segunda-feira, 31 de maio de 2010

A CRIADA CHILENA

Roberto Rillo Bíscaro

Resquícios do passado escravista latino-americano ainda podem ser facilmente detectados em nossas relações sociais, especialmente no caso do relacionamento entre patrões e empregadas domésticas, quase sempre dúbio e muito complicado. Ao mesmo tempo que os sapatos e roupas passados dos filhos da patroa pros da empregada são sinais de solidariedade, também são lembretes da hierarquia de classe. Ademais, como recusar ir á casa da patroa no domingo – fora do horário de serviço, portanto – pra arrumar a bagunça do jantar de sábado à noite com os amigos, quando a senhora deixa-lhe levar pra casa as sobras? Lealdade, amor, ódio, admiração, revolta. Não se trata de apontar mocinhos ou bandidos, apenas de registrar o complexo do fenômeno.
La Nana (2009) é um filme chileno que trata dessa atmosfera latino-americana do serviço doméstico onde as barreiras entre vida familiar e profissional são borradas, com conseqüências no mínimo estressantes, pra ambos os lados.
Raquel vive com uma família de classe média há 23 anos. Julga-se “da família”, afinal, criou as crianças, é autônoma para ralhar com elas quando preciso e estabelece sua rotina como lhe apetece. Mas, faz as refeições na cozinha e a família lhe fecha a porta na cara em determinado momento. Entretanto, dentro dos padrões latino-americanos de relacionamento servente-patrão, pode-se dizer que a família a trata “bem’: a patroa recusa-se terminantemente sequer cogitar a dispensa da serviçal, em face de escaramuças domésticas. O diretor Sebastian Silva é de uma sutileza extrema ao mostrar esse amor que fecha portas e faz festas de aniversário, chamando a homenageada ao toque duma sineta.
Aos 41 anos e dedicando-se de corpo e alma aos patrões, Raquel é infeliz e somatiza a anulação de seu eu, padecendo de fortes dores de cabeça e desmaios. A tensão entre amor e ressentimento é grande demais pra não deixar seqüelas físicas na criada virgem e desvinculada de sua própria família.
A patroa decide contratar uma ajudante pra Raquel, que, a despeito da estafa, sente-se ciumenta, traída e ameaçada. Resultado: torna a vida das colegas de trabalho um verdadeiro inferno, trancando-as pra fora de casa e fazendo toda sorte de birras, que sobram até prum gatinho trazido pela filha da patroa, com a qual Raquel estava em atrito. Raquel também não é santa! Silva não cai na fácil e mendiga dicotomia bem versus mal.
A chegada duma co-empregada que literalmente peita Raquel, mostra a ela como é importante, saudável, desejável e profissional manter uma vida privada á parte da dos patrões, que, afinal, jamais serão sua família.
Da constatação de que podia e devia ter vida própria, nascerá uma Raquel mais leve, que fará até jogging ouvindo mp3 player!
La Nana é um triunfo da sutileza e da inteligência. Filmado praticamente quase todo numa locação apenas (a casa), com câmera na mão, balançando e se enfiando na cara dos atores - deformando-as e mostrando suas rugas e imperfeições, mas acima de tudo, suas expressões – o filme dá a impressão dum desses vídeos caseiros, sem trilha sonora e com letreiros de abertura e final feitos não profissionalmente no computador.
Fundamental pra esse sucesso é a devastadora performance de Catalina Saavedra. Ela não deixa pedra sobre pedra, sendo capaz de comunicar a intrincada gama de emoções da personagem com maestria, mas sem fogos de artifício.
La Nana provavelmente não agradará aos que querem câmera “certinha”, ações mirabolantes e diálogos cabeça. As falas, ações e enquadramentos são do cotidiano, e possuem sua força que por vezes passa despercebida.
Obrigado, Márcio Wanderley, por ter me mostrado a luz de Sebastián Silva, Catalina Saavedra e de Raquel e seus amigos.

domingo, 30 de maio de 2010

ALBINO INCOERENTE NO PROGRAMA DERRUBANDO BARREIRAS

A Rádio Eldorado AM (700 KHZ) transmite o programa Derrubando Barreiras – Acesso Para Todos, às segundas-feiras às 14:30, com reprises aos sábados e domingos às 20:30.

O programa é apresentado pela vereadora paulistana Mara Gabrilli. Na luta pelos direitos das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, Mara foi Secretária da Pessoa com Deficiência em São Paulo e junto com sua equipe criou projetos de acessibilidade e inclusão social. Em julho de 2007, iniciou o programa Derrubando Barreiras-Acesso para Todos com o objetivo de informar, entreter e quebrar paradigmas sobre o universo da inclusão e das pessoas com deficiência.

Concedi entrevista, por telefone, à Mara, na sexta-feira. Conversamos sobre acessibilidade, políticas públicas de saúde, o problema dos albinos na Tanzânia, a invisibilidade dos albinos perante o IBGE, as organizações de pessoas albinas existentes no Brasil (APALBA) e também sobre as em formação, como a APAMT (Associação das pessoas com Albinismo do Mato Grosso). Além disso, falei sobre o projeto de lei paulista do deputado Carlos Giannazi, que prevê distribuição gratuita de protetor solar aos albinos residentes no estado, assim como sobre a finalização de minha auto-biografia, que ora procura editora.

Tudo no tom leve e bem-humorado que tem sido a marca de minhas entrevistas e aparições na mídia.

O programa vai ao ar nesta segunda-feira (31/05) às 14:30, com reprises no sábado e domingo às 20:30.

Para sintonizar no rádio, a freqüência da Eldorado AM é 700 KHZ.

O Derrubando Barreiras pode ser ouvido online nos seguintes endereços:

http://int.territorioeldorado.limao.com.br/eldorado/audios!programas.action?editoria=AM

http://derrubandobarreirasacessoparatodos.blogspot.com/

Agradeço aos que puderem divulgar.

sábado, 29 de maio de 2010

A GAROTA ALBINA DA CAPA



Desde o ano passado, o fotógrafo Gustavo Lacerda vem clicando pessoas albinas com vistas a montar uma exposição sobre o tema. Diversos de nós já passamos por suas lentes. Lacerda teve o cuidado de desenvolver iluminação que não incomode nossa fotofobia e o resultado do trabalho é excelente. Algumas fotografias podem ser visualizadas em seu site http://www.gustavolacerda.com.br/

Ontem, ele me escreveu pra comunicar uma excelente notícia.

Chegou às bancas brasileiras o primeiro número da edição nacional da revista espanhola N Magazine, direcionada para pais contemporâneos. http://www.nmagazine.com.br/n.magazine/n.magazine.html

Há um editorial com duas garotinhas albinas, Livia e Thyfany.

E não é que a Livia emplacou a capa de estréia da revista no Brasil?

Depois que as pessoas com albinismo começaram a se mobilizar, os resultados aparecem à galope e estamos conquistando cada vez mais espaços.

Há outras novidades à caminho, fiquem ligados no blog!

Parabéns e obrigado a Gustavo, Livia e Thyfany por provarem vez mais que o visual albino não fica devendo nada a qualquer outro!

(Em homenagem à garota da capa albina, uma canção das Cover Girls.)


sexta-feira, 28 de maio de 2010

ENROLADO NA COBRA ALBINA

Ex-BBB Serginho posa com quatro rapazes nus e uma cobra albina para a 'G'
As fotos aconteceram nesta quinta-feira, 27, num estúdio em São Paulo.

O ex-BBB Serginho terminou as fotos para a revista "G Magazine" na tarde desta quinta-feira, 27. O paulistano será a capa do mês de junho e seu ensaio é inspirado na Copa do Mundo.
De acordo com o editor da publicação, Klifit Pugini, Serginho estampará a edição cercado de quatro rapazes vestidos com as camisas da seleção da Alemanha, França, África e Brasil. O paulistano não aparecerá nu, apenas os modelos.

Um detalhe no entanto dá um toque especial às suas fotos: Serginho aparecerá super sensual, deitado num divã, com o corpo coberto por uma cobra albina de 2,60 metros.

"Montamos um estúdio inspirado numa Londres dos anos 50 e colocamos Serginho lá, deitado no divã. Está muito sensual e ele adorou a cobra!", contou Klifit Pugini.

(Encontrado em http://ego.globo.com/Gente/Noticias/0,,MUL1596236-9798,00-EXBBB+SERGINHO+POSA+COM+QUATRO+RAPAZES+NUS+E+UMA+COBRA+ALBINA+PARA+A+G.html)

(Podiam fotografar um albino pelado também. Se pagarem cachê, eu vou!)


ATÉ QUE O TÉDIO OS SEPARE

Sabe aquelas cerimônias de casamento no religioso, onde o padre/pastor/pai de santo não pára de falar nunca e a gente não vê a hora que acabe pra ir pra festa se divertir e encher a pança? Ontem á noite, participei dum casamento assim, não no religioso. Foi ainda pior, a festa é que foi entediante! Ainda bem que não precisei sair de debaixo do cobertor pra participar, senão teria ficado mais contrariado do que fiquei.

É que assisti a Rachel Getting Married (2008), dirigido por Jonathan Demme. Não vi muitos filmes do diretor; na verdade, lembro-me de apenas 2: The Silence of the Lambs (1991), que catapultou Anthony Hopkins ao mega-estrelato e é excelente estudo de personagem, e Philadelphia (1993), oscarizada e sacarinada película que tem o mérito de trazer o tema da AIDS pra platéias maiores. Um de seus defeitos, porém, é que as personagens gays habitam um mundo familiar onde são plenamente aceitas, sem problemas, sem escaramuças. Isso levou um ativista gay mais ácido a dizer que a família de Demme podia ser daquele jeito, mas a da maioria que habitasse o mundo real não.

Se o crítico assistiu a Rachel Getting Married deve ter concluído que Demme vive literalmente em outro planeta e apenas vem à Terra pra dirigir filmes e entediar espectadores!

A trama é simples: Kym deixa a clínica de recuperação pra narco-dependentes à tempo de participar do casamento de sua irmã, Rachel. O filme nos mostra o dia que precede a cerimônia, o casório propriamente dito e a festa. Claro que as tensões familiares são deflagradas com a chegada de Kym e o diretor desperdiça a ótima chance de tratar do relacionamento agridoce entre as 2 irmãs e suas relações com os pais, tudo em nome de uma utopia (nesse caso, cheirando à ingenuidade tola) politicamente correta que se leva a algum lugar, só pode ser ao nada.

O noivo de Rachel é afro-descendente e isso vira desculpa pra uma série de cenas e falas que nada acrescentam – na verdade, emperram – ao fio dramático de Rachel, Kym e seu relacionamento, que apenas tem espaço entre monótonas cenas de personagens falando, falando, falando, falando. Gente que não fomos preparados pra nos importar e que sequer servem pra conhecermos as personagens que deveriam ser centrais.

