quinta-feira, 23 de setembro de 2010

PHIL COLLINS E A TERAPIA DE REGRESSÃO


Roberto Rillo Bíscaro

Este ano, resenhei 4 álbuns de artistas que regravaram velhas canções: Peter Gabriel, The Bird and The Bee, Djavan e Pato Fu. Em comum, todos reinterpretam o material escolhido trazendo algo de novo ao repertório, ainda que de maneiras distintas, dependendo do estilo e do approach de cada um.
Philip David Charles Collins, ex-vocalista/baterista do grupo Genesis (substituindo Peter Gabriel nos vocais), também decidiu lançar álbum de covers em 2010. Quem conhece mais de perto a carreira do inglês, está careca de saber que ele sempre gostou mais de música negra norte-americana dos anos 60 do que dos devaneios progressivos de sua ex-banda. Tanto é que, com ele no comando, o Genesis guinou pra popice desenfreada.
Não muito longe de virar 60tão, após 3 casamentos fracassados, uma relação meio complicada com os filhos do primeiro casamento e com sérios problemas de saúde o baixinho deliberadamente virou os olhos pras suas raízes anos 60 e gravou Going Back (Voltando), tentando recriar a atmosfera de seus tempos de adolescente em Londres.
Mergulhou fundo no catálogo da lendária gravadora negra Motwon e concebeu um álbum que não trouxesse nada de novo às regravações. “Minha intenção foi criar um álbum ‘velho’, não um ‘novo’”, declarou.
Conseguiu, na maior parte do tempo. Utilizando músicos remanescentes da banda de apoio que tocava nos estúdios da Motown, inclusive pra alguns dos artistas regravados, Collins mimetizou à perfeição clássicos das Supremes (Love is Here), Dusty Springfield, Steve Wonder (Uptight), The Temptations (Girl), Martha & the Vandellas (Heatwave) e outros. O baixo está gordo à beira da distorção em algumas faixas, as canções tem os tamborinzinhos, enfim, é quase tudo idêntico.
Louvável o aspecto de superação de Going Back. Collins perdeu a sensibilidade nas mãos e apenas toca bateria com as baquetas amarradas aos pulsos. Também é perceptível a reverência que o material tem pro músico e a energia com que ele interpreta canções como Jimmy Mack. Difícil não estalar os dedos.
A voz de Phil perdeu um pouco do vigor (dizem que ao vivo ele perdeu o fôlego também) e está anasalada demais em certas faixas. Depois de um par de audições, a gente se reacostuma com ela, porém.
A pergunta que fica, no entanto, é: pra que tudo isso se já há os originais, tão bons a ponto de Collins nem querer mexer neles? Embora bem produzido, o álbum dá a sensação de não passar de terapia de regressão prum homem maduro e deprimido, em busca dum tempo que não pode voltar.
Pra Collins, Going Back funciona como ferramenta terapêutica. Resta saber se os ouvintes necessitam desse tratamento.



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