domingo, 26 de julho de 2009

EPITÁFIOS 2


Roberto Rillo Bíscaro

Ano passado tive crise de Julio Chavez. Explico: no idioleto meu e do Jayme – meu melhor amigo – “estar com crise de” significa estar obcecado por alguma coisa. Tipo, não parar de ouvir Bryan Ferry por 3 dias. Crise de Bryan Ferry, entenderam?

Explico 2: Júlio Chavez é um excelente ator argentino. Assisti El Custódio (2006), El Otro (2007), Um Oso Rojo (2002) e Extraño (2003) quase em seguida e fiquei encantado com os 2 primeiros e gostei bastante do terceiro. O quarto achei meio chatinho, mas uma coisa todos tiveram em comum: Chavez está muito bem. Em El Custódio e El Otro, está brilhante.

Daí, descobri a minissérie argentina Epitáfios (2004), produzida pela HBO Latina. 13 capítulos eletrizantes que narram a história de um serial killer genial, algo como um Silence of the Lambs (1991) à enésima potência. Escrita pelos irmãos Marcelo e Walter Slavich, a trama alucinante e alucinada literalmente me prendeu em frente ao dvd. Não sosseguei enquanto não dei fim aos 13 capítulos luxuosamente produzidos. Claro que o psicopata é inteligente demais, as coisas dão certinho demais pra ele que é capaz de prever tudo o que vai acontecer, como as pessoas vão reagir, além da série apresentar novamente o estereótipo do gay fã de ópera como desequilibrado mental.

A minissérie fez tanto sucesso nos EUA e Europa que a HBO encomendou outro roteiro pros irmãos argentinos. Em abril deste ano, estreou Epitáfios 2: el Final Ahora Tiene Dos Caras. De novo Julio Chavez interpreta o quase tosco inspetor Renzo Márquez, desta vez atrás doutro serial killer, que assassina suas vítimas copiando cenas de crimes de outrora. Ele fotografa os assassinatos brutais e deixa os rolos de filme pra serem revelados em alguma loja, a qual, ao se dar conta do conteúdo horripilante das imagens chama a polícia. E de novo uma série de 13 capítulos que, apesar das coincidências às vezes um pouco forçadas, me prendeu em frente à TV e eu não via a hora de ver novo episodio. Essas coincidências fazem parte da emoção, se não houver todas as coincidências não seria uma produção ficcional deste gênero, não é mesmo?

O psicopata é brilhantemente interpretado por Leonardo Sbaraglia, outro ator argentino (ultimamente radicado em Espanha) que conheço de outros carnavais. Pros não fãs de cine argentino, talvez a referência mais conhecida do ator seja o aclamado Plata Quemada (2000), mas eu já o vira em produções como Tango Feroz (1993), Cleópatra, Utopia (ambos de 2003) e Caballos Salvajes (1995), o qual inclusive possuo. A dupla personalidade do psicopata é cenicamente representada através de diálogos entre as 2 metades da personalidade e também por meio de seu reflexo no espelho. Isso proporciona ao ator um prato cheio pra interpretar. Por mais que adore o Julio Chavez, creio que nessa segunda dose de Epitáfios o Leo Sbaraglia ganhou o papel mais desafiador. Merece prêmio.

Cecília Roth, uma das queridinhas do Almodóvar, é a parceira de Renzo nas investigações. Roth também é queridinha minha; adoro sua cocainada personagem de Martin (Hache) (1997), uma tour de force interpretativa dirigida por Adolfo Aristarain. Aliás, Chavez e Roth estão juntos de novo e no ar na TV argentina numa sitcom chamada Tratame Bien (não vejo a hora de começar a ver!!! Só tô esperando desopilar um pouco a pilha de coisas pra assistir aqui, afinal, não estou tendo férias, né???). Em Epitáfios, Roth interpreta Marina Segal, atormentada detetive viciada em roleta russa. Nessa segunda dose de Epitáfios, esse vício terá desdobramentos conseqüentes na trama, que dessa vez abre mais espaço pros problemas pessoais de algumas personagens. Embora deva admitir que não achei muita graça na sub-trama da vizinha espancada do Renzo.

Bem, além desse trio de protagonistas a mini está obviamente recheada de outros atores e atrizes familiares aos espectadores de cine argentino, como este blogueiro. São quase 200 atores e 1000 figurantes, de acordo com a divulgação da super-produção. Eu ia vendo e de vez em quando pensava: “ah, o Demédio, de Lugares Comunes” (2001)...

