idiotas não aceitem.
Então, porque é Natal, vale emocionar-se e rir com Bem-Vindo a Marly Gomont.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

CONTANDO A VIDA 176

MAS (AINDA) TEREMOS NATAIS?

José Carlos Sebe Bom Meihy

Confesso que não gosto da atitude sistematizada de antecipação do Natal. Mais que isso: detesto. Sempre cuidei de comprar os presentes ao longo do ano, mas era atitude individual, gostosa, que fazia ao ritmo da espontaneidade pessoal, não como mandamento coletivo, orquestrado pelo consumismo ativado. Dizem os especialistas que devido à crise econômica – sempre ela! – os comerciantes estrategicamente se apressaram na decoração e aceleram as propagandas como se a “noite feliz” fosse logo mais, algo como um “depois de amanhã”. É demais. Mesmo as crianças já naturalizaram o grande dia que se instalou no cotidiano como marca sem sentimento, como questão de mercado. E assim, perde-se o encanto do tempo certo. Nessa leva, o festejo (des)esperado fica chato, arrastado, ainda mais previsível. O relógio mágico das surpresas se descontrola quebrando até as agonias dos presentes de “última hora” do “corre-corre” que justifica reportagens antes repetidas nos noticiários. Abastardaram-se as emoções, diria entristecido.

Mesmo supondo alguma positividade econômica e comercial nesse deslocamento celebrativo, não vejo graça alguma na troca da festa pela rotina afrouxada, pelos presentes adquiridos com antecipação e quase sempre anunciados. Lentes de aumento evidenciam que tudo se dá por razões econômicas, de giro de mercado, de aumento da oferta de trabalho, e não por escolhas fecundadas no segredo das intenções, cultivadas na guarda até o dia exato. Acabaram com a minha festa particular, com a originalidade da atitude recôndita. A institucionalização dos preparativos empobrece o preparo em mais de uma direção. Quem, por exemplo, ficará maravilhado com a preparação da Árvore de Natal recém posta na sala? De tão usadas, as luzes podem se queimar com o tempo, e é até possível ter que limpar os enfeites que acumularão pó. E os presépios e demais arranjos em verde e vermelho? Ah! que pena!!!...

Mas, envelhecendo, pensando na contagem regressiva dos Natais que me restam, dei asas às possibilidades acalentadoras de promover novas escolhas. Fiz longo exercício de compatibilidade com tais modernizações e cheguei a um ponto satisfatório. Ainda que tenha acumulado boa parte dos presentes que pretendo dar a familiares e amigos, resolvi que meu protesto será também pessoal e, ainda que silente, o farei no triunfo do posicionamento singular. Deixarei tudo que falta para a última hora. Afora o que já adquiri, guardarei a expectativa para reinventar a tensão. Tentarei também evitar a contemplação das decorações antecipadas, não me deterei nos adornos ou arranjos, não me deixarei seduzir pelas ofertas e liquidações e tentarei viver como se estivesse num tempo deslocado, imaginário, utópico mesmo, algo como se fosse o insípido mês de março, por exemplo. Como se fora um protesto calado, educo-me para passar ileso pelos corredores de shoppings, pelas vitrines que me atrairiam na normalidade dos dias. Tudo em favor do respeito que devo à memória do que foram meus Natais.


Sabe o que aprendi com esta reflexão? Sabe? Retomei lembranças de um Natal específico em que ganhei de pessoa querida, um professor que muito me influenciou, um livro com os sonetos de Machado de Assis, dentre os quais estava o famoso "Soneto de Natal". Mas, muito mais importante que o conteúdo sábio contido nos versos, o cartão que acompanhava o mimo dizia: “... é importante ver que Machado também teve um lado desconhecido, seus poemas”. Reli os versos, com os quais encerro esta crônica e dilato a proposta do professor querido: os Natais mudaram, eu preciso também mudar. E então leiamos juntos o tal “Soneto de Natal": Um homem, — era aquela noite amiga/ Noite cristã, berço no Nazareno, —/ Ao relembrar os dias de pequeno,/ E a viva dança, e a lépida cantiga,/ Quis transportar ao verso doce e ameno/ As sensações da sua idade antiga,/ Naquela mesma velha noite amiga, /Noite cristã, berço do Nazareno. Escolheu o soneto... A folha branca Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca, A pena não acode ao gesto seu. E, em vão lutando contra o metro adverso, Só lhe saiu este pequeno verso: "Mudaria o Natal ou mudei eu?"

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

TELINHA QUENTE 243

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Roberto Rillo Bíscaro

Algumas séries são lançadas na Netflix como se fossem a Segunda Vinda - vide House Of Cards ou The Crown – ao passo que outras têm inserção quase clandestina. Nesta categoria encaixa-se a primeira temporada da catalã Merlí (2015), cuja trezena de capítulos foi disponibilizada dia 1 de dezembro, sem publicidade. Pena, porque essa mistura d’O Mundo de Sofia com Malhação pode proporcionar discussões instigantes, tanto pelas suas qualidades, quanto pelos defeitos, contradições e armadilhas ideológicas em que vive caindo. Serviria imenso como ferramenta pedagógica para duradouro trabalho com alunos de Ensino Médio. Merlí clama por projeto multidisciplinar a ser trabalhado ao longo de um semestre ou mais, hoje que a popularização do acesso à internet e à Netflix torna sua exibição possível em inúmeras unidades escolares.

Merlí é professor de filosofia cinquentão, divorciado e que tem de voltar a viver com a mãe. É contratado para lecionar em uma escola pública, onde seu jeito libertário encanta e conquista mesmo os mais renitentes alunos. Obviamente inspirado pela Sociedade dos Poetas Mortos (1990), felizmente Merlí logo descarta o uso de cantarolar trecho de música erudita como fazia a personagem de Robin Williams. Mas, didático, cada episódio apresenta trecho de algum clássico, como Clair de Lune. O roteiro de Merlí sonha em entreter e educar.

