terça-feira, 31 de maio de 2011

TELINHA QUENTE 20

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Roberto Rillo Bíscaro

Crescendo nos anos 80, 3 figuras políticas eram inevitáveis nos noticiários: Ronald Reagan, Margaret Thatcher e Mikhail Gorbachev (este mais do meio da década em diante). Ronnie estava por todo lado. Quando saí pra fazer o teste com minhas lentes de contato, em 1981, meu tio assistia á posse do quadragésimo presidente ianque, pela Globo. As lentes não duraram muito porque não me adaptei, mas Reagan ficou 8 anos no poder e definiu a década do neoliberalismo, da escalada belicista e das vantagens escancaradas pros ricos.
Na segunda metade da década, quando da revelação do escândalo do envio de armas ao Irã e do financiamento dos Contras nicaraguenses, comprei uma camiseta com a cara de Reagan, uma bomba e os dizeres “procura-se terrorista”.
Em outra ocasião - creio que em meados dos 80’s – fui a um sarau poético na biblioteca municipal, onde colocaram uma bandeira norte-americana no chão pra quem quisesse pisá-la enquanto declamava. Não recitei nada, porque jamais escrevi poesia, mas não deixei de pôr os pés no lábaro estrelado e enfaixado. Não duvido nada de ter saído com amigos após o evento e conversado animadamente sobre Cindy Lauper, Michael Jackson, Lionel Richie, bebendo Coca e comendo X-burguer... Santa adolescência, Batman!    
E como esquecer a gafe cometida na visita ao Brasil em 1982? Num banquete em Brasília, o presidente propôs um brinde ao “povo da Bolívia”... O descaso virou desabafo de Rita Lee, na canção Pirarucu: “Entre os "russo e americano"/Prefiro gregos e "troiano"/Pelo menos eles "num fala"/Que "nóis é" boliviano!”

Sempre interessado em conhecer melhor e/ou relembrar os anos 80, assisti ao documentário Reagan (2011), produzido pela HBO e dirigido por Eugene Jarecki. A proposta é desmistificar e lançar luzes sobre uma das figuras mais icônicas da história recente dos EUA. Sob esse aspecto, o documentário falha, uma vez que o próprio biógrafo de Ronnie, Edmund Morris, admite ter desistido de penetrar a carapaça de piadas, comentários autodepreciativos e platitudes, que blindavam a persona pública projetada pelo falecido presidente. Fica-se imaginando se, em realidade, havia mais do que isso em sua personalidade. Se sim, talvez apenas Nancy tenha tido a chave do cofre.
Mesmo acrescentando tão pouco, Reagan fornece um panorama histórico e fatual importante, além de utilizar com maestria, imagens da época em que Ronald era ator e garoto-propaganda da General Electric, nas décadas de 40 e 50. Suspeito de haver fornecido secretamente nomes ao famigerado comitê da caça aos comunistas durante o macartismo, Reagan foi presidente do sindicato dos atores, décadas antes de demonstrar sua usual truculência para com alguns movimentos sindicais durante sua gestão presidencial.
O documentário mostra sua veloz transição de “liberal” pra muito conservador e algumas das contradições propositalmente ignoradas pelos defensores do governo mínimo, que não intervém no mercado (como se a decisão de não intervir não fosse intervenção...). Eleito durante um período de recessão econômica, Reagan prometia redução de impostos (que aconteceu, especialmente pros ricos) e cortes da intervenção do governo na economia. Isso realmente ocorreu, mas em áreas como educação, saúde e seguridade social. Os investimentos governamentais transferiram-se maciçamente pra área militar e a estrutura governamental efetivamente aumentou na era Reagan. Engodos que geraram déficit polpudo e aumento no número de norte-americanos vivendo abaixo do limite da pobreza.   
O diretor não se furta em mostrar que o homem cuja família foi ajudada pelos planos governamentais durante a Grande Depressão da década de 30, nos anos 80 afirmava que a culpa de não se ter moradia era dos próprios sem-teto!

Apresentando entrevistas com o filho, um meio-irmão, assessores e economistas, Reagan é um bom guia introdutório pra Década Perdida (odeio esse cognome!). Dá calafrios, mas, no caso de nós 40tões, é o que temos pra lembrar e conhecer com senso crítico de nosso período formativo. Quero ver quem não voltará a 1984 ao ouvir 99 Luftballons, da alemã Nena, na trilha sonora.

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