Há um melhor amigo de descendência asiática, há um convidado que parece ser gay, a julgar pela fala estereotipada e há brancos de todas as idades. De crianças, só ouvi o choro de uma. Poder-se-ia escrever algo a respeito disso e da esterilidade que permeia o filme...

Durante a festa há uma longa sequência onde somos brindados com a diversidade sônica que também encontra abrigo na família de Rachel. Vários ritmos e estilos musicais são tocados na festa, afinal, o mundo irreal do diretor é aberto a tudo e a todos. De repente, eis que aparece um americano tocando apito e outras pessoas tocando tambor e uma passista de escola de samba, com pouca roupa, detalhes em verde e amarelo e tudo! Sério, eu não estava sonhando não! Eles aparecem do nada e ficam sambando pra nós por alguns segundos e o espectador se perguntando em que isso contribuiu pro enredo caminhar. Pior, o casamento é numa cidadezinha em Connecticut!! Passistas de GRES numa festa de casamento no provinciano interior branquelo da região nordeste dos EUA? Jonathan Damned!

Formalmente o filme se contradiz. O diretor escolheu uma câmera não-fixa, que invade salas e mostra rostos de perto; às vezes dá uma balançadinha. Mas, pra que essa intenção de querer mostrar as personagens mais familiar e intimamente se a todo momento a narrativa é quebrada pra que o diretor pudesse inserir seu proselitismo inclusivo, que nos afastava de Kym & Co?

Demme perdeu uma boa possibilidade de drama e também ótimos atores, que até fizeram muito nos poucos momentos em que o drama realmente decola. Os vôos não duram muito porém. São logo cortados porque o diretor precisa nos ensinar como viver em harmonia (embora quase nenhuma personagem negra tenha realmente algum DIÁLOGO no filme...)

Ah, eu já contei que há uma outra longa cena onde 2 personagens apostam pra ver quem consegue encher uma lavadora de louça em menos de 2 minutos? Interessante pra trama isso, vocês não fazem idéia!

Se a família de Rachel me convidar pralgum outro casamento, não irei. A chatice desse de ontem foi o bastante e vocês nem sabem da missa a metade!

(Por favor, pare esse casamento!)

RETINA ARTIFICIAL

Cientistas criam retina a partir de células-tronco embrionárias

Trabalho traz novas esperanças para pacientes com distúrbios oculares

Cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, criaram o estágio inicial da primeira retina humana feita em laboratório.
Contendo oito camadas de células, a retina foi construída a partir de células-tronco embrionárias humanas. Esta é a primeira estrutura tridimensional feita com células-tronco.
O avanço marca o primeiro passo rumo ao desenvolvimento de retinas totalmente prontas para o transplante - algo que ainda não foi alcançado neste estágio da pesquisa.Diferenciação das células-tronco
O trabalho traz novas esperanças para pacientes com distúrbios oculares, como a retinose pigmentar e a degeneração macular, doenças que afetam milhões de pessoas, e que sofrem com a falta de doadores.
"Nós construímos uma estrutura complexa constituída de vários tipos de células", disse o coordenador do estudo, Hans Keirstead. "Este é um grande avanço em nossa busca para tratar doenças da retina."
Em estudos anteriores sobre lesões da medula espinhal, o grupo de Keirstead desenvolveu um método pelo qual as células-tronco embrionárias humanas podem ser direcionadas para formar tipos específicos de células, um processo chamado diferenciação.
O prosseguimento desses trabalhos já está permitindo o início dos primeiros testes clínicos utilizando uma terapia à base de células-tronco para tratar lesões agudas da medula.

Gradientes de solução
Neste novo estudo, os cientistas utilizaram a técnica de diferenciação para criar vários tipos de células necessárias para formar a retina.
O maior desafio, conta Keirstead, foi na engenharia. Para imitar a fase inicial de desenvolvimento da retina, os pesquisadores precisaram construir gradientes microscópicos para as soluções nas quais as células-tronco foram mergulhadas para iniciar rotas de diferenciação específicas.
"A criação deste tecido complexo é um marco no campo das células-tronco," disse Keirstead. "O Dr. Gabriel Nistor, membro do nosso grupo, resolveu um problema científico realmente interessante com uma solução de engenharia, mostrando que os gradientes de solução permitem criar tecidos complexos com células-tronco."

Retinas artificiais para transplantes
A retina é a camada interna posterior do olho, que registra as imagens que uma pessoa vê e as envia através do nervo óptico até o cérebro.
"O que é mais entusiasmador com a nossa descoberta é que a criação de retinas transplantáveis de células-tronco poderia ajudar milhões de pessoas, e estamos nesse caminho," disse Keirstead.
Os pesquisadores estão testando essas retinas primordiais artificiais em modelos animais para saber o quanto elas melhoram a visão.
Se os resultados forem positivos, o próximo passo será fazer ensaios clínicos em humanos.

(Encontrado em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=29036)

(Em homenagem às células-tronco, o maravilhoso Soft Cell, grupo inglês dos anos 80.)


APAMT NA BAND

Recomendo leitura prévia da postagem http://www.albinoincoerente.com/2010/04/apamt-em-acao.html

Ontem, Madá me enviou o link no You Tube onde está disponibilizada a entrevista do pessoal da Associação das Pessoas com Albinismo de Mato Grosso.

A atenção gerada na mídia mato-grossense apenas foi possível porque a galera da APAMT está botando a boca no trombone. É isso mesmo, pessoal, grita mesmo, senão ninguém ouve!


quinta-feira, 27 de maio de 2010

ELA MERECE! ELA MERECE!

Recurso da atendente que foi demitida por ridicularizar gaga não prosperou

Reclamante trabalhava no telemarketing, riu e imitou a cliente e depois perdeu o emprego por justa causa

"A 5ª câmara do TRT da 15ª região manteve a demissão por justa causa aplicada a uma atendente de telemarketing que ridicularizou uma cliente gaga, imitando-a durante o atendimento. A atitude da trabalhadora provocou risos dos colegas, aumentando a humilhação sofrida pela cliente.
A câmara, colegiado composto por três desembargadores, negou provimento ao recurso da autora, que tentava modificar sentença da 3ª vara do trabalho de Ribeirão Preto/SP. O relator do acórdão no TRT foi o desembargador Lorival Ferreira dos Santos.
Em ação que já havia perdido na 1ª instância, trabalhadora não reverteu demissão por justa causa apesar de alegar rigor excessivo, acionamento da tecla "mute" (para seu riso não ser ouvido - o dispositivo não funcionou) e impossibilidade de ler todo o Código de Ética da empresa no momento da contratação.
Transcrita a gravação de áudio da conversa, incontroverso ficou o deboche. O marido da cliente fizera reclamação formal e a empregadora foi examinar a fundo a ocorrência.
Em voto que inicialmente transitou por considerações sobre estigmas e definições técnicas sobre a gagueira, citando pequeno trecho de entrevista de José Saramago (personalidade mundial, gago), o desembargador Lorival Ferreira dos Santos ponderou que "nada justifica a atitude da reclamante, que não só riu 'involuntariamente' (como diz), mas ficou imitando a cliente para que seus colegas se divertissem também, demonstrando nitidamente que não sabe conviver com a adversidade".
Enaltecendo o princípio da dignidade humana, Lorival lembrou que "todo ser humano deve ser tratado com urbanidade e respeito, independentemente de ser ou não portador de alguma deficiência. Para saber disso não é necessária a leitura de um Código de Ética. O valor do respeito ao próximo deve estar enraizado em cada indivíduo".
O relator consignou também que “o fato de a autora ter acionado a tecla 'mute' para que a cliente não escutasse a chacota é argumento que não a socorre, pelo contrário; a meu ver, torna ainda mais grave e lamentável a atitude da empregada, que teve o desplante de pausar a ligação para que pudesse caçoar mais à vontade”.
O entendimento da relatoria, seguido à unanimidade, conclui que houve sim falta grave, "a ensejar a ruptura contratual por justa causa, principalmente porque trabalhava numa atividade cujo foco é justamente o atendimento ao público em geral, sendo inadmissível a maneira como reagiu diante da deficiência alheia".

(Encontrado em http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=7357035736800936579)

ALVO ÁLVARO

Seguindo a semana de contos com personagens albinas, hoje é a vez de publicarmos texto escrito pelo albino Flávio André Silva, cujo livro de poemas foi divulgado no blog em janeiro: http://www.albinoincoerente.com/2010/01/literatura-albina.html

(Prólogo)

“Álvaro é um garoto como tantos outros por aí: um novato no mundo dos adolescentes, sofrendo com as transformações não assistidas de seu corpo, de sua voz e de sua vida.
Ele sonha em ser ator profissional de teatro, se casar e ter quatro filhos.
Ele é inteligente e tem visão de futuro, o que ele não tem mesmo é boa visão no presente nem melanina no corpo.
Ele é Albino.
Vejamos até onde isso faz diferença”.

MANHÃ ATÍPICA, MAS NÃO RARA

O despertador do celular já havia chamado Álvaro para se levantar e como ele não despertou, passados cinco minutos o aparelho tentou novamente, em vão. O rapaz estava cansado, pois passou a noite estudando uma cena para apresentar no curso de teatro que faz a noite. Não despertou porque sonhava com o sucesso de sua cena, com os parabéns no final e com o beijo da amada Sueli, até que o diretor de sua escola apareceu no sonho lhe entregando um boletim todo vermelho! Álvaro acordou assustado e ao consultar o horário no celular seu coração disparou: estava vinte minutos atrasado.

- Droga, vou ter de ir sem tomar café de novo! Reclamou, correndo para o banheiro.

Este parecia ser um dia daqueles, pois seu tênis não havia secado do banho que levou na noite anterior na saída do teatro quando um motociclista passou em cima de uma poça d'água para ensopá-lo com a água que subiu quase dois metros. Calçou os chinelos encardidos que nunca o deixaram na mão, vestiu o uniforme e saiu correndo do quarto. Percebeu estar esquecendo os óculos ao bater com a testa na quina da armação da televisão preto e branco da sala. Pela manhã nem repara que as coisas não tem contornos nítidos...

Sua mãe já havia saído para o trabalho e não o chamou, pois ele normalmente sai antes dela. Sua irmã dormia como um anjo usando seu cobertor favorito que perdeu para ela por uma semana em uma aposta besta: quem pegava mais amoras no quintal da vizinha... saiu com uma camiseta completamente manchada e um cobertor a menos.

Ao sair de casa, o sol feriu um pouco seus olhos, mas logo se recuperou, mesmo que mais lentamente do que qualquer outra pessoa. Chegou no ponto de ônibus e lamentou por encontrá-lo vazio, pois tinha dificuldade de enxergar o letreiro de destino e, normalmente muitas pessoas vão para aquela direção, mas neste horário todos já se foram. Olhou em volta, mas não havia ninguém por perto... Lá adiante, na esquina avistou um veículo grande e falou para si mesmo:

- Será que é um ônibus?

