terça-feira, 20 de dezembro de 2011

TELINHA QUENTE 32

Quem Matou Nanna Birk Larsen?


Roberto Rillo Bíscaro

Perguntei retoricamente diversas vezes no Facebook, a ponto duma ex-aluna sugerir-me procurar a resposta com São Google. Mas, pra que estragar o prazer masoquista de se torturar conjeturando sobre o assassino da dinamarquesa de 19 anos? Descobri apenas no último capítulo de Forbrydelsen (2007), thriller jutlândico, que se tornou sucesso cult na Inglaterra, a ponto de a atriz Sofie Gråbøl ter sido convidada pruma participação no especial natalino de Absolutely Fabulous deste ano. Mal posso esperar, assim como pelo especial de Natal de Downton Abbey!  
A história se passa em 20 dias, no lúgubre e molhado inverno dinamarquês, o que contribui pro tom sombrio e sério da produção. A detetive Sarah Lund envolve-se em intrincado jogo policial e político, uma vez que a morte da comportada Nanna envolve a equipe de Troels Hartmann, candidato a prefeito de Copenhague. Há momentos em que a trama política fica mais excitante do que a detetivesca.
Acertada a decisão de criar uma jovem bem-comportada, caso contrário as comparações com Twin Peaks seriam inevitáveis. Os Birk Larsen não são os Palmer e o roteirista Søren Sveistrup toma uma direção realista, bem distinta do maluquete David Lynch.
Forbrydelsen dedica cada capítulo a um dia da investigação, dando tempo pra que conheçamos bem as personagens e descubramos seus segredos sem muita pressa. Faca de 2 gumes, porque há momentos em que o motorzinho dramático poderia funcionar um pouco mais rápido. Os norte-americanos – preguiçosos pra ler legendas – condensaram a história em 13 episódios na adaptação deste ano da AMC (talvez eu comente depois de assistir). A própria segunda temporada de Forbrydelsen cortou o tempo diegético exatamente pela metade. Já a estou vendo (talvez comente se o resultado ficou melhor).
Apesar dos poucos momentos desinteressantes, gostei muito da produção caprichada, lenta sem ser morosa e muito bem interpretada. Forbrydelsen tem personagens com ideias fixas – a detetive Lund é tão obcecada quanto o assassino e o que dizer do prefeito Bremmer (amei!) e de Troels? – mas não unidimensionais, assim, a narração desacelerada permite que conheçamos melhor essa gente.
Ao entrar no mundo da ficção policialesca temos que estar prontos a fazer concessões, como um funcionário da promotoria levar prisioneira uma detetive altamente experiente e bobear com a arma no coldre! Também com relação a coincidências demais e um ou outro exagero, mesmo pros estereotipicamente austeros dinamarqueses. A resolução da sub-trama de Bremmer foi um pouco melodramática demais.   
Cheguei a Forbrydelsen pesquisando sobre Bjarne Henriksen, que me cativara em Kinamand. Pai de Nanna, o ator está muito bem na série, embora os Birk Larsen e as demais situações familiares é que empacam o movimento da história. São tantos elementos envolvendo a morte de Nanna, que pouco nos importam as vidas particulares de Sarah, Meyer ou dos Birk Larsen, até porque Sarah quase nem tem existência fora do caso.
Pra nós, estrangeiros, as piadas envolvendo a Suécia e a Noruega quebram o monolito “Escandinávia”, que aceitamos acriticamente, sem perceber que ofuscamos as identidades culturais dos países envolvidos.    
Logicamente que informados pelo modelo norte-americano, séries como Forbrydelsen e a argentina Epitáfios têm injetado sangue novo no gênero policial. Pena que o público seja restrito.

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