terça-feira, 28 de dezembro de 2010

AVÔ DO CSI

Roberto Rillo Bíscaro

Desde setembro tenho visto quase exclusivamente filmes dos anos 40 e 50, com ênfase nos noires, thrillers e policiais. Já vi dezenas; tantos que ás vezes esqueço que a vida real é colorida.
Astros e estrelas esquecidos, semi-olvidados ou desconhecidos pra mim, como Lizabeth Scott, espécie de Lauren Bacall B, que trabalhava bem, mas terminou a carreira ainda nos anos 50.
Descobertas interessantes, como encontrar em um filme de 1951, uma canção instrumental de fundo que dá pra cantarolar a letra dum clássico brasileiro dos anos 60. É idêntica!
O impacto da psicanálise nos filmes dos anos 40/50 é avassalador. Ela explica tudo; psiquiatra tem mais poder que xamã! Hipnose é fácil e rapidamente usada pra induzir ao crime.
Cenas que seriam copiadas ad nauseum por n diretores, tramas que seriam recicladas ad infinitum. Tanta coisa que dizem ser “superoriginal”, mas já foi feito há 60 anos, em alguma produção noir B. E tem cada produção barata que bate muito filme A, acreditem.
Minha mais recente descoberta foi Mystery Street (1950), um avô das séries tipo CSI. Uma moça é assassinada e através da medicina forense da época, descobrem idade, peso, altura, tipo de rosto. O All Movie Guide diz que não se tratou do primeiro filme a usar esse ramo da medicina, mas foi o primeiro onde ela foi usada como mola pra descoberta do assassino. Fotos sobrepostas em caveiras e projeções de altura a partir de tamanho de ossos, talvez se constituíssem em diversão garantida pros fãs de CSI mais propensos á arqueologia fílmica.
Mystery Street traz mais novidade, porém. O ator principal é o mexicano Ricardo Montalban, figura sempre meio B e de TV nos EUA, devido ao sotaque. Até pouco tempo, TV nos EUA era pra ator de segunda, iniciante ou decadente. Lembro-me de Montalban em A Ilha da Fantasia, nos anos 70. Aquele seriado que tinha um anão, o Tatoo, lembram? Eles viviam numa ilha e realizavam sonhos dos hóspedes. Meigo demais pro meu gosto, nunca dei bola pra série, mas lembro de Montalban. Também lembro dele em Dynasty/The Colbys, como Zack Powers, ardiloso milionário. Aí já era mais minha praia e pude curtir mais o trabalho e o (tênue) sotaque dele.
Em Mystery Street chega-se a tangenciar o problema do preconceito étnico, por causa do sotaque do detetive Moralez. Moderno pra época. Claro que a gente dá um desconto de Moralez trabalhar na área de cerca de Boston, que teve forte imigração portuguesa (agora é lotado de brasuca...). Português, espanhol, mexicano, é tudo a mesma coisa, né? Ironias à parte, não podemos reclamar porque fazemos o mesmo com os termos turco, árabe e japonês!
Outra coisa me chamou a atenção no filme. Ninguém fuma! Ou se fuma é tão pouco que nem deu pra notar. Fumava-se tanto nos filmes das décadas de 40/50 que a gente tosse só de ligar o DVD! Adoro ver médicos consultando doentes e fumando!
Pra concluir uma vilã que rouba as cenas onde aparece. Mystery Street pode não ser clássico, mas diverte muito, 60 depois de lançado.
Esse garimpo tem sido uma grande aula de cine e continuará, uma vez que há pelo menos uns 20 filmes do gênero na fila. Sei que há mais pra descobrir; ontem localizei um noir do Kurosawa. Quero ver.

(Não achei trailer de Mystery Street, mas falar em street me despertou o desejo de ouvir esta canção.)

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