Da última vez que teve esta dúvida era um caminhão.

- É um ônibus. Tenho certeza!

No fim, estava tentando se convencer disto.

- Será que é o meu ônibus?

E era de fato um ônibus que passou direto por não ter sido feito sinal algum para que parasse.

- É. Era meu ônibus.

Quarenta minutos depois Álvaro chega na portão de sua escola, respira fundo avança... Tropeça logo no terceiro degrau da entrada e seu chinelo direito parte a correia de modo que não consegue mais acertar. O guarda tenta impedi-lo de entrar descalço, mas deixa que ele converse com a coordenadora da escola. Ela o conhece e depois de muita conversa e repreensão sobre asseio e bons hábitos, permite que entre. Ao chegar na porta de sua sala de aula a professora olha para ele com ar de reprovação e faz sinal para que nem entrasse. Foi então que ele olhou seus colegas de classe, todos debruçados sobre uma folha de papel: prova de matemática!

- Droga – sussurrou para si mesmo saindo da porta e voltando para o corredor para preparar uma desculpa para driblar a situação.


(Olha, juro que a canção ilustrativa desta postagem não é nenhum sinal de antipatia pelo Álvaro, ok? Não quero que ele tome tiro, só que o nome dele me lembrou Adoniran...)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

GÊMEOS













Há pouco, recebi email de Jemima Pompeu, de Sampa. Ela fundou um blog onde os gêmeos podem contar suas histórias, trocar experiências e encontrar informações sobre o tema. Vamos divulgar!

Como se relacionam os gêmeos adultos?

“Em 09 de Abril de 1969 eu e minha vizinha de Útero, viemos ao mundo. Apesar de sermos bivitelinas, mamãe nos vestia com roupas e calçados idênticos. Eu não gostava, mas aceitava para não desapontar meus pais. Mas é terrível quando a individualidade dos gêmeos não é respeitada. Tive que aceitar as inevitáveis comparações, mas hoje não me importo mais. Apesar disso, nossa infância foi divertida. Éramos muito unidas, tínhamos sintonia e cumplicidade. Brincávamos e brigávamos com a mesma frequência. Na adolescência, ela escolheu estudar nos Estados Unidos e eu escolhi ficar. A partir daí, perdemos nossa sincronia. Naquela época não tinha internet. Nosso contato era raro. Aos 21 anos ela voltou noiva, eu já estava casada. Tanto ela quanto eu - éramos pessoas diferentes. A vida tinha mudado muito para ambas. Logo em seguida ela casou e eu me separei. Com o divórcio decidi morar no Paraná e ela ficou em São Paulo. Então, não tivemos mais a oportunidade de conviver. Não tínhamos mais assuntos comuns para compartilhar, não tivemos interesse em acompanhar uma a vida da outra. Quando voltei pra São Paulo em 2006, ela tinha se mudado com o marido e filhas para Miami. Em 2009 ela passou por uma cirurgia e eu senti verdadeiro pânico ao imaginar que ela poderia ter morrido. Fiquei um bocado assustada. Fiquei três dias ao lado dela no pós-operatório. Hoje temos uma relação civilizada, porém, superficial. Não falamos o mesmo idioma. Na distância, sentimos aquele tipo de amor esquisito que não amadureceu. Uma ligação atrofiada. Nossa vida é marcada por desencontros - mas ninguém tem culpa nisso. Durante muito tempo eu não entendi essa distância emocional, essa lacuna que ela provocou em mim. Mas hoje eu sei que nunca foi intencional nem proposital. Eu a amo incondicionalmente. Torço sempre pela felicidade dela. Não há rancor. E é justamente por estar liberta deste conflito, que me senti preparada para criar este blog. Hoje compartilho meus sentimentos sem medo, porque não dói mais” Por Jemima Pompeu

Vizinhos de Útero foi criado com o propósito principal de reunir histórias de gêmeos - contadas por eles próprios ou por seus familiares. Vale ressaltar que todos os textos são postados com os devidos créditos. Nesses relatos, os gêmeos se identificam. Os leitores apreciam e se emocionam com os depoimentos. Além disso, tem fotos de gêmeos famosos, artigos relacionados e curiosidades do universo gemelar. Se você é gêmeo e está acima dos 18 anos, participe também!
http://www.vizinhosdeutero.blogspot.com
E-mail:
vizinhosdeutero@gmail.com
Twitter: @vizinhosdeutero


(Como bom oitentista, assim que vi a palavra gêmeos, lembrei dos ingleses do Thompson Twins!)

A VELHA ALBINA

Outro texto com personagem albina, desta vez uma idosa.

A velha albina
O império de edifícios é bonito, mas polui a vista. São prédios e prédios e prédios. Mais prédios. As casas foram engolidas. E o comércio também reina. São bares, lanchonetes, lojas dos mais variados artigos. Vendedores ambulantes de fruta, biscoito de polvilho, bala, chicletes e quinquilharias. Nada orna, mas tudo junto e misturado até que possuem certa beleza, escondida, mas há.Outra coisa chata da grande metrópole é a neurose. A preocupação constante que se deve ter com as bolsas, com a carteira, com o celular. O desassossego é de todos, até as pombas gordas são inquietas. Atentas, planejam a cada segundo um voo certeiro. É nesses voos que elas roubam a comida, que pode estar na mão, na mesa do bar, no chão. Até pomba rouba em cidade grande. Deveria haver um genocídio de pombas, pensa.

Gosta de andar de metrô, coisa de caipira. Mas, gosta. Foi na saída do metrô que encontrou a velha albina, que repousava na mureta da escada. Por dois dias seguidos a velha estava lá, parecia até fazer parte da decoração da calçada. Quase que não se mexia, dava até a entender que era estátua. Uma estátua macabra, de mau gosto, mas estátua. Era estranho se deparar com a velha albina, a falta de melanina causa estranhamento. O olho rosado choca, talvez por isso os albinos tivessem parte com o demo, era assim que pensavam na idade média.
Cabelos curtos e ralos alterando da cor branca à amarela. Saia e blusa de cores neutras para não contrastar com a falta de cor da pele, enrugadíssima. Com a mesma roupa, na mesma pose. Quase mendiga, era mais certo que fosse. A velha albina provoca quem por ela passa, provoca sem dizer nada, sem mostrar nada. Provoca com seus movimentos suaves. Parece louca. Uma insana, somente uma idosa insana sentaria na mureta, permanecendo estática na maior parte do tempo, enquanto zilhões de pernas passam por ali.
A velha albina pode não ter mais memória boa, deve embaralhar-se. Linearidade já não deve fazer parte da sua cabeça, deve ter flash back constantes, pode não ter família, pode ter sido esquecida. Vive no passado. Não sabe quem é. De fato.
Resolve ignorar a velha da mureta, porque depois dela tem o menino descalço com os dentes podres pedindo esmola, tem o negro fedido dormindo junto com três cachorros sarnentos, tem dois jovens fazendo a refeição no lixo, catando o que sobrou do almoço de alguém. Caraca, tem um pedaço de bife aqui. Vibram. Ainda, depois deles têm as putas da esquina, do meio da rua, da quadra inteira. Tem policial batendo em gente decente, homens armados com fuzil, que ninguém sabe se vai ser usado para o bem ou para o mal. Um dia na cidade grande.
Lapso de Larissa Bortolli Menezes às
09:46
(Encontrado em http://lapsosonline.blogspot.com/2010/05/velha-albina.html)

terça-feira, 25 de maio de 2010

TATUAGEM ALBINA















Nos últimos dias, tenho encontrado alguns contos com personagens albinas. Eis um deles:

A tatuagem do albino
Afonso Loureiro

O Pedro é azarado. A mãe diz que nasceu virado para a Lua e isso explica muito do que lhe tem acontecido de mal na vida. Para começar, nasceu albino, com todos os inconvenientes de o ser, agravados pelo facto de viver nos trópicos e os protectores solares não serem baratos.
Cresceu com um grupo de amigos quase da mesma idade, que moram nas casas que dão para o pátio comum, com a grande mangueira no meio. Treparam todos à mangueira e quase todos racharam a cabeça uma ou outra vez por de lá terem caído abraçados a um ramo fininho com uma manga sumarenta na ponta. O Pedro via-os de dentro de casa e, ao final da tarde, quando podia andar cá fora sem franzir os olhos, tentava imitá-los. Dizem que foi por ter caído mais vezes que os outros que ficou assim, um bocadinho menos esperto, um bocadinho mais ingénuo.
Alguns dos amigos mais crescidos, para se armarem em homens fortes, começaram a fazer tatuagens. A partir de certa altura, o que distinguia os meninos dos homens era a tatuagem e quanto maior, melhor. Implicitamente entenderam que esse era o sinal de entrada na vida adulta. O Pedro foi ficando para o fim do grupo dos meninos. Pouco saía de casa e não sabia onde poderia fazer uma tatuagem.
Um dia, para se sentir integrado, saíu bem cedo à procura de um artista. Foi perguntando e acabou por encontrar um rapaz que lha fazia por cem dólares. O Pedro nem hesitou e mandou desenhar um Che Guevara no ombro, como viu aos amigos. Infelizmente, como nasceu virado para a Lua, o tatuador sem recomendações que encontrou estava a iniciar-se na profissão. O Pedro foi o seu primeiro cliente e o desenho não se parece nada com o acordado, mas , pelo menos, não o consegue ver bem, nem mesmo torcendo muito o pescoço e anda contente exibindo a prova de que já é homem na pele rosada.

Os amigos gozam com ele, porque parecenças da tatuagem com o revolucionário argentino, nem o cigarro com que o desenharam servirá e é inaudito que o Che Guevara alguma vez tenha usado o Afro de Bob Marley. Conta quem o conhece que “lhe estigam por causa da tatuagem do Hoji-ya-Henda!“.
Mas nem tudo são tristezas, porque o Pedro, na sua ingenuidade, acha que riem com ele e anda orgulhoso da sua tatuagem do guerrilheiro angolano.

