quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

CONTANDO A VIDA 14

Na crônica de hoje, o professor José Carlos Sebe analisa alguns dados divulgados do Censo 2010. E, como bom vovô, comemora a revalorização de seus pares.

O NOVO BRASIL, NOSSO DESTINO E A NACIONALIDADE DE DEUS.
José Carlos Sebe Bom Meihy

Roberto Damata, nosso antropólogo mais criativo, vive repetindo que “o Brasil não é para principiantes”. Não é mesmo. Complexidades, variação, contrastes, fazem de nossa cultura um labirinto. Até quem está acostumado a explicar o país para estrangeiros se surpreende com as constantes novidades. Quando se anunciou o novo senso demográfico, muitos se prepararam para receber informações fantásticas. Pois bem, nem terminou a tarefa e já sentimos o bombardeamento que afinal faz deste nosso torrão natal um lugar excitante. No caso do senso isto chega a assustar, pois, embutida na proposta que sonda números está o planejamento para o futuro do país. Mas, desde logo saibamos que esboçar o imponderável é tarefa que requer mais que imaginação. Vamos, contudo aos fatos: o sociólogo Luiz Antônio Pinto de Oliveira, do IBGE, coordenador da área de Populações e Estudos Sociais daquela Instituição adiantou fatos importantes.
Nossa faixa de crescimento é acelerada, mas tende a mudar drasticamente. É possível que cheguemos ainda este ano a 190 milhões de habitantes contra os 169.800 de 2000. Isso significa que a taxa de crescimento anual baixou muito, mas caminhamos para uma dramática desaceleração, a ponto de supor que em 20 anos estaremos com o crescimento zero. Por lógico, o envelhecimento da população deverá preocupar um país que tem cada vez menos filhos e, inversamente, cada vez mais velhos. Com certeza, os jovens vão ter que trabalhar mais para sustentar os esquemas previdenciários. Preocupações...
A macromobilidade física dos brasileiros aumentou 0.8%. Isso é demais, posto que se esperasse maior fixação populacional em seus espaços natais. A flutuação populacional é problema grave por acarretar problema de moradia e de políticas públicas. Hospitais, escolas, serviços em geral são prejudicados pela falta de fixação populacional. Pode-se garantir que moradia será o principal problema do Brasil. Sem infraestrutura, sem saneamento básico, com acesso sempre precário, se juntam à baixa estima de quem mora mal questões de segurança e a inacessibilidade aos benefícios como escola e trabalho. E com tanta mudança, como planejar políticas que vão do atendimento médico ao lazer? E por falar em cidade, vale lembrar que o êxodo rural continua e ainda que a afluência às grandes metrópoles tenha também caído, o que se nota é o surpreendente afluxo às cidades de médio porte, absolutamente despreparadas para o inchaço. Uma das mais impressionantes novidades é que os nordestinos, mesmo ficando mais em seus estados, exercitam a micromigração apenas explicada pelas alterações do padrão de vida do campo para a cidade. Estados não industrializados como Goiás, Espírito Santo, Tocantins, entre outros, ao mesmo tempo em que recebem deslocamentos migratórios de pessoas vindas em particular do sul, não deixaram de ter também uma população errante que se constitui no novo fluxo brasileiro para o exterior.
Em nível do comportamento, a grande novidade corre por conta do perfil mais tolerante de famílias. Porque o senso adotou a pergunta sobre o sexo do cônjuge, espera-se um número mais realista de casais do mesmo sexo. Isso se projeta em uma possibilidade auspiciosa para a adoção de crianças abandonadas e, nessa linha, falamos de cerca de 30 milhões de menores que vivem abaixo da linha de pobreza. Ainda relacionando ao comportamento familiar, nota-se algo de interessante nas mudanças. Os avôs voltam a ser valorizados. E muito. Tudo devido ao crescimento do trabalho feminino e das crescentes horas gastas fora do lar. Porque os pais estarão mais envolvidos com serviços fora de casa, os avôs reconquistam postos de utilidade e os netos poderão conviver mais com eles. Sinceramente, gosto muito dessa última prerrogativa, pois se reconstroem assim as relações de afetos que tanto tem prejudicado a família brasileira.
Em termos religiosos, os católicos, ainda em maioria, tem números em disputa com evangélicos, espíritas e até com os “sem religião”. A surpresa vem por conta da queda de umbandistas e praticantes do candomblé. E por falar em religião, vale questionar: será que Deus é mesmo brasileiro? Não emigrou? Tomara que esteja entre nós, pois dessa maneira poderá diretamente abençoar o futuro deste país tão sutil.

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