segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

CAIXA DE MÚSICA 90/TELINHA QUENTE 67


O verão de 1967 no hemisfério norte ficou conhecido como Verão do Amor. Hippies, protestantes contra a guerra do Vietnã e racismo saiam às ruas e pediam paz e amor, ao som de Beatles, Bob Dylan e Motown. Muito LSD e maconha, roupas floridas, cabelões.
Tudo isso foi substituído pela crise econômica dos 70’s e a guinada direitista de Reagan-Thatcher. A Inglaterra neoliberalizada tornou-se paraíso yuppie oitentista. Parte da população comprava mundos e fundos enquanto boa parte dela padecia pelos cortes nos programas sociais do governo, que dizia se intrometer o menos possível na economia (mas gastava horrores com armamentos).
No verão de 1989, o governo Thatcher começava a falecer; a invasão capitalista no Leste Europeu era iminente; na China, estudantes pediam liberdade.
Na Inglaterra, especialmente em Manchester, uma subcultura musico-comportamental transformaria o verão do último ano oitentista no segundo verão do amor. Acelerando a house music de Chicago com muitos BPMs mais, DJs britânicos inventaram a acid house, que mudaria o panorama musical na virada dos 80 pros 90.
O documentário The Summer of Rave (2006) é essencial pra quem quer que tenha dançado ao som de Coldcut, S’Express, Yazz, Black Box e outros (cadê Bomb the Bass?)

Embora o programa não enfoque a história desses projetos, a trilha sonora usada pela BBC vai matar muita gente de nostalgia. Contrapondo o underground acid com o mainstream, dominado por Stock, Aitkin and Waterman (SAW), The Summer of Rave traz eventos memoráveis pra compor o panorama do desenvolvimento da cultura acid. Tudo ao som de Roxette, PhilCollins, Cure e, claro, Technotronic e Happy Mondays.
Chapados de ecstasy, dezenas de milhares de jovens dançavam até a desidratação nas raves, cada vez mais clandestinas porque proibidas devido a reclamações de vizinhos e sensacionalismo dos tabloides. Protestando contra a caretice neoliberal, os jovens se vestiam coloridamente e se beneficiavam da infraestrutura criada pelo sistema que diziam não gostar. O programa mostra, por exemplo, como a estrutura empresarial das raves ajudou a segurar as pontas do vandalismo hoolligan.
Policiais, promotores de festas, empresários e artistas são entrevistados, a maioria elogiando o “movimento” acid house, enquanto o narrador situa o espectador historicamente e estabelece interessantes relações entre o esperado pela juventude e o resultado dessa rebeldia consumista.
Os artistas acid, antes “alternativos”, acabaram no mesmo lugar que os criticados cantores de SAW, a saber, no Top of The Tops. O documentário termina com o Black Box no programa, mas esquece de dizer que a moça que aparece cantando não era quem fazia os vocais. A música produzida no período é realmente deliciosa, mas a trambicagem do Black Box também é metáfora pra “revolução” acid house.
The Summer of Rave pode ser visto no You Tube, sem legendas. Recomendo “de com força”! 

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