quarta-feira, 27 de outubro de 2010

CONTANDO A VIDA 10

Como apresentar uma crônica que fala sobre mim, o blog e a causa albina? Assim, não há tentativa de imparcialidade que dê certo! Nada me resta, a não ser agradecer as gentis palavras e o perene apoio do professor Sebe a meus projetos pessoais, dentre eles, este blog, que extrapolou o individual para tornar-se coletivo.


DIVERSIDADE: ALBINISMO MITOS E PRECONCEITOS.
José Carlos Sebe Bom Meihy

Das boas coisas da vida é acompanhar o trajeto de jovens que foram alunos ou que cruzaram nossa trajetória por motivos plurais. Vibro, emociono-me, dou graças aos céus por ser testemunho de tantos que crescem e se assumem cidadãos que fazem a diferença. Há casos, no entanto, que tocam mais do que outros e, nesse sentido, vivo uma experiência delirante. Certa feita, na USP encontrei-me com um jovem e ficamos amigos. Ele, aluno de letras, se interessava por assuntos variados e acabou por experimentar um curso sobre história oral. Vendo que seria área complementar, naquele então, desistiu, mas continuamos a trocar mensagens num ritmo progressivo. Desde então não passa dia sem que nossas caixas atem mais e mais admiração e parceria. E acontece de tudo: informações, resenhas, notícias políticas, troca de sugestões, músicas. Como temos desacordos, a dinâmica é grande e até nos estranhamos – sempre provisoriamente. Paralelo a diferença, porém, aprendemos a nos respeitar e mantemos a mais estreita relação cibernética. Pois bem, esse rapaz de nome Roberto Rillo Biscaro é albino. Branquinho, branquinho, cresceu intelectualmente sem ser defensivo. Gosta de línguas estrangeiras e não satisfeito com o mestrado em teatro norte-americano doutorou-se na mesma área. Preparando-se para vôos maiores, entre outras situações, agora lançou um blog que é mote desta ponderação.
Diferentemente de tantos blogs hedonistas, tolos, gerais demais, Roberto estabeleceu um eixo: o debate sobre diversidade e o espaço que o albino encontra no vasto conjunto de “diferentes”. Sem ser obsessivo, o blog abriga discussão sobre cinema, literatura e música. Tudo muito leve, sutil, conduzido com humor e pertinência. Há também algo de poético na medida em que a sedução é parte da proposta de continuidade. Mas, o forte é mesmo o conteúdo sobre o albinismo. Acompanhando o blog desde a semente, noto que em curto espaço de tempo deixou a exclusividade do possível espaço da lamúria e da denúncia, para o reconhecimento e promoção dos albinos. Logicamente, a construção de um panteão de ilustres se ergueu como positividade, algo na base do “orgulho albino”. De outro jeito, até por contrastes, perseguições, manifestações preconceituosas continuam mostradas, mas como complemento. De meu lado, luto muito para a valorização de situações favoráveis ao lugar digno desse grupo. Afinal, sobre cadeirantes, há política; sobre negros, há políticas, sobre surdos, há políticas, mas, sobre albinos... Sobre albinos paira uma invisibilidade perturbadora.
Em favor da necessidade de estabelecimento de políticas afirmativas para este grupo torna-se necessário um estudo amplo sobre essa condição. E há histórias que merecem cuidados. Aprendi, por exemplo, que em um dos textos apócrifos da Bíblia, no Livro de Enoc, o nascimento de Noé é considerado estranho, pois “a criança, cuja pele era branca como a neve e vermelha como uma rosa; cujo cabelo era comprido e alvo como a lã e cujos olhos eram lindos, quando os abriu, iluminou toda a casa, como o sol”. O avô, Matusalém, o viu como “fruto dos anjos do céu”, é, aquele Noé, “escolhido por Deus para salvar todos os animais”. Esta aproximação dos albinos com os anjos também está presente em outra lenda importante, relacionada com o Brasil. Em Lençóis Maranhenses há uma vasta comunidade de albinos. Reza a tradição que eles vieram para o Brasil com o Rei dom Sebastião que sumiu, em 1540, na Batalha de Alcacer Q Bir. Os anjos que teriam transportado o “Rei Ausente” seriam os antepassados dos atuais albinos.
É lógico que não basta exaltar os albinos. Problemas sérios de saúde os acometem. Os problemas sociais não são menores, coisas do tipo lugar profissional, falta de consideração nas artes, pouco destaque como temas de estudo seja médico ou social. É a favor da divulgação desta causa que recomendo e da formulação de políticas públcias que convoco todos a uma visita e divulgação desse blog. Se você conhece alguém que junte inteligência e sensibilidade, empenho cidadão e responsabilidade social recomende: http://albinoincoerente.com/

2 comentários:

  1. Linda crônica!

    Nem tenho muito mais palavras =D

    Ah! não sei se é coincidência ou não, tenho me deparado com muitos mais albinos agora, neste ano, do que em toda a minha vida. E nem dá para dizer, que eu não prestava atenção antes.

    Mas como puxar papo? normalmente vejo as pessoas na rua ou no metrô passando por mim, ainda não tive a oportunidade de sentar ao lado e ficar um tempo maior durante a viagem para dar conta de começar a conversar.

    ResponderExcluir
  2. Como mãe de um lindo e extraordinario albino
    sei bem o que é preconceito, talves mais que os proprios albinos sofri e sofro na alma essa
    triste realidade. Mas fico muito feliz ao ver que nem todos se deixam abater pelo preconceito e pela falta de oportunidades que a sociedade ofereçe a pessoas "albinas".
    Lutar è a melhor das defesas.

    Bjs e luz pra todos♥

    Sandra

    ResponderExcluir