quinta-feira, 17 de maio de 2012

TELONA QUENTE 49

Mama Mia, que Porcaria!

Roberto Rillo Bíscaro

Sou tão alheio ao Oscar que descobri há segundos que Meryl Streep levou a estatueta de melhor atriz por A Dama de Ferro (2011), produção inglesa vendida como biografia de Margaret Thatcher, primeira-ministra do reino entre 1979 e 1990.
A Dama de Ferro pegou a Inglaterra em frangalhos (tadinha... mas, Gana estava - ainda está - bem pior, mas quase ninguém teve/tem peninha dela!) e truculentamente neoliberalizou-a, indo fundo nas privatizações e cortes nas despesas púbicas, leia-se, achatando políticas sociais, porque os gastos com armamentos aumentaram, como nos EUA. Dentre as simpáticas medidas do governo da Tory, estão o apoio ao Apartheidsul-africano e políticas discriminatórias contra gays e lésbicas. Sem contar o tal imposto progressivo, que fazia ricos pagarem menos proporcionalmente aos mais pobres.
O filme sobre Maggie aproveita a demência senil da ex-política pra construir um roteiro que mescla momentos de sua vida familiar e política com sua atual fase alzaimer. O vai e volta temporal que poucas vezes integra passado e presente ou a dimensão política de seus atos dá a impressão de ter sido escrito por uma cabecinha nos estágios iniciais do Alzaimer ou que propositalmente evita o teor político pra infrutiferamente focar no lado pessoal e “humanizar” a personagem.
Nada contra humanizar personagens, mas a própria Maggie veria isso com muitas reservas, segundo os termos do filme. Ela detona seu médico quando perguntada sobre como se sente; reclamando que as pessoas hoje estão mais preocupadas com sentimentos do que com ideias. É um tal de se perceber o lado “humano” de Hitler, Stalin, Idi Amin Dada. Claro que eles têm seu lado “humano”, mas o que realmente importa não é como tratavam seus cães e amantes, mas as consequências em nível coletivo de seus atos políticos.
Se a dimensão “humana” deixa de ser apresentada – o Rei Juan Carlos é chamado de Juanito; uau como é igual anós! – a personagem ou a representação é tachada de panfletária, tendenciosa etc.
Mas, o que dizer de The Iron Lady, que apresenta o tal lado “humano”, e nem assim cria uma personagem interessante? A Thatcher do roteiro é monodimensional: reage igualmente a todas as situações, a saber, com intransigência e destemor. Como personagem, torna-se monocórdica porque não apresenta curva dramática, ou seja, termina do mesmo modo que iniciou a narrativa. Se ela realmente era assim, que pobreza de pessoa (e de quem votou nela, né?)!
Desconfio, porém, que o problema esteja na opção de não politizar o filme; então não é falha de roteiro, mas escolha. E Márcia Goldchsmidt nos ensinou que toda escolha tem consequências, né crianças?
E aí, chegamos ao Oscar de Meryl Streep, ou melhor, a sua interpretação universalmente aclamada. Se a personagem não tem escopo emocional quase nenhum, Streep interpretou ou imitou Thatcher? Nunca esqueço uma frase de Hannah and Her Sisters, “se você não tem nada dentro, nada tem pra pôr pra fora”. Streep obviamente tem, mas a personagem não. Mas, quem escolheu o roteiro foi a atriz. Escolhas e consequências. 

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