Cada capítulo aborda um filósofo ou escola filosófica, em dois níveis: Merli fala um pouco do pensador, em classe, e o enredo dramatiza a questão filosófica através das problemáticas enfrentadas pelas personagens. No mundo mágico de Merlí, quase todos sempre acordam para a razoabilidade, os alunos ficam quietos ou se sentam ao primeiro comando do mestre, que tem todo o tempo disponível para seus alunos, porque, por necessidades de roteiro, relaciona-se com apenas uma turma. Que fique a advertência para leigos deslumbrados: uma jornada docente é bem diferente da apresentada em Merlí.
Seria Merlí professor-personagem ideal para ensinar ética ou trabalho em equipe, quando não tem amigos, falta com ética para com os colegas ao falar para os alunos o que ouviu na sala dos professores, apenas porque considera os colegas medíocres? Como seria o convívio social se todos agissem como ele?
Merli, a série, está polvilhada de contradições que tais, mas é isso também que a faz tão interessante como instrumento didático possível. A trama envolvendo típicos problemas adolescentes prende a atenção, conseguimos empatizar com as personagens e querer ver o desenrolar dos fatos, ou seja, o programa funciona em nível de entretenimento e pode vir a fazê-lo em nível pedagógico.
É torcer para que tenha boa audiência apesar da carência de divulgação e que a Netflix compre os direitos da segunda temporada, já exibida pela catalã TV3.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

CAIXA DE MÚSICA 249

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Roberto Rillo Bíscaro

Em 1983, o The Police atingira o zênite com Synchronicity, que vendeu cópias e ingressos de concertos até as caixas-registradoras desmaiarem de exaustão, além de conter um dos hinos da década, Every Breath You Take, que, apesar da letra patologicamente obsessiva, ainda encanta enamorados. Por trás dos holofotes, o relacionamento de Stewart Copeland, Andy Summers e Sting estava arruinado, porém. Assim que a turnê promocional terminou, o mais bem-sucedido trio inglês da história do rock anunciou interrupção temporária nas atividades para que cada integrante pudesse tratar de interesses particulares. A despeito de uma colaboração aqui, outra bem acolá, a pausa já dura mais de três décadas.
Como era de esperar, a atenção recaiu toda nos rumos e destino da carreira-solo do loirudo Sting, baixista e vocalista, cuja fina estampa não atrapalhara em nada a carreira do Police. E ele brilhou, permanecendo um dos superastros oitentistas, onipresente na música, TV e até cinema. Cada vez mais engajado politicamente e musicalmente eclético, o Ferroada sempre foi daquelas celebridades oito ou oitenta em termos de opinião pública. Sua voz inconfundivelmente aguda causava arrepios de tesão ou ódio; seu pitaco em tudo quanto era assunto atraía súditos ou irava desafetos.
O Police misturou rock, ska, reggae e jazz, então, o esvoaçar de Sting por entre subgêneros não surpreendeu. Ao longo dos decênios, tem flertado com musicais da Broadway, música orquestral e world music. Essa multiplicidade de caminhos explica porque seu álbum mais recente tem sido promovido como “retorno ao rock”. 57th & 9th tem 13 canções em sua versão Deluxe e foi lançado dia 11 de novembro. O nome alude ao cruzamento nova-iorquino que o artista atravessava diariamente, durante os três meses de gravação.
Despido de teclados e electronica, 57th & 9th soa o mais rock que o inglês radicado em Nova York conseguiu em décadas. Faixas como I Can’t Stop Thinking About You ou Petrol Head têm a urgência guitarreia dum hipotético álbum de 1984 do Police. A diferença é a voz, agora com registro muito mais grave. Claro que isso não é culpa do músico, já com 65 anos e inteiraço de causar ódio à maioria dos coetâneos. Mas, no pop, os grandes cantores o são não necessariamente porque suas vozes são as melhores, mas porque são distintivas. O tempo levou isso de Sting, compreensivelmente. Assim, canções como If You Can’t Love Me, que dependeriam dessa voz customizada para ter algum destaque, caem na vala comum. Down, Down, Down, com sua guitarra Every Breath You Take, também, mas nem tanto, resultando numa baladinha ouvível, mas que falha em marcar. A meio falada 50,000 é a que mais realça a perda do trinado único stingiano. A letra sobre estrelas pop falecidas – 2016 levou Bowie e Prince – e o reconhecimento da proximidade do próprio fim não amenizam muito a estranheza do som.
Isso não significa, todavia, que 57th & 9th não tenha bons momentos, além dos citados momentos rock, minoria no álbum a despeito da publicidade nessa tecla. One Fine Day, sobre aquecimento global, é midtempo que tranquilamente poderia estar no repertório de algum grupo de indie rock britânico do começo do século, tipo Travis. Heading South On The Great North Road nada tem de rock; é bonito folk, perfeitamente inserido na tradição medievalista britânica. Pretty Young Soldier está na linha da balada folk. Sofre um bocadinho pela gravidade do vocal, mas a historinha da moça que se traveste de homem para se alistar no exército e ficar de olho no amado é bonita, pertinente com a recorrência do tema no folk inglês, vide Kate Bush regravando The Handsome Cabin Boy, como lado B de The Hounds Of Love (1985).
Por mais que os 2 ou 3 rocks sejam simpáticos, são eclipsados pelo catálogo prenhe de pérolas do Police. Destarte, o ponto alto de um álbum supostamente rock é Inshallah, com sua pegada “árabe” e instrumentação que ultrapassa o baixo-guitarra-bateria, especialmente a Berlin Sessins, da Deluxe Edition, que vale por essa e pelo energético cover ao vivo de Next To You, primeira faixa do primeiro álbum do The Police, no pré-histórico 1978.

domingo, 18 de dezembro de 2016

A SUPERAÇÃO DE NICK VUJICIC

Nick Vujicic é um australiano famoso na internet e fora dela por suas palestras de autoajuda. Nascido sem os braços e as pernas, ele esteve no programa da Fátima Bernardes. Vamos ver a entrevista?

sábado, 17 de dezembro de 2016

ALBINO GOURMET 217

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

BOLSA-ALBINO

Associação pede ao Estado subsídio de sobrevivência para albinos 


A Associação Angolana de Apoio aos Albinos quer que o Estado passe a atribuir um subsídio de sobrevivência à pessoa albina, devido à condição de vulnerabilidade em que se encontra, desde a falta de assistência médica regular à discriminação.


