terça-feira, 8 de julho de 2014

TELINHA QUENTE 127


Roberto Rillo Bíscaro

Arne Dahl é o pseudônimo do sueco Jan Arnald, que desde o fim do século passado engrossa o sucesso da literatura policial escandinava com seus romances protagonizando o A Gruppen: detetives de formação, especialidade e temperamento diferentes, que resolvem intrincados casos.
Os 5 primeiros livros da série foram transformados em telefilmes, exibidos entre 2011/2 na Suécia. Cada programa tem 180 minutos, resultando em tempo suficiente pra solucionar os mistérios e também pra conhecermos cada vez melhor os membros do A Gruppen, com os quais nos importamos crescentemente. Se matarem algum na prometida próxima série, juro que enlutarei; especialmente se se atreverem a eliminar o Viggo Norlander, meu favorito! Que lindo, vê-lo meio caidaço e descrente no primeiro episódio pra metamorfosear-se em personagem até divertida.
A ênfase no trabalho em equipe e a observação de cada membro do A Gruppen dá o charme essencial a Arne Dahl (como foi batizada a série). A também sueca Irene Huss empalidece em comparação nesse quesito, porque pouco sabemos dos demais membros de seu esquadrão. Em Arne Dahl diversas histórias chegam a ter íntimas conexões com alguns dos detetives –até meio exageradas no episódio Europa Blues, reviravoltante trama transeuropeia interlaçando nazismo, troca de identidades, prostitutas russas.
A interconexão de fios de trama aparentemente desconexos é outro ponto forte de Arne Dahl e de Nordic Noir em geral. Crimes e eventos separados mostram-se como causa e efeito ao passo que obviedades são evitadas.
A série não serve pros apreciadores de correria, tiroteios e banhos de sangue. Nordic Noir é em meio tom e cozinha em fogo lento; no caso do episódio Upp Till Toppen Av Berget, sobre pedofilia, alguns momentos foram vagarosos e distantes demais da trama central até pra mim, acostumado a esse tipo de narrativa. Sintam-se alertados os viciados em adrenalina. 
Em quase todo episódio, um par de minutos é dedicado à interação do faxineiro persa com algum membro do A Gruppen, parte que menos apreciei e em 2 ocasiões, detestei. A intenção era tonalizar a trama com algo semelhante ao realismo mágico, parece, uma vez que o homem sempre destila alguma sabedoria que influenciará na vida particular dos detetives ou na resolução da trama. Até aí, eu poderia aceitar – mesmo achando que quebra a verossimilhança – mas o cara apagar uma lousa e quando dito pra parar, retroceder o apagador e as letras reaparecerem fica difícil de engolir.
Esse deslize de excesso de poeticidade, todavia, não obscurece a qualidade de Arne Dahl, que em sua paciência escandinava conta histórias envolventes com um grupo humano e não meras personagens ocas e estereotipadas.

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