segunda-feira, 11 de maio de 2015

CAIXA DE MÚSICA 169

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Roberto Rillo Bíscaro

Considerando-se os recentes distúrbios em Baltimore, mais de um grama de soda cáustica deve ser despejado pra dissolver o exagero crítico cercando Empire, novelão de sucesso da FOX, estrelada por afrodescendentes. Claro que a presença de grupos oprimidos no horário-nobre é importante, mas não deve servir pra justificar discursos ilusórios de igualdade racial.
A trilha sonora lançada na mesma semana que o mais recente (e chato) trabalho de Madonna vendeu bem, mas não arrancou aleluias da imprensa musical. Com razão: as 18 faixas da edição de luxo (acha que eu ouviria a standard, com apenas 11?) são em sua maioria interessantes e competentes (com Timabaland na direção musical, não é mais que obrigação), mas só, impossibilitando a duplicação das loas ao show.
Dispondo de 3 ou 4 atores que também cantam bem, a trilha de Empire interessa sobretudo como aperitivo pro vindouro álbum-solo de Jussie Smollett - o Jamal Lyon, filho gay de Lucius e Cookie – que chamou tanto a atenção a ponto de descolar contrato com a Columbia Records. Ele arrasa no sentido R’n’B de abertura, Good Enough, uma das diversas letras dirigidas à não aceitação da homossexualidade de Jamal pelo pai. Jussie coloca os bofes pra fora nas baladas Nothing to Lose e Conqueror, dueto com a britânica Estelle; sabe ser elegante no deslizante acid jazz de I Wanna Love You; incisivo na ameaçadora de butique Keep Your Money e brejeiro na saltitante You’re So Beautiful.
Nessa última, ele dueta com Yazz, nome de rapper de Bryshere Y. Gray, que interpreta Hakeen, filho mais jovem de Lucius. Yazz também conseguiu contrato com a Columbia, mas a julgar pelos duetos com Smollett, precisa amadurecer bastante ainda. É um rapper correto e mais nada. Falta-lhe o tom ameaçador de verdade dum Brother Ali, por exemplo. Confira o pastiche gangsta Drip Drop e veja se dá pra sentir medo. Puro consumo. Mas a faixa tem produção impecável e aquele cacoete sonoro que parece uma sirene, repetido diversas vezes, é chupado de Die Roboter, do Kraftwerk de Die Mensch Maschine (1978). Não me entendam mal, Yazz não é ruim, talvez falte maturar. Não paro de cantarolar “drip drop drip drippity drop drip drop.” Mas falta-lhe gume em Can’t Truss e Power of the Empire, por mais energéticos que sejam os hip hops.

Serayah McNeill também consegue roubar-lhe a cena na delícia sexy Keep It Movin’, mas é meio covardia compará-lo com uma gostosona cantando “Oh my God, I got a body like a weapon,

It goes ba-ba-bang,bang, bang”. Amo. 
Como na série, o álbum traz ilustres convidados, como Mary J. Blige num dueto demolidor com Terrence Howard, o Lucius Lyon. Paraíso pra quem ama uma boa gritaria black.  
Os 2 deslizes ficam por conta de Money For Nothing, rap-dueto de Jussie e Yazz, que de interessante tem apenas o riff de guitarra do clássico oitentista do Dire Straits e o gospel bluesy de Courtney Love em Walk Out On Me. Queridinha, tu nunca serás Marianne Faithful, desista.
Mais “tradicional” que o inovador show, a trilha de Empire tem bastante pique. Talvez se substituíssem o já establishment Timbaland por produtor mais mudérrnu, a trilha da segunda temporada poderia ser tão influente quanto Empire certamente será.  

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