A posição foi assumida pelo presidente da associação, Manuel Vapor, que em declarações à Lusa confessou a «mágoa» do falecimento recente de um representante da associação na província angolana do Moxico, que por falta de cuidados médicos sucumbiu a um cancro da pele, um dos problemas mais frequentes dos albinos.

«Teve um acompanhamento não muito adequado e não resistiu», explicou, tentando com este caso justificar a pretensão da associação. «O Estado devia criar um subsídio de sobrevivência para esta franja, para poderem sobreviver e custear alguns tratamentos de dermatologia e oftalmologia», apontou Manuel Vapor.

A Associação de Apoio dos Albinos de Angola existe há três anos e conta atualmente com 600 membros e representações nas províncias de Benguela, Huambo, Uíge, Moxico, Huíla e Luanda.

«Nestes anos de existência recebemos vários relatos de situações que seriam evitáveis, alguns membros da nossa associação morreram devido a ausência dos cuidados médicos regulares», reconheceu.

O albinismo é um distúrbio congénito caracterizado pela ausência de completa ou parcial de pigmento na pele, cabelos e olhos, características que em algumas culturas são invocadas para práticas de superstição e de feitiçaria.

Só os cremes para a proteção da pele chegam a custar 12.000 kwanzas (68,5 euros), algo que «não está ao alcance» da generalidade destas pessoas, admite o dirigente daquela associação.

Em 2015, durante o primeiro simpósio de Dermatologia, o Ministério da Saúde de Angola admitiu que o número de albinos no país é elevado mas que os cuidados de saúde prestados a esta população ainda não eram os desejados.

Além destes problemas, mitos, tabus, preconceitos e sobretudo a discriminação em volta da pessoa albina «ainda persistem» na educação e na saúde, mas também no acesso ao emprego, recordou Manuel Vapor.

«Grande parte da população albina não consegue continuar de forma regular com as consultas ambulatórias de dermatologia, que por vezes são pagas, fazendo com que muitos, devido aos custos elevados das mesmas, acabem por desistir. São pessoas vulneráveis», apontou. «Devido à sua condição natural e também na redução visual, pensam que as pessoas albinas não têm capacidade para poder enfrentar uma escola», explicou.

A marginalização da pessoa albina também está patente no campo do emprego, onde precisou, a associação tem encontrado «grandes barreiras», por dúvidas nas suas capacidades de exercerem determinadas atividades.

A associação regista igualmente casos de crianças abandonadas, por nascerem com este distúrbio congénito.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

ESTIGMA ALBINO

Albinos angolanos queixam-se de estigma e discriminação

O estigma e a segregação dos albinos ainda se sente entre a sociedade angolana, conforme testemunham dois jovens residentes em Luanda, portadores desta doença hereditária e que se queixam também das dificuldades financeiras para garantir cuidados médicos.

É o caso de Gracinda Kambundo, de 23 anos, mãe de dois filhos, que diz que comparativamente a outras regiões do país onde viveu, na capital angolana a discriminação é uma realidade.
"Aqui em Luanda tem mais discriminação, mas onde cresci no Cuanza Sul esse tipo de comportamentos raciais é quase que nulo", começa por explicar a jovem, dona de casa, em conversa com a Lusa.
Para combater as dificuldades, diz que tenta "conviver de forma reiterada com as pessoas", porque só assim consegue "desmistificar certos tabus" junto de quem convive.
"Com as vizinhas eu tenho um ótimo relacionamento, elas gostam de mim e eu também estou permanentemente a conversar com elas, e o mesmo acontece na igreja e com amigos. Mas o mesmo já não acontece com pessoas desconhecidas, que ainda me olham com certo desprezo", queixa-se.
O albinismo é um distúrbio congénito caracterizado pela ausência de completa ou parcial de pigmento na pele, cabelos e olhos, características que em algumas culturas são invocadas para práticas de superstição e de feitiçaria.
Questionada sobre que tipo de cuidados de saúde que recebe, Gracinda Kambundo admite que chegou a ter apoio, mas a crise levou-a a desistir.
"Comecei a fazer consultas no Hospital Américo Boavida, aqui em Luanda, mas depois tive que desistir por falta de dinheiro para comprar cremes e outros medicamentos. É que estão muito caros", desabafou.
Kelson João, de 22 anos, atualmente sem qualquer rendimento, garante que, problemas financeiros à parte, faz uma vida normal e que não se deixa vencer pelo preconceito que ainda se vive em Luanda para com os albinos.
"Eu costumo a dizer que o preconceituoso seria eu, se fugisse da realidade que a gente vive, então eu digo que o meu dia-a-dia tem sido normal, não sou desinibido, corro atrás dos meus objetivos, independentemente do que as pessoas pensam ou dizem", afirma.
Apesar da atitude positiva que tenta manter, recorda o ataque de que foi alvo durante uma viagem de transporte público na capital.
"Este mês, no táxi, sofri esse tipo de ataque, logo que subi, o cobrador dirigiu-se a mim e disse que pelo facto de eu ser albino não poderia sentar-me ao lado dele", conta.
Quanto aos preconceitos que ainda persistem, afirma que resultam de alguma intolerância da sociedade.
Até porque "perante a Constituição, somos todos iguais", mas reconhecendo que "em Angola não existem políticas públicas para com os albinos".
Para se proteger dos raios solares, que mais facilmente provocam queimaduras e cancros de pele nos albinos, Kelson João conta que se limita a ter uma vida "mais caseira".
"Passo todo dia dentro de casa preferencialmente e circulo mais de noite, é muito normal e os meus amigos compreendem", desabafa.

