domingo, 12 de setembro de 2010

AS ÁRIAS DO MAESTRO DJAVAN


Djavan é daqueles músicos que tem uma forte marca registrada. Aclamado letrista, cantor, compositor, arranjador e músico, o artista começou a gravar no fim dos anos 70 e em poucos anos adquirira o status de “clássico” da MPB. Surgido na geração posterior aos baianos e mineiros da década de 60/70, Djavan praticamente já nasceu no mercado ocupando posição de igualdade a Chico, Caetano, Milton & Cia, os quais, aliás, são ídolos do alagoano.

A tal marca registrada do artista foi construída porque ele sempre cuidou de diversos aspectos de seus álbuns, então, sempre foi tudo muito autoral. E Djavan também é grande letrista, capaz de achados poéticos de arrepiar.
Depois de 2 anos longe dos estúdios, ele volta com o álbum Ária, nome apropriado prum artista “clássico”. A novidade: é um disco de regravações. Não há sequer uma composição djavanesca. Talvez depois da embaraçosa “Imposto” fosse mesmo hora do 60tão dar uma pausa na escrita...

Em entrevista ao Terra Magazine, o músico confessou da dificuldade em selecionar e trabalhar com material que não é de sua autoria. Embora não se considere nostálgico, ele disse que relutou em escolher canções como Valsa Brasileira e Oração ao Tempo porque considera os originais definitivos e não tem vontade de escutar regravações (se você ler este texto, preste bem atenção às suas palavras, Djavan!).
Ária traz 12 canções, nenhuma de compositor contemporâneo. A lista de intérpretes originais inclui Ângela Maria, Frank Sinatra, Trio Esperança. Um clássico tem que interpretar clássicos. Dentre os ritmos, os tradicionais sambas, bossas e boleros, que compõem vasta parte de nosso rico cancioneiro. Mas também há canção em espanhol.
O resultado é um álbum delicioso no qual a força autoral de Djavan sobressai sem forçar a barra. As canções não são dele, mas sua personalidade musical é tão exuberante que é capaz de transformar as músicas como se fossem material próprio. Ou seja, é um disco inegavelmente Djavan. O sujeito tem que ser muito bom pra pegar Palco, do Gil, e deixá-la outra coisa, sem que o ouvinte tenha ganas de queimar, por heresia, o rearranjador.

Djavan quis enfatizar seu lado de intérprete, por isso os arranjos competentes dão amplo espaço pra sua voz brilhar. E Ária ta cheio de lalalas e djubi dus pra fazer a alegria de quem ama as vocalizações de Djavan. Não há intenção de soar ultra-moderno ou apresentar arranjos grandiloquentes. Muito violão e o resto está bastante discreto, sem soar esparso ou sub-realizado. Às vezes, parece até aquele clima de barzinho...
Em meio a tanta excelência, as palavras do mestre a respeito de originais considerados definitivos me atingiram como um caminhão de 10 toneladas quando comecei a escutar Luz e Mistério. Embora o arranjo esteja sóbrio, até com uma guitarra mais moderninha no meio, a versão de Zizi Possi, de 1979, é irretocável e insubstituível. Nem sei se é a original, porque a canção é do Caetano e do Beto Guedes e pode ter estado em álbuns deles antes de Zizi a gravar. Pouco me importa, ouvi primeiro a de Possi e pra mim é a original. Não posso ouvir outra, nem mesmo a excelente de Djavan.
Não importa, isso é pura questão de gosto pessoal. Luz e Mistério, como o resto do álbum, fazem jus à referência clássica do título. São árias na voz de um dos grandes da MPB.

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