terça-feira, 7 de dezembro de 2010

PARIS x SAMPA


Inclusão pela metade
Por Cláudia Cotes

Este texto tem a intenção de refletir sobre os caminhos da inclusão em duas cidades: Paris e São Paulo.
Engraçado pensar que antigamente, não havia rei ou pessoa da alta corte, caminhando em cadeira de rodas. Todos os palácios são lotados de degraus. Quanto mais, melhor!
Museu do Ipiranga (SP), Palácio de Versailles (Paris). Se você é cadeirante e quer passear por lá, melhor ir no colo de alguém.
Em pleno Século XXI, as duas cidades tentam correr atrás do prejuízo social.
Foram anos e anos pensados na construção de um mundo para quem anda, ouve e enxerga. As pessoas com deficiência ficaram confinadas em escolas, excluídas em mundos paralelos.
Fico me perguntando:
- Quem são os verdadeiros cegos, surdos, cadeirantes?
Eles ou nós?
Tempos atuais. Metrô de Paris. Tem piso podo-tátil em quase todas as entradas. Muito bom…
Mas, onde estão as pessoas cegas? Ah! Esqueceram de treinar funcionários para levar os cegos de uma estação para outra ou mesmo ter um sistema que deixe uma pessoa cega em um metrô e pegue-a em outra estação. Não há guardas, nem auxiliares que dêem informações.
Tem gente de tudo quanto é nacionalidade no metrô de Paris! Indianos, japoneses, italianos, americanos, negros de todos os tons de pele. Várias línguas. Pessoas perdidas em um sistema de transporte que foi pensado para quem enxerga e é bem inteligente!
É muito fácil se perder nos túneis do metrô. Há escadas por todos os lugares. Mães sofrem com seus bebês em carrinhos. Tem que ser no braço mesmo!
Cadeirantes pelo metrô?
Nem pensar…
Inclusão pela metade.
Metrô de São Paulo. Não tem piso podo-tátil em todas as entradas de estações.
Mas tem vários funcionários treinados para auxiliar as pessoas com deficiência. Resultado: há filas e mais filas de cegos e cadeirantes que circulam aos montes por lá. Nos vagões novos, há sinal visual para os surdos. Eles adoram passear no metrô.
De repente, lembraram de algo básico e essencial: eles também são seres humanos…
Trabalham, estudam, agüentam preconceito o dia todo, e… rezam.
Igrejas de Paris. Lugar de todos? Deveria ser. Escadas e mais escadas fazem a graça e a imponência das igrejas de Madeleine e Sacre Coeur.
Cadeirante não pode entrar?
Melhor nem tentar…
Não tem acessibilidade. Ainda bem que Deus está em todos os lugares.
Igrejas de São Paulo. Vários pastores descobriram que os surdos se comunicam com a Libras. E colocaram intérpretes nos cultos. Resultado: igrejas cheias de surdos convertidos.
Outro dia o meu amigo cadeirante foi convidado para falar em uma igreja católica. Só que ele não conseguiu entrar. Muitas escadas faziam a imponência do lugar.
Igreja, lugar de todos?
Deveria ser…
Inclusão pela metade.
Telejornal em Paris. De manhã, o resumo do dia é feito por uma apresentadora com um intérprete de Língua de Sinais. Há reportagens diárias com este recurso de acessibilidade. Muito bom!
Descobriram que os surdos precisam da Língua de Sinais para serem informados.
Telejornal de São Paulo. Não há Libras, a Língua Brasileira de Sinais. Não é uma língua universal. Cada país tem a sua língua de sinais própria. Jornalistas acham que todo surdo lê. Grande engano. A velocidade de fala dos apresentadores e repórteres dos telejornais é bem acelerada. Nem um ouvinte fluente consegue acompanhar a leitura do closed caption com facilidade. Quanto mais um surdo. Mas como surdo não faz barulho, e não incomoda, pra que mudar, não é mesmo?
Pessoas cegas ficam perdidas com as diferentes vozes dos entrevistados e com os jornalistas que falam assim:
- Anote o site que está aí na nossa tela!
Um detalhe: a informação é um direito do ser humano, garantido pela ONU (Organização das Nações Unidas).
Inclusão pela metade.
Enquanto o mundo foi pensado e construído para o sucesso, o poder e o dinheiro, as pessoas com deficiência foram pensadas de forma assistencialista.
O mundo pede mudança.
Agora, alguns homens se deram conta de que não é mais “chique” só olhar para o próprio umbigo. Temos que olhar para o outro.
Afinal, somos seres sociais. O mundo que eu faço hoje, é o que os nossos filhos terão como presente.
Inclusão deve e precisa ser inteira. Precisa ser para quem tem dificuldade de se mover, para quem não escuta, não enxerga ou tem dificuldade de entendimento. Não podemos pensar de forma segmentada. Já que tem que ser feito, então, que seja para todos e que seja bem feito. Quanto mais diverso, mais divertido, mais humano, mais real!
Existe meio casamento, meia amizade ou meia profissão?
(Encontrado em http://www.inclusive.org.br/?p=17953)

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