TELONA QUENTE 180

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Roberto Rillo Bíscaro

O doutor Amin Jaafari vive o sonho integracionista em Tel Aviv: palestino cercado de amigos judeus, bem-casado, recipiente do “Oscar da medicina israelita”, sequência de abertura de O Atentado (2013), dirigido por Ziad Doueiri. A coprodução França/Qatar/Bélgica/Egito está no catálogo brasileiro da Netflix, facinho de ver, portanto. E vale a pena.
Na manhã seguinte à premiação, Tel Aviv é abalada por ataque suicida a um restaurante, resultando na morte de uma dúzia de crianças, estratagema do roteiro para tornar a situação mais radical. E eis que o Dr. Jaafari descobre que a mulher-bomba é ninguém menos que sua idealizada esposa. A partir daí inicia-se peregrinação de descobertas político-pessoais. O médico tem que lidar com a demolição de seu mundo particular e de sua inocência social. Para que estrangeiros possamos agonizar com o ponto de vista do médico, o roteiro teve que pedir licença poética para construí-lo provavelmente inocente demais para quem vive no caldeirão fervente da contenda entre judeus e palestinos, que pressupõe atentados terroristas, massacres, rixas seculares e disputas territoriais às quais vemos com horror (até que em seguida se exibam os gols dalgum campeonato) pelos noticiários.
O ataque, então, acontece física, emocional e identitariamente a Amin. Como será de agora em diante, seu relacionamento com os amigos judeus? Até que ponto esses são realmente amigos? Como o viúvo receberá e lidará com as reações dos israelenses? Afinal, Amin é a exceção que não se enxerga ou é percebida como tal. Quantos outros palestinos bem-sucedidos e socialmente tolerados vemos no filme?
Procurando respostas, Amin viaja para a cisjordânica Nablus e lá percebe que nada entendia sobre sua posição em qualquer um dos lados rivais. Os roteiristas Doueiri e Joëlle Touma simplificam demais a conversão da bela Siham em terrorista e pedem demais do pobre Jaafari em seu relacionamento pessoal (como culpa-lo por não atender o celular, quando está prestes a subir ao palco para receber os louros?), mas como o fulcro da película está na (im)possibilidade de (co)exisitir sem tomar partido, há que se relevar esses traços.
O Atentado tenta apresentar argumentos de ambos os lados, ainda que não esteja em seu escopo situar o ódio étnico historicamente. Sem didatismo ou proselitismo explícitos, propõe questionamentos que cabem ser respondidos pelo espectador. Mas, será que existe solução? Será que todo judeu é um pouquinho árabe e nenhum árabe pode negar ser um bocadinho judeu, como diz Amin em seu discurso na premiação? 

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

PROTEÇÃO NO MALAWI

Pedida mais proteção para albinos no Malawi



Comissão Episcopal Justiça e Paz denuncia o «fracasso coletivo» no combate aos ataques contra pessoas portadoras de albinismo e critica o tráfico de seres humanos que atinge muitos malavianos
«É desolador notar que irmãos e irmãs albinos são molestados, abusados, discriminados, sequestrados e mortos num país onde viveram como se fosse sua casa durante anos», denuncia a Comissão Episcopal Justiça e Paz do Malawi, numa declaração enviada esta semana à agência Fides, onde é criticado o «fracasso coletivo como nação» na proteção aos portadores de albinismo. 


Embora realce as firmes condenações expressas pelas instituições, sociedade civil, imprensa e pelas comunidades religiosas, a comissão considera que é preciso fazer muito mais para pôr fim aos sequestros e mortes dos albinos, «que correm o risco de enfrentar a extinção se nada for feito». 



No documento, é ainda referido o tráfico de malavianos para outros países, uma «lesão gravíssima dos direitos humanos», pois muitos dos migrantes acabam vítimas de trabalho forçado. «Somente uma economia mais vibrante pode resolver o problema do tráfico de seres humanos. Se as condições económicas fossem melhores, os jovens permaneceriam em Malawi», escrevem os bispos. 



«Falamos muito, é hora de agir. Reiteramos o nosso compromisso de opção preferencial pelos pobres, vulneráveis, oprimidos e marginalizados, para fazer de Malawi um lugar melhor para todos», conclui a Comissão Justiça e Paz, lamentando que a corrupção continue a arrastar o país para a crise económica.