Em Epitáfios 2, o suspense não provém de tentarmos descobrir quem é o assassino ou quem será a próxima vítima. O serial killer é identificado logo no início e há uma personagem com poderes paranornais que nos revela quem será a vítima seguinte. O suspense nasce de irmos construindo o complexo quebra-cabeça pra entendermos quem é realmente esse psicopata, porque acabou sendo do jeito que é, porque pratica os crimes, qual a relação entre os assassinatos, porque são do modo que são. Mesmo assim, alguns assassinatos surpreendem mesmo a gente sabendo quem irá morrer. Pra vocês terem uma idéia, uma amiga sem querer me contou que uma das personagens tinha morrido no episódio tal. Mas, antes dela morrer o psicopata a faz fazer algo tão inesperado que eu fiquei passado na cama!

Renzo, Marina e os demais policiais são verdadeiros anti-heróis no sentido de que não conduzem verdadeiramente a trama, na maior parte do tempo têm que seguir os movimentos determinados pelo vilão ou por outra situação qualquer.

O roteiro, que obviamente apresenta alguns clichês, por vezes quebra algumas das expectativas que criamos. Por exemplo, no segundo episódio (acho) somos apresentados a uma psiquiatra, responsável por cuidar do misterioso XL. Na hora imaginei que ela seria introduzida também como interesse romântico pra Renzo. Me enganei... Também é divertido caçar as fontes dalgumas idéias usadas pelos roteiristas. Por exemplo, num determinado ponto alguém pede pruma personagem que é geninho da informática, envelhecer uma foto no computador. Quando ele diz que o processa levará uns 3 dias e a imagem aparece na tela do pc sendo trabalhada, na hora saquei o que poderia acontecer. Dica, a resposta está no filme No Way Out (1987), época em que um ator chamado Kevin Costner costumava ter uma carreira!

Essa nova fornada de episódios está mais “Argentina” do que a primeira, mas mantém o padrão “internacional” pra poder agradar a vários mercados. Dessa vez temos mais locais famosos de Buenos Aires como cenário. O Obelisco aparece em quase todos os episódios. Também a peculiar pronúncia dos 2 eles com som de jota é mais proeminente nessa segunda temporada. Entretanto, a gramática peculiar ao espanhol argentino continua de fora da série e a forma do espanhol padrão é mantida. Ouvimos “tu eres” e não “vos sos”... Pra mim é quase alienígena ver uma série argentina ambientada em Buenos Aires com 13 episódios e não ouvir um “boludo” , “pelotudo” ou “dale” sequer! Mas isso não é defeito, é escolha feita pra atender a outros mercados, afinal, o mundo hoje é global. Mas, cá entre nós, prefiro o “dale” ao “ok”, dale?
Ah, ia me esquecendo. O mundo é globalizado e bem menos tolerante à nicotina. No primeiro Epitáfios fumava-se feito doido, nesse ninguém fuma!

Epitáfios 2 tem roteiro inteligente, produção impecável, atuações excelentes. Epitáfios 2 é tudo, mas tudo, mas tuuuuuuuuudo de bom mesmo!

3 comentários:

  1. Olá,
    Sou Gustavo Serrate, jornalista de Brasília.
    Gostaria de saber se você pode me conceder uma entrevista para o blog cineasta 81 (www.cineasta81.blogspot.com ) sobre a questão do albinismo no Brasil. Gostaria de saber sobre como são tratados pelas pessoas, como são vistos e como levam a vida por aqui. Fiquei impressionado com o problema na Tanzânia, Africa e o assunto me chamou atenção. Seria uma entrevista curta realizada por e-mail.
    jornalista81@gmail.com

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  2. Hey, já que você gosta TANTO de séries argentinas, já está na hora de assistir "Mujeres Asesinas". Uma dica boa. Aliás, Cecília Roth participa de dois episódios ("Clara, la fantasiosa" e "Candida, esposa improvisada") e a Paola Krum também é uma assassina (Lisa, la soñadora)
    Vale a pena assistir.

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  3. Uma produção bem sucedida lembrar muito porque eu vi quase todos os capítulos. Há agora nova serie 2015, vale a pena manter assistindo, "O hipnotizador" é um deles. Uma história cheia de mistérios de vontade através da hipnose.

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