quarta-feira, 25 de maio de 2011

CONTANDO A VIDA 35

O clima da crônica do Professsor Sebe hoje está bastante bem-humorado. Ele nos revelará um de seus maiores fetiches...


A MAIOR INVENÇÃO DO MUNDO: o controle remoto...


José Carlos Sebe Bom Meihy


Como professor de História, me deparo sempre e com muita freqüência com a questão vinda de alunos: professor, qual o invento mais importante do mundo? Demanda perturbadora esta e de tantas faces que não seria possível delinear alguma. Sempre a fim de ganhar tempo, proponho a divisão em campos e devolvo a pergunta inquirindo áreas: saúde, física, arte, técnica, eletrônica? Enquanto o interlocutor decide, busco luzes e vou articulando possíveis. Lembro-me de uma brincadeira que dizia que a mais significativa invenção da química foram as loiras, mas não é sempre que vale a pena brincar. Considerações tolas a parte, cabe assinalar que hoje não vivemos sem algumas conquistas que facilitam incomensuravelmente a vida. As donas de casa podem consagrar o fogão a gás, os fornos micro-ondas, as panelas de pressão como dádivas da inteligência humana. Certamente, de estudantes a vendedores, de clientes a banqueiros, a valorização das calculadoras é saudada com entusiasmo. E os computadores? E elevadores e as escadas rolantes? A desintegração do átomo e as conquistas no mundo das ciências espantam. Já pensaram como é divino saber a idade dos animais pré-históricos? E os cálculos que garantem que a lua é quarenta e nove vezes menor que a Terra? Não é fantástico? Nem preciso falar de celulares, internet, cinema em 3D.
Dia desses, estava traduzindo essas conquistas para minha vida diária. Viajante contumaz, lembrei-me de um colega que se referia ao que jocosamente chama de “kit babaca”, ou seja, os elementos essenciais daqueles executivos que vão de aeroporto em aeroporto com uma pequena coleção de itens: ipod de última geração na cintura (pelo menos um), laptop e a inefável mala de rodinhas. Sobre elas, aliás, devo falar um pouco mais, pois de tal maneira facilita minha vida que seria impossível supor tantas viagens sem a adorável facilidade dada pelas tais rodinhas. Na verdade, seria capaz de fazer uma declaração de amor esparramado pelas rodinhas. Sinceramente, equiparo-as ao mais avançado invento da humanidade em todos os tempos. Pensem um pouco o que seria a vida sem as rodinhas das malas...

Mas, existe outro invento que também merece meu afago especialíssimo. Sem ele não sei o que seria viver: o controle remoto. Lembro-me da doce sutileza de Fernando Sabino ao escrever “A falta que ela me faz”, sem revelar quem seria “ela” fica a sugestão de ser uma empregada doméstica ou a mulher amada. No caso, imaginem a falta que um controle remoto pode fazer. Meditando sobre meus dias, filtro minhas atitudes frente aos controles remotos. Eles permitem que eu, à distância, mude os canais da TV. Nem preciso me levantar. Maravilha. Por ele, frente à TV, posso marcar o tempo suficiente para dormir e ter o vídeo desligado automaticamente. O mesmo digo com a seqüência das músicas no meu mp4. Repete-se a mesma mágica no aparelho de ar condicionado. Amo meus controles remotos. Amo-os ao desespero. Dei-me conta disso dia desses, quando deparei com um estojo para guardar um conjunto de controles. Sinceramente, do fundo do meu recôndito íntimo, fiquei emocionado: era a perfeição. Artisticamente disposto no mostruário havia um controle remoto na caixa. Não sabia se o recipiente era complemento ou ele mesmo uma invenção nova. Derreti-me frente a ele e, sem saber bem por que, comprei quatro.
É lógico que estas meditações provocam crise pessoal. Seria louvável dizer que inventos como o cobalto, a adiblastina, a penicilina, o laxante, a cibalena ou mesmo o sonrisal seriam descobertas mais elevadas, mas, como deixar de lado meus controles remotos? Eles me acompanham nas melhores horas da vida. Meu lazer seria diverso sem eles. Pensem: levantar, dirigir-se até a TV para uma simples e fútil mudança de canal! Abrir o carro com chave que contém controle remoto me parece simplesmente o máximo. E não é maravilhoso mudar de música com simples toque de dedos? Não é?! E ligar o fogão com controle... Aiai. Soube outro dia de um caso interessante: a pessoa pode acionar de longe a polícia se o alarme da casa disparar. Tudo por controle remoto. E o caso de pessoas que tem fontes em casa e que, para economizar, as ligam na hora necessária por controle remoto? É verdade que tudo tem lado ruim, mas, cá entre nós, se juntarmos duas coisas: as malas com rodinhas e os controles podemos ter tudo junto. Acho que vou comprar mais controles e abrir a mala da felicidade... mas, ela terá que ter rodinhas! 

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