TELINHA QUENTE 242

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Roberto Rillo Bíscaro

Em dezembro de 2010, a arquiteta Joanna Yeates desapareceu, em Bristol. No dia de Natal seu corpo estrangulado foi encontrado a milhas de seu apartamento, cujo senhorio era um professor de inglês aposentado, Christopher Jefferies. Ansiosa para apaziguar o frenesi midiático, a polícia deteve Jefferies para interrogatório, quase sem evidências, a não ser testemunhos contraditórios.
A prisão do idoso foi vazada para a imprensa, infame no Reino Unido na figura dos tabloides, embora a “impoluta” BBC também tenha culpa neste cartório. E quer prato mais cheio, quando o suspeito é um senhor visivelmente homossexual e afetado, com cabelo “esquisito” (diabolicamente manipulado por Photoshop para parecer ainda mais azul) e que não conhece as figuras midiáticas da moda, gosta de comidas pouco usuais, estuda francês, enfim, é um esnobe Oxbridge? Todos os tabloides da Inglaterra e Escócia literalmente arrasaram sua reputação, e mesmo depois de isento da suspeita, continuou hostilizado/ostracizado. Incentivado por ex-alunos e amigos, Jefferies abandonou a posição do “deixa pra lá” e tornou-se porta-voz ativo na luta pela regulação da imprensa, além de processar todos os jornais e ganhar merecida bolada indenizatória.
O roteirista Peter Morgan, de A Rainha e The Crown, roteirizou a saga desse improvável herói inglês na minissérie em dois capítulos, da ITV, The Lost Honour Of Christopher Jefferies (2014), dirigida por Roger Michell, ex-aluno de Jefferies, famoso por Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) e marido de minha amada Anna Maxwell Martin, que faz um pequeno papel como atendente na padaria frequentada por Jefferies. O professor é magistralmente interpretado por Jason Watkins, num papel que exigiu muita mão dramática e merecidamente rendeu-lhe o BAFTA de melhor ator, em 2015.
The Lost Honour Of Christopher Jefferies é sólido docudrama, que coloca temas para discussão através de história exemplar e se sai muito bem, embora como sempre a vítima de assassinato não passe de trampolim para outra história. Não é demais lembrar que a família de Yeates também comeu pão azedo (veja o telefilme para entender a piada). Mas, Jefferies não tem culpa disso, então, vamos celebrá-lo e refletir.
Há os temas patentes da relatividade da liberdade de expressão e da necessidade de regulação da mídia, mas latentes há questões que demandam atenção. Por que estamos prontos a acreditar/aceitar acriticamente como verdade absoluta e universal tudo o que a mídia diz? Três frases descontextualizadas, a opinião de um jornalista (que de isento nada tem) e qualquer característica de Jefferies foi usada contra ele e prontamente aceita por multidões. No Reino Unido, não em um país “inculto” de terceiro mundo. Bom até para discutir nosso complexo de vira-lata.
Para sobreviver emocionalmente ao opróbrio social e tentar passar despercebido, o aposentado mudou seu visual após ser inocentado. Quem poderia culpá-lo por isso? Mas, onde fica a decantada tolerância britânica para com o diferente, o “excêntrico”, palavra que por si só é armadilha, porque indica que o sujeito está fora do centro e todos sabemos o que pode acontecer com gente assim. Claro que a Inglaterra que o julgou sem provas também é o país que se dispôs a discutir seu caso, compensou-lhe alguns danos e admite que estava errada. E isso é esperançoso e louvável para aquela cultura. Mas fica a discussão do diferente, afinal qual o preço que se pode pagar e como evitar que se julgue ruim aquilo que não entendemos, porque desigual do que estamos acostumados.
The Lost Honour Of Christopher Jefferies proporciona oportunidade ímpar de trabalho multidisciplinar entre professores de Ensino Médio, por exemplo, além de entreter quem procura um bom drama com ótimas atuações. Da última vez que chequei a Netflix estava lá, com título em inglês mesmo.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

CAIXA DE MÚSICA 248

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Roberto Rillo Bíscaro

2016 foi inclemente com fãs de música pop: perdemos 2 ícones. David Bowie e Prince são o tipo de artista cuja influência será sentida por décadas. A postagem-dobradinha de hoje tem como elo o fato de que ambos os álbuns só foram possíveis graças à Sua Alteza Púrpura.

Judith Hill excursionara com astros do porte de Michael Jackson, Elton John e Steve Wonder antes de cair nas graças de Prince e gravar com ele seu álbum de estreia, Back In Time (2015). Se o título já não deixasse claro o saudosismo, bastaria constatar que a faixa de abertura, As Trains Go By, abre chiada como pré-diluvianos discos de vinil. E olha que esse funk midtempo é a canção que mais elementos modernos tem! A faixa-título, que fecha o álbum, é meio 90’s e isso também é uma das épocas menos saudosistas da coleção. O restante é um amálgama de funks anos 70, que podem ser midtempo, como My People ou Turn Up ou de descadeirar, como Jammin In The Basement ou de incendiar a genitália como Wild Tonight.
Há o jazz sexy de Love Trip, que os fãs de Gal Costa perceberão pertencer à mesma dinastia d’A História de Lili Braun, do Grande Circo Místico. Há blues com guitarra rebolante (Cry, Cry, Cry), retro-soul (Cure) e baladas: mais pesadas e trip-hoppadas, como Angel In The Dark ou leves com delicadeza de cordas e teclas, como Beautiful Life.
Tudo muito bem feito, com voz forte, participação de Prince em diversas canções, Back In Time não se aventura, mas entrega o que mais importa: boa música.
Se o blog já destacou uma polaca do batuque, por que não uma dinamarquesa do funk? Ida Nielsen estudou baixo na Escola Real de Música, em Copenhague, e tocou em 2 bandas de apoio de Prince: 3rdeyegirl e The New Power Generation. Alcunhada Bassida ou Ida Funkhouser, lançou seu terceiro álbum, Turnitup, em agosto, apropriadamente em memória do gênio baixinho.
E que tributo! Turnitup abunda em pop-funk incandescente, especialmente nas faixas mais rápidas, mortalmente sensuais. Heart Of Stone - funk com percussão de samba e rap, cheia de gemidos e gritos marotos – é descarga absurda de libido, que deveria ter atingido o topo de todas as paradas e lá estar até hoje. Outras pauladas são Showmewhatugot, com seu vocal dancehall e I Really Think Ur Cute, com linha fatal de baixo, profuso num álbum que em seus momentos mais sexy lembra o trabalho da brasileira Fernanda Abreu nos 90’s e início dos 00’s. Como ficar quieto em Fatty Papa Eddy ou One Time?
O filé de Turnitup são as faixas saltitantes e esse efeito está até nas midtempo como The Librarian e Throwback. Nielsen hibridiza seu funk ao incorporar reggae (Free Ur Mind) e latinidad rumbada em Sorry. As lentas têm um quê indiano (How Many Times e What), embora caminhem em direções estéticas dessemelhantes.
Reconfortante saber que Prince esteja tão bem representado nessa esfera terrena.

domingo, 11 de dezembro de 2016

DESENHO DA SUPERAÇÃO

Um militar reformado que após ficar tetraplégico renovou sua vida e esperança através da arte. 

sábado, 10 de dezembro de 2016

ALBINO GOURMET 216

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

PLATINADO


Bebê brasileiro "platinado" faz sucesso em ensaio fotográfico.

