quinta-feira, 15 de outubro de 2015

TELONA QUENTE 132

Roberto Rillo Bíscaro

John Ruskin foi personalidade bastante conhecida e influente na Inglaterra vitoriana e eduardiana. Escreveu sobre política, arte e pode ser considerado um dos precursores da sustentabilidade e do ambientalismo em sua crítica à dilapidação da natureza pela cidade industrial. Pintor, palestrante, professor, o homem não parava de produzir. Mas, na cama, deixou muito a desejar, a julgar pela mais recente tentativa de dramatização de seu matrimônio jamais consumado com Effie Gray.
A oscarizada Emma Thompson roteirizou Effie Gray (2014), que investe bastante nos efeitos psicossomáticos da rejeição e abstinência sexual forçada da jovem Effie. Seu casamento com Ruskin tinha muitos elementos pra dar errado mesmo: ela vivia na casa onde o avô do intelectual se suicidara e sua família estava arruinada e muito provavelmente tenha incentivado a união por conveniência. Só que quase nada disso está no filme, fascinado com a queda de cabelo da jovem mal amada.
Ruskin é representado como um sujeito emocionalmente distante, dominado pelos pais, pudico e interessado apenas no intelecto, além de demonstrar profundo desprezo de classe por Effie, que por sua vez, não apresenta defeito aparente a não ser ter cometido o supremo pecado de tentar ser sexy na noite de núpcias vitoriana.  O interesse da jovem por borboletear socialmente e seu envolvimento com o pintor John Everet Millais entram quase de raspão na película, que sequer esclarece quem não conhece a história sobre o futuro de cada personagem.
Com sua parcialidade e interesse nos aspectos da somatização em detrimento de acontecimentos, Effie Gray nunca acontece como filme; parece um esboço, pra ficar no terreno metafórico da pintura, tão cara à produção. Tudo muito britânico, tudo muito clichê de “filme de época” (nada contra, amo, inclusive), música incidental sensível, elenco ótimo com os veneráveis Derek Jacobi, Julie Walters e a própria Thompson.
Faltou apenas interessar. 

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