sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

PAPIRO VIRTUAL 46

Interrompi as leituras trágicas pra devorar tese sobre American Blues, coletânea de peças do norte-americano Tennessee Williams. Finda e apreciada a fruição acadêmica, voltei ao Sófocles pra mim desconhecido.
Li As Traquínias sábado e pensei no infortúnio de haverem restado apenas 7 das 10 dúzias de tragédias escritas pelo grego. Comparada a Ájax ou Filoctetes, essa não segura a onda.
O mito hercúleo forneceas personagens. O herói voltava deprolongada campanha militar. Sua dedicada esposa aguardava-o ansiosa, mas descobre que o maridão trazia concubina em seu espólio de guerra (como Agamenon fizera com Cassandra). Pra piorar, aprende que a investida contra a cidade fora ocasionada por tesão pela bela Iole. Como Helena, a moçoila paga caro pela beleza extrema. Esses gregos e sua insistência na moderação.
Temerosa de perder Hércules, Dejanira lembra duma poção com que o centauro Nesso a presenteara momentos antes de expirar.  Garantida pra segurar macho.  Só que a causa mortis de Nesso fora o próprio Hércules. Claro que o homem-cavalo estava sacaneando Dejanira, que cai como patinha. Ela besunta uma túnica heracliana com o unguento e o resultado é dor insuportável, porque o corpo do grandalhão literalmente começa a derreter sob o tecido. Pra pagar por sua ingenuidade (burra demais!), Dejanira suicida-se. Héracles também não tem escolha senão se autoimolar, posto sua capa estar grudada em sua carne derretida.
Difícil empatizar com os protagonistas: o infiel Hércules e a estúpida esposa. Mas, a tragédia grega não implicava em empatia. Tínhamos que sentir terror e piedade pela queda de gente socialmente muito elevada. Se esses desastres aconteciam com semideuses, quem dirá os pobres mortais espectadores!
Mesmo assim, não dá pra deixar de perceber que o sofrimento de Hércules – e o fato de ser homem e herói – deve ter lhe granjeado a pena da plateia.  Longas e dramáticas suas falas reclamando da dor e tentando entender o porquê de tamanha provação. Na Grécia Antiga a explicação era fácil: porque os deuses quiseram. Ainda bem que em nosso avançadíssimo estágio civilizatório deixamos esse exagero pra trás, não? 

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