quarta-feira, 13 de junho de 2018

CONTANDO A VIDA 235

FUTEBOL: POLÍTICA, RELIGIÃO E SEXO..

José Carlos Sebe Bom Meihy 

Afinal, há relação entre futebol e política? E quais são os nexos com o sublime, transcendental ou com “o andar de cima”? Sexo durante o campeonato, é oportuno, desconcentra ou relaxa? Vamos aos argumentos, um por um, ainda que em voos rápidos... 

O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito aos possíveis paralelos entre regimes políticos e a performance da seleção. Todos os brasileiros têm opinião formada sobre aproximações que, contudo, são discutíveis graças aos deuses, orixás e aos críticos instruídos. Para começar uma conversa que tem vocação para o infinito, vale lembrar que nossa primeira Copa vencida se deu em um momento em que a democracia fulgurava no céu da pátria naquele instante. Ano agitado 1958, tempo em que além da Taça do Mundo, o Brasil se apresentava ao planeta com a Bossa Nova, Brasília era chamada de Capital da Esperança e o Cinema Novo deslumbrava cinéfilos. A “pátria de chuteiras” finalmente parecia ter vencido o “complexo de vira-lata” para usar expressões de Nelson Rodrigues. Acontece que outras vitórias do nosso escrete ocorreram em momentos adversos e exatamente por isso ganharam significações espantosas, de compensação ou catarse ou quase vingança. Em 1970, por exemplo, atravessávamos um estreitamento político sufocante, mas mesmo assim conseguimos superar o desastre de 1966 quando o fracasso foi visto como coerente com a lógica ultra disciplinadora da ditadura. Depois, em 70, batemos a Itália por 4 X 1, e delirante, a torcida nacional se uniu como anúncio de movimentos que começavam a extrapolar a opressão imposta pelos militares. A campanha de 1982 continua inexplicável até hoje e não há como engolir a “derrota honrosa” em tempo que tinha a abertura política adiantada. Pouco se tem a dizer do fracasso de 1986 ocasião em que o otimismo arrogante provou ser vulnerável e fez amargo o resultado final, isso apesar da democracia posta. Depois, em 1990, com Dunga no comando, naufragamos outra vez num vexame humilhante, mas houve recuperação em 1994, com o mesmo técnico no mando do esquadrão. Na amplitude das liberdades políticas em 1998, fomos engolidos com o mesmo Ronaldo Fenômeno que teve convulsão minutos antes da partida. Em 2004, vimos nossa estrela brilhar esplendorosa. Moral dessa breve retomada: uma coisa não tem a ver com outra. Os resultados dessas disputas não remetem ao sentido político do governo, seja ele qual for. 

Mas, não é só com a política que se busca o entendimento do futebol. A religião também fere o diálogo meramente esportivo, laico e despolitizado. Nesse campo, aliás, uma das primeiras situações analíticas evocava o velho jargão que dizia que se macumba ganhasse jogo, os times baianos seriam campeões. Pois é, tudo mudou muito. Se antes eram os despachos das macumbas que se insinuavam, hoje são outros os signos religiosos emergentes. Neymar Jr postou no Instagram seu agradecimento pela recuperação a tempo de ir para a Rússia dizendo “para ti Senhor, toda honra e toda glória”. Convém lembrar que por ocasião de algumas vitórias ele ostentou dizeres como “100% Jesus”. É fácil achar nas contas de quase todos os jogadores referências como “Ele no Comando”, “Deus é Fiel”, “Graças a ti Senhor”. Pode-se dizer que a religiosidade no futebol tem história: dos chamados cultos afro, passou-se para a fase dos “Atletas de Cristo”, entidade vigente na década de 1980 e 90; depois as divulgações dos círculos de oração antes de entrar em campo se compuseram com a estranha mania brasileira de rezar antes da entrada no campo. Repete-se, aliás o mesmo círculo após terminada uma partida vitoriosa que deve juntar os atletas em círculo, no meio do gramado agradecendo a Deus pelo resultado. A insistência de manifestações religiosas tem riscos, pois pode dividir companheiros, e nessa linha, é oportuno lembrar que isso até deveria ser dispensável, pois afinal, Deus não é brasileiro? 

E sexo, é permitido? O debate esquenta quando os argumentos apresentados pela delegação alemã garantem que relações sexuais desconcentram os jogadores e tiram sua atenção que deve se manter atenta ao alvo final, a vitória. Em oposição, Tite, baseado no pressuposto do relaxamento, permite que haja sexo nos dias de intervalo dos jogos. As duas propostas se apoiam em teorias ditas científicas ou médicas. No primeiro caso, a manutenção de tensões é vista como positiva e assim qualquer desvio deve ser evitado. Para outros, vale exatamente o oposto, ou seja, depois de cada etapa, mais à vontade, os atletas renderiam mais. 

Seja pela política, pela inspiração religiosa ou pelas (dis)tensões biológicas, interessa manter viva a esperança de que pelo futebol tenhamos um momento de união e sem ódio divisor. E de esperança também. Como brasileiro, vivendo os tempos difíceis que nos acometem, há que se resignar de fatalidades e mais falências, frações, raivas ou rivalidades. Vamos acreditar, manter a esperança para quem sabe, depois dos resultados finais, possamos testar estas reflexões. Bola prá frente...

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