(Encontrado em http://afonsoloureiro.net/blog/?p=4418)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

CONFUSÃO VISUAL

Baixa visão é confundida com cegueira e prejudica desempenho de alunos

Apesar das dificuldades, criança com visão subnormal "pode aprender a usar a visão que tem da melhor forma possível"
Paola Carvalho

Dandara Sousa, 7, coloca o livro bem próximo aos olhos para ler e usa telelupa para enxergar a lousa. Aos 11 meses, os médicos diagnosticaram baixa visão - ou visão subnormal. O dia-a-dia da menina não é nada fácil na sala de aula, mas, com o empenho da família e da escola, seu desempenho não fica atrás do de seus colegas.
A descoberta precoce fez com que Dandara aprendesse a usar a visão que tem e a desenvolver o sentido. Mas nem todos alcançam esse objetivo.
"De 70% a 80% das crianças diagnosticadas como cegas têm alguma visão útil, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde)", alerta a médica Luciene Fernandes, coordenadora do Serviço de Visão Subnormal do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte.
Confundida com a cegueira, a descoberta da baixa visão cabe aos pais e também aos professores, diz Fernandes. "Toda criança tem que fazer exames de visão com 1, 2, 4, 7 e 10 anos de idade. As escolas deveriam cobrá-los", diz.
A Santa Casa de SP capacita professores de escolas municipais regulares a oferecer condições adequadas ao aprendizado de crianças com baixa visão. O workshop já passou por Barueri e Mairiporã e chegará a Itaquaquecetuba e Piracicaba neste semestre.
"Estamos visitando os municípios em parceria com as prefeituras", diz Ana Lucia Rago, fisioterapeuta e psicopedagoga do Setor de Visão Subnormal da Santa Casa de São Paulo.
O Ministério da Saúde está implantando unidades de reabilitação visual para tratar desde o diagnóstico até o fornecimento de recursos ópticos de reabilitação. O serviço pode ser encontrado em unidades do SUS (Sistema Único de Saúde).

Números
Dos alunos matriculados no ensino regular no ano passado, 398,2 mil tinham algum tipo de necessidade educacional especial. Desse total, 14,2% com baixa visão e 1,3%, cegos, segundo dados são do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira).
Em São Paulo, ao menos 10,8 mil estudantes sofrem de visão subnormal, número que pode ser maior. "Conheço crianças que tinham alguma condição de enxergar, mas foram diagnosticadas cegas e educadas como cegas. Infelizmente não é raro", afirma a coordenadora do Serviço de Visão Subnormal do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte.
Para Ana Lucia Rago, ainda há muito despreparo por parte dos professores para entender o comportamento desses alunos especiais e identificar a baixa visão.
"Quem tem esse problema coloca o objeto perto dos olhos para conseguir ver. Já vi professor falar que isso é errado. É, porém, o jeito da criança enxergar", exemplifica Rago. Ela diz que a deficiência não tem cura, mas a criança "pode aprender a usar a visão que tem da melhor forma possível."
A professora Ivonete Rodrigues fez cursos para aprender a lidar com Dandara e identificar outros casos. "Temos que suspeitar das dificuldades e comunicar aos pais. A baixa visão é mais comum do que a gente imagina", diz. Ela ainda fez adaptações, como aumentar o as letras escritas e usar cores.

Saiba mais
Eu tenho baixa visão?

A pessoa com baixa visão é aquela que mesmo após tratamentos ou correção óptica apresenta diminuição considerável de sua função visual. A maior parte da população considerada cega tem, na verdade, visão subnormal e é, a princípio, capaz de usar sua visão para realizar tarefas. Já o paciente com cegueira é aquele que perde totalmente a visão. Para cada pessoa cega há em média, 3 ou 4 com baixa visão.

Quais são os sinais?

Alteração na aparência dos olhos: estrabismo (olhos não alinhados), nistagmo (tremor nos olhos), movimentos irregulares, pupila com mancha branca, alteração na coloração da córnea. Há também alguns comportamentos diferenciados: fotofobia (hipersensibilidade à luz), posição da cabeça para olhar (aproximar o rosto muito perto do objeto para ler), dificuldades na coordenação motora.

Como lidar com a baixa visão na sala de aula?

Colocar o objeto perto dos olhos é permitido e deve ser incentivado. Ao aproximar, a imagem fica maior e mais nítida. Pode-se usar apoio de livro, suporte para folha, lupa, telescópio, óculos com lentes de magnificação (ampliação das imagens), lápis 4B ou 6B (aumenta o contraste). Evitar superfícies com brilho.
Fonte: Santa Casa de SP e Perkins

(Encontrado em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=28983 )


CASCÃO ALBINO

















O albinismo está entrando até no universo dos passatempos das revistas em quadrinhos. Vejam o número 21 do almanaque do Cascão.

Obrigado ao Jayme pelo envio do pdf! Foi absolutamente fabuloso!

domingo, 23 de maio de 2010

(DES)APARECIDOS


Roberto Rillo Bíscaro

Meio sem querer, acabei assistindo a outra produção argentina hoje á tarde. Na verdade, uma co-produção com a Espanha. Um amigo em cujo gosto cinematográfico confio, me indicou um filme de horror “espanhol” chamado Aparecidos (2008). Ele mesmo não o vira, mas depois de assistir ao trailer no You Tube, resolvi dar uma chance, algo como um tiro no escuro, o que é bastante freqüente comigo. Depois de boas produções espanholas assistidas, não faria mal tentar mais essa.

Os irmãos Pablo e Malena estão em Buenos Aires pra autorizarem o desligamento das máquinas que mantinham as funções vitais de seu velho pai – com o qual não tinham contato desde criança – cuja morte cerebral fora decretada.

Malena não mostra o menor interesse pelo velho; tudo o que quer é assinar logo os papéis e regressar à Espanha. Pablo, que sequer conhecera o progenitor, manifesta interesse em saber mais a respeito do homem e diz à irmã que em troca de assinar a autorização, quer viajar até o sul do país no carro do pai, que estava estacionado na garagem do hospital.

Só então saquei que a trama se desenrolaria na Argentina...

Durante uma parada à beira da estrada, Pablo vê uma garota mexendo na parte interna da lataria do veículo, acima dum dos pneus traseiros. Diante da mudez da menina perante suas perguntas, Pablo enfia a mão no nicho e encontra uma espécie de diário repleto de fotos e manchas que parecem sangue. Ao olhar de volta pra garota, constata que desaparecera sem deixar rastro.

Lendo o diário, Pablo começa a se inteirar acerca duma pavorosa história de seqüestros, torturas e assassinatos, documentada com fotos assustadoras. Pernoitando num hotel, descobre através da narrativa, que, no quarto ao lado em que estavam, um brutal crime ocorrera em 1980. A partir daí, fenômenos aterradores começam a acontecer precisamente nas horas indicadas no diário. Aos poucos, os ingênuos jovens espanhóis tomam conhecimento das barbaridades ocorridas durante a sangrenta ditadura argentina, que durou de meados da década de 70 até depois da derrota da Guerra das Malvinas (pralguma coisa boa a Margareth Tatcher tinha que servir, não?). Malena também descobre um segredo familiar nada lisonjeiro, relacionado á atividade profissional do pai e à origem de Pablo.

O cine argentino vem tematizando a ditadura e suas torturas e sequestros de bebês desde praticamente o dia em que a democracia voltou ao país, basta lembrar o oscarizado La História Oficial (1985), o qual amo de paixão. Há muitos outros, muitos mesmo! Já vi vários. O fantasma desse período ainda assombra o país.

Inédito ainda era tratar do tema sob a ótica dos filmes de horror. A Espanha fez isso diversas vezes a respeito de sua própria história recente de guerra civil e franquismo. Basta lembrar de El Espinazo Del Diablo (2001), El Laberinto Del Fauno (2006) e de No+Do (2009), este último comentado aqui. http://www.albinoincoerente.com/2009/09/nodo.html

Aparecidos é um competente filme de horror com cenas marcantes, boa trilha sonora e fotografia apurada. Quase impossível errar, filmando na Terra do Fogo, né? Descontadas algumas afobações e implausibilidades do roteiro, a película coloca a Argentina no mapa do cine de horror de maneira honrosa.

Comovente a cena final em que fantasmas de torturados circulam pelas ruas portenhas sob chuva torrencial. Chorei.

Usar temas políticos pra fazer roteiros de filmes de terror mostra que os malditos Francos e Videlas da vida assustam muito mais do que Jasons e Freddy Kruggers! Particularmente, prefiro os últimos porque são de mentirinha. Os de carne e osso que apodreçam no inferno!

O LADO SEXY DA DEFICIÊNCIA

Acordémonos de que Eros, el Diós griego del amor, era ciego...

Erotismo: ¿existe el “lado sexy” de la discapacidad?

A partir de distintos proyectos artísticos y sociales recientes, el erotismo en las personas con discapacidad ha vuelto a ser un tema presente en los medios de comunicación. Sin embargo, la mayor parte de las líneas editoriales y la visión parcial con que se enfoca este tema tan complejo, logran una síntesis que en vez de expandir la percepción sobre el amplio universo de la sexualidad y la sensualidad, empobrecen sus perspectivas y cierran la posibilidad de debates serios y profundos. ¿Por qué el arte es capaz de sintetizar en una imagen determinadas impresiones que aún no podemos abordar con la palabra o la acción? ¿Existe en estas experiencias el riesgo de reproducir una mirada de lo erótico adaptada al imaginario dominante?

En el año 2006, El Cisne publicó un informe especial* donde, a través de los ensayos fotográficos de dos artistas, se indagó acerca del erotismo como un espacio de afirmación en las personas con discapacidad. Ambos artistas, cuyos trabajos se realizaron en países y tiempos diferentes, coincidían, sin embargo, con sus investigaciones, en demostrar que los cuerpos de la diferencia también pueden reconocerse desde su potencial sensual, donde los cánones establecidos de belleza y erotismo no lograban disminuir su gracia y vitalidad diversas, expresivas, plenas.

Casualmente, o no, hace apenas unos días y en el marco de la IV Edición del Festival de Artes Integradas Escenamobile de España, los mismos fotógrafos, Rasso Bruckert (de Alemania) y Belinda Mason (de Australia) fueron convocados para realizar una muestra conjunta nutrida por una treintena de fotografías que integraron la exposición “Erotismo y discapacidad”.
Con la finalidad de plantear un debate sobre el concepto de belleza, las fotografías conformaron un amplio set de desnudos eróticos de personas portadoras de mutilaciones o discapacidades físicas y mentales, solas o con sus parejas, para desmontar prejuicios y tabúes mostrando la realidad erótica y sensual de las personas con discapacidad.
Si bien la exposición se enfocó en cuestionar los mitos e ideas imperantes acerca de la belleza que nos muestran la televisión y la publicidad o las tendencias estéticas de moda, bajo titulares como “Exposición fotográfica muestra el lado sexy de la discapacidad” o reproduciendo gacetillas textualmente, sin animarse a realizar una propia mirada, el tratamiento mediático de la muestra traicionó de alguna manera este objetivo al parcializar o simplificar su espíritu e impedir un debate serio.
¿Es realmente más fácil encontrar el “lado sexy” de los cuerpos de las personas con discapacidad y recortarlos, en vez de permitir que nuestra percepción se amplíe y enriquezca en una diversidad cada vez mayor, donde los individuos son valorados en su totalidad? Quizás el cambio radique en un pequeño giro de la mirada, un viraje que logran experiencias como la de estos artistas, que con una simple imagen logran derribar la comodidad de nuestro mirar condicionado para ponernos de frente a muchos interrogantes.
Ahora bien, existe otro desafío, mucho más sutil: ¿Pueden estas experiencias de ruptura correr el riesgo de contradecirse a sí mismas cuando desde los cuerpos de la diferencia reproducen una mirada de lo erótico adaptada al imaginario dominante? Si observamos detenidamente, algunas de las fotografías del Festival Escenamobile se sirven de estos cuerpos para escenificar “realidades” donde en pocas ocasiones se puede percibir una organicidad o una correspondencia entre los modelos y sus poses; o incluso dónde las personas con discapacidad (encarnando lo diverso) están sujetas a roles y situaciones machistas, que resaltan parcialidades en armonía con los valores estéticos generales o como meros objetos. Quizá llegó el momento en donde ya no alcanza sólo con incluir a los diferentes en los ámbitos vedados, sino que esa incursión se corresponda con una verdadero empoderamiento, sin parámetros legitimadores que remitan hacia el imaginario de la “normalidad”.

