domingo, 26 de setembro de 2010

ARCADISMO


O Duran Duran dominou o mundo pop na primeira metade da década de 80. Em 1985, entraram de férias, após o estouro do álbum e da turnê de Seven and the Ragged Tiger.
Simon LeBon, Nick Rhodes e Roger Taylor usaram o tempo livre pra desenvolver um projeto paralelo, batizado de Arcadia, que rendeu apenas um álbum. Eles queriam ser levados mais à sério, e não apenas considerados um bando de meninos bonitos. Almejavam o respeito de um Japan, por exemplo, banda que sempre esteve nas sombras oníricas dos duranies. Basta comparar o visual de Nick, inspirado no do dandy David Sylvyan, vocalista do Japan.

O vocalista, o tecladista e o baterista usaram sua influência e contatos pra reunir um quem-é-quem de convidados ilustres: Grace Jones, Sting, Herbie Hancock, David Gilmour e Carlos Alomar (guitarrista de David Bowie). O resultado foi o álbum So Red the Rose, nas palavras de LeBon, o álbum mais pretensioso jamais gravado”.
A produção é típica do excesso oitentista de barulhinhos. Canções repletas de sininhos, mini explosõezinhas, batidinhas, apitozinhos, raspadinhas.

So Red the Rose soa como Duran Duran tentando ser Roxy Music. A crítica malhou o trabalho e o próprio LeBon é irônico. É lugar comum dizer que So Red The Rose é o album mais artístico do ‘Duran Duran’. Sarcasmo pra se referir ao fato de que os meninos podem ter pensado em fazer um trabalho mais consistente, mas não davam o pulo do gato, porque queriam estrelato e grana.
Um quarto de século depois, é hora de reconhecer que o álbum é um produto típico de seu tempo e apresenta boas canções. Não merece cair no esquecimento. Election Day é uma das canções mais sexy da década, com sua forte batida funkeadaa e os vocais manhosos de Simon. El Diablo é uma jóia da super-produção da década: os teclados imitam flautas andinas e simulam rufar de asas e canto de pássaros pra criar o clima de latinitidad fake que evoca o título espanhol, enquanto LeBon pede ao demo que lhe venda a alma de volta. Além disso, há violinos, som de bolinha quicando e muito mais detalhes. Prato cheio pros detratores… The Promisse tem backing vocals de Sting – então com a moral nas alturas entre os críticos – e uma longa sessão instrumental, atípica em álbuns pop e representante da assepsia de studio. Lady Ice é uma balada dramática, fustigada por teclados e efeitos grandiloquentes, que, se bem ouvida, revelará citações à efeitos presentes em outras faixas do album, como Election Day e a vinheta instrumental Rose Arcana.

Pra comemorar as bodas de prata de So Red the Rose foi lançada uma edição de luxo comemorativa este ano. Um box com 2 CDs e um DVD. Os CD 1 traz o album original, acrescido de 7 bônus, o CD 2 traz 12 gravações raras. É um monte de remixes, demos e versões extended, que devem interessar apenas aos fãs mais xiitas do álbum. Exceção pra Say the Word, canção não constante do album original e que traz a semente de A View to a Kill, tema do filme do 007, de 1987, composta pelo Duran Duran. O DVD traz clips e Making Ofs (também pra fãs mais exaltados).
A arcádia literária do século XVIII era informada pelo bucolismo pastoril e pelos tropos do fugere urbem, da inutilia truncat e da aureas mediocritas. O fugaz Arcadia apostou no reverso com sua maquiagem pesada, cabelos elaborados, produção beirando ao preciosismo rococó, alta dramaticidade contrastada com  assepsia e total urbanidade. Pura pose (como os cultos poetas urbanos árcades se fingindo de rústicos pastores…).

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