sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

PAPIRO VIRTUAL 13


LOS HERMANOS ARGENTINOS

Dia 27 de setembro, postei sobre o filme argentino Dos Hermanos, dirigido por Daniel Burman: http://www.albinoincoerente.com/2010/09/fraternidade-argentina.html
Gostei tanto que quis ler o livro donde a história foi baseada. Como o amigo Carlito estava vindo pra festa de 80 anos da mama (http://www.albinoincoerente.com/2010/11/os-80-anos-de-d-neia.html ), pedi que me trouxesse a obra, originalmente batizada de Villa Laura, escrita por Sergio Dubcovsky. Quando ele me entregou o livro, o título original estava em letras menores entre parênteses e Dos Hermanos figurava em proeminência. A capa traz os atores Graziela Borges e Antonio Gasalla em uma cena do filme (inexistente no livro). A edição foi prefaciada pelo diretor do filme. Não que cogitasse em ler o livro comparando-o com o filme, num exercício rasteiro de apontar se o diretor foi ou não “fiel” à obra em nível fabular. Mas, tendo visto o filme 2 vezes, as personagens no papel passaram a ter cara, voz e inflexões dos atores. Inescapável, até porque a capa pede que assim o seja.
Dubcovsky escreveu uma narrativa curta, dividida em capítulos que quase nunca passam de 2 páginas, impressos em letras grandes. Bem ao gosto da velocidade pós-moderna. São flashes do cotidiano dos irmãos Marcos e Susana, sem nenhum lance mirabolante. Discussões, cambalachos, pequenas viagens de Buenos Aires à fictícia Vila Laura, no Uruguai. Frustrações, sonhos interrompidos. O narrador onisciente verticaliza nas mesquinharias, temores e esperanças das personagens. Se na forma o livro é ágil, no tema aprofunda-se e desacelera-se esse processo, através de um esmiuçar das motivações reais por trás das ações. Às vezes, tem-se a sensação de que tudo é explicado demais, mas isso não chega a tirar o prazer da leitura, densa, mas nunca ao ponto do hermetismo.
La relación era bipolar em la definición más pura de la palabra y a la vez era una demostración empírica perfecta de los princípios del magnetismo. Se atraían el negativo y el positivo. Y se rechazaban cuando tenían la misma carga energética. Competían y se provocaban uma empatia demoníaca. Essa descrição do narrador, no capítulo 11, dá uma idéia do relacionamento de amor-ódio que coloca os 2 irmãos inexoravelmente numa relação de mútua dependência, ao mesmo tempo que pontuada por escaramuças devido a ódios e invejas mal curados. No fundo, Susana e Marcos só têm um ao outro e, apesar das rusgas constantes, irmanam-se na solidão e nos momentos em que assistem ao programa de Mirtha Legrand, veterana apresentadora de TV argentina, que comanda uma espécie de Programa da Hebe mesclado com o Almoço com as Estrelas.
Ao apontar seu microscópio nas vidas dessas 2 personagens, condenadas uma à outra, Dubcovsky nos faz refletir sobre nossos próprios relacionamentos com aqueles que nos cercam, os quais também apresentam muito da simbiose, do parasitismo, mas também do companheirismo, que pontua a fraternidade de Marcos e Susana.
Ao fim e ao cabo, Dos Hermanos prova que não existe “gente simples”. Isso é pura invencionice. Todo mundo vive a dor e a delícia complexas de ser o que é.

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