sábado, 2 de outubro de 2010

MEU LIMÃO, MEU LIMOEIRO...


Roberto Rillo Bíscaro

O azedume do limão faz a fruta simbolizar as dificuldades da vida, que te dá vários (pra enfrentá-la, faça uma limonada). Representa também pureza em sua assepsia azeda. Lembram de Djavan falando da pureza do limão em “Faltando um Pedaço”?
Em Etz Limon (no Brasil, batizado de Lemon Tree), uma plantação de limões torna-se pomo da discórdia entre judeus e palestinos. O ministro da defesa israelense muda-se para o lado da propriedade de Salma, viúva que tira seu parco sustento da plantação de limões herdada do pai. Como a região situa-se na explosiva fronteira entre Israel e Cisjordânia, as árvores são percebidas como potencial esconderijo pra terroristas. Diante da ordem do governo israelense pra que o pomar seja cortado, Salma começa uma batalha nos tribunais pra reverter a imposição.
Em 2008, o diretor Eram Riklis e a roteirista Smadar Yaaron contaram essa história com maestria, em um filme envolvente, nuançado, humano e muito, mas muito bem interpretado. A atuação de Hiam Abbass, como Salma, é irretocável, num papel difícil, porque muito tem que ser transmitido com o olhar e diálogos poucos e curtos.
A não ser num certo alívio cômico representado por um soldado israelense, Etz Limon jamais cai na representação simplista de judeus e árabes. Embora pessoalmente não deseje a ruína da palestina, o ministro genuinamente teme pela segurança. Não é mal sujeito, mas também somos lembrados que trata a esposa com frieza e talvez a traia.
Ao ensaiar um início de envolvimento amoroso com o advogado que a defende, Salma é ameaçada com vergonha social por alguns membros da comunidade palestina. Por outro lado, a esposa do ministro também é sufocada pelo patriarcalismo judeu, ainda que use calça comprida e outros símbolos da “liberdade” da mulher ocidental.
Aliás, é na silenciosa e proibida ligação entre as 2 mulheres que percebemos o absurdo da situação de gente basicamente decente, atirada num meio social e cultural hostil á conciliação. Claro que poderia ser alegado que essas pessoas também constituem esse meio sócio-cultural...
Etz Limon trata do conflito entre árabes e judeus usando o limoeiro como metáfora da guerra e expressa a dificuldade para a conciliação entre grupos tão distintos, porém, tão semelhantes. Um grande filme, humano e cinematograficamente acessível.  

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