quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

TELONA QUENTE 18

É UMA CASA (ASSOMBRADA) URUGUAIA, COM CERTEZA!

Roberto Rillo Bíscaro

Há alguns meses, descobri por acaso o site dum futuro lançamento de terror uruguaio, intitulado La Casa Muda (2010). Assisti ao teaser e fiquei ansioso pra ver o filme, supostamente filmado em um único plano-sequência, usando câmera digital. Parte da propaganda, inclusive, afirma tratar-se do primeiro longa filmado em um único plano. Esqueceram-se, porém, que o russo Russky Kovcheg, de 2002, foi filmado exatamente assim...
A cena no teaser deu a entender que La Casa Muda seria algo no estilo d’A Bruxa de Blair, [REC] e Cloverfield, ou seja, aquele tipo de filme no qual não sabemos bem de onde vem o terror e cuja câmera segue alucinadamente as personagens, mostrando suas reações desesperadas, sustos, correrias e gritos.
A inspiração veio de assassinatos ocorridos no país na década de 1940. Parece que a produção custou míseros seis mil dólares e foi dirigida por Gustavo Hernández, que desponta como promissor talento no gênero.
A jovem Laura e seu pai chegam a uma casa abandonada na zona rural. Eles foram contratados pelo dono para reformá-la. A obra começará na manhã seguinte e pai e filha terão que passar a noite no decrépito sobrado (porque não chegam de manhã não nos é dito e isso é um problema que outras vezes compromete o roteiro). O dono da casa sai pra comprar comida pros empregados e então começam os problemas. Laura começa a escutar ruídos no andar superior e desperta o pai pra ver o que é. Wilson vai investigar e ouvimos o barulho dum corpo que cai. À partir de então, seguimos a perambulação da jovem pela casa e fora dela, à procura do que está ocorrendo.
À parte ações inexplicáveis das personagens, La Casa Muda é um ótimo exercício em criação de atmosfera e, especialmente, cinematografia. O trabalho de câmera de Pedro Luque é impecável e original, com soluções técnicas e enquadramentos criativos e surpreendentes. Com iluminação parca, Laura anda e rasteja de um cômodo a outro da casa assombrada, empoeirada e as informações visuais vêm de espelhos, reflexos, fotos. Os sustos acontecem por motivos simples, mas alguns, eficazes.
Quase sem diálogos, La Casa Muda certamente desagradará quem quer “entender” melhor os porquês. Aliás, o próprio roteiro ressente-se um pouco disso, uma vez que há uma cena adicional após os primeiros créditos finais (há dois) que tenta explicar a motivação dos acontecimentos.
Com relação ao desfecho, quem conhece Alexandre Aja não se surpreenderá, mas também contrariará espectadores que poderão se sentir “enganados”.
La Casa Muda tem seus defeitos, compensados por alta perícia técnica e genuínos momentos de suspense. Os norte-americanos detectaram o potencial da película e já fizeram a versão em inglês. É o nosso parceiro do MERCOSUL entrando no mapa do bom cine de horror.

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