Fantasías caleidoscópicas
“Siempre he estado orgullosa, incluso en medio de las prótesis, del dolor, de mis formas retorcidas, y la falta de piernas. Siempre me ha gustado sonreír. Siempre sentí atractivo por mostrarme. Por amarme. Por quererme”. Con estas palabras, Leandra Migotto Certeza, una periodista brasileña con una notoria discapacidad motriz que afectó seriamente su crecimiento, da la bienvenida a un osado proyecto fotográfico y literario, donde a modo de ensayo incursiona en su propio potencial erótico.
Leandra es una acreditada referente del colectivo de personas con discapacidad en su país, además de reportera de la Red SACI, columnista de la Agencia Inclusive y la Revista Sentidos, activista en derechos humanos de la ONG Conectas y voluntaria de la Asociación Brasileira de Osteogénesis Imperfecta. El proyecto que Leandra encarna junto a la fotógrafa Vera Albuquerque se titula “Fantasías Caleidoscópicas, cuerpos diferentes, miradas reflejadas”, y se trata de una investigación en equipo que busca retratar la imagen (la mayor parte de las veces, prejuiciosa) que la sociedad tiene de la sexualidad de las personas con discapacidad, a través de: un ensayo fotográfico sensual, una exposición itinerante, dos publicaciones y charlas interactivas sobre salud sexual en instituciones educativas y centros culturales de Brasil y otros países interesados en el proyecto.
Para la fotógrafa, este proyecto cuestiona los patrones de belleza instituidos por los medios de comunicación o por la moral dominante, resaltando la posibilidad de una democratización del placer, una igualdad de los derechos sexuales, una disposición de las mentes y de los corazones contra los juicios previos y los preconceptos.
Por su parte, la periodista y activista señala que dar voz a estas imágenes (donde además participan distintos colectivos marginalizados) es importante en cuanto registro fotográfico, pues el enfoque central del proyecto está en el arte y en la educación como agentes de transformación de la realidad, aliados a la palabra, como testimonio de un poder capaz de cambiar a la sociedad.
Siendo mucho más que una mera muestra sobre arte y erotismo, Fantasías Caleidoscópicas reúne una reivindicación social, un proyecto educativo y, por sobre todo, un ejemplo de vida, donde Leandra comparte testimonios pocas veces manifestados en sociedad por parte de una mujer con discapacidad. “Conocí otras bocas, probé otros gustos, sentí otros perfumes, toqué otras pieles, conocí otros cuerpos. Pero siempre de personas con alguna condición física diferente de lo que la sociedad nos impone como patrón. Fueron experiencias únicas y muy significativas para mi madurez sexual. Me enamoré bastante, pero siempre en procura de algo más allá del deseo carnal. Viví intensamente cada fantasía sexual y experimenté muchas sensaciones deliciosas… Pero todo fue hecho siempre a escondidas. En el fondo no me asumía. No asumía que tenía un cuerpo preparado para seducir. No me imaginaba junto a alguien que no tuviera una discapacidad física”, comparte Leandra en el site de sus Fantasías Caleidoscópicas.
Para Leandra, este proyecto ayudará a la sociedad en general a derribar los límites de su percepción de lo bello y lo deseable, pero por sobre todo permitirá a las familias de las personas con discapacidad considerarlos y respetarlos como seres sexuales. “Lo más difícil todavía es mostrar a mi familia que ya crecí. Que no soy una niña y menos asexuada. Cuando comencé mi última relación escuché comentarios terribles que me rasgaban por dentro. Las personas que más amo en la vida no creían que yo pudiese ser, simplemente, feliz. ¿Por qué será que los padres de las personas con discapacidad no aceptan que sus hijos tienen sexualidad? ¿Por qué será tan doloroso para ellos asumir que sus hijos pueden ser felices realizándose en la cama (en el sofá, en el suelo, en la escalera, en el ascensor…) con sus cuerpos, simplemente diferentes? Espero que un día, todos aprendan que la simetría y la perfección fueron conceptos creados por ellos mismos, por lo tanto, pueden ser destruidos en cualquier momento”.
En este proyecto no hay espacios para la complacencia de una mirada segura de sus búsquedas, anquilosada dentro de patrones establecidos. Cada imagen, cada testimonio ironiza sobre los parámetros de lo aceptado y abre una brecha para la reflexión seria y comprometida acerca del daño que los preconceptos generan en la sociedad y la propia persona que los sostiene. “Es terrible sentir que los prejuicios todavía están tan arraigados. Existen varios pésimos profesionales de la salud que, simplemente, ignoran la sexualidad de las personas con discapacidad. Yo misma sufrí una agresión tan intensa que nunca va a cicatrizar. A los 18 años, fui obligada a visitar a una ginecóloga amiga de mi familia. Una mujer amarga, estúpida y totalmente antiética. Incrustó un libro de anatomía en mi cara, me trató como una niña y me dijo que yo no tenía derecho de usar mi cuerpo para nada. Me prohibió tener relaciones sexuales, y luego -mirándome a los ojos y apuntando con el dedo a mi nariz- que yo no podía hacer nada con mi cuerpo sin antes hablar con alguien de mi familia. Además de todo esto tuvo cara para preguntarme si ya había tenido novio. Quiso saber, en detalles, todo lo que yo había hecho con él. Me obligó a contar todo. No respondió ninguna de las preguntas que le hice. No esclareció ninguna duda. No me informó sobre métodos anticonceptivos ni sobre enfermedades de transmisión sexual. Y lo peor de todo es que se negó a examinarme”.Vera Albuquerque y Leandra Migotto Certeza han asumido sin dudas un proyecto verdaderamente integral y esclarecedor acerca de la sexualidad y el erotismo en las personas con discapacidad, que no sólo permitirá abrir este espacio vedado hacia la sociedad en general, sino que por sobre todo servirá como inspiración a muchas personas con diversidad de condiciones físicas y sensoriales para auto-explorar el variado universo de su sexualidad.
“La idea es decir a una sociedad anestesiada (esperamos que no esté ‘en coma’) con la dictadura de la belleza ideal, de la perfección, de los cuerpos saludables y bien torneados, de las formas esbeltas, que la seducción, las fantasías, los amores, las pasiones y la sensualidad están en la diversidad de cuerpos, miradas, perfumes, gestos, colores, formas, tamaños, palabras, texturas, sonidos y sentimientos, caleidoscópicamente humanos”, concluye Leandra.

Pecados inválidos
Otra experiencia reciente que, imbuida del mismo espíritu, traslada estos interrogantes y afirmaciones al campo de las artes escénicas es “Pecados inválidos” (Sins Invalid), un proyecto norteamericano de teatro especializado en temáticas de diversidad sexual y discapacidad que ha sabido ir mas allá de la imagen parcial, para recrear la realidad dinámica y rica de la sexualidad y la afectividad de las minorías.
Pecados inválidos reúne diferentes colectivos de personas con discapacidad, afrodescendientes y con diversas elecciones sexuales, es decir, comunidades históricamente marginadas en el discurso social. Las performances del grupo se celebran desde hace ya cuatro años en el teatro Brava de San Francisco y cuentan con doce artistas con discapacidad.
A través de un conjunto de sketches, monólogos, danza y performance, el trabajo de la compañía explora variados temas de sexualidad, la corporalidad y el cuerpo con discapacidad en particular.
Concebido y dirigido también por personas con discapacidad afrodescendientes, este colectivo artístico desarrolla y presenta trabajos de vanguardia donde son impugnados paradigmas normativos de lo "bello" y "sexy", ofreciendo a cambio una visión de la belleza y la sexualidad donde están incluidos todos los individuos y las comunidades. Para el equipo es indispensable elaborar y presentar un trabajo de gran valor artístico que explore la sexualidad y el no-cuerpo normativo “con el fin de representar a todas nuestras comunidades y desafiar a errores de percepción dominante sobre las personas con discapacidad”.
Fundado en 2006 por Patty Berne y LeRoy Franklin Moore Jr., la compañía define la discapacidad en términos generales para incluir a personas con discapacidades físicas, personas que pertenecen a una minoría sensorial, personas con discapacidades emocionales, con problemas cognitivos y con enfermedades crónicas o graves.
“Entendemos que la experiencia de la discapacidad se puede producir dentro de todos los ámbitos de la vida, por eso tratamos de incluir en estas obras a todas las minorías cuyos cuerpos no se ajustan a nuestra cultura bajo nociones de ‘normales’ o ‘funcionales’”.Moore y Berne, son dos veteranos activistas con discapacidad que se sentían frustrados con la tendencia de muchos a considerar a las personas con discapacidad como asexuales, desviados o indeseables. “Queríamos hacer frente a la desconexión entre lo que sabemos de la verdad acerca de nuestra belleza y lo que el mundo parece creer, que somos menos deseables y que deben compadecerse de nosotros", explica Berne.
Este proyecto es mucho más que una declaración sobre el sexo y la discapacidad, más allá de la cuestión específica de la “sexualidad diferente”, a través de las performances buscan refutar toda una serie de nociones convencionales acerca de lo que es normal, lo que es bello y lo que es sensual. En lugar de la aceptada convención de que el sexo y la belleza se limitan a las personas jóvenes, delgadas y ágiles, Sins Invalid ofrece “una visión de la belleza y la sexualidad, donde están incluidos todos los individuos y las comunidades”, a través de la afirmación de que todos somos sexuales, sensuales y atractivos, independientemente de la edad, la forma del cuerpo o el color de la piel.
De ahí que además de las propuestas artísticas, esta iniciativa también ofrece actividades educativas y de concientización a través de talleres en una variedad de organizaciones entre las que se cuentan la National Sexuality Resource Center, la National Gay and Lesbian Task Force, el City College de San Francisco, la universidad de Notre Dame y el National Arts Festival gay.
Pecados inválidos se ha comprometido también con la justicia social y económica para todas las personas con discapacidad en refugios para indigentes, en las calles, con víctimas de desastres ecológicos y pacientes de hospitales psiquiátricos, intentando ir “más allá de los derechos individuales, hacia los derechos humanos colectivos”.
Según sus directores y fundadores, cada una de las puestas y talleres apuntan a promover oportunidades de liderazgo para las personas con discapacidad dentro de las comunidades con las que trabajan y en el más amplio movimiento por la justicia social. Como también proporcionar un apoyo y compromiso político para con artistas emergentes y establecidos con discapacidad, para desarrollar y presentar obras de peso para una amplia audiencia.
Al igual que en Fantasías Caleidoscópicas, Sins Invalid es una experiencia de ruptura que no se contenta con el hecho artístico, sino que busca plasmarse en la realidad como un modelo de debate dinámico, que trabaje la reflexión e intervenga directamente en las problemáticas más urgentes, como la salud sexual y psicológica y los derechos humanos.

