quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

TELONA QUENTE 17

MAGIA DA CIÊNCIA/CIÊNCIA DA MAGIA

Estou longe de extinguir a fase de filmes antigos. Como afirmei antes, priorizo suspense, mistério, policiais e espionagem. Minhas obsessões observam certa lógica.
Passo pente fino nas filmografias de certos atores e pesco delas as películas que se encaixam na minha presente chave de interesse. Descobri Barbara Stanwyck desse modo. Ela não passava de um grande e respeitado nome pra mim até que ano passado a vi em alguns capítulos da malfadada The Colbys, spin off de Dynasty, que durou apenas 2 temporadas em meados dos anos 80. A atriz deixou o novelão no fim da primeira temporada por não suportar a baboseira dos diálogos e situações. Quando deu a crise de mergulhar nos filmes antigos, vi tudo que pude com ela. Que atriz! Outro dia vi Crime of Passion (1956), que é até interessantinho, mas vale mesmo pela atuação da grande dama noir.
O grande destaque desses últimos dias, porém, foi um filme “novo”... de 1971! Não sigo apenas atores, obviamente. Também esmiúço filmografias de diretores. Desse modo, vi vários Orson Welles, Hitchcocks, Kubricks e Fritz Langs desconhecidos. Além de outros diretores menos lembrados hoje. Na filmografia do diretor Robert Wise havia The Andromeda Strain, ficção-científica que por algum motivo me havia escapado. Wise dirigiu alguns filmes de que gosto imenso como O Dia em que a Terra Parou (1951), sobre invasão alienígena, e The Haunting (1963), sobre casa mal assombrada (a-do-ro filme de casa assombrada!). Também filmes que respeito pela destreza técnica, embora não façam meu estilo, como A Noviça Rebelde (1965).
The Andromeda Strain é de uma época cheia de filmes sci-fi esbanjando paranóias. Neste, há paranóia da Guerra Fria e da corrida espacial somadas à desconfiança com relação ao governo (a Guerra do Vietnã rolava furiosa) e indisfarçável tecnofobia.

Um satélite norte-americano despenca numa área desértica e em poucas horas uma pequena cidade é dizimada por um vírus alienígena. Um grupo de cientistas é recrutado para conter a disseminação do organismo, que coagula instantaneamente o sangue do ser infectado.
Os cientistas são levados para um complexo subterrâneo high tech e o filme mostra em minúcia as hipóteses e descobertas para deter a possível epidemia dizimadora em escala global. Um grande filme, que não tem pressa de mostrar o processo de preparação dos experimentos e utiliza fartamente recursos como tela dividida e imagens de monitores de computador para transmitir informação e realçar a complexidade do problema. Wise em plena forma, mesmo no ocaso da carreira.
Em questão de horas, o time de especialistas coloca tudo em provetas limpas. E aí reside uma das grandes contradições desse tipo de entretenimento. O levantar de hipóteses, sua confirmação ou negação e a descoberta de antídotos ocorrem como se fossem mágica, antítese do pensamento científico, que é lento e geralmente não se processa aos solavancos. Há quantos anos esperamos pela cura da AIDS, por exemplo? As luzes e fumaças dos laboratórios cênicos e o abracadabra do arremedo de pensamento cientificista cancelam a ciência, transformando-a em seu negativo, o fantástico. A narrativa, de certo modo, se auto-implode.
Por isso é que tais produtos são chamados de FICÇÃO científica, né?
(The Andromeda Strain foi colocado no You Tube. Não garanto que esteja completo porque não foi essa a cópia a que assisti.)

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