sábado, 12 de novembro de 2011

LIVRES PRA EMIGRAR

Em 2007, Cristian Mungiu ganhou a Palma de Ouro por seu realista e deprimente 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, sobre uma garota que tenta um aborto na Romênia da era Ceuasescu, que proíbe a prática, ao mesmo tempo que não oferece infra pra população. Gostei tanto que decidi ver seu longa de estréia, Occident (2002), ainda que tenha demorado anos pra fazê-lo.
Com um tom bastante diverso do filme de 2007, o début de Mungiu não é distinto em perícia técnico-narrativa. 3 histórias se entrelaçam, envolvendo mesmas personagens e apresentando novas. Essas histórias alteram o modo como vemos o já assistido, quebram expectativas narrativas e acrescentam camadas motivacionais às personagens. O roteiro está muito bem alinhvaado e a preocupação do diretor com leitmotifs e recorrências faz a delícia de espectadores que prestam atenção a detalhes visuais, como quadros, placas etc. No quesito técnica, a coisa vai muito bem.
Na Bucarest pós-comunista a vida não é fácil, apesar da invasão dos Mac-dias felizes e da adoção do livre-mercado. Muita gente sonha em emigrar. Junto com a entrada da felicidade capitalista, vêm os estrangeiros pra treinar a polícia romena e deixá-la competente pruma possível união europeia  e outros em busca de crianças pra adotar ou noivas pra casar. Não pude deixar de ver Occident como espécie de prequel particular pra Je Vous Trouve Très Beau.
A despeito de mostrar a dificuldade e certa falta de perspectiva na Romênia do início do atual século, Occident não perde o bom humor, cresce a cada momento e parece apontar pra desnecessidade de se abandonar o torrão natal, ao mesmo tempo em que não apresenta razões fortes o bastante pra se permanecer em solo romeno.
Na época de Ceausescu, as personagens emigravam ilegalmente cruzando o Danúbio a nado. O capitalismo deu-lhes a liberdade pra emigrar. Progresso...

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