Reeducarse y reeducar
En el libro “Discapacidad y vida sexual, la erótica del encuentro”, de la especialista Felicidad Martínez Sola, Eugenio Amezúa, director de estudios de postgrado de Sexología de la Universidad de Alcalá de Henares afirma que “dejar de lado la erótica equivale a una pérdida irremplazable para la comprensión de las relaciones de los sexos. Los encuentros no son encuentros de genitales sino puesta en común de deseos que, por sexuados, llevan consigo sus genitales como otros complementos”.

Por lo tanto, y como manifestó Leandra Migotto Certeza, el primer paso para poder transformar la visión entumecida de la sociedad respecto a estos temas, sería habilitar espacios donde las propias personas con discapacidad puedan salirse de los parámetros establecidos de lo bello y lo erótico para descubrirse y ser valorados desde la única e irrepetible manifestación de su propia eroticidad.
Esto ya está siendo llevado adelante por distintas experiencias de orientación socio-afectiva-sexual que brindan herramientas de prevención, cuidado y conocimiento para desarrollar una sexualidad plena. Estas alternativas permiten, además, eliminar concepciones erróneas, como el vincular la sexualidad exclusivamente con “sexo-genitalidad-reproducción”, ya que la experiencia erótica puede alcanzarse a través de distintas formas donde ni siquiera es necesario que intervengan los genitales. La sexualidad y el erotismo comprenden una expresión integral del ser donde permanecen integrados los aspectos biológicos, psicoafectivos, biográficos y socioculturales.
Tomando la vanguardia en este sentido, la Confederación de Personas con Discapacidad Física y Orgánica de la Comunidad Valenciana (COCEMFE-CV, España) comenzó este verano a impartir cursos muy concretos y útiles sobre sexualidad a personas con discapacidad, donde los alumnos pueden incrementar conocimientos sobre sexo y erotismo que les son de muchísima ayuda a la hora de mantener relaciones sexuales.
Según un comunicado de la prestigiosa organización COCEMFE, durante todo el 2010 estas clases estarán incluidas en el Programa de Educación Sexual de la entidad, y en el que también se contendrán charlas, coloquios y talleres vivenciales para "conocer nuestro cuerpo, aceptar nuestra sexualidad y el desarrollo de la erótica".
Además de los talleres, se llevarán adelante reuniones conocidas popularmente como “tuppersex”, donde a través de instructivos y charlas se compartirán los avances en materias de ayudas sexuales, como "un instrumento práctico para ampliar los conocimientos sobre sexo y erotismo, en las que se podrá oler, tocar, saborear distintos productos".
La Confederación notificó que en breve pondrá en marcha el Programa para las más de 85 asociaciones de toda la Comunidad Valenciana, contando par ello con la financiación de la Consellería de Bienestar Social, lo cual habla de una decisión política respaldando una necesidad social que involucra al 10% de la sociedad. En Latinoamérica, un ejemplo similar lo encontramos en la organización mexicana Geishad (Grupo Educativo Interdisciplinario en Sexualidad Humana y Atención a la Discapacidad), especializada en consolidar programas de intervención profesional -educativa y clínica- para atender problemas sexuales y de pareja dirigida a personas con cualquier tipo de discapacidad.
Además, Geishad coordina la Maestría en Discapacidad y Sexualidad impartida en convenio con el Instituto Mexicano de Sexología y realiza diversos cursos para poblaciones y grupos especiales, como profesores, médicos, psicólogos, profesionales que trabajan con personas con discapacidad, niñas y niños, adolescentes, adultos, parejas, personas con discapacidad de todas las edades y público en general que, no reuniendo los requisitos formales para cursar la Maestría, deseen educación de la sexualidad. Sabiendo de la capacidad transformadora del arte, Geishad también cuenta con un programa permanente de actividades culturales y recreativas.
El objetivo principal de esta ONG es promover y realizar investigaciones científicas y producción de materiales didácticos en el campo de la sexología y el trabajo inter, trans y multidisciplinario en discapacidad, como también divulgar los resultados de dicha investigación y procurar la superación personal a través de la enseñanza, capacitación y actualización de niños, niñas, jóvenes; padres de familia, profesionistas de cualquier ramo y primordialmente de personas con discapacidad física, mental o social. Entre una amplia variedad de talleres y cursos brindados con tales fines, Geishad brinda capacitación indispensable como “Sexualidad y Síndrome de Down”, “Entrenamiento funcional (para personas con discapacidad)”, “Sexualidad en niños y adolescentes con discapacidad”, “Manejo de cavidad oral en personas con daño neurológico”, “Mujer, discapacidad y sexualidad”, “La expresión corporal creativa en la discapacidad”, “VIH, SIDA y discapacidad” y “Paternidad y discapacidad (para personas con discapacidad)”.
Con estas herramientas tan concretas, las personas con diversidad funcional pueden comenzar no sólo a trabajar con su estima, sino afirmarse creativamente en el campo de su vida afectiva y sexual. Con lo cual, será mucho más fácil desarrollar su autonomía social y comenzar a provocar un cambio en la percepción general, ya que se integrarán a sus comunidades como individuos que conocen sus capacidad, saben lo que quieren y pueden manifestarse en los vínculos desde sus particularidades, sin sentirse menos. Debiera no ser necesario decir que, lejos de un puro instinto más o menos refinado y ligado a la reproducción, la sexualidad y lo erótico están íntimamente relacionados con las fuerzas del pensar, que aportan a los vínculos impulsos creativos, de alteridad y de afirmación personal en el encuentro con el otro. Pero aunque esto pueda afirmarse, lejos todavía está de convertirse en una realidad palpable para todos.
Por fortuna, estas experiencias recientes y pioneras, ligadas tanto a lo creativo como a lo clínico y social, respaldadas por profesionales y organizaciones serias, de gran trayectoria, nos invitan a animarnos a transgredir nuestros propios límites, para enriquecernos también en el imaginario de lo diverso. Ya que la misma sociedad que nos niega la posibilidad de expandirnos en una percepción enriquecida de lo erótico nos impone cotidianamente y a través de los medios el consumo de lo erótico como ligado a lo pornográfico, las prácticas machistas, la mercantilización del cuerpo y la falta de elección.
Los cuerpos de la diferencia, en oposición, nos invitan a la libertad, nos invitan a la aceptación creativa, a asumirnos como un entramado de pluralidades que nos permite ser, dejando atrás el temor a manifestarnos plenos, y entregarnos a las fuerzas arrolladoras de la fantasía, ese germen que tanto tiene que ver con los procesos de construcción del conocimiento, y cuya potencia es tan inconmensurable, que se expresa también a través de la sexualidad, el erotismo y la vitalidad.
Luis Eduardo Martínez

martinez_luiseduardo @yahoo.com.ar
* “Erotismo y sensualidad como espacio de afirmación personal”/ Luis Eduardo Martínez.
Fuentes:-
http://www.myspace.com/sinsinvalid- http://www.sinsinvalid.org- http://fantasiascaleidoscopicas.blogspot.com/- http://www.geishad.org.mx/
(Encontrado em http://www.elcisne.org/ampliada.php?id=1495 )

(Como estamos hablando de erotismo, disfrutemos de um lindo tema del inglés Marc Almond.)

sábado, 22 de maio de 2010

GIANNAZI INDICA

Nova ação do deputado paulista Carlos Giannazi em prol dos albinos do estado.

A fim de acelerar o processo de obtenção de direitos específicos pra nossa minoria, Giannazi apresentou a seguinte indicação ao governador:

INDICAÇÃO Nº 779, DE 2010
INDICO, nos termos do artigo 159 da XIII Consolidação do Regimento Interno, ao Excelentíssimo Senhor Governador que determine medidas no sentido de melhorar o atendimento dos alunos albinos nas escolas estaduais, principalmente no que diz respeito ao cuidado com a pele, à utilização de equipamentos óticos se necessário e adequação de material didático.

JUSTIFICATIVA
O Albinismo confere à pessoa a cor branca (rósea) da pele, dos pelos do corpo e olhos, devido à ausência da produção da melanina - substância que confere a proteção aos raios UVA e UVB. Em consequência, as pessoas estão sujeitas a desenvolver precocemente diminuição da acuidade visual e até cegueira, além de inúmeras lesões de pele pré-cancerígenas e cancerígenas, mesmo quando expostos à iluminação solar indireta. Apesar da abrangência de uma importante parcela da população, as pessoas com albinismo vivem hoje em um processo discriminatório constante e em situação de pobreza e abandono, obrigadas a se lançarem cedo no mercado de trabalho geralmente informal, em atividades desenvolvidas sob grande exposição solar, tais como: ajudantes de pedreiro, jornaleiro, verdureiro, o que contribui para agravar suas mazelas. Apesar disso, até o momento, inexistem ações públicas específicas voltadas para a acessibilidade e inclusão das pessoas com albinismo. Existem vários tipos de albinismo, entretanto a forma mais perigosa é a que determina a total ausência de pigmentação por todo o corpo. O cotidiano do albino, portanto, é marcado pela intolerância à luz solar e ameaçado, constantemente, pelos riscos da cegueira e do câncer de pele. Por ser considerada uma pessoa com necessidades especiais, o albino precisa de apoio para que seja assegurado o exercício dos seus direitos básicos "É preciso dar visibilidade à luta das pessoas com albinismo, mobilizar estas pessoas e, principalmente, sensibilizar os poderes públicos para os problemas enfrentados pelos albinos", avançando na quebra da "invisibilidade" das pessoas albinas, porque quanto menos o albino aparece, menos consegue alcançar seus direitos".
www.carlosgiannazi.com.br
Deputado Carlos Giannazi

(Fiquemmos com a indicação claríssima da banda canadense Great Big Sea.)

sexta-feira, 21 de maio de 2010

NOME AOS BOIS

Devido à boa repercussão da postagem Terminologia (http://www.albinoincoerente.com/2010/02/terminologia.html ), decidi procurar algum texto que esmiuçasse a questão do modo correto de se referir às pessoas com deficiência.

