terça-feira, 28 de outubro de 2014

TELINHA QUENTE 138




Roberto Rillo Bíscaro

Questionado sobre suas séries favoritas, Bryan Brown, da australiana Old School, mencionou Breaking Bad, Mad Men e “todas as norueguesas”, Forbrydelsen, Borgen, Bron/Broen. Não interessa aqui a confusão que o veterano ator fez entre os países escandinavos, uma vez que nenhum dos programas citados vem da terra do A-Ha. Importa o impacto que o Nordic Noir vem tendo sobre países de língua inglesa.
Replicando a invasão viking, o Reino Unido foi o primeiro território estrangeiro anglofalante conquistado por esse sub-gênero policial, tanto literária quanto televisivamente. Não estranha, portanto, que dos domínios de Elizabeth II venha a primeira série assumidamente influenciada até a medula pelo jeito escandinavo de narrar crimes.
O que pode surpreender é que Hinterland (2014) tenha vindo do País de Gales, parte menos cotada do reino que recentemente esteve em perigo de perder um de seus membros. Mas é esse isolamento/desconhecimento um dos ligamentos do programa com a também remota Escandinávia, que muitos julgam conhecer, só que não.
São 4 episódios com histórias independentes que duram 90 minutos. Todos os ingredientes do Scandi-drama (outra nomenclatura pra Nordic Noir) sussurram presente: lentidão pra contar a história, silêncios, um detetive atormentado com cara de quem precisa de antidepressivo, uso quase inexistente de armas de fogo, música incidental meio fantasmagórica e insistência em mostrar paisagens florestais, céu e casas isoladas à beira-mar. Mas, sorry Gales, pelo que vi a Escandinávia é muito mais linda! Outra coisa: quanta moradia caindo aos pedaços! Cadê o primeiro mundo, gente?
Como há 2 sistemas linguísticos operando no país – muita gente fala galês – a sensação de exotismo pro público inglês deve ter se aproximado a duma série dinamarquesa, porque diversos segmentos têm que ser legendados em inglês. Na verdade, a série foi filmada 2 vezes, porque uma das versões é em galês. Vi a inglesa.
Tom Mathias, o detetive, veio da Inglaterra e não domina o galês. Isso reforça seu não-pertencimento, mas também o aproxima da maioria dos espectadores, tão forasteiros naquele ambiente rural quanto ele. Difícil é empatizar com um sujeito tão macambúzio, mas isso não é defeito, tem que ser assim pro show ter maior efeito.
As tramas são duma melancolia por vezes abissalmente melodramática como a primeira, onde é difícil imaginar como uma personagem pôde ser tão psicologicamente aniquilada.
A BBC Wales anunciou que haverá segunda temporada de Hinterland (Y Gwyll, em galês), mal posso esperar! 

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