terça-feira, 10 de dezembro de 2013

TELINHA QUENTE 102

Mais de uma vez elogiei filmes e séries por seu charme retrô. Releituras, revivals; amo muito tudo isso, mas tem que possuir charme, elemento do qual a comédia britânica Vicious é destituída.
Os 6 episódios da temporada de estreia foram exibidos no primeiro semestre pela iTV, a mesma de Downton Abbey – citada à larga em um episódio. Vi em 3 dias com a vã esperança de que o nível subisse. Vicious ter sido renovada pruma segunda vinda pode significar que algo potencialmente inteligente e/ou divertido ficou fora do ar. Crime.
Vicious centra-se num casal gay junto há 48 anos. O tempo e as derrotas individuais fizeram com que Freddie e Stuart passem o tempo se atacando e diminuindo, embora se amem. O espectador é jogado nessa arena de leoas estereotipadamente afetadas. O jovem vizinho hétero e a velha amiga desesperada por homem aparecem todo episódio pra contribuir com mais sem gracismo repetitivo.
O cenário permanece inalterado quase o tempo todo, ainda existe a plateia programada pra rir a qualquer piada, fazendo com que o show se pareça com seus congêneres dos anos 1970. O estereótipo da bicha velha afetada e podre empurra Vicious ainda mais pra trás temporalmente.
A efeminação exagerada do casal nem me incomodou, afinal, é típico da comédia exagerar na representação, caricaturando tipos. Nem considero Vicious homofóbico – pelo menos não intencionalmente, embora permita tal leitura – até porque Sirs Ian McKellen e Derek Jacobi são gays.
Os atores parecem se divertir em cena, mas mal consegui sorrir. Em 2013, ainda há graça em mangas de casaco arrancadas ou pés ficando presos sob mesas? E o que dizer das piadas fossilizadas a partir mesmo do primeiro episódio? Não demora pra percebermos os truques baratos dos diálogos supostamente engraçados. Exemplo: a partir da terceira piada aprendemos que se alguém deixa uma situação em aberto pra alguma ação ou réplica, elas virão em sentido contrário. Tão divertido e instigante como enxugar louça.
McKellen e Jacobi – 2 instituições das artes cênicas britânicas – devem estar desesperados pra garantir os fundos necessários pruma aposentadoria luxuosa ou relutam em abandonar o protagonismo. Só isso explica o aceite pra participar dessa bomba. Fosse eu vicious como Stuart e Freddie, escreveria que estão no estágio inicial de senilidade e começam a perder o senso do ridículo.  
Pra não dizer que sou azedo, curti a música de abertura, regravação oitentista de Never Can Say Goodbye, dos Communards, na voz de Jimmy Somerville, tentativa inglesa branquela de soar como o divo disco Sylvester.
E ri uma vez, sim, apenas uma risada em 6 episódios. Embora também totalmente previsível, o voice over de Judi Dench, vivendo ela mesma ao telefone, foi impagável.
Nem uma noite de insônia me fará perder tempo com a segunda temporada.

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