segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ADOÇÃO AUGUSTA

O albino Flávio André Silva já esteve diversas vezes neste blog. Quer como poeta lançando livro, quer como ator do telefilme Andaluz. Também publiquei alguns contos de sua autoria, com um personagem albino, o Álvaro.

Hoje, Flávio, que é casado com uma albina, compartilha conosco um pouco do que chama de “auge de sua felicidade”. Eles adotaram uma criança. Mas, se pensam que é apenas isso, enganam-se. Leiam a narrativa até o final para uma grande surpresa!

Sagrado Silva – O relato de como Augusto entrou em nossas vidas

Aprendi na escola que todas as pessoas são dotadas de uma seleção de características que as tornam únicas. Mas, mesmo assim podemos agrupar as pessoas por alguma de suas coincidentes características marcantes. Aprendi também que existem pessoas especiais no mundo, cujas características sobrepõem de longe as dos demais, por sua pureza, como é o caso dos justos, dos (controversos) honrados e, por fim, dos altruístas.
Os justos buscam fazer o bem, limitando-se pelas normas legais e culturais estabelecidas.
Os honrados não se limitam por nenhuma norma que não lhes pareça sinceramente coerente e equilibrada.
Os altruístas, por outro lado, andam dentro das normas, mas extravasam o limite de suas próprias necessidades.
Acredito que é possível encontrar uma pessoa justa a cada mil pessoas, uma pessoa honrada a cada cem e uma altruísta a cada um milhão! Tive a sorte de encontrar uma.
Casei-me com ela.
A força do gesto positivo é tão grande que contagia as pessoas. Por diversos motivos, não muito nobres, é verdade, mas o fato é que uma vez instituído o hábito, os motivos se moldam rapidamente com o tempo.
Nem de longe levo jeito para santo. Nem quero.
Quando conheci minha esposa, ela estava envolvida num processo de exames para fazer uma doação de órgão para um ex-aluno seu. Minha reação foi temerosa, mas não tinha e não tenho o direito de opinar em algo que já estava em curso antes de minha chegada, sendo esse algo tão nobre.
Infelizmente, por uma série de complicações, a doação não foi feita, mas o processo está em pausa. Não foi encerrado ou anulado.
Cito esse exemplo apenas para confirmar minha alegação de que a pessoa que escolhi para partilhar meus dias é de fato o que disse que era. E também para embasar o que direi a seguir:
DEVANEIO
O tempo é o maior fenômeno existente, ladeado apenas pela existência. Tudo se submete ao seu poder e, apesar de tamanha magnitude, ainda se divide um pouco com cada ser vivente do universo; logo cada ser humano tem uma parcela de tempo para si e o modo com que se administra este é o que separa as pessoas que vivem, daquelas que apenas existem.
Desde que se teorizou sobre o tempo pela primeira vez, o homem tenta deixar sua marca no mundo para de alguma forma alcançar a eternidade. Seja através de feitos memoráveis, obras de arte, discursos envolventes seja ainda pela forma mais íntima e particularmente pública que é possível conceber: através da linhagem.
Ter um filho é ter sua jornada completada, não necessariamente de onde parou, mas indubitavelmente da melhor forma imaginável. Para garantir isso, o homem dispõe de alguns meses de preparação para a chegada de seu rebento e de alguns anos para plantar nele as sementes de caráter e do ideal a ser continuado.
É a maior das responsabilidades e dádivas da humanidade: gerar uma nova vida e arcar com ela.
REALIDADE
A história de como nos conhecemos já é sabida por aqui, portanto vou pular essa parte.
Somos um casal jovem, com apenas quatro meses separando nossos nascimentos. O dela veio primeiro.
Partindo de nosso devaneio apaixonado, já falávamos de filhos ainda pela internet, antes sequer de termos nos beijado! A ideia era: gerar dois filhos e adotar um terceiro. Outro exemplo da nobreza dela foi me explicar e me fazer defender a grandiosidade do ato da adoção.
Já casados, começamos a pesquisar o processo, pois é sabido como ele é longo, então, era mais do que conveniente não esperar anos para fazê-lo. Enquanto isso, continuávamos nossa tentativa de providenciar os filhos gerados.
PROBLEMAS