Isso é bastante importante pra evitar noções com preconceitos embutidos ou expressões vitimizadoras.

Encontrei um texto algo longo, mas de leitura proveitosa pra todos os envolvidos em questões de inclusão e pessoas com deficiências. .

Terminologia
Sobre a deficiência na era da inclusão. Por Romeu Kazumi Sassaki*
A construção de uma verdadeira sociedade inclusiva passa também pelo cuidado com a linguagem. Na linguagem se expressa, voluntariamente ou involuntariamente, o respeito ou a discriminação em relação às pessoas com deficiências. Com o objetivo de subsidiar o trabalho de jornalistas e profissionais de educação que necessitam falar ou escrever sobre assuntos de pessoas com deficiência no seu dia-a-adia, a seguir são apresentadas 59 palavras ou expressões incorretas acompanhadas de comentários e dos equivalentes termos corretos. Ouvimos e/ou lemos freqüentemente esses termos incorretos em livros, revistas, jornais, programas de televisão e de rádio, apostilas, reuniões, palestras e aulas.
1. adolescente normal
Desejando referir-se a um adolescente (uma criança ou um adulto) que não possua uma deficiência, muitas pessoas usam as expressões adolescente normal, criança normal e adulto normal. Isto acontecia muito no passado, quando a desinformação e o preconceito a respeito de pessoas com deficiência eram de tamanha magnitude que a sociedade acreditava na normalidade das pessoas sem deficiência. Esta crença fundamentava-se na idéia de que era anormal a pessoa que tivesse uma deficiência. A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável e ultrapassado. TERMO CORRETO: adolescente (criança, adulto) sem deficiência ou, ainda, adolescente (criança, adulto) não-deficiente.
2. aleijado; defeituoso; incapacitado; inválido
Estes termos eram utilizados com freqüência até a década de 80. A partir de 1981, por influência do Ano Internacional das Pessoas Deficientes, começa-se a escrever e falar pela primeira vez a expressão pessoa deficiente. O acréscimo da palavra pessoa, passando o vocábulo deficiente para a função de adjetivo, foi uma grande novidade na época. No início, houve reações de surpresa e espanto diante da palavra pessoa: “Puxa, os deficientes são pessoas!?” Aos poucos, entrou em uso a expressão pessoa portadora de deficiência, freqüentemente reduzida para portadores de deficiência. Por volta da metade da década de 90, entrou em uso a expressão pessoas com deficiência, que permanece até os dias de hoje. Ver comentários ao item 47.
3.“apesar de deficiente, ele é um ótimo aluno”
Na frase acima há um preconceito embutido: ‘A pessoa com deficiência não pode ser um ótimo aluno’. FRASE CORRETA: “ele tem deficiência e é um ótimo aluno”.
4.“aquela criança não é inteligente”
Todas as pessoas são inteligentes, segundo a Teoria das Inteligências Múltiplas. Até o presente, foi comprovada a existência de oito tipos de inteligência (lógico-matemática, verbal-lingüística, interpessoal, intrapessoal, musical, naturalista, corporal-cinestésica e visual-espacial). FRASE CORRETA: “aquela criança é menos desenvolvida na inteligência [por ex.] lógico-matemática”.
5. cadeira de rodas elétrica
Trata-se de uma cadeira de rodas equipada com um motor. TERMO CORRETO: cadeira de rodas motorizada.
6. ceguinho
O diminutivo ceguinho denota que o cego não é tido como uma pessoa completa. A rigor, diferencia-se entre deficiência visual parcial (baixa visão ou visão subnormal) e cegueira (quando a deficiência visual é total). TERMOS CORRETOS: cego; pessoa cega; pessoa com deficiência visual; deficiente visual.
7. classe normal
TERMOS CORRETOS: classe comum; classe regular. No futuro, quando todas as escolas se tornarem inclusivas, bastará o uso da palavra classe sem adjetivá-la. Ver os itens 25 e 51.
8. criança excepcional
TERMO CORRETO: criança com deficiência mental. Excepcionais foi o termo utilizado nas décadas de 50, 60 e 70 para designar pessoas deficientes mentais. Com o surgimento de estudos e práticas educacionais na área de altas habilidades ou talentos extraordinários nas décadas de 80 e 90, o termo excepcionais passou a referir-se a pessoas com inteligência lógica-matemática abaixo da média (pessoas com deficiência mental) e a pessoas com inteligências múltiplas acima da média (pessoas superdotadas ou com altas habilidades e gênios).
9. defeituoso físico
Defeituoso, aleijado e inválido são palavras muito antigas e eram utilizadas com freqüência até o final da década de 70. O termo deficiente, quando usado como substantivo (por ex., o deficiente físico), está caindo em desuso. TERMO CORRETO: pessoa com deficiência física.
10. deficiências físicas (como nome genérico englobando todos os tipos de deficiência)
TERMO CORRETO: deficiências (como nome genérico, sem especificar o tipo, mas referindo-se a todos os tipos). Alguns profissionais não-pertencentes ao campo da reabilitação acreditam que as deficiências físicas são divididas em motoras, visuais, auditivas e mentais. Para eles, deficientes físicos são todas as pessoas que têm deficiência de qualquer tipo.
11. deficientes físicos (referindo-se a pessoas com qualquer tipo de deficiência)
TERMO CORRETO: pessoas com deficiência (sem especificar o tipo de deficiência). Ver comentário do item 10.
12. deficiência mental leve, moderada, severa, profunda
TERMO CORRETO: deficiência mental (sem especificar nível de comprometimento). A nova classificação da deficiência mental, baseada no conceito publicado em 1992 pela Associação Americana de Deficiência Mental, considera a deficiência mental não mais como um traço absoluto da pessoa que a tem e sim como um atributo que interage com o seu meio ambiente físico e humano, que por sua vez deve adaptar-se às necessidades especiais dessa pessoa, provendo-lhe o apoio intermitente, limitado, extensivo ou permanente de que ela necessita para funcionar em 10 áreas de habilidades adaptativas: comunicação, autocuidado, habilidades sociais, vida familiar, uso comunitário, autonomia, saúde e segurança, funcionalidade acadêmica, lazer e trabalho.
13. deficiente mental (referindo-se à pessoa com transtorno mental)
TERMOS CORRETOS: pessoa com doença mental, pessoa com transtorno mental, paciente psiquiátrico.
14. doente mental (referindo-se à pessoa com déficit intelectual)
TERMOS CORRETOS: pessoa com deficiência mental, pessoa deficiente mental. O termo deficiente, quando usado como substantivo (por ex.: o deficiente físico, o deficiente mental), tende a desaparecer, exceto em títulos de matérias jornalísticas.
15. “ela é cega mas mora sozinha”
Na frase acima há um preconceito embutido: ‘Todo cego não é capaz de morar sozinho’. FRASE CORRETA: “ela é cega e mora sozinha”.
16. “ela é retardada mental mas é uma atleta excepcional”
Na frase acima há um preconceito embutido: ‘Toda pessoa com deficiência mental não tem capacidade para ser atleta’. FRASE CORRETA: “ela tem deficiência mental e se destaca como atleta”.
17. “ela é surda [ou cega] mas não é retardada mental”
A frase acima contém um preconceito: ‘Todo surdo ou cego tem retardo mental’. Retardada mental, retardamento mental e retardo mental são termos do passado. FRASE CORRETA: “ela é surda [ou cega] e não tem deficiência mental”.
18. “ela foi vítima de paralisia infantil”.
A poliomielite já ocorreu nesta pessoa (por ex., ‘ela teve pólio’). Enquanto a pessoa estiver viva, ela tem seqüela de poliomielite. A palavra vítima provoca sentimento de piedade. FRASE CORRETA: “ela teve [flexão no passado] paralisia infantil” e/ou “ela tem [flexão no presente] seqüela de paralisia infantil”.
19. “ela teve paralisia cerebral” (referindo-se a uma pessoa no presente)
A paralisa cerebral permanece com a pessoa por toda a vida. FRASE CORRETA: ela tem paralisia cerebral.
20. “ele atravessou a fronteira da normalidade quando sofreu um acidente de carro e ficou deficiente”
A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável. A palavra sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos de piedade. FRASE CORRETA: “ele teve um acidente de carro que o deixou com uma deficiência”.
21. “ela foi vítima da pólio”
A palavra vítima provoca sentimento de piedade. TERMOS CORRETOS: poliomielite; paralisia infantil e pólio. FC: ela teve pólio.
22. “ele é surdo-cego”
GRAFIA CORRETA: “ele é surdocego”. Também podemos dizer ou escrever: “ele tem surdocegueira” Ver o item 55.
23. “ele manca com bengala nas axilas”
FRASE CORRETA: “ele anda com muletas axilares”. No contexto coloquial, é correto o uso do termo muletante para se referir a uma pessoa que anda apoiada em muletas.
24. “ela sofre de paraplegia” [ou de paralisia cerebral ou de seqüela de poliomielite]
A palavra sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos de piedade. FRASE CORRETA: “ela tem paraplegia” [ou paralisia cerebral ou seqüela de poliomielite].
25. escola normal
No futuro, quando todas as escolas se tornarem inclusivas, bastará o uso da palavra escola sem adjetivá-la. TERMOS CORRETOS: escola comum; escola regular. Ver o item 7 e 51.
26. “esta família carrega a cruz de ter um filho deficiente”
Nesta frase há um estigma embutido: ‘Filho deficiente é um peso morto para a família’. FRASE CORRETA: “esta família tem um filho com deficiência”.
27. “infelizmente, meu primeiro filho é deficiente; mas o segundo é normal”
A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável, ultrapassado. E a palavra infelizmente reflete o que a mãe pensa da deficiência do primeiro filho: ‘uma coisa ruim’. FRASE CORRETA: “tenho dois filhos: o primeiro tem deficiência e o segundo não tem”.
28. intérprete do LIBRAS
TERMO CORRETO: intérprete da Libras (ou de Libras). Libras é sigla de Língua de Sinais Brasileira. “Libras é um termo consagrado pela comunidade surda brasileira, e com o qual ela se identifica. Ele é consagrado pela tradição e é extremamente querido por ela. A manutenção deste termo indica nosso profundo respeito para com as tradições deste povo a quem desejamos ajudar e promover, tanto por razões humanitárias quanto de consciência social e cidadania. Entretanto, no índice lingüístico internacional os idiomas naturais de todos os povos do planeta recebem uma sigla de três letras como, por exemplo, ASL (American Sign Language). Então será necessário chegar a uma outra sigla. Tal preocupação ainda não parece ter chegado na esfera do Brasil”, segundo CAPOVILLA (comunicação pessoal).
