quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

TELONA QUENTE 112

Roberto Rillo Bíscaro

Em janeiro do ano passado, vi Cecilia Roth e Dario Grandinetti na morna Una Relacion Pornográfica (leia aqui). Há pouco, descobri que em 2013, os argentinos estrelaram Matrimonio, do diretor Carlos Jaureguialzo. Como considero queridos os protagonistas, dei-lhes nova oportunidade.
Esteban e Molly estão em crise, após mais de 20 anos juntos. Ela deprimida e à beira duma relação extraconjugal; ele com bloqueio criativo em sua agência de publicidade. O filme mostra um dia em suas vidas – Stephen e Molly são o par central do Ulysses, de James Joyce, que serviu de inspiração pra Matrimonio. Só que a película argentina não deixará rastros como o romance irlandês.
A crise matrimonial corporifica-se imageticamente, porque Roth e Grandinetti quase não aparecem juntos. Ambos passam boa parte de Matrimonio fazendo coisas e/ou perambulando por Buenos Aires. Por vezes, seus percursos tangenciam-se, porque o filme mostra o dia do casal separadamente, explorando as diferenças de ponto de vista.
Cheio de referências modernistas tipo Ingmar Bergman e Simone de Beauvoir, o diretor escolheu maneira pós-moderna de contar sua história. Essa discrepância certamente conta pra decepção causada, mas o que mais pesa é que o dia de Esteban é tão chato, que quando chega a parte de Molly, a possibilidade de empatia já se escoara.
Mais interessante que o marido –não muito mais -, Molly oferece mais ideias e questões, mas isso não salva Matrimonio da vala comum das ações inverossímeis (uma portenha não sabe que não se fuma no metrô ou em hospital? Me deixa, né?), forçadas (ficar presa no elevador e sofrer sequestro-relâmpago em seguida?) e diálogos algo pomposos e forçados.
Elegantemente filmado e bem atuado, Matrimonio - como Una Relacion Pornográfica - ainda não é o veículo apropriado prum casal tão talentoso como Roth e Grandinetti.

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