quinta-feira, 24 de julho de 2014

TELONA QUENTE 95

Jeitinho Romeno

A Romênia vive sua Nova Onda cinematográfica. Em 2007, por exemplo, Cristian Mungiu ganhou a Palma de Ouro por seu realista e deprimente 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, sobre uma garota que tenta um aborto na era Ceuasescu. Resenhei o filme de estreia do diretor, Occident (2002), texto que você pode ler aqui.
Ano passado, o Urso de Prata do Festival de Berlim foi pra Poziția Copilului (Institnto Materno, em nossos cinemas),  drama dirigido por Călin Peter Netzer. A trama se passa na atualidade e apresenta um setor da classe-média que age de modo muito semelhante ao dum país latino-americano famoso pelo decantado “jeitinho”.
Cornelia é cenógrafa e loira oxigenada, mãe superprotetora de Dinu. Quando o filho se envolve em um atropelamento fatal, que vitima um adolescente pobre, ela ativa sua rede de contatos pra fazer de tudo pra livrar o trintão das consequências.
O tema do sufocamento materno salta aos olhos, porque o roteiro insiste – um tanto exageradamente – na vontade ditatorial de Cornelia, que apenas conseguiu criar um filho tão insensível ao outro, inclusive à própria mãe, como ela. A atriz Luminita Gheorghiu dá um banho de interpretação, seja transmitindo a antipática soberba de quem se acha no direito de levar vantagem em tudo, seja desabando em frente ao pai do garoto atropelado. Mas, sem a condução emocional de trilha sonora incidental e com atuações sóbrias, Poziția Copilului transmite todo o calculismo frio das relações humanas reificadas.
A dimensão social penetra no relacionamento paternalista com a empregada, a qual Cornelia presenteia com um sapato usado e chama pra tomar café juntas apenas pra poder reclamar do filho ou na relação com os policiais, que não demoram a querer tirar casquinha das possíveis conexões sociais de Cornelia. Enfim, Poziția Copilului trata de níveis de corrupção que permeiam desde o relacionamento familiar até as instituições.

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