29. inválido (referindo-se a uma pessoa)
A palavra inválido significa sem valor. Assim eram consideradas as pessoas com deficiência desde a Antiguidade até o final da Segunda Guerra Mundial. TERMO CORRETO: pessoa com deficiência.
30. lepra; leproso; doente de lepra
TERMOS CORRETOS: hanseníase; pessoa com hanseníase; doente de hanseníase. Prefira o termo a pessoa com hanseníase ao o hanseniano. A lei federal nº 9.010, de 29-3-95, proíbe a utilização do termo lepra e seus derivados, na linguagem empregada nos documentos oficiais. Alguns dos termos derivados e suas respectivas versões oficiais são: leprologia (hansenologia), leprologista (hansenologista), leprosário ou leprocômio (hospital de dermatologia), lepra lepromatosa (hanseníase virchoviana), lepra tuberculóide (hanseníase tuberculóide), lepra dimorfa (hanseníase dimorfa), lepromina (antígeno de Mitsuda), lepra indeterminada (hanseníase indeterminada). A palavra hanseníase deve ser pronunciada com o h mudo [como em haras, haste, harpa]. Mas, pronuncia-se o nome Hansen (do médico e botânico norueguês Armauer Gerhard Hansen) com o h aspirado.
31. LIBRAS - Linguagem Brasileira de Sinais
GRAFIA CORRETA: Libras. TERMO CORRETO: Língua Brasileira de Sinais. Trata-se de uma língua e não de uma linguagem. segundo CAPOVILLA [comunicação pessoal], “Língua de Sinais Brasileira é preferível a Língua Brasileira de Sinais por uma série imensa de razões. Uma das mais importantes é que Língua de Sinais é uma unidade, que se refere a uma modalidade lingüística quiroarticulatória-visual e não oroarticulatória-auditiva. Assim, há Língua de Sinais Brasileira. porque é a língua de sinais desenvolvida e empregada pela comunidade surda brasileira. Não existe uma Língua Brasileira, de sinais ou falada”.
32. língua dos sinais
TERMO CORRETO: língua de sinais. Trata-se de uma língua viva e, por isso, novos sinais sempre surgirão. A quantidade total de sinais não pode ser definitiva.
33. linguagem de sinais
TERMO CORRETO: língua de sinais. A comunicação sinalizada dos e com os surdos constitui um língua e não uma linguagem. Já a comunicação por gestos, envolvendo ou não pessoas surdas, constitui uma linguagem gestual. Uma outra aplicação do conceito de linguagem se refere ao que as posturas e atitudes humanas comunicam não-verbalmente, conhecido como a linguagem corporal.
34. Louis Braile
GRAFIA CORRETA: Louis Braille. O criador do sistema de escrita e impressão para cegos foi o educador francês Louis Braille (1809-1852), que era cego.
35. mongolóide; mongol
TERMOS CORRETOS: pessoa com síndrome de Down, criança com Down, uma criança Down. As palavras mongol e mongolóide refletem o preconceito racial da comunidade científica do século 19. Em 1959, os franceses descobriram que a síndrome de Down era um acidente genético. O termo Down vem de John Langdon Down, nome do médico inglês que identificou a síndrome em 1866. “A síndrome de Down é uma das anomalias cromossômicas mais freqüentes encontradas e, apesar disso, continua envolvida em idéias errôneas... Um dos momentos mais importantes no processo de adaptação da família que tem uma criança com síndrome de Down é aquele em que o diagnóstico é comunicado aos pais, pois esse momento pode ter grande influência em sua reação posterior.” (MUSTACCHI, 2000, p. 880).
36. mudinho
Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade dessa pessoa. O diminutivo mudinho denota que o surdo não é tido como uma pessoa completa. TERMOS CORRETOS: surdo; pessoa surda; deficiente auditivo; pessoa com deficiência auditiva. Ver o item 56.
37. necessidades educativas especiais
TERMO CORRETO: necessidades educacionais especiais. A palavra educativo significa algo que educa. Ora, necessidades não educam; elas são educacionais, ou seja, concernentes à educação (SASSAKI, 1999). O termo necessidades educacionais especiais foi adotado pelo Conselho Nacional de Educação (Resolução nº 2, de 11-9-01, com base no Parecer nº 17/2001, homologado em 15-8-01).
38. o epilético
TERMOS CORRETOS: a pessoa com epilepsia, a pessoa que tem epilepsia. Evite fazer a pessoa inteira parecer deficiente.
39. o incapacitado
TERMO CORRETO: a pessoa com deficiência. A palavra incapacitado é muito antiga e era utilizada com freqüência até a década de 80.
40. o paralisado cerebral
TERMO CORRETO: a pessoa com paralisia cerebral. Prefira sempre destacar a pessoa em vez de fazer a pessoa inteira parecer deficiente.
41. “paralisia cerebral é uma doença”
FRASE CORRETA: “paralisia cerebral é uma condição”. Muitas pessoas confundem doença com deficiência.
42. pessoa normal
TERMOS CORRETOS: pessoa sem deficiência; pessoa não-deficiente. A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável e ultrapassado.
43. pessoa presa (confinada, condenada) a uma cadeira de rodas
TERMOS CORRETOS: pessoa em cadeira de rodas; pessoa que anda em cadeira de rodas; pessoa que usa uma cadeira de rodas. Os termos presa, confinada e condenada provocam sentimentos de piedade. No contexto coloquial, é correto o uso dos termos cadeirante e chumbado.
44. pessoas ditas deficientes
TERMO CORRETO: pessoas com deficiência. A palavra ditas, neste caso, funciona como eufemismo para negar ou suavizar a deficiência, o que é preconceituoso.
45. pessoas ditas normais
TERMOS CORRETOS: pessoas sem deficiência; pessoas não-deficientes. Neste caso, o termo ditas é utilizado para contestar a normalidade das pessoas, o que se torna redundante nos dias de hoje.
46. pessoa surda-muda
GRAFIA CORRETA: pessoa surda ou, dependendo do caso, pessoa com deficiência auditiva. Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade dessa pessoa. A rigor, diferencia-se entre deficiência auditiva parcial (quando há resíduo auditivo) e surdez (quando a deficiência auditiva é total). Ver item 57.
47. portador de deficiência
TERMO CORRETO: pessoa com deficiência. No Brasil, tornou-se bastante popular, acentuadamente entre 1986 e 1996, o uso do termo portador de deficiência (e suas flexões no feminino e no plural). Pessoas com deficiência vêm ponderando que elas não portam deficiência; que a deficiência que elas têm não é como coisas que às vezes portamos e às vezes não portamos (por exemplo, um documento de identidade, um guarda-chuva). O termo preferido passou a ser pessoa com deficiência. Ver comentários aos itens 2 e 48.
48. PPD’s
GRAFIA CORRETA: PPDs. Não se usa apóstrofo para designar o plural de siglas. A mesma regra vale para siglas como ONGs (e não ONG’s). No Brasil, tornou-se bastante popular, acentuadamente entre 1986 e 1996, o uso do termo pessoas portadoras de deficiência. Hoje, o termo preferido passou a ser pessoas com deficiência, motivando o desuso da sigla PPDs. Ver o item 47.
49. quadriplegia; quadriparesia
TERMOS CORRETOS: tetraplegia; tetraparesia. No Brasil, o elemento morfológico tetra tornou-se mais utilizado que o quadri. Ao se referir à pessoa, prefira o termo pessoa com tetraplegia (ou tetraparesia) no lugar de o tetraplégico ou o tetraparético.
50. retardo mental, retardamento mental
TERMO CORRETO: deficiência mental. São pejorativos os termos retardado mental, pessoa com retardo mental, portador de retardamento mental etc. Ver comentários ao item 12.
51. sala de aula normal
TERMO CORRETO: sala de aula comum. Quando todas as escolas forem inclusivas, bastará o termo sala de aula sem adjetivá-lo. Ver os itens 7 e 25.
52. sistema inventado por Braile
GRAFIA CORRETA: sistema inventado por Braille. O nome Braille (de Louis Braille, inventor do sistema de escrita e impressão para cegos) se escreve com dois l (éles). Braille nasceu em 1809 e morreu aos 43 anos de idade.
53. sistema Braille
GRAFIA CORRRETA: sistema braile. Conforme MARTINS (1990), grafa-se Braille somente quando se referir ao educador Louis Braille. Por ex.: ‘A casa onde Braille passou a infância (...)’. Nos demais casos, devemos grafar: [a] braile (máquina braile, relógio braile, dispositivo eletrônico braile, sistema braile, biblioteca braile etc.) ou [b] em braile (escrita em braile, cardápio em braile, placa metálica em braile, livro em braile, jornal em braile, texto em braile etc.). Ver o item 58.
54. “sofreu um acidente e ficou incapacitado”
FRASE CORRETA: “teve um acidente e ficou deficiente”. A palavra sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos de piedade.
55. surdez-cegueira
GRAFIA CORRETA: surdocegueira. É um dos tipos de deficiência múltipla. Ver o item 22.
56. surdinho
TERMOS CORRETOS: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. O diminutivo surdinho denota que o surdo não é tido como uma pessoa completa. Os próprios cegos gostam de ser chamados cegos e os surdos de surdos, embora eles não descartem os termos pessoas cegas e pessoas surdas. Ver o item 36.
57. surdo-mudo
GRAFIAS CORRETAS: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade dessa pessoa. A rigor, diferencia-se entre deficiência auditiva parcial (quando há resíduo auditivo) e surdez (quando a deficiência auditiva é total). Evite usar a expressão o deficiente auditivo. Ver o item 46.
58. texto (ou escrita, livro, jornal, cardápio, placa metálica) em Braille
TERMOS CORRETOS: texto em braile; escrita em braile; livro em braile; jornal em braile; cardápio em braile; placa metálica em braile. Ver comentários ao item 53.
59. visão sub-normal
GRAFIA CORRETA: visão subnormal. TERMO CORRETO: baixa visão. É preferível baixa visão a visão subnormal. A rigor, diferencia-se entre deficiência visual parcial (baixa visão) e cegueira (quando a deficiência visual é total).
Autoria deste trabalho:
Romeu Kazumi Sassaki In: VIVARTA, Veet (coord.). Mídia e deficiência. Brasília: Andi/Fundação Banco do Brasil, 2003, p. 160-165.
* Consultor de inclusão social. Autor do livro Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos (3.ed., Rio de Janeiro: Editora WVA ,1999) e do livro Inclusão no Lazer e Turismo: Em Busca da Qualidade de Vida (São Paulo: Áurea, 2003). Co-autor do livro Trabalho e Deficiência Mental: Perspectivas Atuais (Brasília: Apae-DF, 2003) e do livro Inclusão dá Trabalho (Belo Horizonte: Armazém de Idéias, 2000)
(Encontrado em
http://www.pessoacomdeficiencia.sp.gov.br/portal.php/terminologia )

(Lembrando dos Titãs nomeando bois, no álbum Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas. Eu fui a um dos shows da turnê desse álbum...)