O bebê brasileiro Ryan, mais conhecido como "platinado", participou de um ensaio fotográfico para lá de fofo! Ao nascer com características bem diferentes, o bebê surpreendeu os pais e familiares.
Por conta de uma condição rara de albinismo, a criança veio ao mundo com pele e cabelos bem claros. Para mostrar os primeiros meses de vida de Ryan, o fotógrafo Roni Sanches fez cliques imperdíveis do pequeno, que aparece nas fotos vestido de pintor e anjinho.
O ensaio fotográfico aconteceu no estúdio de Roni, em São Paulo. Os cenários foram criados pela artista plástica Adriana Sanches, compondo fotos únicas e cheias de emoção.
A história
Há 10 meses, a história de Ryan foi contada com exclusividade pelo 'Domingo Show', da Record TV.  Os pais do pequeno ficaram surpresos quando ele nasceu, pois tinha características bem diferentes. 
Um médico avaliou a criança e concluiu que o pequeno tem um tipo raro de albinismo,  que é quando o organismo produz pouca melanina — uma proteína capaz de pigmentar, dar cor à pele. 
Na época, o bebê ganhou um quarto novinho no Domingo Show com um armário cheio de fraldas!




quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

TELONA QUENTE 179

Resultado de imagem para rua cloverfield 10
Roberto Rillo Bíscaro

Demorei meses pra me animar a ver Rua Cloverfield, 10. Mesmo ciente de que não era sequência do excelente Cloverfield (2008), mas “sucessor espiritual” (WTF?), segundo a produtora Bad Robot, temia a inevitável comparação com o primeiro. Excesso de zelo, porque esse thriller-sci fi-survival-(e mais um subgênero que se contar estrago a surpresa pra quem não viu)-film é bem eficiente em seu 2 primeiros terços e no último até perde um pouco da graça, mas conecta a película ao universo de Cloverfield e abre espaço e imaginação pra continuação atrás de continuação.
Michelle briga com o namorado e, como de costume, perante adversidade, a jovem foge. Na estrada, sofre grave acidente e ao acordar descobre estar encerrada num porão. Seu captor é Howard, ex-mariner, com muitos parafusos a menos. Ele lhe explica que o mundo fora invadido por russos ou marcianos e tudo estava contaminado. Como não sabemos se é verdade, a identidade de Howard permanece dúbia, porque embora maluco, prepotente e intempestivo, ele pode ter realmente salvo a vida de Michelle. Um jovem coabitante corrobora a história, mas o modo como ele trata os companheiros como prisioneiros e imagens exteriores de céu azul problematizam sua versão.
A dinâmica entre as 3 personagens no bunker é o melhor de Rua Cloverfield, 10, que em alguns momentos remete a paródia de sitcom de família feliz, porque o cenário lembra bastante esse bem-humorado subgênero ianque e há sequência em que os 3 parecem estar se divertindo às pampas ao som de I Think We’re Alone Now – minina, tô passado, o original não é da oitentista Tyffany!
Mas, a tensão é perene, porque Howard é instável demais e claramente guarda um segredo, além de um barril de poderoso ácido. A situação faz com que Michelle cresça como personagem, à moda da arquetípica Ripley, de Alien, O Oitavo Passageiro (1979). O moço só serve mesmo pra temperar a tensão entre Howard e Michelle, habilmente interpretados por John Goodman e Mary Elizabeth Winstead. Nossa, que estranho ver o Fred Flintstone de pirado!
Há uma ou outra barbeiragem, tipo o ácido derreter metal, mas quando tiozão cai de cara só aparecer machucado periférico, mas de modo geral, tudo é bem feito até a resolução (ma non tropo), que, não estraga o filme, mas leva-o prum caminho que particularmente não me interessa tanto, numa linha mais pra sci fi de luta, que de científico tem pouco; é desculpa pra porrada mesmo.
Não possui o vigor criativo do primeiro filme e nem sei se vai me interessar, caso siga na linha apontada pelo final, mas Rua Cloverfield, 10 ainda dá bom caldo nessa nascente possível mitologia. 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

CONTANDO A VIDA 175

INVEJA BRANCA: SOBRE SONO E SONHOS...

José Carlos Sebe Bom Meihy


Ouvi outro dia uma expressão intrigante “inveja branca”. Primeiro achei interessante dar cor a inveja. Meu espírito crítico, porém logo se aguçou e vislumbrei questões ligadas aos preconceitos, e assim, para meu botões perguntei, mas o que seria “inveja branca” e por que não “inveja negra”? Foi automático despertar temas ligados às discriminações. Tive que indagar o significado desse dizer, e então o interlocutor declinou justificativas não menos racistas, aproximando branco de coisa boa e negro de má. Com medida paciência, dizia o colega que “inveja branca” era um sentimento aceitável, manso e até elogioso, pois dizia respeito a vontade de estar no lugar da pessoa que passaria por um processo positivo, disposto, por exemplo, a receber um premio, uma viagem, estar em companhia desejável, ou coisa parecida.


Passado o encontro, dei asas para meditações sobre alguns temas capazes de provocar em mim a tal “inveja branca”. Foi imediata a instalação de um dilema filosófico. Confesso que mergulhei em mim para logo emergir triunfante, porque afinal, não vi muitos motivos para ter despertada a tal “inveja branca”. Tenho a família que gostaria de ter, filhos, noras e netos ideais; profissionalmente atravessei a vida trabalhando – e ainda o faço – no melhor que poderia conseguir. Ser professor me completa, e tenho orgulho em dizer que uma das virtudes dessa opção foi viver sempre entre jovens. Como nunca passei frio ou fome, porque sempre vivi em lugares que me situavam bem, não invejaria outras pessoas por “brancas” que fossem suas virtudes. Viajei muito, tive oportunidade de visitar diferentes quadrantes e ainda que restem espaços a ser visitados, e isso é coisa positiva. Amigos não os tenho aos milhares, mas o número é exato, coerente com minha capacidade de amar.


Sabe, aos poucos ia ficando frustrado, surpreso por não encontrar elementos convincentes para boa tradução da tal “inveja branca”. Tanto fiz, tanto cavei, que por fim identifiquei algo que me faz menor, desejoso de ter algo que outros têm. Demorou, mas finalmente achei algo que pudesse me sentir “brancamente” invejoso: “dormir”. Tenho sono débil, frágil e quebradiço. Na melhor das hipóteses durmo cinco horas por dia. Fico até meio acanhado por dizer que às vezes preciso tomar um remedinho – coisa leve – para dar passagem ao sono. Dia desses, também ouvi dizer que pessoas que têm sono leve sonham muito. Foi o bastante para ter explicação convincente para a profusão de manifestações oníricas. Devo dizer ainda que esta devoção aos sonhos é algo que cultivo eufórico. De toda forma, o reverso desse processo noturno deixa um saldo complicado: sinto-me sempre muito cansado, exausto mesmo.