Por uma série de problemas de agenda e atribuições no trabalho, não conseguiríamos passar nossas férias juntos. Assim que ela retornasse ao trabalho, depois de suas férias, eu começaria as minhas.
Também não tínhamos em alta o dinheiro que normalmente separamos para o lazer, o que significava que passaríamos as férias em casa, mas sem nos ver mais do que o habitual.
PROVIDÊNCIA
Em uma noite que tinha tudo para ser apenas mais uma noite, ocorreu a primeira providência: recebemos a visita de uma de suas tias. Ela estava de viagem marcada para outro estado, para visitar sua irmã, ia de carro e tinha um lugar sobrando. Perguntou se minha esposa queria ir junto. Olharam ambas para mim. Permiti. Afinal, férias foram feitas para descansar e se divertir.
Ficaria um mês inteiro sozinho em casa, mas isso não era um martírio de todo, pois estou habituado a fazer companhia a mim mesmo. Para ser inteiramente sincero, tenho muito apreço por ficar sozinho. Aprendi a ser feliz de várias maneiras.
Menos de uma semana depois, ocorreu a segunda providência: minha esposa estava na casa da outra tia, onde passaria as férias, quando uma pessoa apareceu à porta e falou de uma criança que seria dada pela mãe para quem pudesse cuidar, pois ela mesma não tinha condições nem financeiras, nem de saúde - quase morreu no parto prematuro de oito meses.
Tomada pela emoção e euforia da coincidência de aparecer uma criança justamente quando ansiávamos por uma, ela me ligou e pediu meu apoio para começar o processo burocrático da tal adoção. Fiquei receoso de início, mas concordei.
Planejávamos dois filhos gerados e um adotivo. A única mudança foi a ordem de chegada: “os últimos serão os primeiros”. O adotivo veio antes e estamos muito felizes por isso.
PATERNIDADE
O processo é longo e cansativo, mas vale muito a pena. Quando cheguei em casa certo dia, ele estava lá. Era um menino, lindo, saudável e apaixonante. Fui conduzido ao quarto para ter privacidade no primeiro contato com Augusto - nome que escolhemos, por sua sonoridade agradável e por significar Sagrado. Nome mais do que justo. Preciso.
Tê-lo em meus braços, naquele dia, mudou definitivamente minha vida. Vi que tinha outra missão a cumprir além de meus próprios desejos e ambições pessoais e a cumprirei. Honrarei o dom sagrado da paternidade e arcarei com mais essa vida sob minha responsabilidade.
Mais um Silva no país. Sobrenome tão comum, tão popular que se corre o risco de ser apenas mais uma pessoa numerada na multidão.
Mas, lembram-se do devaneio? Lembram-se do conjunto de características individualizadoras? Ele já carrega algumas e, juntos, cultivaremos as outras, afinal, ele é meu filho.
Meu Augusto Silva.
PRESENTE SAGRADO
Antes que pensem que acabou, digo que falta um detalhe que não contei ainda para não ofuscar o brilho da chegada do Augusto.
Na verdade, deixei por último justamente para reforçar tal brilho:
Tão logo iniciado o processo burocrático de adoção, algo novo aconteceu: a regra não veio e a exceção tornou-se alegria. Estamos grávidos!
E, graças a presença do Augusto, esse momento tem sido muito tranquilo. É ou não é um bom motivo para dizer que estou no Auge da Felicidade?
Deixamos beijos albinos em seus corações e a certeza de que não estamos sós.

(Com tanta emoção e um filho chamado Augusto, haja coração, não? Agüenta!)

3 comentários:

  1. Adorei isto .Flavio estou feliz por vocêis
    ..beijosssssss

    Miguel J. Naufel

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  2. Olá, blogueiro (a),
    Salvar vidas por meio da palavra. Isso é possível.
    Participe da Campanha Nacional de Doação de Órgãos. Divulgue a importância do ato de doar. Para ser doador de órgãos, basta conversar com sua família e deixar clara a sua vontade. Não é preciso deixar nada por escrito, em nenhum documento.
    Acesse www.doevida.com.br e saiba mais.
    Para obter material de divulgação, entre em contato com comunicacao@saude.gov.br
    Atenciosamente,
    Ministério da Saúde
    Siga-nos no Twitter: www.twitter.com/minsaude

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  3. Me emocionei com essa história!
    LINDA!

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