segunda-feira, 4 de maio de 2015

CAIXA DE MÚSICA 168


Roberto Rillo Bíscaro

Nós professores não cansamos de passar sermão nos estudantes sobre a importância da educação. Depois de ouvir a impressionante estreia do Native Construct, penso ser mais produtivo tocar o álbum Quiet World, lançado dia 21, pela Metal Blade Records. Robert Edens (vocais), Myles Yang (guitarra) e Max Harchick (baixo) são egressos da Berklee College of Music, de Boston, daí sobram técnica e conhecimento sobre composição, estilos musicais, arranjo e produção. Auxiliados por colegas da academia, o trio saiu-se com uma obra-prima do prog metal.
As 7 faixas de Quiet World contam a história de Sinister Silence, mudo rejeitado por uma garota. Ressentido e com problemas mentais, cria um mundo onde as diferenças são abolidas como meio de promover a felicidade coletiva. Mas, nem todos estão contentes com tamanha quietude e insipidez; não tarda a aparecer um líder, Archon, que unirá dissidentes contra o lúgubre SS.
Quiet World foi composto e executado em um período de anos. Erudição musical e tempo gestaram um trabalho onde cada nota foi meticulosamente pensada, bem ao estilo do rigor dos áureos tempos do Yes, em Close to the Edge (1972). Mas a semelhança para aí; Native Construct não faz prog sinfônico carbonado dos anos 70. Seu prog vem misturado com diversas vertentes do metal, música de Broadway e até pop num vórtice que chupa o ouvinte quase a ponto de afogá-lo num mar de acordes e notas.
A variação de ritmos e tempos muito frequentemente acontece com um dos instrumentos entrando numa nova convenção enquanto os demais estão em outra e não com paradas abruptas. Desse modo, há momentos em que uma bateria esporrando death metal faz fundo prum vocal e orquestração totalmente Broadway, como em Passage.
Os vocais de Robert Edens são um milagre a parte, indo do fininho ao “podre” do black/death metal. Esse ecletismo do Native Construct é um de seus muitos pontos fortes. A monumental Mute, que abre o álbum com seus quase 13 minutos, passeia pelo prog, death metal, etéreo e pop de modo tão competente que apenas ouvintes dinoussaramente “puristas” (burristas?) reclamarão. Pontuando as diferenças, os cambiantes vocais de Edens. Come Hell or High Water começa como caixa de música, transforma-se em pirotecnia guitarreia a la Queen ou Angra, explode em atonalidade saxofônica, tipo King Crimson, incandesce em momentos de vocal thrash metal pra terminar em orgasmo progressivo. Em 8 minutos.
A dupla final Chromatic Lights e Chromatic Aberrration perfaz outra dúzia de minutos delirante e repleta de variações, a ponto de alguns segundos da última canção referirem-se a Burt Bacharach! Isso também é supimpa em Native Construct: eles jogam pop e música “careta” na fuça do público roqueiro sem que esses gêneros necessariamente pareçam ou soem como pop ou careta.

Há uma semana não consigo ouvir outro álbum e ainda estou na fase de descobrir elementos, instrumentos, viradas rítmicas e de andamento. Não quero nem pensar na pressão que o Native Construct terá pro segundo álbum, depois duma estreia que, sem exagero, tem potencial pra redefinir o sub-gênero. 

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