Engraçado: a mera identificação desse “problema” me levou a ramificar questões. Diria que a mais séria delas dizia respeito aos porquês. As respostas se multiplicaram rápidas. Uma delas remetia à velha prática, desde o tempo de estudante quando tinha que dar conta de vasto programa de leituras e trabalhos. Como fazia dois cursos ao mesmo tempo, não teria outra saída. Depois o acúmulo de trabalho ditou a mesma prática. E vieram os filhos, e nesse quesito, como ficava muito tempo fora, cuidar dos rebentos durante a madrugada (sempre fui eu quem trocava fraldas dos filhos, à noite) me era um jeito de participar. Depois vieram os longos e trabalhosos anos de pós-graduação. Acabada essa fase, abria-se outra: escrever os textos que garantiriam o estatuto. Tal balanço me levava de volta à questão da “inveja branca”. Por fim resolvi a questão: tenho sim “inveja branca”... “inveja branca” de mim mesmo.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

TELINHA QUENTE 241

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Buckingham Abbey

Roberto Rillo Bíscaro

O segundo semestre de 2016 tem sido das rainhas inglesas. A contemporânea Elizabeth II teve sua The Crown espalhafatosamente adicionada ao catálogo da Netflix, no início de novembro. Com menos alarde internacional, a ITV exibiu os 8 episódios iniciais de Victoria, entre agosto e outubro. Com especial de Natal gravado e promessa de segunda temporada, a primeira foi da ascensão ao trono ao primeiro parto. Vitorianos podiam ser recatados e fixados em morte, mas sua rainha pariu nove vidas. Príncipe Albert não negava fogo.
O longo reinado de Vitória é um dos mais simbolicamente importantes na história da Grã-Bretanha. O império atingiu seu apogeu e começou a decair durante seus mais de 60 anos no trono. Foi ela quem começou a “milenar” tradição dos casamentos reais como espetáculos públicos; quem instituiu Buckingham como moradia Real; quem popularizou o branco como cor preferencial para noivas e todo um longo esquema de cores para luto, após a morte prematura de seu amado Albert; quem transformou a Família Real de uma máquina extravagante de gastos em clã com deveres cívicos; quem popularizou paparicar animais de estimação e passar férias na Escócia. Ainda hoje vitoriano é adjetivo de conservador, moralmente severo, até mesmo hipócrita.
Não faltariam incidentes para a ITV fazer seu novelão aristocrático, mas decidiu deixar de fora o tifo de Sua Majestade, a invasão de Buckingham por dois desconhecidos, o fato de que Victoria teve que dividir um quarto com sua mãe mesmo vivendo em casas gigantescas. Imagine quanta pena eriçada isso não geraria. E sem problema inventar, supor que aconteceu, porque Victoria não está muito preocupada com a “verdade”.
Para não relembrar que a Casa de Windsor se originou no que hoje é a Alemanha, a Rainha não tem sotaque teutônico, apenas seu consorte. Na vida real, Edward Oxford não atirou contra Sua Majestade numa das vezes em que desafiadoramente saía para ver seus súditos, mas apenas ia visitar a mãe, que não vivia em Buckingham (mas claro que para uma série fica mais fácil que seja assim).
O roteiro de Daisy Goodwin e Guy Andrews não deixa de lado o estrondoso sucesso da ITV, Downton Abbey. O cozinheiro apaixona-se pela aia Marianne Skerret, proveniente de casa de má reputação. A verdadeira Sra. Skerret era de linhagem nobre impecável. Para que apelar assim, quando já há tanto material?
Nada disso estraga a série, apenas recomenda-se que se assista sem a costumeira crença de que se apareceu na tela foi desse o jeito que aconteceu. Não faria mal à Victoria deixar de ser apenas soap opera de época e explicar alguns usos e costumes que não são “por acaso”. Quando o cãozinho Dash ganha retrato só dele, a ideia não era apenas eternizar o animal, mas criar a imagem de uma monarca mais próxima dos comuns; foi a Rainha Vitória que iniciou essa tendência. Aliás, a série nem se deu ao trabalho de mencionar a famosa pintura.
Se você não tiver paciência para 8 capítulos ou quiser guardar um resumo desta temporada para assistir antes de que a segunda comece, basta pegar o filme A Jovem Rainha Vitória (2009). Em cerca de 1 hora e quarenta, terá tudo e um pouquinho mais do que acontece em Victoria, sem sua downtonabbeyice. E com roteiro de Julian Fellowes, o homem por trás de...Downton Abbey.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

CAIXA DE MÚSICA 247

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Roberto Rillo Bíscaro

Kate Bush fez apenas uma turnê em sua carreira iniciada oficialmente, em 1978, com o álbum de estreia. A Tour Of Life - de 2 de abril a 13 de maio, de 1979 - foi sucesso de público e crítica com sua mistura de música, magia, dança e leituras. Ninguém utilizara a tecnologia wireless no palco, permitindo que cantasse enquanto dançava. Exaustão e a morte de um técnico são possíveis razões para que desde então a mulher mais importante da história da música britânica apresente-se ao vivo apenas esporadicamente, quase sempre para promover seus álbuns, cada vez mais raros a partir de 1989.
Longe dos palcos, Bush trancou-se em estúdios e produziu grandes e complexos álbuns. Conforme os discos rareavam, suas aparições públicas também. Seu feroz sentido de privacidade aliado à densidade de sua obra originaram toda sorte de rumores em tempos onde celebridades se mostram cada vez mais e esforçam-se para parecerem “comuns”. Kate Bush enlouqueceu; Kate Bush está morbidamente obesa; Kate Bush bebe.
A mística e o respeito são tão vastos, que quando Bush anunciou série de 22 espetáculos no Hammersmith Apollo Theatre, em Londres, em 2014, os ingressos esgotaram-se em minutos. No dia da abertura, 26 de agosto, fãs ansiosos na porta do teatro, não poucos vindos do exterior. Celebridades 80’s como Marc Almond e Holly Johnson; famosos mais abrangentes, como David Gilmour e Peter Gabriel e outros foram constantes durante a temporada de concertos. A imprensa saudou Before The Dawn (nome do show) como a Segunda Vinda; o crítico musical da BBC ainda não conseguia conter o entusiasmo na manhã seguinte, no programa Breakfast.
Prometeu-se CD/DVD de experiência, mas até agora só recebemos o primeiro formato. Before The Dawn foi lançado em CD triplo dia 25 de novembro e não é aconselhável para quem busca um Greatest Hits Live. Não há nenhum trabalho dos quatro álbuns iniciais, o que significa que Wuthering Heights e Babooshka estão ausentes e mesmo dos álbuns que tiveram canções executadas, nem sempre as mais conhecidas estão na setlist.
Tecnicamente, Before The Dawn é irrepreensível. Felizmente a tecnologia permite que sons de estúdio sejam fielmente transpostos para o palco e para uma artista como Bush isso faz toda a diferença. Ressaltando o trabalho em equipe, o álbum vem creditado para The K Fellowship, mas alguém deixará de dizer “o novo álbum de Kate Bush”? A Confraria K tem músicos do calibre de David Rhodes (guitarra) e Omar Hakim (bateria), mas quem manda é The Venerable Kate Bush, como dizem alguns setores da imprensa de sua terra natal. Ela controla sua carreira desde o início dos 80’s e Rhodes afirmou que no primeiro contato telefônico Bush já sabia o que queria. Isso não significa que não preze sugestões, mas a palavra final é dela.
Talvez por nunca ter feito turnês, sua voz continua perfeita; um tiquinho mais grave, mas é de esperar de uma mulher de 54 anos à época. Quem sabe não tenha sido excelente ideia deixar para trás a estridente Wuthering Heights? Assim, a manteremos eternamente na memória com aquela voz de menina, para a qual foi composta.
Consoante com a teatralidade do espetáculo – codirigido por Adrian Noble, dirigente da Royal Shakespeare Company por mais de uma década (Kate pode!) – os CDs são nomeados como atos. O 1 traz canções mais “soltas” que não fazem parte de narrativa maior. Bush esnobou grandes sucessos, mas não foi boba quanto à ordem. Abrindo com a trinca Lily, Hounds Of Love e Joanni (um tantinho mais rápida que no álbum de 2005), a cantora ganha a plateia, que, verdade seja dita, provavelmente aplaudiria histérica se Bush lesse uma receita de bolo. Artista e público estão extáticos, dá gosto ouvir. Running Up That Hill (A Deal With God) é tão idiossincrática, daquelas canções reconhecíveis no primeiro acorde, que seria estupidez tentar mudá-la. Kate sabe que fãs a querem o mais próximo possível da experiência que nos arrepia desde 1985 e é assim que está em Before The Dawn. A plateia urra microssegundos após o músico botar o dedo no teclado, PC ou seja o que usaram no palco. Extraordinário. A surpresa foi a introdução de Never Be Mine, ausente de qualquer noite de apresentação no Apollo. Significa que há material ensaiado e não usado e que pode ser lançado ou vazado.
O Ato II é a suíte The Ninth Wave, lado B de Hounds Of Love (1985). Constituída por curtas faixas interconectadas, é odisseia sônica em variados ritmos (tem até trecho com “sambinha japonês”), cheia de efeitos de estúdio. A misteriosa letra sobre a noite de uma náufraga, com alucinações e visões do passado e do futuro gerou inúmeras interpretações significativas, que vão até para o lado da reencarnação, o que não deixa de fazer sentido. The Ninth Wave agrada amantes de rock progressivo e é atestado do controle que Bush sempre teve sobre sua direção artística. Não era para qualquer um ocupar lado inteiro de um LP com complexo trabalho conceitual, arriscando não vender muito. The Hounds Of Love chegou ao topo das paradas inglesas.
A responsabilidade para levar isso ao palco era enorme, mas nada se perdeu dos detalhes e filigranas dos arranjos. Na verdade, a adição da faixa Little Light realça a agonia da mulher apavorada em alto-mar; dá um dó! Se há alguma “reclamação” é a presença da faixa dialogada Watching Them Without Her, que funcionou bem quando se estava presente ao espetáculo teatral, mas quebra o fluxo emocional para o público da plataforma apenas sonora. Nada que não se conserte duplicando os arquivos e montando uma pasta só com as canções e outra com o álbum completo (deletar Kate Bush, jamais!). Relatos dão conta de que quando Kate desferiu o doce “Little light shining/Little light will guide them to me/My face is all lit up” ao som de piano, na abertura de And Dream Of Sheep, lágrimas escorreram de muita gente. Ouvir o ACT II explica perfeitamente o porquê e ao final ouvimos uma plateia que não cabia em si de encantamento.
O Ato III traz a suíte A Sky Of Honey, do álbum Aerial (2005). Os madrigais de cordas e teclados, a profusão de pássaros e sinos, o estouro do flamenco – nessa sinestésica história de um dia ao livre – é tudo tão bem executado, tão lindo, que mesmo quem não pôde ver o show intercala momentos de puro abandono na fluidez melódica, de pasmo por tanta expertise, de frenesi quando os violões espanhóis irrompem e a plateia explode em palmas. Irretocável e de encher os ouvidos como na versão de estúdio. De quebra, a inédita em estúdio Tawny Moon, cantada pelo filho Bertie: a canção é linda, a voz do menino de 16 anos ainda precisa maturar. Ela poderia ter chamado Natasha, filha da Tori Amos. Encerrando, Cloudbursting, apoteose bombástica para uma plateia em transe que ovaciona espetáculo memorável, que sonoramente foi perfeitamente traduzido em Before The Dawn.